Vi tirou uma mecha rosa que estava colada em sua testa com certa violência. Ajeitou as luvas de boxe e continuou socando o saco de areia. O médico a proibira de praticar lutas, mas Vi não escutava ninguém. Cada soco era uma fincada mais aguda em suas costelas fraturadas. O saco de areia sorria para ela. Desenhara a cara daquela vadia de cabelos azuis assim que conseguira se levantar da cama. Sentiu uma fúria subindo por seu corpo, e socou o saco como se fosse apagar toda a humilhação pela qual ela havia passado.
Quando a dor chegou, tudo que ela fez foi se abaixar, gemendo. Fizera esforço demais. Sentiu uma lágrima intrometida rolar e se estatelar no chão. Ela se apoiou na parede e gemeu um pouco mais. Estava suando frio. Estava ali há horas, talvez. Burra! Talvez ela devia ouvir mais as pessoas, mas só talvez.
Sentiu um toque suave no ombro. Ela ia se levantar, mas a dor veio mais forte ainda, e ela gritou.
— O que foi, inferno?! — Ela conseguiu perguntar.
Jayce a pegou nos braços e não disse nada. Ela queria socá-lo. Nos últimos dias ele andava a vigiá-la, e Vi odiava isso. Deu um empurrão em Caitlyn, por achar que ela também estava vigiando-a, no mesmo dia que desenhou o rosto no saco de pancadas, e se arrependia até hoje, pois a garota nunca mais cruzou seu caminho. Podia ser chata o que fosse, mas era ela quem a salvou.
Tentou xingar Jayce, mas estava sem fôlego. No meio do caminho, não sabe se dormiu ou desmaiou, mas quando acordou, o viu sentado ao seu lado, encarando-a.
— Para onde me trouxe?
— Para a enfermaria, oras. Qual o seu problema? Se quiser morrer, eu mesmo dou uma martelada na sua cabeça.
— Eu estou inquieta! Quero matá-la, você entende?
— Você está toda quebrada.
Ela revirou os olhos.
— Onde está Caitlyn?
— Não sei. Ela não aparece faz dias.
Vi sentiu uma pontada de culpa tão grande que a fez suspirar.
— Assim que eu melhorar vou embora, juro. Não quero causar mais nada por aqui.
Jayce bufou.
— Aquele prédio danificou sua cabeça? Você não é a mesma, Vi.
— E quem é você para dizer quem eu sou ou não?
Ele riu.
— Essa é você.
Ela revirou os olhos novamente. Jayce deu um peteleco em sua testa.
— Vê se adquire algum juízo nessa sua cabeça oca.
Vi o ignorou e se virou para o outro lado, caindo no sono outra vez. Resolveu seguir o conselho de Jayce e seguiu sua recuperação tranquilamente. Uma vez ou outra investigava mapas com Ezreal, batia um papo com Orianna, ia até a casa de Caitlyn, mas só encontrava o pai dela, com quem tomava um chá.
Obviamente estava odiando tudo aquilo.
Mas, finalmente, sua liberdade havia chegado. O médico a liberara, desde que maneirasse no esforço físico. Era necessário uma readaptação. Vi, claro, respondeu com uma revirada de olhos.
No mesmo dia, enquanto descansava do descanso em sua casa, ouviu um "click" na porta da sala. Vi sentiu um frio na espinha. Suas manoplas estavam com Jayce. Se fosse Jinx, ela estaria mais ou menos enrolada.
— Eu vou matar você! — Ela gritou. Perguntar "quem é" era muito clichê.
— Você vai calar a boca. — Uma figura saiu das sombras, esgueirando-se para o quarto. Era Caitlyn, e ela parecia estar mais cansada do que nunca esteve.
— Onde diabos você se meteu?!
Caitlyn apontou o rifle para seu rosto. Vi ODIAVA aquilo. Já ia protestar, mas ela ergueu uma sobrancelha.
— Grite mais uma vez, Vi.
— Qual é?
A xerife abaixou a arma e sentou-se próxima aos pés de Vi. Ela sempre aparentava estar esgotada, mas agora Cait parecia estar prestes a explodir. Ela puxou algumas pastas e jogou-as contra o peito de Vi.
— Vai me tratar assim agora, Cupcake?
— Apenas estude essa droga, Valentona. Nos vemos pela manhã.
— Mas...
Caitlyn lhe lançou um olhar de quem não admitia mais conversa. Vi apenas ergueu as mãos para o alto. Cupcake estava de TPM, era certo.
Dentro das pastas, Vi encontrou fotos e anotações. A primeira foto era de uma janela. Se observasse bem, era possível ver uma silhueta magricela. Na foto ao lado, um borrão de cabelo azul estava pulando pela mesma janela. Era uma sequência. Jinx olhou para um lado, olhou para o outro, saltou para o telhado e correu. Ela usava um torniquete na panturrilha, e parecia estar com a barriga enfaixada. E a faixa estava vermelha de sangue.
Caitlyn esteve vigiando Jinx. Os endereços, horários, rotina, tudo, estava tudo nas anotações que seguiam as fotos.
Vi ficou levemente incomodada. Enquanto estava deitada em uma cama por semanas, Caitlyn virava noites por algo que não era um problema dela. Ela franziu as sobrancelhas, colocou a pasta sobre o criado-mudo e virou-se para o lado aposto à janela.
Ela acordou mais cedo que o esperado. Tomou uma ducha fria, vestiu o que viu primeiro e foi para a delegacia. Caitlyn já estava lá, sentada atrás de sua mesa, com uma bandeja de cupcakes à sua frente.
— Não toque nos de confeitos azuis.
Vi ergueu uma sobrancelha, pegou um cupcake de chocolate e jogou a pasta para a outra garota.
— Por que? É alguma bomba?
— Não — Ela fechou o livro que lia. — São de Jayce.
Vi bufou e se largou na cadeira. Enquanto Caitlyn a encarava, ela comia o cupcake. Estava um clima estranho. Vi já estava lambendo os dedos sujos de chocolate, e Caitlyn mal piscou durante o...processo.
— Você é nojenta, Vi.
— Seu cabelo está bonito, Caitlyn.
Caitlyn quase sorriu, mas precisava manter a carranca. Ela apenas mudou de posição na cadeira.
— Ok. Eu fui até Zaun. Recebi informações de que Jinx estava por lá. Achei uma atitude meio...burra. Ela deve, no mínimo, desconfiar que sabemos o local de onde ela veio.
— Ela não...
— Cale a boca. Você entendeu o que eu quis dizer.
A porta se abriu e revelou um Jayce extremamente sorridente. Ele esmagou Caitlyn com um abraço. Ela parecia quase uma criança em seus braços. Caitlyn deu um sorriso tímido, enquanto ele "xingava" por ela ter desaparecido, e afagou-lhe as costas. Vi tossiu, e Jayce virou-se para ela, ainda sorrindo.
— Não fique com ciúmes, Vi. Tem Jayce para todas.
— Blá, blá, blá, eu sou o Jayce, eu sou incrível — Ela fez voz de deboche e gesticulou com as mãos. — Eu sou o cara mais foda do universo.
Ele bagunçou-lhe os cabelos, rindo, e sentou-se na cadeira ao lado. Caitlyn entregou-lhe o cupcake azul, e ele agradeceu.
Caitlyn abriu a pasta outra vez e estalou os dedos, para chamar a atenção dos outros dois. Ela explicou-lhes que andou por Zaun usando um disfarce, e perguntou por Jinx em todos os bares. E ela, de fato, passava em todos. "A menina dos cabelos azuis que parece ter tomado uma surra? Ah. Vi, sim."
Juntando informações, Caitlyn chegou à ela. Ficava apenas observando, não podia atacar em território inimigo. Jinx estava bem machucada, era visível, mas não sabia se estava sozinha.
— Ela está neste hotel — Apontou para um endereço em uma das anotações. — Ou estava até ontem. E você, Vi, vai atrás dela. Você e Jayce.
— Não, eu vou sozinha!
Caitlyn inclinou a cabeça.
— Vi, você e Jayce.
— Eu não posso arriscar mais ninguém.
— Você não está em condições de ir desacompanhada.
— Estou.
— Ok, até pode, mas não posso arriscar você, Vi.
— E eu não posso arriscar Jayce! Também é um golpe baixo, quero dizer, Jinx está destruída lá, sem condições de me encarar, quem dirá nós dois.
— Sim, é baixo, mas mandar você sozinha é suicídio. Ou você vai com ele, ou eu mesma volto e pego ela.
— É um direito meu pegar ela!
— Eu sou a xerife, sou eu quem decido as coisas por aqui. Você quase morreu da última vez que saiu sozinha!
— E Jayce quase morreu na primeira vez que saiu comigo.
Jayce acompanhava a discussão como quem acompanha uma bolinha de pingue-pongue. Por fim, Caitlyn perdeu a paciência e se levantou. Vi fez o mesmo. Ambas ficaram discutindo, como sempre acontecia, até que Caitlyn deu o decreto final e saiu da sala, deixando uma Vi louca de raiva para trás.
— Caitlyn perdeu uns três parafusos lá em Zaun, confie em mim, Jay.
— Ela tem razão.
Vi olhou-o como se tivesse a traído.
— O quê?!
— Você é muito cabeça-dura. Eu só vou ficar na retaguarda, Vi. Não é como se segurasse a garota enquanto você desce a porrada nela. Caitlyn só quer seu bem.
— Ok, ok. Tudo bem. Falarei com a Cupcake.
— Vi — Jayce chamou-a antes que ela saísse da sala.
— Sim?
Ele se aproximou e limpou o canto dos lábios dela com o dedão.
— Estava sujo de chocolate. — E saiu.
Vi ficou azul de vergonha. Foi uma cena tão filme estilo "blergh", tão adolescente...Ela colocou a mecha de cabelo para trás da orelha e foi procurar por Caitlyn.
Não demorou muito para encontrá-la. Estava praticando com o rifle na sala de treinamento, onde o rosto sorridente do saco de pancadas continuava rindo de sua cara.
— Está certo, Cupcake. Eu aceito suas exigências, desde que aceite a minha.
— E qual seria?
— Você também vai.
Caitlyn virou-se para ela, visivelmente surpresa.
— O que Jayce fez com você?
— Nem eu sei.
Ela riu.
— Então...
— Não!
— Oh, Vi.
— Por Deus, apenas pare.
Caitlyn riu outra vez e voltou a mirar os alvos. Vi sorriu de lado. Era difícil admitir, mas sentia falta dela. Calçou suas luvas e voltou a praticar. Ela precisava ficar em forma para dar o troco.
O desejo de vingança subia a cada soco. Ele consumia-a. Ninguém a humilhava daquela forma. Desta vez, ela não teria pena. Muito menos tentaria salvá-la. Jinx iria descobrir o motivo de Vi ser de Violência.