Por te amar demais escrita por Matheus Roberto


Capítulo 2
Capítulo 2




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Os primeiros raios solares que prenunciam um dia quente começam a surgir no horizonte. No céu há apenas algumas poucas nuvens espalhadas. Xena desperta com o som dos tripulantes iniciando seus afazeres do lado de fora. Ela se espreguiça rapidamente e vira-se para Gabrielle, que dormia profundamente. A guerreira levanta e veste sua couraça silenciosamente para não acordá-la. Depois vai até uma bacia de água que se encontra num canto da cabine, em cima de uma pequena mesa, e lava seu rosto. Secando-se rapidamente, ela pega uma maçã do cesto de frutas que está do lado da bacia e sai da cabine.

O homem que conduzia a embarcação se encontra cansado, fechando os olhos rapidamente, cochilando e despertando numa fração de segundos. Xena percebe o desespero do rapaz em se manter acordado e vai até ele.

– Ei, pode ir dormir. Eu assumo agora. – disse Xena, pondo a mão em suas costas, fazendo-o pular de susto.

– Sim, sim, senhora Xena. – ele diz em meio a um bocejo, largando o leme.

Xena toma o leme e morde a maçã, olhando atentamente para o mar.

Duas viradas de ampulheta se passam. Gabrielle acorda, se esticando na rede. Ela levanta vagarosamente e senta, levando as mãos ao rosto, esfregando os olhos, quando sente seu estômago roncar. A garota leva as mãos até o abdômen e o abraça, ficando de pé.

– Ai, que fome... – ela diz, dirigindo-se até o cesto de frutas, pegando uma pêra e dando uma mordida que enche sua boca. Enquanto mastiga ela larga a fruta por um momento e lava o rosto, o pescoço e a nuca. Após se secar, ela pega a fruta e morde novamente, se dirigindo para a saída da cabine.

Gabrielle passa pelo lado da escada que leva ao leme e não olha para trás, pois sabe que Xena está lá. Ao ver isso, a guerreira exclama:

– Gabrielle!

A barda para, respira fundo, vira-se e olha para ela.

– Você está melhor? – pergunta Xena, referindo-se aos enjôos.

Gabrielle responde secamente:

– Um pouco.

Percebendo que a garota está hostil, Xena reflete rapidamente e sugere:

– Quer conversar?

– Agora estou comendo, não está vendo? – Gabrielle responde, erguendo a pêra na direção de Xena e virando-se rapidamente, debruçando-se na lateral da embarcação.

Xena não se contém com a atitude da garota e pede para que um dos homens assuma o leme, com um sinal. Ela vai até Gabrielle, se põe a seu lado e fica na mesma posição da barda.

– É bom ver que está se alimentando. Fiquei preocupada. – ela diz.

Gabrielle esboça um sorriso falso, dizendo:

– Devo acreditar que você realmente está preocupada comigo? – ela morde a fruta com ira.

Xena suspira e põe a mão no ombro da garota.

– Precisamos conversar.

Gabrielle se afasta para o lado, respira fundo para se acalmar e diz:

– E sobre o que você quer conversar?

Baixando a mão que ficara no ar devido ao escape de Gabrielle, a guerreira contrai o rosto.

– Ulysses.

Fingindo estar calma e alheia ao assunto, a garota diz, sem conseguir disfarçar a ironia em sua voz:

– Pensei que ele estivesse em Ítaca.

Xena se aproxima.

– Por isso mesmo. Ele está em Ítaca e eu estou aqui... - ela pousa novamente a mão sobre o ombro de Gabrielle - Com você.

Por um breve momento, Gabrielle pensa em se virar e abraçar Xena, pois estava esperando ouvir o que a guerreira acabara de dizer desde que elas zarparam, porém a lembrança daquele beijo volta a sua memória, fazendo-a retroceder e se esquivar, resolvendo voltar para a cabine.

Xena segura em seu braço. Gabrielle puxa-o de volta e se dirige para a cabine.

A guerreira vai atrás dela. Chegando lá, ela encontra Gabrielle sentada na rede, olhando para o chão. Ela se aproxima e leva a mão até o queixo de Gabrielle, erguendo seu rosto e aproximando o seu. Ao perceber que seria beijada, a garota vira o rosto para o lado.

– Gabrielle, o que há? – quer saber a guerreira.

Novamente fingindo, ela tenta explicar seu ato, sem querer que Xena saiba sobre seu ciúme.

– Eu ainda estou enojada, quer dizer, enjoada. – ela se perde nas palavras.

Dando-se conta que toda aquela história com Ulysses havia realmente magoado a barda, Xena pergunta:

– Enojada com o que, posso saber?

Concluindo que Xena agora sabia do que se tratava e mesmo assim parecia fazer pouco caso de seus sentimentos, Gabrielle fica indignada, mas não demonstra. Ela se levanta da rede e anda pela cabine impacientemente, sendo acompanhada pelo olhar da guerreira. A barda se sente incomodada e diz:

– Quer parar de olhar pra mim? – Gabrielle pede, fitando Xena.

Elas se encaram por um tempo sem nada dizer quando ouvem gritos exaltados vindos do lado de fora. Xena sai correndo da cabine, seguida por Gabrielle. Dois homens da tripulação, totalmente embriagados, estão discutindo e se empurrando, sendo instigados pelos demais.

– Eles se envolveram sim (ic)! – gritava um dos homens.

– O Rei Ulysses (ic) não trairia a Rainha Penélope (ic) seu bastardo! – gritava o outro.

– Aonde é que você estava (ic) que não viu quando ele veio como um cordeirinho (ic) pedir para que ela o aceitasse? – o primeiro homem gargalha.

– Você é cego? Não vê que o negócio dela (ic) é a loirinha? – grita o segundo homem.

– Então a loirinha (ic) sobrou nessa história, imbecil! – diz o primeiro homem, fazendo todos caírem na gargalhada, sem perceberem a chegada de Xena e Gabrielle.

A garota, ao ouvir tudo aquilo, correu de volta para a cabine, atordoada.

Xena se põe no meio deles e esbraveja:

– O que pensam que estão fazendo?

Todos emudecem.

– E então? – Xena segura o colarinho dos dois homens com cada uma das mãos.

Aquele que defendia Ulysses, diz:

– Senhora Xena, esse idiota do Artêmio está dizendo (ic) que a senhora e o rei tiveram um... bem... você sabe...

O outro se irrita e avança contra o primeiro:

– Idiota é você! Ora seu...

Xena lança os dois de encontro e eles batem as cabeças, desmaiando. Ela faz menção de avançar contra os outros, que se retraem. Ela lhes aponta o dedo indicador em sinal de ameaça e diz:

– Não quero ver mais ninguém aqui bebendo, entendido?

Ela retorna para a cabine. Gabrielle está sentada na rede olhando para o chão, angustiada, com lágrimas teimosas escorrendo de seus olhos.

– Gabrielle.

– Me deixe, Xena! – esbraveja a garota, lançando um olhar cortante.

– Gabrielle, eu...

– Gabrielle eu o que? – a garota passa as mãos pelo rosto e levanta, enfurecida e vai em direção a mesa – Eles estavam rindo de mim! – ela suspira – E eu não os culpo.

– Estão bêbados. – diz Xena, tentando acalmá-la.

– Bêbados, mas não burros! – grita a loira, batendo com as mãos abertas na mesa.

Xena não aguentando aquela situação, diz:

– Você está assim só porque eu e Ulysses nos beijamos?

Gabrielle olha incrédula pela pergunta e sente seu rosto arder. Ela puxa o ar com toda força possível e grita:

– E você acha pouco?

– Gabrielle, foi só um beijo. – diz Xena, com os braços abertos.

A garota se enfurece ainda mais e se volta na direção de Xena, com as mãos na cintura.

– Sim, um beijo, e na minha presença! Você nem ao menos cogitou a hipótese de me respeitar! E ainda usou a história das almas gêmeas para envolvê-lo! A minha história preferida, Xena!

Xena se aproxima e leva as mãos aos ombros de Gabrielle, que recua.

– Não me toque! – a garota esbraveja.

Surpresa com a reação de Gabrielle, Xena diz:

– Eu não estou te reconhecendo.

Gabrielle estava fora de si.

– Xena, pelo amor de Zeus!

– Gabrielle, você disse que me ver feliz te faria feliz, não disse?

– Eu disse... e quero, mas não com outra pessoa. Você não imagina o quanto me doeu dizer aquilo. – ela respira fundo tentando se acalmar – E além do mais, você se apaixonou por ele e...

– Eu o que? – pergunta Xena – Quando você me ouviu dizer isso?

– Você disse que não conseguiria sentir o que sente por Ulysses se eu não tivesse te ensinado o que é o amor.

– Exato! – concorda Xena – Mas eu não me apaixonei por ele. O que eu senti foi...

Gabrielle a olha esperando uma explicação.

– Foi carinho, admiração, talvez atração, mas não paixão e muito menos amor. Quer dizer, amor sim, mas não como você pensa. Amei a pessoa dele, seus ideais, afinal, é um bom homem.

– Não importa o que você sentiu. O fato é que você sentiu algo.

– Sim. – confessa a guerreira.

Gabrielle fica consternada, se senta na rede novamente e conclui:

– Isso quer dizer que eu não sou o suficiente pra você.

– Gabrielle...

– Diga-me, Xena, por que não ficou com ele?

– Gabrielle...

– Por que não aceitou que ele viesse conosco?

– Gabrielle!

– Por que ficou desolada ao dispensá-lo?

– Gabrielle!! – grita Xena – Deixe-me falar!

Gabrielle calou-se.

– Eu fiquei triste sim por dispensá-lo, mas não por estar apaixonada e sim por ter sentido pena dele. Não é fácil você ter que partir ao meio os sonhos de alguém apaixonado por você. E você sabe bem disso, não sabe? – ela respira e continua – Quando vi que ele estava apaixonado por mim eu ia tentar explicar que eu não poderia me envolver com ele, por isso citei a história das almas gêmeas. Eu ia dizer que eu já havia encontrado a minha, mas ele não me deixou terminar.

– E então você o beijou por pena também? – perguntou Gabrielle com sarcasmo.

– Gabrielle, ouça! – pediu Xena – Eu o beijei porque eu quis.

– É incrível o seu desprendimento em confessar isso olhando na minha cara. – irrita-se Gabrielle, se levantando e indo em direção a saída da cabine.

– Espere! Eu não terminei. – diz Xena, segurando a garota pelo braço.

– O que você quer? Me machucar ainda mais? – pergunta Gabrielle, com os olhos marejados.

– Não! Quero terminar de falar. – Xena toma as mãos de Gabrielle, mesmo sob a resistência dela – Olha, Gabrielle, eu cheguei a ver em Ulysses uma possibilidade para me desprender de você, mas não porque eu não te ame.

– Por que então? – pergunta Gabrielle, mais calma, soltando as mãos.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Comente! Eu ficaria grato. ^.^
E se gostou dê joinha ;-)



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