Metamorfoses Voláteis escrita por Cupcake Says


Capítulo 19
Capítulo 18




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/445637/chapter/19

Muito mais tarde, uma batida na porta arranca o doutor de seu ciclo de rancor e arrependimento, fazendo-o se encolher na cama por saber se quem se trata.

– Klaus, sou eu, Kassandra!

... Kassandra?

Ele se obriga a ficar de pé, sentindo os joelhos tremerem sempre que ele firma os pés no chão, abrindo a porta devagar.

Ela se joga contra o doutor, que vai alguns passos para trás, usando-a de ancora para não cair.

– Me disseram o que aconteceu essa tarde... Você está bem? Morpheu ficou furioso quando soube... – ela lança todas as palavras de uma vez, num único fôlego, com o queixo apoiado no peito do doutor, olhando-o com preocupação.

– Estou bem... – ele diz, baixo, olhando o corredor pela porta aberta.

– Ah, espere. – ela solta, se afastando alguns passos para trás, vasculhando os bolsos do vestido até encontrar algo. – Aqui.

Ela estende um par de luvas escuras, de algum tecido aveludado, parecendo estranhamente constrangida. Klaus olha pra ela como se perguntasse o significado daquilo.

– Morpheu disse que você se sente mal sem suas luvas... Saí e comprei outras, assim pelo menos você terá luvas enquanto estiver aqui... – ela mexe no cabelo, olhando pra todo lugar, menos para o doutor a sua frente. – Talvez não sejam tão boas quanto as que você tinha antes, mas...

No entanto Klaus olha para ela, seria o primeiro presente de fato que já ganhou na vida, desde que consegue se lembrar, o que seria muito tempo. Ele alcança as luvas devagar, colocando-as em silêncio, sorrindo discretamente e e um tanto incerto do que fazer consigo mesmo.

Ele caminha desconfortavelmente na direção de Kassandra, atando-a num abraço um tanto desajeitado, não é como se ele estivesse acostumado a demonstrar afeto desinteressado de qualquer maneira, o ato em si parece estranho e inexplicável.

Humano demais.

Mas parecia caber na situação...

Imediatamente ela se ata ao pescoço dele, muito mais a vontade do que ele, num abraço de alguns segundos.

– De nada. – ela sorri, amigável, saindo pelo corredor a pequenos passos que faziam os cachos vermelhos de sua cabeça pularem um pouco enquanto ela se movia.

Ele olha as próprias mãos, novamente cobertas de tecido, sorrindo de forma boba, trançando os dedos das mãos juntas e suspirando, sentindo-se mais leve.

– Obrigado... – ele diz, baixo, para o corredor vazio.

~*~

Quando o silêncio do interior de seu quarto se torna insuportável, ele sai pelo corredor. Klaus usualmente não era tão inquieto, mas também não havia sido assediado no corredor de um bordel nem uma vez até aquele momento, então se deu uma desculpa que validasse sua atitude.

Era noite alta, e tirando os sons residuais que vinham do corredor do lugar que -apesar de Klaus constantemente se esquecer- era um bordel, estava quase em silêncio, mas apesar dos suspiros forçados e gemidos abafados, nada disso o deixava particularmente incomodado ou desconfortável.

Caminhou até a cozinha, sentando-se na mesa, o ambiente estava mortalmente quieto e ele tinha vista para o jardim de trás, o vento soprava gelado pela fresta da porta, mas nada que o obrigasse a se levantar, apenas encolheu-se timidamente dentro de suas roupas, soprando sua respiração num suspiro longo e pesado.

– Problemas param dormir?

Klaus volta os olhos na direção do inconfundível tom de voz adocicado enjoativo, encontrando Madame Lilipuff em seus trajes de dormir, com cabelo preso num coque alto, desprovida de toda a maquiagem pesada que usava durante o dia.

Ele apenas consente com a cabeça, olhando enquanto ela circula a mesa para fechar a porta para o jardim.

– Você vem do nortem, não? – ela pergunta, sentando-se na cabeceira da mesa, um tanto distante dele.

Novamente ele acena vagamente com a cabeça, sem checar que tipo de olhar o encara de volta.

Imaginom que Morpheu já saibam dissom.

Ele continua quieto, deixando que ela concluísse a afirmativa deixada atrás de seu silêncio.

Bem... Se ele acreditam que não tem problemam... confio nelem.

Nele.

Mas não podia cobrar confiança, não depois de hoje.

Parecem quem você tem algo a dizer a Morpheu. – ela suspira, se levantando novamente. – Ele está fumandom no telhadom, como faziam quando era mais jovem.

Ele assiste ela deixar a sala, em direção ao corredor que levava ao seu quarto, os passos mudos devido ao carpete fofo. Se vê novamente sozinho na sala, olhando para o teto.

– Morpheu...

Ele fecha os olhos, suspirando abaixando a cabeça, de modo que seu queixo tocasse seu peito antes de tomar fôlego novamente.

– Chamou?

A voz familiar o leva a abrir os olhos e procurar seu foco na sala de iluminação fraca. Encontrando o comandante parado a porta, batendo a neve dos ombros e do cabelo.

Ele desce da mesa, caminhando até o comandante, enroscando seus braços ao redor da cintura de Morpheu, apoiando a testa em seu peito, ele estava gelado, e cheirava ao clima do lado de fora, podia sentir o tremer suave do corpo do comandante por conta da neve que havia tornado sua pele inócua, fria.

– Hoje... – ele começa, aos poucos sentindo a temperatura de Morpheu subindo devagar sob seus dedos conforme o sangue corria debaixo da pele. – Acho que deixei seqüelas... Naquele homem... Ele provavelmente não vai mais conseguir andar, ver... talvez nem falar... ele deve ter seqüelas pelos órgãos vitais, talvez não no coração... Me tiraram de cima dele antes que eu chegasse lá...

Morpheu o abraçou devagar, sua expressão permanecia calma, mas séria... Tão séria.

– Ele terá cicatrizes horríveis, pesadelos... – ele fecha os olhos lentamente, suspirando no peito do comandante, sentindo as mãos de Morpheu desenhando pequenos círculos reconfortantes em suas costas. – Sentirá dor pelo resto de seus dias... Teria sido uma morte indolor... Mas agora... Agora dor é tudo o que ele vai conhecer...

Então silêncio.

Silêncio e mais silêncio.

– Está decepcionado comigo, comandante? Irritado... Com medo? - a última parte sai assombrada, ele ata os dedos com mais força ao redor da camisa de Morpheu, esperando um julgamento.

Morpheu suspira, deixando ambos os braços ao lado do corpo, soltando o doutor e fazendo com que ele o soltasse.

– Como humano e seu comandante, suas ações me insultam... Fazem minha raça parecer pequena, nossas vidas irrelevantes... – ele diz, pausado, aquele tom de voz sério que torna a voz dele mais grave, mais autoritária.

Klaus ouvia cada uma das palavras com cuidado, olhando para o chão, preenchido de arrependimento, não pelo que fez, mas por ter feito com que Morpheu pensasse assim.

– No entanto enquanto pessoa e homem, acho que você fez o que era preciso... E não posso culpá-lo por se defender. – ele completa olhando para o teto por alguns segundos, voltando os olhos novamente para baixo e encontrando o doutor olhando para ele como se esperasse ser absolvido. – Você está bem?

Ele deixa uma das mãos no rosto do doutor, desenhando pequenos padrões circulares pelas maças do rosto de Klaus com o polegar, que se inclina na direção do toque, segurando a mão em seu rosto com ambas as mãos num gesto apreciativo.

– Me sinto sórdido... vil... usado... – suas mãos tremiam, e depois de uma pausa um pouco maior ele completa. - Errado.

Aquele contato com alguém que não conhecia havia ferido seu orgulho já gasto de uma forma que não sabia se podia agüentar, um estranho tocando suas mãos, a marca em suas costas... Nem mesmo a água conseguiu ferver a sensação dos dedos, das unhas, da pele...

Era repulsivo.

E queria tê-lo matado.

Mas mesmo assim havia imposto suas leis a alguém que não era parte do seu universo... E algo estava faltando, uma sensação nauseante de deslocamento, de crueldade.

Morpheu o abraça novamente, apoiando a o queixo no alto de sua cabeça, suspirando de novo.

– Tenho frio, comandante... Tanto, tanto frio.

Ele pega as mãos do doutor em silêncio, trançando os dedos de ambos, colocando as mãos nos bolsos do casaco, com uma expressão terna, trazendo o doutor mais para perto, deixando o beijo assertivo em sua testa.

– Então fique mais perto... Isso eu resolvo.

Klaus apóia a testa no peito do comandante de novo.

– Deixa eu ficar com você hoje... – o doutor pede, em voz baixa.

Morpheu olha pra baixo, como se pedisse que ele repetisse, mas estava claro que ele havia ouvido.

– Prometo não fazer disso um hábito, eu só... Quero ficar perto de você.

Os dedos do doutor se estreitam contra as mãos do comandante dentro dos bolsos do casaco, uma atitude inconsciente de proteção, tanto de si mesmo quanto para o comandante.

Uma das mãos de Morpheu se desfaz da do doutor dentro de seu bolso, e por um momento ele teme que tenha irritado o comandante de alguma forma, então olha pra cima, procurando algum tipo de rejeição, mas ele não consegue ler os olhos gelados que o observam de cima, então sua respiração falha na garganta ao sentir a pressão suave em sua nuca.

Os dedos do comandante pressionam suavemente a parte de trás de seu pescoço, esbarrando contra o cabelo fino e escuro, um ato quase possessivo, que o deixa sem ar enquanto o calor constante proveniente da pele naturalmente febril se infiltrava por debaixo de sua pele, fazendo seus joelhos mais fracos.

– Então venha. – ele diz, apenas, observando a névoa amortecida se espalhando pelos olhos cinzentos do médico, perscrutando sua expressão de maneira crua. – Venha e fique perto.

– Sim, senhor... – ele se força a dizer diante da expectativa de uma resposta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vou viajar logo -e com isso quero dizer amanhã- então vou postar os últimos dois capítulos que eu tenho escritos hoje, e quando vier de novo no intervalo entre essa viagem e a próxima, eu posto de novo ok ^u^
Me digam se gostaram sim? :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Metamorfoses Voláteis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.