Heartlines escrita por Petrov


Capítulo 1
Heartlines


Notas iniciais do capítulo

O que fazer quando você deixa de ser o caçador e passa a ser a caça?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/441086/chapter/1

São Petersburgo

A noite estava escura e fria, como a maioria das noites de inverno em São Petersburgo. Katerina e seu pai Grigorii não dormiam há três noites conseguiam apenas pensar em sua meta e terminá-la o mais rápido possível. Eles sabiam que estavam próximos do covil de vampiros que eles ouviram falar, mas não sabiam o quanto. Há cerca de duas semanas ouviram rumores de que algumas regiões de São Petersburgo, como a região de Kolpinskiy, onde estava localizado um dos maiores grupos. Katerina desde o começo havia achado uma péssima ideia ela e o pai irem por conta própria atrás desses vampiros, afinal eles não sabiam em qual número eles estavam e nem se já estariam esperando um ataque. O ar gélido soprava pela rua fazendo Katerina estremecer enquanto seu pai conferia o mapa do GPS do celular.

_É por ali Katerina, perto daquele galpão abandonado. O pai de Katerina partiu na frente enquanto Katerina tirava da bolsa estacas de madeira de carvalho e recarregando as armas com balas de madeira.

_Papai não é melhor apenas darmos uma olhada e depois voltarmos com o resto do grupo?

_Não, temos que matar o maior número deles essa noite, assim eles ficarão em desvantagem. O pai de Katerina avançava sem medo, com determinação e pronto para atacar o primeiro vampiro que aparecesse em seu caminho.

_Papai cuidado. O grito de Katerina obrigou Grigorii a se virar abruptamente a tempo de acertar o vampiro que vinha em sua direção com uma estaca.

_Essa foi por pouco Katerina. Grigorii estava meio ofegante.

_Papai olhe, eles estão vindo. Grigorii olhou para trás a tempo de ver pelo menos quinze vampiros vindo em sua direção e na direção de Katerina.

_Corra papai. Antes que Grigorii pudesse correr um vampiro alto, musculoso e louro o interceptou e mordeu-o enquanto um jorro de sangue manchava as roupas de Grigorii e a pele pálida de seu pescoço.

_Não. Katerina abafou os gritou com uma das mãos enquanto procura em volta uma estaca ou algo afiado que pudesse atravessar o coração de um vampiro.

_Seu maldito. Katerina saiu correndo na direção do vampiro enquanto ele largava o corpo inerte de Grigorii e se virava para encará-la.

_Eu não tentaria isso mocinha. O vampiro encarou Katerina nos olhos e ela pôde reparar que ele tinha uma pele extremamente pálida e que tinha certo contraste com seus olhos verdes e seu cabelo louro platinado. Com um movimento rápido ele agarrou as mãos de Katerina e lançou a estaca de carvalho para longe.

_Me largue seu demônio, eu vou te matar.

_Creio que no momento me matar esteja fora do seu alcance querida, mas ainda podes tentar se debater. Uma risada baixa, porém profunda ecoou fazendo com que Katerina ficasse inquieta e começasse a se debater.

_Me larga seu monstro.

_Não, chega de brincadeira garota.

_Termine logo com isso seu idiota, mate-me de uma vez, vamos rasgue meu pescoço, mas não te darei o gosto de me ver implorar.

_Tão corajosa, demonstra certa segurança, mas no fundo nós dois sabemos que você está apavorada e só deseja que eu te solte para que eu possa voltar para sua vidinha feliz entre os de sua espécie. Seus batimentos cardíacos podem estar quase normais, mas eu posso ver a diferença e afirmo que você está com medo.

_Você está mentindo. Katerina ficava cada vez mais inquieta.

_Criança eu não te matarei essa noite. Falando isso o vampiro louro cravou as presas no pescoço de Katerina enquanto ela sentia uma dormência tomar conta de seu corpo enquanto a dor no seu pescoço diminuía gradualmente. O vampiro largou Katerina enquanto ele sentia a escuridão lentamente abraçá-la.

_Não irei te matar, irei te dar um destino pior do que a morte. O vampiro gargalhou enquanto fazia um pequeno corte no pulso direito. Lentamente o sangue começou a escorrer do pulso para a boca de Katerina enquanto ela tentava cuspi-lo. _Não adianta cuspir, o seu corpo está morrendo, ele está absorvendo o máximo de sangue que consegue para tentar manter-se vivo. O vampiro se afastou deixando Katerina deitada no chão enquanto ela tentava recuperar o fôlego.

_Não se preocupe criança estúpida, logo a transição começará. O vampiro gargalhou e sentou de frente para Katerina enquanto a observava atentamente. Aos poucos uma dor lancinante começou a se espalhar pelo corpo de Katerina, como fogo líquido correndo em suas veias, indo das pontas dos dedos, passando pelos braços e pernas até queimarem seu peito e garganta. Katerina sentia os músculos de seu corpo se contraírem e aos poucos o ritmo das batidas de seu coração adquirirem um tom frenético enquanto a dor cegava Katerina e ela rezava pela morte.

_Dói não é mesmo? Isso não é nada, você e o seu pai não adoravam nos caçar? Pois agora você vai se tornar a caça, o monstro dos seus pesadelos e sonhos mais obscuros, o qual você cresceu aprendendo a odiar. Os gritos de Katerina ecoavam pela rua escura enquanto o vampiro parecia se divertir, fascinado com o que havia feito a Katerina.

_Você vai pagar caro. Mais gritos de dor enquanto Katerina voltava a se contorcer no chão frio enquanto sentia como se todo seu corpo estivesse morrendo.

_ Asseguro-te que não. O vampiro pegou Katerina e nos braços deixando para trás a rua escura e fria. Katerina podia sentir a dor chegar aos olhos e a visão ser tirada, restando apenas um mundo negro e frio, enquanto a dor parecia por um breve momento diminuir.

*****

Tudo estava em silêncio, Katerina podia sentir a umidade em volta e o cheiro de couro velho, o irritante barulho de água pingando ecoava pelo aposento e Katerina tinha certeza que não estava em casa. Tentou levantar-se lentamente, esforçando-se para se lembrar dos acontecimentos da noite anterior, mas seus pensamentos estavam uma bagunça. A última coisa de que ela se lembrava era de sentir dor, de sentir muita dor e então desmaiar. A pequena sala não tinha janelas ou qualquer entrada de ar além da porta de madeira, num canto havia correntes e instrumentos que Katerina tinha certeza serem de tortura. Aos poucos Katerina começou a sentir o corpo levemente dolorido e aos poucos as lembranças vieram num jorro, inundando sua mente rapidamente deixando-a ainda mais confusa, imagens de seu pai sendo atacado e morto predominavam na mente de Katerina, enquanto o rosto e as feições do vampiro louro retornavam fazendo Katerina estremecer. Por ultimo vieram as lembranças da dor, da troca de sangue e da enorme dor que havia quase enlouquecido Katerina. “Não, pode ser, isso não pode ter acontecido comigo”. Katerina começou a se autoexaminar, olhando suas mãos, tocando seu rosto e sua pele, sentindo as diferenças de imediato. Sua pele estava mais pálida e resistente, enquanto seus braços e pernas pareciam mais fortes. Lentamente Katerina se pôs de pé e começou a analisar seu reflexo numa poça d’água. Seus olhos também haviam mudado de um tom azul lápis-lazúli agora eram cinzentos e até seus cabelos louros pareciam mais claros e bonitos. “Papa, sinto muito não fui capaz de cumprir a missão que me foi dada”. Katerina deu um chute na poça e podia sentir as lágrimas querendo escapar. “Não vou chorar, pegarei o maldito que fez isso comigo”. _Não seja tão rancorosa querida, eu te dei um presente, a imortalidade. Uma chance de sobreviver nesse mundo cheio de crueldade. Katerina foi pega de surpresa e quando se virou o vampiro louro estava encostado em uma das colunas de pedra.

_Boa noite dorminhoca, você dormiu o dia todo, estava começando a achar que a transição havia dado errado.

_Você, seu maldito, você fez isso comigo. Quem você pensa que é?

_Sou Konstantin querida, e fiz isso para castigá-la por seus crimes.

_Crimes? _Seu maldito, eu estava fazendo um favor a toda a humanidade, livrando-a de monstros como você e os da sua espécie.

_Nossa espécie. Konstantin sorriu e Katerina pôde sentir a fúria tomar conta de si.

_Eu matarei você seu demônio. Katerina se lançou na direção de Konstantin, mas ele foi mais rápido interceptando o braço dela antes que um soco o acertasse no rosto.

_Terá que fazer muito melhor do que isso se quiser causar algum dano a mim. Com o outro braço Katerina mirou um soco acertando Konstantin no rosto enquanto ele deu um passo para trás.

_Como ousas sua maldita, eu lhe dou um presente cobiçado por muitos e você me agradece desse jeito? Konstantin empurrou Katerina fazendo-a bater contra a parede de pedra.

_Aaaah. Katerina estava dominada pela fúria e agora corria na direção de Konstantin, Konstantin se esquivou fazendo-a acertar a parede e antes que ela pudesse alcançá-lo ele saiu correndo pela porta da pequena sala.

_Volte aqui. Katerina estava cega pela ira e saiu correndo atrás de Konstantin, tudo no que conseguia pensar era na morte de Konstantin, queria matá-lo vingar a morte do pai e o que ele havia feito com ela, ele havia de certa forma a matado. Agora ela não poderia voltar para a antiga vida dela, viver com sua família nem amigos, agora ela era um mostro o monstro que toda a família através dos séculos caçou e matou o monstro que ela aprendeu desde cedo a temer e a eliminar. Ela queria a morte de Konstantin, queria vê-lo sofrer até não poder mais resistir, queria eliminá-lo e ela conseguiria isso, mesmo que para isso ela precisasse se sacrificar. Tudo passava rápido demais por Katerina, árvores, casas e carros e ela só conseguia pensar em correr o máximo que pudesse para alcançar Konstantin e se vingar. Katerina ainda conseguia sentir a presença de Konstantin por perto e apressava ainda mais o passo para tentar alcançá-lo enquanto percebia que a cidade aos poucos ia ficando para trás e em volta de si havia morros e muitas árvores.

_Tente me alcançar se for capaz.

_Cale a boca seu demônio.

_Garota não seja estúpida, você sabe que não consegue me derrotar, você está fraca e nem se alimentou, morrerá logo se insistir nessa história de querer me matar.

_Não me importo em morrer, você já fez isso quando me transformou, matou minha humanidade, sou uma morta-viva e a culpa é toda sua. As gargalhadas de Konstantin ecoavam na cabeça de Katerina deixando-a confusa e completamente perdida.

_Saia da minha cabeça. Katerina começava a diminuir o ritmo até parar, chegando numa clareira.

_Não posso evitar, é divertido ver como você sofre e o quanto posso te afetar. Katerina olhou na direção de onde a voz havia vindo e viu Konstantin encostado numa arvore enquanto a olhava despreocupadamente. Como que por instinto Katerina se atirou na direção de Konstantin a fim de agarrá-lo pelos ombros, porém Konstantin foi mais rápido dando um salto e aterrissando como um felino atrás de Katerina.

_Eu te disse garota estúpida, você não pode me vencer.

_Veremos, posso não ser forte, mas serei forte o suficiente para destruir você seu maldito. Katerina se virou dando um soco no rosto de Konstantin fazendo-o cambalear para trás. Em menos de um segundo Katerina estava em cima de Konstantin acertando socos por todo seu corpo.

_Sua estúpida, eu vou te matar. Konstantin começou a tentar agarrar o pescoço de Katerina, mas ela era mais rápida e segurava suas mãos enquanto tentava quebrar seu braço.

_Você vai pagar caro por ter tirado tudo de mim, pagará pela morte do meu pai, por ter me matado e por ter me tirado tudo que era importante. Um barulho de osso trincando pôde ser ouvido e num segundo Konstantin estava apertando firme o braço esquerdo de Katerina com as duas mãos. Os gritos de dor de Katerina eram insuportáveis e Konstantin parecia se divertir com tudo aquilo, enquanto Katerina caia de joelhos.

_Agora veremos quem matará quem garota. Konstantin se posicionou atrás de Katerina segurando seus braços para trás enquanto tentava forçar seu tronco para frente com o pé. A dor aumentava a medida que Konstantin forçava os braços de Katerina para trás enquanto seus ossos pareciam estalar com a força exercida. Katerina olhou nos olhos de Konstantin e por um momento ele vacilou enquanto dava dois passos para trás com expressão de terror e dor.

_Pa...pare o que está fazendo garota. Por um momento Katerina não entendia sobre o que ele estava falando, ela não havia feito nada e Konstantin estava de joelhos como se sentisse alguma dor terrível.

_Vamos lá garota, pare já com isso. Katerina não entendia do que Konstantin estava falando, mas aproveitou a oportunidade para atacá-lo, enquanto ele tentava inutilmente se levantar. Katerina passou o braço pelo tórax de Konstantin apertando o máximo que conseguia, provocando um barulho terrível de ossos sendo esmagados.

_Hahaha garota, quebrar meus ossos não vai me matar, nós nos curamos rápido se lembra? Konstantin parecia estar se recuperando e tentando ao máximo ficar de pé enquanto Katerina tentava pensar num jeito de matá-lo. “Vamos lá sua idiota, pense, pense, qual o único jeito de matar um vampiro... vamos lá se lembre...”. “Lembre-se Katerina, para matar um vampiro basta acertá-lo no coração com uma estaca de madeira, esse método sempre funciona, mas em último caso você poderá cortar-lhe a cabeça, assim o vampiro morrerá e não conseguirá se curar a tempo, uma ferida rápida e mortal...” As palavras de Grigorii vieram à mente de Katerina a tempo, antes que Konstantin a acertasse com um chute.

_Viu? Meus ossos já se regeneraram todo seu esforço foi em vão, você está enfraquecendo, pela sua expressão você não chegará ao amanhecer, terminarei com isso agora, como um ato de misericórdia.

_Nem pense nisso. Katerina e Konstantin correram na direção um do outro até se encontrarem no meio da clareira, Katerina tentava de todas as formas livrar-se das mãos de Konstantin enquanto ele tentava alcançar seu pescoço.

_Isso é pelo meu pai. Katerina saltou aterrissando atrás de Konstantin, antes que ele pudesse reagir ela enroscou em volta de seu pescoço uma corrente que estava em seu bolso, forçando-a como se quisesse sufocá-lo.

_Isso é inútil garota, não conseguirá me matar com isso. Konstantin tentava alcançar Katerina para se livrar da corrente, mas não conseguia alcançar. Katerina apertava a corrente em volta do pescoço de Konstantin com ainda mais força, fazendo o sangue escuro escorrer pelo pescoço pálido. Konstantin agora tentava desesperadamente se livrar do aperto mortal de Katerina, mas não conseguia alcançá-la de nenhum modo.

_Ga... Garota estúpida. Katerina apertou o máximo que pôde enquanto observava a cabeça de desprender do corpo de Konstantin, enquanto um jorro de sangue formava uma poça no chão.

_E isso é por ter tirado minha humanidade seu imbecil. Katerina estava ofegante, mesmo que não estivesse com dificuldade para respirar sentia uma leve fraqueza tomar conta de seu corpo, ela precisava escolher entre se alimentar e viver ou esperar até que o sol nascesse e a carbonizasse de uma vez. Katerina sentou em uma pedra próxima observando enquanto o corpo de Konstantin aos poucos ficava acinzentado e se desmanchava restando apenas a poça de sangue escuro no chão e alguns restos de uma cinza branca como giz. Memórias antigas vieram em sua mente, os momentos vividos ao lado do pai e da família e um medo, um medo enorme do que a aguardava. Será que morrer doía? Será que a morte de um vampiro era mais dolorosa que a de um humano? Pela primeira vez Katerina sentia muito medo, temia a dor e por incrível que parecesse temia a morte, não queria morrer ali naquele momento, queria viver mais, aproveitar mais, mesmo que sua antiga vida tivesse sido tirada em apenas uma noite. Katerina sentia a fraqueza no corpo aumentar, não devia faltar mais do que uma hora para o nascer do sol e a sede começava a aumentar demais, alimentando ainda mais o seu desespero.

_Não, não, não, não. Não posso morrer, tenho que continuar o que o meu pai começou, preciso livrar o mundo de monstros como Konstantin, eu tenho que procurar por redenção. Katerina saiu correndo em direção da cidade, havia feito uma escolha, mesmo que fosse contra tudo o que ela acreditava, era necessário, ela se dirigia a uma rua deserta onde havia apenas um ser vivo um coração pulsando e bombeando sangue quente. Katerina se aproximou do homem que dormia todo encolhido em meio a vários pedaços de jornal e o agarrou pelo pescoço.

_Desculpe-me, mas seu sacrifício valerá a pena.

“Sempre abominei os vampiros, cresci sendo ensinada a odiá-los e a matá-los, porém por ironia do destino acabei me tornando a criatura que eu mais odiava uma criatura maligna que vive do sangue dos inocentes. Talvez um dia eu encontre a redenção, mas até lá tentarei ao máximo livrar o mundo dos vampiros e outras criaturas malignas, mesmo que um dia eu não consiga o perdão, pelo menos estarei de certa forma, em paz comigo mesma, pois saberei que cumpri com os objetivos de meu querido pai, meu doce e adorado Grigorii, que sempre fez o máximo para me proteger e que morreu por isso. Creio que a alma dele deve ter encontrado a paz, algo que para nós vampiros, nunca existiu e nunca existirá...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heartlines" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.