Rain escrita por Isa


Capítulo 1
Rain


Notas iniciais do capítulo

Mais uma one-shot, espero que gostem!



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Ela estava sentada na frente de uma loja de dangos, mas não havia ninguém para perceber o desespero da garota com roupas típicas chinesas, afinal, ela estava sentada numa tempestade muito forte, uma boa parte do comercio tinha fechado por causa disso, e as pessoas não se arriscavam a sair de casa nem mesmo de carro.

Só restavam Kagura, a água fria que caia sem piedade e suas lágrimas grossas, que caiam sem nenhuma descrição.

Porque aqueles sonhos tinham voltado? Aquele era o passado, nunca ia acontecer de novo, era simplesmente impossível voltar atrás. Além do mais, não tinha uma vida ruim, na Terra haviam seus amigos, Sadaharu, uma casa, uma família.

Não tinha lógica ficar sonhando com sua Mami... Nem muito menos com seu Aniki idiota.

“Oy garota, não pode ficar nas ruas sozinha no meio dessa chuva.” Uma voz conhecida fez Kagura gelar. Não, ninguém podia vê-la assim. O mais lógico a fazer seria sair correndo, mas tinha perdido todas as forças por causa da tristeza.

“Me deixe em paz sádico maldito, vá encher o saco de outra pessoa.” Ela respondeu a Okita Sougo, seu rival, sem levantar a cabeça, assim ele não veria suas lágrimas.

“China? É você?” Então ele não tinha percebido? “Está querendo dar trabalho ao Danna e ao quatro olhos ficando doente, pirralha?” Apesar das palavras de Okita, ele se sentou ao lado da Yato, dando uma boa olhada na situação dela. Tinha algo muito errado ali. Segurou o rosto de Kagura levemente, e viu que seus olhos estavam completamente inchados de tanto chorar, e as lágrimas que ainda caiam provavam isso. A garota se soltou e deu um sorriso irônico, que com toda aquela tristeza não funcionava nem um pouco.

“Pode começar com os insultos sádico.”

“Eu não pretendo falar nada. Machucar uma pessoa que já está sentindo dor não faz meu estilo.” Kagura o observou chocada, e percebeu que o capitão do Shinsengumi também estava encharcado, e algo no seu olhar distante fazia o peito dela doer mais ainda.

“Seu guarda chuva quebrou no meio da tempestade?”

“Teria quebrado, se eu tivesse trazido um para inicio de conversa.”

“O que estava fazendo andando por ai na chuva?”

“Talvez o mesmo que você. Procurando um lugar para sofrer pelas minhas memórias.” Kagura ficou mais abismada do que já estava. Além dele ter decifrado completamente o que ela estava pensando, estava falando de seus sentimentos também, e a garota sabia que era a única que sempre conseguia respostas tão sinceras dele. Talvez isso não fosse tão surpreendente. Fazia muito tempo que o relacionamento deles não era mais uma simples rivalidade. Tinha uma confiança inexplicável no meio de tudo aquilo.

“Não quer contar o que é tão assustador que consegue deixar uma garota sinistra como você se desfazendo em lágrimas?” A voz fria e irônica de Okita fez Kagura sorrir um pouco. Ele ainda conseguia fazer brincadeiras enquanto os dois pareciam tão... patéticos.

“Calado!” Ela deu um pequeno murro no ombro dele e se aproximou mais. “Acho que não posso contar a você...”

“Porque? É alguma historia pornográfica ou algo parecido?”

“CLARO QUE NÃO SEU MALDITO! É que... E se nunca mais quiser falar comigo depois de saber.” Kagura falou, e ficou meio corada logo em seguida. Porque estava desse jeito? Quer dizer, era normal não querer que seu rival se afastasse, então porque aquelas palavras pareciam ser algo muito mais profundo?

“Isso é bobagem. Como se eu fosse me livrar do meu brinquedo favorito...”

“Desgraçado, caia num buraco e morra.... Eu sou uma Yato...”

“Se esse é o grande segredo não se esforçou muito para escondê-lo usando um guarda-chuva o tempo todo.”

“Não seu retardado, esse não é o segredo. Tudo bem, vou começar do começo, mas não reclame porque a história é grande, foi o único que me pediu pra contar.” E ela realmente falou tudo. Dos tempos bons onde sua Mami ainda era viva e seu Aniki estava em casa. De como aos poucos sua Mami foi ficando mais doente e seu Papi cada vez mais longe de casa. De quando Kamui tentou matar Umibouzu e depois deixou a casa para ser pupilo de Hosen, logo depois se tornando um Harusame (essa era a parte que ela não queria contar, afinal de contas Okita era um policial, talvez fosse problemático para ele se relacionar com a irmã de um criminoso). Até falou do reencontro com seu irmão em Yoshiwara. No final de tudo, Kagura estava chorando mais ainda, mas alguma parte do seu coração se sentia melhor por dividir aquilo tudo com alguém. De repente, a ruiva sentiu Sougo segurar sua mão, retirando alguns fios de cabelo que cobriam o rosto dela. Kagura tremeu com o gesto, mas não o rejeitou. Era ótimo ser confortada por ele.

“Tudo bem, você não devia mais chorar. Sua mãe com certeza não ia querer te ver triste desse jeito.”

“Eu sei que não, mas...” Kagura congelou por um momento. Oy, oy, o que estava acontecendo ali? Estava chorando na frente do maior sádico do universo, suas mãos estavam grudadas e não havia nada quebrado. Droga, aquela vermelhidão nas bochechas tinha voltado, aquela sensação de que algo entre os dois ainda não tinha ficado completamente claro. Para esquecer essas coisas, Kagura se concentrou na conversa.

“E quanto a você? Disse que também estava procurando um lugar para sofrer por suas memórias.”

“Ehhh, eu disse? Acho que ficou maluca e está ouvindo coisas china girl...” Okita tentou se esquivar.

“Não tire onda com minha cara maldito! O que foi, não confia em mim....” Aquilo fez o peito de Kagura doer por algum motivo e ela olhou para os lados.

“Minha irmã.” Sougo falou de uma hora pra outra. “Nossos pais morreram há muito tempo atrás e ela cuidou de mim a vida toda. Só que Aneue era muito doente, e mesmo assim... Mesmo assim sempre se esforçou por mim... Há algum tempo ela piorou e...” O sádico não conseguiu terminar, mas Kagura tinha entendido muito bem.

“Eu sinto muito, não sabia disso... Desculpa, não devia ter ficado falando dos meus problemas.”

“Tudo bem. Eu prometi quando ela morreu que não ia mais chorar e que iria seguir minha vida.”

“Acho que está encarando isso de um jeito errado. Você amava sua irmã, então é inevitável que sofra pela morte dela. Então se tiver vontade de chorar para colocar para fora a sua dor, acho que ela não se incomodaria se fizesse isso perto de um amigo.” Okita observou seriamente aquela pequena garota de roupas chinesas. Ela às vezes dizia coisas que o surpreendiam. Como no incidente com os remanescentes da facção Sokai, quando ela além de lê-lo como um livro tentou lhe fazer enxergar que falar a verdade pode ser libertador.

“Mas as coisas não são tão simples pra mim china. Não fale como se eu tivesse amigos. Caso não tenha percebido, eu não dou a mínima para ninguém.” Sougo levou um murro forte no rosto e quando olhou para a china girl ela estava furiosa, e logo depois o abraçou.

“Porque essa coisa ridícula de se fazer de insensível hein sádico? Se você não vê que tem amigos, a única culpada é sua estupidez! O gorila e aquele Mayo-idiota se importam bastante com você. Gin-chan te colocaria no Yorozuya se desistisse de ser um ladrão de impostos. Você tem um monte de amigos sádico idiota, e também tem a mim.” Kagura falou enquanto seu rosto estava pressionado no peito de Sougo, e mesmo depois de tanta chuva aquele abraço ainda a aquecia.

“Ehh? “Tenho um monte de amigos e tenho você?” Quer dizer que mesmo depois dessa novela toda continuamos apenas rivais pirralha?”

“Não é isso, mas é que... Sádico, eu não acho que nós dois somos amigos. Quer dizer, eu adoraria rachar essa sua cara de inútil em mil pedacinhos, mas não te odeio, tanto que te contei coisas hoje que nunca contei nem a Gin-chan ou Shinpachi. Não confiaria aceitar nenhum tipo de comida que você oferecesse, mas acho que com certeza você vigiaria minhas costas em alguma batalha...”

“Fora o fato de estar completamente vermelha só por causa desse abraço.” Sougo sorriu convencido, e Kagura lhe mostrou a língua. “E então china, se não somos rivais, amigos, o que diabos somos?”

“Não sei... Rivais... Amigos... O que sobra depois de tirar isso?” Kagura perguntou, seus olhos azuis encarando os avermelhados de Okita e o fazendo chegar a uma conclusão. Aquele incomodo no coração e aquela vontade maluca só podiam significar uma coisa. Mas será que era mesmo?

“Posso tentar uma coisa?” Ele perguntou numa voz baixa, e a ruiva apenas acenou com a cabeça. Lentamente Sougo aproximou seu rosto do de Kagura, sentindo seu rosto esquentar um pouco. Aquilo não tinha lógica ou explicação, era apenas uma vontade inexplicável de estar cada vez mais perto, até que não restasse o mínimo espaço entre eles.

A temperatura que emanava da situação os fazia esquecer o quão fria estava a água da chuva.

“O-O q-que está fazendo sádico?” Kagura perguntou mais vermelha ainda.

“Ah, fique quieta china girl.” Okita falou debochado e quebrou a distancia entre os lábios deles. O beijo deixou ambos surpresos, não porque não sabiam o que estava acontecendo, e sim pela sensação que causava. Era como se as tristezas tivessem desaparecido por um instante, um tranquilizante extremamente poderoso parecia estar correndo em suas veias.

Sem ter mais nenhum controle sobre suas atitudes, Sougo invadiu a delicada boca com sua língua, saboreando cada centímetro como se sua vida dependesse disso. Era algo completamente inexplicável, já havia beijado duas os três garotas antes, mas tinha sido por pura curiosidade. Aquela vez era completamente diferente, quanto mais abraçava e tocava e beijava a china girl mais desejava ela.

Não, aquilo era algo muito maior que apenas um desejo.

Kagura por outro lado continuava em estado de choque, mas o gosto doce misturado com sukonbu daquele beijo e o aroma agradável nas roupas de Okita a fazia pouco a pouco esquecer os contras que com certeza não superavam os prós daquele beijo.

Depois de vários minutos que para os envolvidos pareceram apenas um piscar de olhos os dois se separaram, ficando com suas testas encostadas enquanto arfavam.

“Acho que acabei de descobrir o que nós somos china girl.” Sougo falou em meio a respiração ruidosa.

“Sério? O que?” Kagura perguntou corando um pouco.

“Se ainda não entendeu posso te beijar de novo até chegar a mesma conclusão que eu.” Agora a ruiva estava tão corada quanto seu cabelo.

“N-Não p-precisa. Então o que temos é.... Tipo amor e ódio?”

“É o que parece.

“Mais clichê impossível.”

“Estávamos nos beijando no meio de uma tempestade pirralha. Acho que já quebramos todos os recordes da clichêzisse em uma única tarde.” Sougo deu uma risada irônica enquanto viu Kagura dar um sorriso tímido em meio a bochechas vermelhas. Quem diria que até aquela garota monstro tinha um lado fofo.

“Então... Já que as coisas são assim... Se precisa de alguém pra chorar suas mágoas, eu posso ser essa pessoa certo?”

“Não seja boba china girl, eu não estou mais trist...” Sougo parou por alguns instantes. A dor que estava em seu peito antes tinha voltado, agora pior, e involuntariamente as lágrimas rolavam pelo seu rosto. Era uma das únicas vezes que já tinha chorado na frente de alguém que não fosse sua irmã, e aquilo o deixava completamente envergonhado. “Já vou indo china, você também devia voltar para o Yorozuya, pegando tanta chuva vai acabar ficando doente.” o sádico tentou sair dali, mas Kagura o segurou lhe dando um abraço apertado.

“Eu já disse que pode chorar seu idiota. Não fique bancando o insensível ou eu... eu...” Antes que percebesse a garota chinesa também estava chorando.

E os dois ficaram ali por várias horas, deixando que todas as tristezas fossem lavadas pela chuva e pelo conforto um do outro. Quando o sol voltou a aparecer e as pessoas saíram de novo, não havia mais nenhum sinal do capitão sádico do Shinsengumi ou da china girl do Yorozuya.

Omake

Alguns dias depois...

“Kagura-chan, como você foi ficar tanto tempo naquela chuva? Viu só, acabou pegando uma gripe!” Shinpachi reclamou.

“ISSO NÃO É O PIOR PATSUAN! EU POSSO SABER PORQUE O SOUCHIROU-KUN VEIO TE TRAZER AQUI? E OUVI MUITO BEM O BARULHO DE UM BEIJO! QUE PALHAÇADA É ESSA POSSO SABER?”

“Gin-san, a melhor pergunta é como diabos você sabe o barulho de um beijo?”

“Calado virgem.” E os dois Yorozuyas começaram a brigar enquanto Kagura apenas se cobriu mais e deixou o sono tomar conta.

“Oy Sougo, levante logo desse futon ou eu te faço cometer seppuku.” Hijikata e Kondo entraram no quarto de Okita.

“Toushi deixe ele, o Sougo está gripado.”

“Por culpa dele mesmo por ter pegado ficado passeando na chuva. Sua responsabilidade, então vá trabalhar!”

“Sougo você não vai dizer nada?”

“Será que existem... Bolos feitos com sukonbu?” o sádico perguntou tirando as cobertas da cabeça. “Ah eu preciso ligar pra confeitaria, e espero que eles mesmos coloquem o molho de tabasco dentro. Se bem que... é, quem sabe eu não esqueça as pegadinhas só dessa vez.” Ele começou a procurar o celular pelo quarto, enquanto seus superiores olhavam com uma cara de espanto.

“Ele está realmente doente. Sougo, eu vou conseguir algo pra febre e suas alucinações vão acabar.” Hijikata falou e ele e Kondo saíram correndo atrás de um médico. Mal eles sabiam que a única doença que Sougo tinha se chamava amor.


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