O portador da lua escrita por Daughter of Apollo, AAJ


Capítulo 2
Nuvens carregadas de memórias




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Selene terminou de arrumar a cesta de doces, pães e geleias e saiu de casa. Stefan havia passado a maior parte do dia com os caçadores, procurando alguma pista sobre a besta que matara o marido de Sara. Ele merecia um pouco de descanso e algum apoio e Selene queria ajudar o máximo que podia. Ao menos era algo que fazia bem. Ajudar. Dar apoio.

O vilarejo estava em luto e uma clara atmoesfera de medo pairava no local. Pessoas fechavam as janelas das casas, mães recolhiam as crianças para dentro, homens olhavam desconfiados ao redor e as jovens na idade de casar como Chapeuzinho os auxiliavam como podiam. Cozinhavam para irmãos e pais, lavavam roupas, preparavam-se para amparar algum ferido... Afinal, o comportamento ideal de uma garota que procurava um marido e Selene sabia que algumas delas se aproveitavam do momento para tal. Era uma ótima oportunidade para mostrarem seus atributos. Selene ajudaria Stefan mais por se preocupar mesmo.

A casa de Stefan não ficava longe. Logo depois do ferreiro, próxima da floresta para saídas rápidas. A garota bateu na simples porta de madeira e ouviu os passos do filho do caçador ecoarem. A porta foi aberta.

– Selene? – Alguma coisa se iluminou no rosto inocente e maduro do garoto loiro.

– Olá Stefan. Vim trazer alguns doces e pães para você recuperar as energias. As geleias são feitas das frutas recém-colhidas.

– Quanta consideração, obrigada Selene. Venha, entre. Coma comigo.

– Seu pai está em casa? – A garota hesitou. Não era um bom comportamento estar na companhia de um homem sem um adulto para superviosionar.

– Não, mas ele já vai chegar. Pode entrar, não haverá problema algum.

Selene hesitou. O que sua mãe pensaria? Daria uma bronca nela com certeza. Contradizendo isso, sua mente dizia para aceitar, pois não queria passar como chata com Stefan.

Adentrou o resinto praticamente ouvindo o sermão que sua mãe daria. Já podia até ver os olhos raivosos por ela ter saído de casa sem avisar.

– Então Selene, como vai? – Stefan, depois de um longo período de silêncio apenas observando a garota arrumar a mesa, decidiu tentar um assunto já que Selene provavelmente não faria isso.

– Bem, apenas um pouco assustada com o assassinato. E o senhor? – Educada como sempre, Stefan pensou.

– Relativamente bem. As buscas não estão dando muito resultado, mas eu juro que não deixarei a fera se aproximar do vilarejo novamente, principalmente da senhorita. Não se preocupe, nada te acontecerá. Alias, precisa de alguma ajuda esta tarde? – Para qualquer outra moça, a oferta era uma tentação. Mas para Selene...

– Não, acho que não. Estamos organizando tudo para o festival, e... Bom, está uma bagunça, mas eu irei ficar bastante ocupada. Mas obrigada por perguntar!

– É sempre um prazer para uma jovem tão gentil. O Festival? Ah, estou ansioso. Será uma verdadeira comemoração esse ano que a colheita foi tão boa. – Disse enquanto passava geleia num dos pães - Tenho certeza de que conseguirão organizar. E estou ansioso para ter a oportunidade de dançar contigo. – Selene iria se engasgar, mas sua educação foi tão grande que fez com que ela conseguisse se controlar.

– Oh, claro... Dançar... – Sua respiração se acelerou e ela começou a sentir-se mal. Timidez definia seu estado de espírito - Eu preciso ir Stefan, minha mãe provavelmente está nervosa com o meu sumiço...

– Claro, compreendo. Até breve, senhorita. – Stefan estava no mínimo decepcionado, mas sabia como era sua sogra. Não poderia fazer nada, apenas aceitar.

– Até breve! - E Selene praticamente fugiu da casa de Stefan.

Mesmo de vestido, a garota corria rápido. Desde pequena ela sabia correr de todos os modos, exatamente por ser um pouco levada na época. Enquanto sentia o vento bater em seu rosto e levar suas magoas para longe, ela sorria. Sentia a época em que era feliz voltar. Quando ainda não tinha acontecido o acidente, e desobedecia todas as ordens de sua mãe. E era feliz e... Esse cheiro... É tão... familiar.

Selene parou de correr, e viu um homem. Não conseguiu vê-lo direito, as árvores faziam sombra em seu rosto, mas podia enxergar dois olhos castanhos mel que a arrepiaram. O diálogo foi curto, como era de se esperar de Selene, mas ainda sim tinha de existir em nome da educação que sua mãe havia lhe dado.

– Oi. – Surpreendentemente, Selene não havia conseguido gravar a voz do homem a sua frente. Pareceu que ele nem havia se pronunciado.

– Olá. – Breve como sempre, Selene continuou andando ignorando o homem misterioso.

Continuou andando dessa vez, se alguém a pegasse correndo provavelmente iria contar para sua mãe e... Ah! Selene não podia acreditar no que estava a sua frente, simplesmente piscava os olhos freneticamente querendo acordar de um sonho que nunca existiu. A clareira a sua frente estava... Selene não podia acreditar, simplesmente largou sua cesta e cobriu seus olhos como uma criança. Um corpo totalmente irreconhecível estava espalhado pela clareira. Sangue e mais sangue por todos os lados, membros e órgãos pendurados nos galhos das árvores. O cheiro do sangue familiar, o mesmo cheiro do vinho que bebeu naquele dia. Não aguentou, soltou um grito que havia guardado há anos.

Selene não sabia que estava de joelhos até sentir que alguém tentava levantá-la. Na verdade, não sabia por quanto tempo entrara em estado catatônico. O cheiro familiar tornava tudo ainda mais terrível, como a lembrança de uma visita a sua vó...

– Selene! Selene! Fala alguma coisa!

A voz de Stefan trouxe Selene do limbo. Ela aceitou ser erguida por seus braços fortes. Não se sentia em condições de se lenvantar sozinha.

– V-v-ocê... Ouviu... Me-e-eu grito? – Sua garganta estrangulava as palavras.

– Sim. Droga, eu não acredito que...

Selene arfou e Stefan interrompeu a fala. Melhor não piorar as coisas, pensou ele, ao olhar ao redor. Precisava priorizar a futura esposa quase desmaiada em seus braços. Ele conhecia a natureza sensível de Chapeuzinho.

– Vou levar você para sua casa – Ele disse – Consegue andar?

De tanta ânsia, Selene não conseguiu responder. A única coisa que queria era sair dali. Nem podia acreditar... Parecia que a visão permanecia em sua mente para atormentá-la, mesmo quando fechava os olhos.

– Não, não desmaie! – O comando a trouxe de volta novamente. Ela se concentrou no olhar calmo e austero de Stefan, que poderia acalentar até a mais terrível fera. Fera... Argh, pensar naquilo não foi uma boa ideia. – Responda. Consegue andar?

– Não.

Stefan concordou. Ele passou um braço por baixo dos joelhos de Selene e o outro em suas costas. Com facilidade a ergueu e começou a andar na direção em que sabia ser o lar da garota. Ele tomou todo o cuidado em caminhar devagar e sem muitos balanços. Ele não queria piorar a situação da gentil noiva.

Já conseguia ouvir as exclamações de alguns poucos moradores quando viu a mãe de Selene correr em sua direção, quase em um colapso.

– Filha? Filha! Filha! O que aconteceu com ela?

Alguns outros aldeões olhavam preocupados. Stefan relutou em falar. Mas a mãe de Selene o fitava tão aflita que ele não pôde esconder. Respirou fundo e falou:

– Ela foi entregar alguns pães lá em casa e depois foi embora. Minutos depois ouvi o grito dela e a encontrei ajoelhada na floresta. Havia... Havia um corpo estripado irreconhecível lá. A besta atacou novamente.

– Não! Maldição!

Uma lágrima caiu no rosto de Selene. A mãe agradeceu a Stefan de modo distante e o acompanhou enquanto este levava a filha para casa. A mãe estava com tanta raiva que sentiu vontade ela mesma de matar o lobo desgraçado. Não pensou muito na morto e e sim o quão perto sua filha esteve do perigo. Se possível, nunca mais a deixaria sair de casa.


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