Um novo conto da Bela e a Fera escrita por Dani Silva
1850
Aqui estou eu escrevendo mais uma vez, para que no futuro, jovens tenham voz e não façam como eu fiz. Vivo no séc.XIX, no EUA.
Por que estou escrevendo? Bem... Minha vida mudou de um dia para o outro.
Você não entende por que minha vida é terrível?
Vou lhe contar...
Dois meses atrás...
A PONTE MIRABEAU
Sob esta ponte passa o rio Sena
e o nosso amor
lembrança tão pequena
sempre o prazer chegava após a pena
Chega a noite a hora soa
vão-se os dias vivo à toa
Mãos dadas nós fiquemos face a face
enquanto sob
a ponte dos braços passe
de eternas juras tédio que se enlace
Guillaume Apollinaire, Alcools (1912)
Li pela segunda vez, meu poema favorito e suspirei. Se não fosse pelas tardes chuvosas que passo lendo poesia, minha vida seria pior da do senhor Black, que passa os dias bebendo e cantando sobre a morte nojenta e terrível de sua fiel mulher( Não que ele fosse fiel).
Minha vida é um pouco, um pouco, melhor que a dele.
Por que?
Bem... Estou quase completando 17 anos e ninguém pediu minha mão. É costume pedir a mão ao pai de uma donzela, oferecer dotes e corteja-la. Mas eu? Não.
Meu pai diz que minha hora irá chegar um dia e que devo acreditar, mas eu não confio em suas palavras.
Meu nome é Isabella Swan. Se sou feia? Acho que sim.
Meu nariz constantemente vermelho devido ao frio é arrebitado, minha bochechas vermelhas sempre me fazem parecer envergonhada, meus olhos são castanhos e meu pai diz que os puxei de minha mãe que morreu de um surto de gripe. Por ser pobre na época meu pai não pode pagar remédios e minha mãe faleceu.
Mas voltando a falar de mim... Essa noite será promovido um baile em minha casa. Meu pai sutilmente ofereceu minha mão ao homem que conseguisse vencer a mais terrível das feras. A que vive na floresta e se esconde em um palácio.
Nunca a conheci, e não terei o prazer(sendo sarcástica), pois ela estará morta quando chegar a centímetros de mim.
Meu quarto iluminado por velas e um candelabro de ferro estava frio, me levantei arrumando meu vestido creme e o saiote. E fui em direção ao meu armario.
- Esme! – gritei. Esme era a empregada e minha amiga. Como não sou casada e sou mulher não posso sair e fazer amizades por conta própria e se não fosse por meu pai, não poderia nem ler.
A jovem chegou aos meus aposentos e abriu a porta entrando com uma tijela fervendo.
- Sim Stra. Swan? – disse ela. Seu sorriso doce, olhos azuis feito céu e pele clara a faziam parecer uma donzela, se não fosse pela terrível vida que tinha. Ser vendida pela própria família obrigada a viver em meio a empregados e escravos.
- Meu vestido Esme, estou pronta para o banho e me aprontar... Logo a hora do baile chegará e não vou me atrasar nem um segundo. – disse me virando para encara-la.
- Ó sim madame. Espere um segundo que vou esquentar sua água. – disse indo para o meu toalete.
Sorri e me voltei para o armario. Os vestidos todos pendurados formalmente e ordem de cores, peguei meu favorito, um com mangas até o pulso fechando em pérolas brancas, um corpete preto e calda preta. Meu pai sempre me elogia quando o uso, diz que faz com que me pareça mais velha.
Esme voltou para o quarto e me auxiliou a tirar o vestido e minhas roupas de baixo, entrei na banheira logo em seguida.
A água quente me fez relaxar.
***
Dormiu-se não percebi na hora, só agora que Esme tentou falar comigo que me dei conta de minha falta de consciência.
- Ó perdão senhora... Não sabia que a senhorita estava dormindo. – disse Esme corada. Sorri-lhe.
- Esta tudo bem cara amiga, ainda bem que me acordaste. Se não passaria a noite toda dormindo. – disse e me levantei.
Esme me ajudou a me secar e pegou minhas roupas de baixo. As vestiu em mim e logo colocamos o corpete e o vestido.
Fomos para o espelho. Vi-me, estava corada, mas me pareceu que estava alegre. O vestido me caiu bem como sempre. Meu cabelo foi preso nos cantos e solto atrás revelando cachos. Esme sorriu me e foi embora.
Apertei meu pequeno diário em mãos e sai de meus aposentos indo em direção ao grande salão da mansão Swan. Meu pai Charlie estava sentado em uma cadeira de frente a grande mesa onde via comidas de tipos diferentes, o salão estava cheio e pessoas dançavam ao som de violinos e harpas.
As velas no grande candelabro de cristal fazia a atmosfera parecer mais leve e pura, sorri e fui em direção ao meu pai.
Ele aprovou meu vestido e minha beleza e me obrigou a transitar pelo salão e encontrar ao “divertido” para fazer enquanto ele procurava pretendentes com dotes bons e carisma para ser meu futuro marido.
A noite demorou a passar. Dancei com jovens que meu pai apresentou e conversei com jovens que ele julgou “terem boa família”.
Um veto gelado soprou e fez com que todas as velas do salão se apagassem. As portas estavam escancaradas e os músicos pararam de tocar. Uma voz grave soava pelo salão todo.
- Com licença... Atrapalhei a comemoração? – perguntou o dono da voz.
Um jovem de olhos verdes e selvagens como a floresta sombria, corpo forte e ombros largos. Com um terno negro e uma bengala de ouro na mão sorria sinicamente para meu pai.
- O que você quer Fera? – perguntou meu pai. A Fera que julguei nunca chegar perto de mim estava ali, em trajes típicos de festa e olhar selvagem.
Ainda encarando os homens, a Fera mirou seu olhar em mim.
- Ela. - Disse ele apontando para mim.
- Não! – meu pai rosnou.
- Então matarei a todos. – disse a Fera.
- Não! – gritei.
Todos encaravam a mim como se tivesse problemas mentais.
- Filha... – chamou meu pai.
Fui o seu encontro. Ele beijou minha testa.
- Pai. –sussurrei.
Eu sempre esperei que me dissessem o que fazer e não fazer, mas dessa vez faria o que eu queria, o que era certo.
- Eu irei meu pai, mas farei por todos. – disse e me virei para a fera que estendia uma mão para mim.
Seria agora. Coloquei minha mão sobre a dele e me virei novamente para meu pai.
- Não faça nada a minha filha. – advertiu meu pai.
- Jamais. – rosnou a fera.
E tudo ficou negro. Mas ao longe vi o rosto contorcido de dor de meu pai.
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