Além da morte escrita por Williane Silva


Capítulo 4
Psicologo!


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem, e me desculpem a demora.



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Naquela noite, eu sonhei de novo com Edward. E, mais uma vez, o sonho refletiu acontecimentos passados, e não uma fantasia.

Estávamos num bangalô no vilarejo de Bida, onde havíamos ficado de nós encontrarmos com um cientista inglês, a fim de trocarmos informações a respeito de um novo remédio.

– Acho que já vou para a cama.- eu disse, me despindo.- Estou morrendo de cansaço.

Edward também estava exausto. Porém o simples de me ver tirando a blusa fez com que seu coração batesse mais forte, ele me disse uma vez. De repente, era como se o cansaço dele tivesse desaparecido totalmente.

– Bella?

Eu agora tirava meu sutiã.

– Sim?

– Sabe que eu te amo?

Segundos depois estávamos na estreita cama de casal nos amando com loucura.

Cada vez que fazíamos amor, ambos sentíamos nos transportar para outro mundo. Edward explorava meu corpo como um verdadeiro perito, procurando e encontrando meus pontos mais sensíveis, me fazendo arder e tremer de desejo.

Às vezes ele me excitava a tal ponto, que eu pensava que eu fosse me desintegrar de tanto desejo. E a reciproca era verdadeira. Juntos, nos havíamos transformados o sexo numa verdadeira arte.

Eu sabia que aquilo só era possível porque nós dois nos amávamos com loucura. Fazíamos amor de diferentes maneiras, com loucura ou com extremo carinho, com reverência ou inrreverência, com seriedade ou em meio a um monte de brincadeiras.

Naquela específica noite em Bida, ambos caímos na risada. Precisávamos fazer muita acrobacia para conseguir se amar naquela cama bamba e estreita, sem que a cortina que nos protegia dos mosquitos caísse em cima de nossas cabeças.

Depois , dormimos abraçados e, ao acordar na manhã seguinte, estávamos exaustos e doloridos.

Mas muito satisfeitos.

Lentamente, como se eu não quisesse deixar meus sonhos, eu acordei.

Que vontade de abraçar Edward, de lhe dizer que o amo de todo meu coração, de sentir seu corpo forte contra o meu...

Mas o problema era que Edward não estava ao meu lado. Abri os olhos e tudo que vi foi uma imensa escuridão. Edward tinha partido para nunca mais voltar. Seu corpo não existia mais. Tinha sido transformado em cinzas.

Toquei a pulseira de prata que eu havia colocado em meu próprio braço, encostei a cabeça no travesseiro e chorei. Chorei até não ter mais lágrimas. Chorei até não aguentar mais.

Quando finalmente me levantei, o céu de Chicago estava acinzentado e nevava sem parar. Dando uma olhada em volta e percebi que Sombra havia desaparecido de novo. Tentei ignorar o gato e o quarto de casal.

Tomei um lanche rápido, me vesti, disfarcei meus olhos inchados com um pouco de maquiagem e fui para a universidade. De lá, liguei para meu médico a fim de marcar uma hora para aquela mesma tarde. Dez minutos depois, eu entrava na sala de aula.

A aula transcorreu sem problemas, muito embora eu me sentisse completamente distante dos alunos e de mim mesma, como se todos fossem personagens de uma peça de teatro não muito interessante.

Na hora do intervalo, fui tomar um café na lanchonete com Alice. Tentei me comportar da maneira mais natural possível. Não toquei no assunto da pulseira, nem da luz azul debaixo da cama. Em vez disso, comentei que me diverti muito no jantar de sábado à noite.

– Então, minha querida, quer dizer que você vai sair com um dos dois rapazes?- perguntou uma animada Alice.

Sorrindo eu fiz que sim com a cabeça.

Alice bateu palmas.

– Graças a Deus! Minhas preces foram ouvidas!

Quando eu voltei às sala, encontrei um recado em cima da minha mesa, dizendo que Marcus Martinson tinha telefonado. Eu liguei de volta e ele me convidou para almoçar naquele mesmo dia, no restaurante do campus. O convite foi aceito.

Durante o almoço, porém, embora eu tivesse sorrido e me mostrado simpática, sentia-me como se fosse um autêntico robô. Ele me convidou para irmos ao teatro na sexta-feira seguinte. Eu aceitei. Só que, na verdade, já no meio do almoço, eu tinha percebido que já não o achava tão atraente quanto imaginei. Ele era um homem contido e estudado e havia um brilho calculista em seus olhos.

Voltei ao departamento de biologia, dei minha aula da tarde, depois peguei o carro e dirigi para um consultório do outro lado da cidade.

O natal já estava chegando e a enorme árvore cheia de bolas coloridas na entrada do prédio parecia zombar de meus sentimentos.

Pela primeira vez na vida, eu irei consultar um psiquiatra. E, agora que eu tinha chegado, eu estava assustada.

O Dr. Lewis Thompson era um homem simpático de cabelos fartos e óculos de lentes bem grossas. Eu o conhecia havia muito tempo, desde que ele começou a namorar minha amiga, que morava no apartamento ao lado.

Agora Jessica era mulher de Lewis e esperava seu segundo filho. Eu mantive a amizade com o casal, embora jamais tivesse imaginado que eu fosse procura-lo como paciente. Ele foi extremamente gentil em me encaixar em seu horário, mesmo que eu tivesse ligado tão em cima da hora.

O psiquiatra não me fez deitar no divã, muito menos começou a fazer perguntas sobre minha infância. Sentou numa poltrona á minha frente e ouvi toda a historia em silêncio, sem mostrar emoções ou emitir algum julgamento.

Finalmente, ele tirou os óculos e começou a limpa-los.

– E você, Isabella? O que está achando de tudo isso?

Eu respirei fundo. Estava nervosa. Comecei a sentir dor de estômago. Meu estômago sempre doía quando me encontrava sobre tensão.

– Eu... acho que sei o que aconteceu, Lewis.

Le pareceu interessado.

– Sim?

– Quando Edward morreu, eu entrei em estado de choque. Há coisas que eu não consigo me lembrar. É como se tivessem sido riscadas de minha mente.

Lewis concordou com a cabeça.

– A depressão afeta a memória. Mas algumas pessoas não sabem disso.

Eu segurei os braços da poltrona com força.

– Eu devo ter ido a uma joalheria e mandado fazer uma pulseira igual. Era um jeito de me manter ligada a Edward.

– E...?

A dor no estômago ficou mais intensa a cada minuto que passava.

– E aí eu devo ter guardado a pulseira, a fim de broqueá-la da minha mente.

Lewis voltou a colocar os óculos.

– Então como ela reapareceu?

– Bem, é que... eu estive pensando em trair Edward um pouco antes disso tudo acontecer. Arranjar um novo namorado, você entende.

Lewis coçou seu queixo.

– É interessante o fato de você ter usado o termo “trair”.

– Bem, é que eu sinto como se fosse uma traição. Talvez ainda não esteja pronta para encarar uma nova relação. Talvez nunca esteja.

– E o que esse sentimento todo teria a ver com o reaparecimento da pulseira, Isabella?

Eu fiz uma pausa, tentei pensar com clareza.

– Fui a um jantar no sábado e conheci dois homens. Ambos se interessaram por fim. De uma certa maneira, também me interessei por eles. Daí, devo ter sentido muita culpa. Voltei para casa, tirei o bracelete do fundo de alguma gaveta e o coloquei no pescoço do gato, sem nem me dar conta do que tinha feito.- eu fiz uma pausa.- Será que minha explicação... faz algum sentido?

Lewis deu um sorriso.

– Isabella, você sempre foi a mulher mais objetiva e racional eu já conheci. Se todos os meus pacientes conseguissem analisar sua experiências de jeito como você acabou de fazer, irei ter de procurar outro emprego.

– Mas, o que você me diz a respeito daquele cenário tão estranho? O gato, a cama, aquele espaço cheio de luz azul...

– Vou ser franco. E freudiano também. Tudo isso tem uma conotação sexual muito grande. O gato simboliza a sexualidade feminina. E a pulseira no pescoço do gato mostra que você ainda acredita que sua sexualidade pertence a seu finado marido.

Eu balancei a cabeça concordando.

– Sei.

– E, quanto o fato de olhar debaixo da cama, lembramos do caso clássico da solteirona, certo? E o que ela está procurando?

– Um homem.- responde de imediato.

– Exatamente.- ele sorriu.- Simbolicamente, você seguiu sua sexualidade até a cama, que é o local onde o sexo acontece. Mas quando olhou lá embaixo, à procura de um parceiro, tudo o que viu foi um espaço vago. Vazio para sempre. E azul. O azul simboliza a tristeza.

Minha mente começou a trabalhar com uma velocidade incrível.

– Mas, e a minha mão? Ela simplesmente desapareceu!

– Edward pediu sua mão em casamento. E, quando ele morreu, foi como se sua mão tivesse desaparecido com ele.

– Quer dizer que essa simbologia toda... estava na minha alucinação?

– Eu diria que sim. Logo depois da morte de Edward, você atravessou um período que chamamos de estado de fuga. Períodos onde você mandou fazer uma réplica e esqueceu.

– Compreendo.

– E quando começou a pensar em namorar outro homem, sua dor a jogou de volta no tal estado de fuga, que a fez tirar a pulseira da gaveta e coloca-la no pescoço do gato.

– Bem, a coisa toda foi muito dolorosa. Mais do que dolorosa. Foi terrível.- eu respirei fundo.- E agora? O que devo fazer?

O sorriso desapareceu dos lábios de Lewis, mas seu rosto continuou gentil.

– Você fez muito bem ter vindo me procurar. Era exatamente o que eu esperava de uma mulher com o seu nível de inteligência. Agora quanto ao próximo passo...

– Sim?- eu perguntei cheia de expectativa.

– Eu acho sinceramente que você deveria arranjar um namorado. Um homem atraente e cheio de vida, que pudesse lhe trazer um pouco de felicidade.

Eu não queria ter ouvido aquele conselho. Toquei disfarçadamente a pulseira que usava por debaixo da malha.

– Mas eu ainda não estou pronta. É o que tudo isso está me dizendo.

Ele deu um suspiro, inclinou-se em minha direção e apertou minha mão.

– Não. O que essa coisa toda está dizendo, Isabella, é que chegou a hora de enterrar o passado. Para o bem de sua própria sanidade mental, continue a viver a vida como ela deve ser vivida.

Eu levantei uma sobrancelha.

– Você está me dizendo isso como médico ou como amigo?

– Como os dois. E gostaria que você viesse me ver mais vezes. Acho que posso ajuda-la a viver essa transição.

Essa transição. De súbito, eu me senti traída. Uma transição para um mundo sem Edward. Não que isso. Nunca.

Meus sentimentos se refletiram em meu rosto.

– Isabella.- ele continuou.- Eu sei o que está pensando. Mas não se esqueça de uma coisa. O que passou, passou. Você precisa aceitar esse fato.

Eu olhei para o rosto preocupado e amigável de Lewis. Senti um nó na garganta.

– Eu sei você tem razão.

Ele fez que sim com a cabeça.

– E gostaria de lhe dizer mais uma coisa.

– Sim?

Ele fez uma pausa.

– Eu, se fosse você, jogaria fora a pulseira. Não a guarde mais.

O nó da garganta ficou ainda maior.

– Eu sei.

Mas meu coração não sabia. E não me livrei da pulseira. Nem naquele dia, nem nunca mais.

Nevava ainda com mais intensidade, quando eu cheguei em casa.

Lewis me deixou mais calma e me devolveu a fé em minha sanidade mental. De qualquer forma, me senti confusa.

Fui para a cozinha, me servi de uma xícara de café e fui toma-la no sofá da sala. E , entre um gole e outro, uma cena que vive ao lado de Edward me voltou à mente, com uma clareza impressionante.

Eu e Edward estávamos passando o fim de semana na praia de Golwanda. Comemorando os oito meses de casamento e aquela pequena viagem foi um presente que ele me deu.

Ambos estávamos deitados na areia muito branca e limpa, o sol forte bronzeando nossos corpos.

Edward deixou de lado o livro que lia e olhou pra mim.

– Está muito quente meu amor. Vou lhe passar mais um pouco de óleo.

Ele apanhou o vidro de bronzeador e fez o que tinha de ser feito. Começou pelas pernas, depois foi subindo devagar, devagar, até que eu começasse a gemer.

– Que coisa boa, querido... não pare, por favor...

E ele não parou. Continuou a me massagear com muita suavidade, até que minha pele estivesse hidratada e brilhante. Depois, fez com que eu me virasse e começou tudo de novo.

– Eu te amo.- murmurei, sentindo as mãos dele acariciando minhas costas.- É horrível pensar que, daqui a um mês, terei de voltar aos Estados Unidos. Como vou aguentar ficar tanto tempo longe de você? Vai ser absurdamente insuportável!

– Nós não vamos nos separar.- disse ele, com voz muito seria.- Nós jamais nos separaremos. Você estará comigo o tempo todo. Aqui, no meu coração.

Eu me sentei na toalha e apertei as mãos dele. Ficamos nos olhando durante muito tempo, em silêncio, ouvindo o doce murmúrio das ondas quebrando na praia.

– Meu Deus, como você é linda.- disse ele por fim.- Seus cabelos parecem dançar no vento como fogo. Daqui a cinquenta anos, ainda vou me lembrar do quanto você estava maravilhosa hoje.

Eu toquei seu rosto de leve.

– Foi um presente inesquecível, Edward. Um fim de semana perfeito. Muito obrigada.

Ele acariciou meus cabelos ruivos.

– Vamos nos lembrar desse fim de semana, quando estivermos congelando nossos traseiros em Chicago. Você vai ter de me manter aquecido durante as longas noites de inverno. Afinal, passei a infância na Califórnia!

– Mantê-lo bem aquecido.- eu promete.

– Você terá uma porção de coisa para fazer nesses dois meses, querida. Encontrar uma casa e deixa-la prontinha para quando eu chegar!

Eu sorri.

– Que tipo de casa você tem em mente?

– Hum... algo bem grande, num estilo antigo... uma casa vitoriana com um sótão e porão, para que os nossos filhos possam brincar de esconde-esconde. Que tal?

– Parece maravilhoso! Eu quero que ela tenha um teto bem alto, para que possamos montar uma árvore de natal enorme. Gigante mesmo!

Ele fez que sim com a cabeça.

– Vamos dar festas muito divertidas no natal. E sempre o passaremos em casa. Sempre.

Eu concordei. Como eu, Edward também era filho único. E nós dois havíamos tido infância solitária e queríamos uma família bem grande.

Os pais de Edward se divorciaram quando ele tinha cinco anos de idade. Sua mãe costumava deixar os país na época de natal, em parte para contrariar o ex-marido. Dessa forma, Edward passado a maior parte de seus natais em hotéis do México ou da Califórnia.

– Vou encontrar uma casa perfeita.- eu promete.

– Eu sei que vai. E, antes que se dê conta, estarei em Chicago, a seu lado.

Eu comecei a acariciar seu rosto.

– Edward... você vai tomar cuidado, não vai? Se alguma coisa lhe acontecer...

Eu encostou um dedo em minha boca.

– Ahhh... nada vai me acontecer. Nada jamais poderá nos separar. Nada mesmo.

– Eu sei. Mas é que, às vezes, você mexe com vírus perigosos e...

– Sou muito cuidadoso, querida. Você sabe disso.

Eu sabia. Edward era mais competente que já conheci. Ele nunca tinha errado. Nem uma vez.

– Então seja mais cuidadoso ainda, meu amor. Quando eu começo a pensar naquelas febres viróticas, eu...

– Ahhh...- ele repetiu, tocando meus cabelos de novo.- Vou viver mais de cem anos. Nenhum vírus vai me afastar de você. Nada jamais irá.

– Então me prometa.

– Eu prometo. Nada nesse mundo vai me manter afastado de você. Nada. Eu te amo muito. É um amor que jamais morrerá. Tem de acreditar nisso. Você acredita?

– Acredito.- eu sussurrei.- acredito de todo o meu coração.


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Notas finais do capítulo

esta ai recomendem tá. bjus



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