Destinados escrita por Lucy Myh


Capítulo 21
Capítulo 20. ROTINA


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora de novo. Sabe como é, fim de semana de vestibular :/

Dois capítulos pra vocês hoje.



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CAPÍTULO 20 – ROTINA

Luna POV

No decorrer das semanas, fui me acostumando a viver em Forks. Foi incrivelmente fácil me acostumar a essa cidade, mais até do que eu imaginava. A cidade pequena já me era familiar. O inverno foi cedendo e a primavera chegou com tudo, mesmo que ela estivesse praticamente um mês adiantada – o que ninguém mais estranha desde quando ficou impossível negar o aquecimento global –. Minha vida ficava cada dia mais atribulada.

Tive que me dedicar mais à escola, o período de transição, onde eu tinha vantagem por já ter visto a matéria, acabou. Além disso, meus amigos gostavam muito de sair. Íamos muito a lanchonetes e ao minúsculo shopping da cidade. Basicamente duas palavras: comida e cinema. Só não íamos às praias de La Push por causa do frio invernal (preciso comentar como o clima está cada vez mais louco? Frio demais, quente demais. Tudo culpa do que mesmo? Aquecimento global, claro).

Eu não tinha muito tempo para nada. Como, por exemplo, arrumar meus livros direito. Me dividia entre sair com amigos, visitar minha avó – que, graças ao bom Deus, estava mais saudável do que nunca, acho até que a nossa mudança para cá ajudou muito na recuperação dela –, ajudar nas tarefas domésticas, estudar, fazer o dever de casa, os trabalhos escolares e a internet. Quando eu tinha tempo e disposição, o que se resumia a algumas noites, eu lia. Mas na maioria das vezes, eu ficava tão cansada que dormia que nem uma pedra.

De certa forma, estar com a agenda lotada era bom para mim. Odeio ficar sem nada para fazer, porque isso leva à reflexão sobre a vida e não sei o que refletir sobre a minha. Mas, às vezes, ficava tão, mas tão, ocupada, que eu tinha vontade de explodir e jogar tudo para os ares.

Embora, talvez, o melhor mesmo de ficar exausta seja o sono pesado.

Poucas vezes eu sonhava ou, pelo menos, não me lembrava. Os pesadelos diminuíram a freqüência. A corrida, o sentimento de abandono e perda, a queda no poço, o cemitério. Eu não precisava gritar mais. Eu não acordava mais assustada e cansada porque eu não sonhava mais com aquilo, por enquanto. Agora eu tinha meu anjo cuidando de mim, ele ficava sempre comigo, me abraçando. Era bom dormir assim. Eu até acordava mais feliz.

Inclusive – talvez seja loucura da minha cabeça – quando eu acordava e me levantava, fechava os olhos, me espreguiçando, e, ao encher meus pulmões de ar, podia sentir um leve e delicioso perfume. Era inebriante, diferente e intrigante. Não parecia ser nenhum daqueles perfumes que se compra para os cômodos da casa. E mesmo que fosse, eu saberia se tínhamos comprado isso, mas nós não tínhamos.

Cheguei até a perguntar para minha mãe, mas ela disse que não estava sentindo nada. O que me fez pensar que Forks tinha começado a me deixar louca. Eu tinha certeza que sentia. Era fraco, mas era estranhamente familiar e inebriante, estava preso em minha memória como se já tivesse sentido esse perfume antes. E me fazia sentir bem, além de me lembrar vagamente de algo dourado que eu não sabia ao certo o que era.

Com o tempo ficava mais forte, como se estivesse se acumulando em meu quarto, mas como? Será que... será que era um fantasma? Será que fantasma tem cheiro? Bom, ou talvez eu esteja enlouquecendo de vez. Meu cérebro deve estar muito sobrecarregado.

De fato, muito sobrecarregado, dentro de três semanas aconteceria o Baile de Primavera. E a divulgação já está a todo vapor.

Esse baile existe desde... há muito tempo atrás. Uma tradição.

Lembro da minha avó e minha mãe comentando sobre o baile delas, foram neles que elas conheceram os homens com quem elas casaram. É, pode parecer incrível, mas parece que virou um tipo de tradição na minha família. Vovó comentou que começou com a minha bisavó. Ela e meu bisavô se conheceram no Baile de Primavera e foram juntos no Baile dos Estudantes e, depois de algum tempo juntos, casaram e tiveram a minha avó.

Isso também aconteceu com vovó e, por incrível que pareça, com minha mãe também. Todas elas conheceram seus maridos nos Bailes de Primavera, foram com eles no Baile dos Estudantes, casaram cedo para a média da população, engravidaram, tiveram uma menina e, diferente de muitos, o casamento durou.

E, agora, como tradição na família, vou esperar para ver o que vai acontecer. Será que também vou encontrar meu marido? Ou melhor, o amor da minha vida? Acho difícil, a sorte nem sempre anda ao meu lado. Talvez a tradição só dure três gerações. Bom, vou ter que esperar para ver.

Toda a agitação para o baile e o clima esquentando literalmente, trazia uma nova agitação para minha vida. Precisaria convidar alguém – porque, sei lá desde quando, um ser ignorante teve a brilhante idéia de que as garotas deveriam convidar os garotos para esse baile. Ah, me poupe, não quero ser rejeitada! Mas, principalmente, não quero ir sozinha, então, vou ter que correr o risco –, mas quem eu convidaria? Ainda tenho tempo, não é? Vou pensar depois. Acho melhor descansar agora. Meu dia foi muito corrido hoje, e amanhã é segunda-feira. Tenho que acordar cedo.

 

Como sempre, estava correndo. Era o mesmo sonho bom que tive nesses últimos meses. Eu corria ao lado do meu anjo, a velocidade era extraordinária, veloz demais para um humano, sentia-me livre. Não havia luz, a não ser a das estrelas, mas não me chocava com nenhuma árvore. Seu rosto ainda era um mistério para mim.

Corríamos pela floresta, passávamos por uma clareira, depois por uma cachoeira e por uma coisa branca e grande. A velocidade era alta demais, mas não tinha vontade de parar e analisar por onde passeávamos, a única coisa que queria era correr ao lado dele, com ele.

Em todos os sonhos, eu terminava em seus braços, ambos deitados na relva de uma clareira, observando as estrelas. Ele cantarolava algo que eu não conseguia ouvir, como se entrasse de um lado e saísse do outro – concluí que ainda não estava preparada para absorver essa informação –, e então eu acordava, descansada e animada.

Mas hoje, diferente de sempre, algo não estava certo. Na corrida, embora pudesse acompanhá-lo, sentia meus pés mais pesados, exigindo mais de mim para ficar ao seu lado. Eu não me importava com o esforço que teria de fazer, contanto que nós estivéssemos juntos.

Paramos na clareira, deitamo-nos – eu em seus braços – sob as estrelas do céu. Mas eu sentia que algo estava errado. As conhecidas nuvens de chuva de Forks – incomuns no meu sonho – avançaram sobre a noite, encobrindo os pontos de luz. Logo não havia mais estrelas, não havia luz e, de repente, me vi sozinha. Meu anjo havia desaparecido. Levantei-me apavorada. Sem meu anjo eu não era nada.

As árvores começaram a se mover, vindo em minha direção, fechando o cerco ao meu redor. As raízes se arrastavam pela terra, os troncos se aproximavam, as folhas caíam. Cada vez mais escuro, fiquei estática. Estava com medo e um sentimento ainda pior ameaçava atacar meu coração.

Toda a movimentação parou. Tudo ficou no mais absoluto silêncio, a paisagem toda estava numa inércia assustadora. Não ouvia mais o farfalhar das folhas. Olhei ao meu redor. As que antes caíam, estavam flutuando no ar. Era como se o tempo estivesse congelado.

Percebi um vulto me cercando. Senti-me acuada. A adrenalina pulsava aceleradamente em meu corpo. Algo não estava bom. O sonho já estava se tornando um pesadelo.

De repente, o meu anjo estava à minha frente, a cabeça baixa. E então eu soube o que aconteceria.

“Não vá.” Pedi, a voz baixa e intensa, reprimindo o choro que, inevitavelmente, viria. Mas eu sabia que esse meu pedido não seria atendido. Numa despedida silenciosa, eu sabia que, por mais que eu pedisse, eu não seria o suficiente para prendê-lo aqui. Eu, uma mera mortal, sem nada de mais. Ele, meu anjo, meu salvador.

E tal como previ, ele desapareceu como fumaça. Deixando para trás, uma brisa com seu perfume. O perfume mais intenso e inebriante de todos.

Me vi correndo novamente, chamando por ele. Eu caía, tropeçava, me machucava. Meu anjo não estava mais comigo para me proteger. Eu chorava como nunca chorei. A chuva desabou do céu, me desesperando mais. Estava perdida, abandonada e sem forças.

Caída no chão, fiquei lá, desejando morrer. Ele foi embora. Ao longe, vi uma luz brilhar, aproximando-se de mim. Eu não sentia mais nada. Ele foi embora. A luz foi aproximando-se mais e mais, cegando-me. Fechei fortemente os olhos e quando os abri novamente, estava no meu quarto. Minha cama.

Senti as lágrimas descerem por meu rosto, estava suando frio, com a boca seca e um nó na garganta. Meu coração batia descompassado. Minha cabeça doía. O pior pesadelo da minha vida. Nem o fogo e os braços femininos tentando me dilacerar eram tão torturantes quanto ser abandonada pelo meu anjo.

E eu sabia que os tempos de paz acabaram. Eu estava sozinha.

Ainda era cedo e por mais que minha cabeça doesse, exigindo que eu dormisse, eu não queria voltar à inconsciência. Eu não queria ter que voltar a sonhar mais, não aquele pesadelo.

Levantei-me da cama, seguindo para o banheiro com uma toalha e uma troca de roupa. Despi-me e me entreguei à água quente. Senti-a caindo em meus ombros, tirando a tensão que se acumulou naquele local. Apliquei meu xampu preferido, sentindo o seu perfume de morangos, tentando acalmar os nervos. Massageava minha cabeça, lavando meus cabelos, ao mesmo tempo em que tentava acabar com a dor. Concentrei-me na água que descia por meu corpo, deixando-a levar junto com a sujeira e a espuma, todo o sentimento ruim que o pesadelo me trouxe.

Ensaboei-me, massageando bem os ombros, retirando qualquer vestígio de tensão que a água não conseguiu retirar. Enxagüei-me, deixando a água, com sucesso, levar todo o aperto no peito para o ralo.

Eu estava calma agora. Foi só um pesadelo. Esqueça isso. Você tem mais coisas importantes para pensar. O que era verdade. Em três semanas – dois dias depois do baile –, eu faria 16 anos e concordei, de bom grado, trocar a festa de debutante por um bom carro, novo em folha, de minha escolha.

Diferente da maioria das outras meninas, eu não fazia questão de uma grande festa de aniversário. Afinal, qual seria a graça de ter um “sweet sixteen” se não tiver o príncipe certo para dançar a valsa com você? E para mim, o príncipe certo não é o garoto mais popular do colégio ou o desconhecido mais bonito que os pais podem pagar, nem mesmo o artista famoso que custa uma fortuna. Não, para mim, o príncipe certo é aquele que faz as borboletas dançarem no estômago, que causa a sensação de eletricidade percorrendo cada milímetro do corpo somente com um toque. O príncipe certo é aquele cujo sorriso me tira o fôlego, que faz meu coração disparar, que me prende com um simples olhar. E até hoje, eu não o encontrei.

Saí do box e fitei o espelho embaçado pelo vapor. Limpei-o e observei a imagem que ele refletia. Minhas feições demonstravam uma noite mal dormida, as olheiras evidentes contrastavam com minha pálida pele de marfim. Minha mãe ficaria preocupada comigo, hoje vou precisar de maquiagem.

Depois de devidamente vestida e maquiada – só o necessário para não alarmar minha mãe –, voltei para o quarto e observei a paisagem. Era cedo, evitei encarar a floresta, observando mais acima do horizonte. Vi uma camada fina de nuvens, mais fina que o comum, podia até ver o céu azul em algumas partes. E a suposição que se formava em minha cabeça foi constatada quando as copas das árvores e parte do jardim foram iluminadas com os primeiros raios de sol do dia. Um sorriso se alargou em minha face. Finalmente, o sol.

A primavera veio com tudo mesmo. Agora, com o tempo esquentando, haveria mais possibilidades de dias ensolarados como este e, consequentemente, mais saídas. Espero sinceramente que minhas notas não sejam tão baixas assim, não quero ficar de castigo e perder uma praia com meus amigos.

Ouvi meu pai acordando, realmente, era cedo. Decidi que hoje tomaria o café da manhã com ele e que aproveitaria um pouco do sol antes de ir para a escola. Arrumei meu material e fiquei escolhendo qual livro leria, optei por um dos meus livros mais antigos, um volume grande, que reunia várias obras de Jane Austen.

Desci e, logo depois, meu pai me fazia companhia na cozinha. Não precisávamos conversar muito, trocamos ‘Bom dia’ e, como sempre, brincou comigo, perguntando por que tinha caído cedo da cama. Foi um café da manhã tranqüilo.

Quando ele foi saindo para o antiquário, minha mãe acordou, a avisei que iria aproveitar o sol no jardim e que estaria esperando por ela lá fora. Peguei minhas coisas e uma coberta. A grama devia estar úmida pela chuva do dia anterior.

Saí, estendi a coberta na grama, sentei e fiquei lendo Orgulho e Preconceito.

Estava tão absorta na leitura que nem percebi que minha mãe tinha saído de casa e que já estava na hora de irmos. Levantei-me, dobrei a coberta e joguei no banco de trás do carro. Entrei, sentando no banco passageiro, e fomos rumo à escola.

 

O dia de hoje foi como todos os outros, exceto pela ausência de cinco pares de olhos no intervalo. E, por mais inacreditável que possa parecer, não sabia nem com que carro eles vinham à escola. Mesmo depois de um mês e meio, eu era distraída o suficiente para não perceber qual carro era o dos Cullen.

Ainda assim, depois daquele primeiro dia de aula, ou melhor, daquele estranho acontecimento no refeitório do colégio com os Cullen, não pude deixar de observá-los. Eu lançava olhares discretos para tentar captar algo estranho, mas parece que só aconteceu naquele dia. Depois daquele primeiro dia, pelo menos em todas as vezes que eu os olhava, eles agiam como pessoas normais. Normais demais para o meu gosto.

A impressão que eu tive era como se eles atuassem perfeitamente bem e, se não fosse essa minha intuição bizarra, eu diria que eles não têm nada a esconder. Mas havia algo neles, algo familiarmente perfeito, que me fazia ficar com um pé atrás. Eles não eram normais, eles eram estranhos, mas não de um jeito ruim, eles eram estranhamente divinos. Principalmente o mais novo, o de cabelos cor de bronze, Edward. Sentia-me como se eu conhecesse todos os traços daquele rosto, como se em alguma vida passada, nós fôssemos um do outro. Ele me desperta um romantismo que eu não sabia que existia dentro de mim. Ele me fez desejar ter um namorado, especificamente ele como meu namorado, mas eu sabia que não tinha chances. Ele é perfeito e, mesmo que eu seja aceitável, não estaria à sua altura. Ele é meu sonho, minha utopia, ou seja, inalcançável para mim.

Ai, que brega, Luna! Olha o que esse garoto te fez! Você não era assim, nunca foi. Esquece isso! É o melhor que você pode fazer.


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Notas finais do capítulo

Ok, pessoal... bom, vocês devem estar me matando por deixar Edward longe por uma semana, né? E devem estar me achando uma louca pra fazer uma semana de sol em Forks... mas veja bem, 2082... é claro que o aquecimento global pode fazer isso por mim, não pode? Por favor, diga que sim!

Esse capítulo foi super, mas super trabalhoso de se fazer. Tenho tanta coisa pra botar pra fora da cabeça que entalou tudo aqui dentro. Mas e aí?? Alguém reparou no sonho?? Lembraram de alguma coisa?? Descobriram o porquê do Edward ver que a Luna não dorme que nem a Bella??

É isso aí, estamos avançando no tempo.



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