Thalia estava recostada em um pinheiro quando a deusa apareceu. Ela sempre gostara daquelas árvores, mesmo antes de se tornar uma. Era uma tarde tranquila, as Caçadoras haviam caçado um monstro grande, que, aliás, só tinha tamanho. Não havia nenhuma clareira ou local bom para acampar nos arredores da batalha, então decidiram acampar no parque da cidade.

Para Thalia, era incrível como a cidade tinha mudado tanto, e ao mesmo tempo nada, em tantos anos. Algumas coisas continuavam a mesmas, como os casais se beijando em um banco no pôr-do-sol, como sempre havia alguma criança rindo ao longe, ou um mendigo pedindo esmola.

Ao mesmo tempo, estava tudo diferente. Fontes e estátuas haviam sido retiradas, outras foram construídas, o espaço do parque aumentara e havia mais árvores, menos sujeira. Thalia se pegou pensando em Percy e Annabeth, e como eles gostariam dali.

Ela não pensava naqueles dois havia algum tempo. Como a maioria das coisas que deixava Thalia triste, como, por exemplo, Luke, Percy e Annabeth foram para o nível mais profundo da mente dela. Ela acabava se lembrando, mas apenas em tardes tranquilas como essa, quando o vento batia em seu rosto e ela não iria chorar, pois as únicas memórias que viriam eram as felizes.

Ela estava um pouco distante do acampamento improvisado. Ela podia ouvir as Caçadoras cantando algumas músicas e conversando, enquanto observavam o pôr-do-sol, mas Thalia não se sentiu tentada a se juntar á elas.

Ela sabia que sua escolha seria difícil. Sabia que teria que abdicar o amor, uma das coisas mais bonitas do mundo. Sabia que seria imortal. Sabia que teria que ver seus amigos morrerem. Mas mesmo assim se juntou ás Caçadoras. Apenas por que estava com medo. Medo de si mesma. Medo do que poderia fazer. Medo de ser a semideusa da profecia. Por seu medo, colocou todo o peso nas costas de Percy.

Estava tão ocupada pensando, que não percebeu quando Artémis se sentou na grama ao seu lado.

- Thalia. – disse a deusa. – Você parece distraída. Não está com as suas irmãs.

- É, eu... só estava pensando. – respondeu Thalia.

- Sobre Percy e Annabeth? – perguntou a deusa. Ela deu um sorriso encorajador, e Thalia sabia que não podia mentir. Artémis saberia.

- Sim, sobre eles. E Luke. E tudo... – ela abiu os braços, como se estivesse indicando – Tudo isso. Imortalidade. Eu realmente sinto falta do Green Day. – Artémis riu.

- É, você tem razão. É tudo muito complicado. Quem somos nós, de verdade? O que é o mundo? Qual o significado de lutar, sabendo que um dia todos nós morreremos?

Thalia não respondeu. Ela observou uma menina apanhar uma margarida e prender nos cabelos castanhos.

- Thalia, olhe aquele garoto. – disse a deusa, apontando para alguma coisa na frente.

Ele era um menino alto, de cabelos castanhos revoltos e sardas na bochecha. Ele usava óculos e um casaco vermelho. Thalia pensou que ele era um tanto bonitinho. Ela não olharia duas vezes, no entanto. O garoto escolheu um banco, não muito longe de Thalia e Artémis, e se sentou. Ele parecia um pouco nervoso.

- O que tem ele? – ela perguntou.

- O nome dele é Simon Prince. Ele tem quinze anos. Ele tem uma vida comum. Duas irmãs mais novas. Tem um trabalho em um cinema. Tira notas médias. As pessoas gostam dele, é realmente muito simpático. – falou a deusa. Thalia estava prestes a perguntar onde diabos Artémis estava querendo chegar com isso, quando a deusa sorriu. – Ele é Percy Jackson.

- Que porra...Ah.

Fazia sentido. Ele tinha quinze anos. Percy tinha morrido há quinze anos. Ela respirou fundo. Não sabia o que fazer. Deveria falar com Simon Prince? O que diria? “Oi, eu fui sua amiga em uma vida passada!”?

- Sim. Reencarnação. Ele e Annabeth combinaram de se encontrar novamente, mas na Ilha dos Abençoados. Lindo, não? Ah, os deuses estragam tudo. – falou Artémis. Thalia estava quase explodindo. – Olhe, olhe. – ela apontou de novo para o banco onde Simon estava sentado. Uma garota tinha se aproximado.

Ela era morena. Tinha mais ou menos a idade de Simon. Era magra, mas de um jeito não-anoréxico. Tinha olhos azuis grandes e escuros. Simon sorriu e bateu no espaço do banco ao lado dele. A garota se sentou e eles começaram a falar energeticamente sobre qualquer coisa. Thalia olhou para Artémis, esperando alguma coisa, qualquer coisa. Um ano pareceu ter se passado quando ela falou de novo.

- Aquela ali é Olive Frey. Tem quinze anos, é da mesmo escola que Simon. Ela quer ser uma médica. Gosta de animais. Trabalha em uma ONG que cuida de animais abandonados. Filha única. Notas boas. Conhece Simon desde que se lembra por gente. Você já sabe quem ela é, não?

- Anna...Annabeth. – a garganta de Thalia estava seca. Ela sentiu vontade e chorar. Olhou para Artémis. A deusa tinha um olhar triste.

- Os deuses decidiram que a melhor recompensa que poderiam dar aos dois era uma vida calma e tranquila, juntos. Decidiram que eles se encontrariam. Afrodite fez uma mágica... Eles estão destinados a se amarem. Cada uma das suas versões. Eles são únicos, sabe. Ninguém nunca fez isso antes. Quando se beijam, Simon e Olive sentem um calor, em seus corações. São as almas, se reconhecendo. Se amando incondicionalmente.

- Eles... Eles vão conseguir?

- Ir para a Ilha dos Abençoados? Vão. Isso também foi pré-determinado.

Thalia sentiu que tinha que saber mais uma coisa. Não se importava com o quanto idiota pareceria na frente de Artémis, mas precisava saber.

- Eles se lembram? – perguntou.

- De você? Não. Mas como eu disse, eles são únicos. Olive ás vezes sonha com olhos verdes. Ela se sente tão apaixonada por esses olhos que ás vezes sente que está traindo Simon. Simon, por sua vez, apenas sonha com uma dizendo que ele baba enquanto dorme. Muito menos dramático, mas ele é um garoto, no final das contas. Nunca houve registros de alguém se lembrando de algo depois que sua memória foi apagada no Lete. Talvez o titã Bob, mas ele era imortal. Percy e Annabeth são únicos, entende?

Thalia sentia as lágrimas escoarem por seu rosto. Simon e Olive pararam de falar e ficaram apenas se olhando. Simon pareceu tomar coragem e beijou Olive. Thalia soluçou. Ela queria ir ali. Queria contar para eles dois a história de Percy e Annabeth. Queria que Olive sonhasse sobre Percy inteiro, e não somente os olhos. Queria que Simon soubesse que muitas outras frases foram ditas. Ela queria saber como seria a outra vida dos dois, se eram felizes. Ela queria que soubesse que ela estava ali. Queria ver os dois brigando, e depois se reconciliando, simplesmente porque queria.

Thalia queria muito.

- Por quê... Por quê você me mostrou isso, Lady Artémis?

- Para ser sincera? Não sei. Acho que foi porque você estava pensando neles. Porque foi uma grande coincidência eles marcarem de se encontrar aqui. Ou então porque eu queria que você soubesse que... Que algumas coisas são imortais Thalia. Não apenas os monstros ou os deuses. Sentimentos podem durar eternamente. Zöe nunca realmente se esqueceu de Héracles. Assim como eu sei que você nunca, nunca vai se esquecer de Percy, Annabeth, Grover, Jason... Nem de...- a voz da deus vacilou. Artémis se levantou e olhou para Thalia – Nem de Luke.

Ela se virou e foi embora.

Thalia ficou ali um pouco mais. Observando o pôr-do-sol.