Pouco antes de ir para a aula a madrasta de Annabeth a chamou na cozinha e disse:

– Não quero ver mais nada seu jogado no meio da casa, entendeu? – disse mostrando uma jaqueta preta - Não sou sua empregada para arrumar suas coisas. – ela jogou a jaqueta para Annabeth.

– Tenho certeza de que se fosse algo dos seus filhos você até ficaria feliz em arrumar. – resmungou Annabeth.

– Exatamente. Meus filhos, e você não é um deles.- disse dando ênfase na palavra meus.

– E EU NEM QUERIA SER! VOCÊ NÃO É MINHA MÃE E NUNCA VAI SER! – explodiu.

Nesse momento o pai de Annabeth entra na cozinha e pergunta:

– O que está acontecendo aqui? Por que toda essa gritaria?

– Pergunte a sua filha, afinal eu estava apenas falando que ela não deveria deixar suas coisas espalhadas por ai, então... – disse a madrasta fingindo falsas lagrimas- ela começou a gritar coisas sobre mim.

– Annabeth isso é verdade? – pergunta Frederick.

– O que? Não! – Annabeth fala incrédula- Pai ela está fingindo!

– Eu nunca mentiria para você Frederick. – dizia sua madrasta entre lagrimas.

– Annabeth vá para a escola e quando voltar conversaremos sobre isso.

– Ótimo! Tenho certeza que ela ficaria super feliz com isso!

Annabeth fechou a porta atrás de si e entre lagrimas percorreu o caminho até a escola. “Como ele não via que era tudo fingimento daquela mulher?” pensou. Desde que seu pai havia se casado com aquela mulher tudo o que ela fazia era colocar o pai dela contra ela e fazer de sua vida um inferno. Quando ia se aproximando da entrada da escola, ela secou suas lagrimas e se endireitou da melhor maneira possível, tentando disfarçar que havia chorado. Logo na entrada avistou Thalia que sorriu e veio até ela.

– Oi Annie!

– Oi Thalia.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou preocupada.

– Não, eu só não acordei muito bem hoje.

– Tem certeza?

– Tenho. Agora vamos se não a gente se atrasa para a primeira aula.

– Matemática... aff. – bufou Thalia.

Pelo menos na escola Annabeth teria algo com que distrair a mente. As primeiras aulas haviam passado rapidamente e na hora do intervalo ela ficou quieta em seu canto evitando falar com qualquer pessoa. E pelo jeito todos haviam percebido sua quietação repentina, pois várias pessoas vinham até ela e perguntavam o que havia acontecido, mas Annabeth apenas dizia que estava cansada, o que em parte era verdade.

Depois do intervalo ela quase não prestara atenção em nada, o que para ela era novidade, afinal ela sempre prestava atenção em tudo o que acontecia nas aulas. “Devo estar mal mesmo” pensou. Quando acabou as aulas ela se despediu das amigas e caminhou em direção a biblioteca. Annabeth ia ajudar na organização dos livros uma vez por semana, muitas pessoas a achariam louca por isso, mas para ela era uma forma de se distrair e além do mais, conseguia ter mais acesso aos livros do que os outros alunos da escola.

A biblioteca era enorme, por isso ela só ficava encarregada de um setor. A bibliotecária que já a conhecia muito bem, sorriu ao vê-la e disse:

– Olá Annabeth! Que bom que veio!

– Olá Emely! Por acaso eu já te deixei na mão?- brincou Annabeth.

Emely era uma mulher alta de aproximadamente vinte anos, com longos cabelos vermelhos, que sorria para praticamente todos que entravam ali.

– Que tal ficar com o setor de história?

– Claro.

– Você já sabe onde fica não é?

– Claro, conheço esse lugar como a palma da minha mão. – comenta Annabeth.

O setor de história ficava no fundo da biblioteca, próximo ao setor infantil, onde várias vezes Annabeth já havia lido para algumas criancinhas que ficavam ali e lhe pediam esse favor.

Ela olhou para as diversas prateleiras e percebeu que teria muito trabalho pela frente. Ela teria que separar os livros por cada tema. Ficou pensando em qual seria a melhor maneira de começar quando ouviu uma voz familiar atrás dela.

– Então... precisa de alguma ajuda?

Ela se vira e da de cara com Percy que a olhava com um sorriso divertido no rosto.

– Como sabia que eu estava aqui? – perguntou.

– E o que te faz pensar que não estou aqui pelos livros? – ele comentou pegando um livro da prateleira.

Ela levantou uma sobrancelha para ele, que riu e jogou os braços para o alto em sinal de rendição.

– Ta bom. Eu desisto. A Thalia me contou que você viria aqui.

– Sério? E por que motivo ela te diria isso?

– Porque eu pedi a ela. – ele disse como se isso fosse a coisa mais obvia do mundo – Olha, eu queria retribuir o favor que você me fez ao me ajudar com a Raquel.

– E então você simplesmente resolveu vir me ajudar?

– Basicamente... sim. Então ... – ele disse apontando para as prateleiras- por onde começamos?

– Você arruma aqueles e eu arrumo esses.

Expliquei a ele direitinho o que tinha que fazer e começamos a organizar as estantes.

– Então... – Annabeth tentou achar um assunto, para que eles não ficassem em silêncio – Por que você resolveu se mudar para a cidade?

– É complicado. – ele disse suspirando.

– Se você não quiser me contar, eu entendo e ...

– Não, está tudo bem. Eu morava com meu pai e meu irmão em outra cidade, estava indo tudo bem até que ... bem, minhas notas começaram a baixar e meus pais resolveram que era melhor eu vir morar com a minha mãe.

– Deve ter sido difícil se mudar assim sem mais nem menos. – Annabeth ficou imaginando deixar sua casa e seus amigos para ir para outra cidade onde não conhecia nada nem ninguém, e conseguiu entender minimamente como Percy se sentia.

– Poderia ter sido pior. – comenta.

Estavam na ultima prateleira. Só faltava um livro na mão de Annabeth para ser colocado, mas como ficava no alto da estante ela puxou uma cadeira que tinha ali perto e subiu para ficar na altura da prateleira. Ela o depositou em seu lugar, mas quando se virou para descer se desequilibrou e caiu. Teria levado um belo tombo, mas acabou caindo em cima do Percy.

Os dois caíram e ela acabou ficando em cima dele. Seus rostos estavam a cinco centímetros de distancia um do outro e Annabeth pode notar que os olhos de Percy eram intensamente verdes como o mar. Por um momento tenso, eles ficaram se encarando sem ao menos se mexer, até que ouviram alguém arranhar a garganta para chamar a atenção dos dois. Eles se viraram, ainda no chão, para olhar quem estava ali.

– Existe lugar para esse tipo de coisa, sabiam? – disse Luke se virando e saindo com passos pesados, demonstrando que estava irritado.

Os dois se levantaram e Annabeth disse:

– Me desculpe... ham... por cair em cima de você.

– Não foi nada, eu sei que você se desequilibrou. E desculpe por... você sabe... deixar o Luke ver essa cena.

– Na verdade, acho que acabei de ter uma ideia.

– No que você está pensando? – perguntou Percy levantando uma sobrancelha.

Era uma ideia louca que estava se formando na cabeça de Annabeth, mas depois do que acontecera e da cara de ciúmes que o Luke fez ao vê-la com o Percy, poderia funcionar.

– Você viu a cara que o Luke fez quando nos viu? – perguntou e ele apenas assentiu – Ou seja, ele ficou com ciúmes e acho que podemos usar isso a nosso favor.

– Como assim? – Percy perguntou confuso.

– Não é obvio? – vendo que ele apenas ficou mais confuso, ela continuou- Você não pensa não? O que você tem no lugar do cérebro? Algas? Se continuar lerdo assim vou começar a te chamar de cabeça de alga...

– Tá, tá, mas voltemos ao assunto por favor.

– Tudo bem, mas não pense que eu vou me esquecer disso. Mas então, voltando ao assunto, pode parecer uma ideia louca, mas se você concordar pode funcionar...

– Pode falar de uma vez? – perguntou impaciente.

– Eu quero propor uma forma de fazermos ciúmes no Luke e na Raquel.

– E que forma seria essa?

– Bem, que tal se nós fingirmos que estamos namorando? Eu sei que é loucura, mas só teríamos que fingir na escola e perto dos...

Antes que ela pudesse terminar ele a puxou para perto e a beijou.