Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 23
Capítulo 23 - Mãe e Filha


Notas iniciais do capítulo

 Naquele momento, eu fiquei pensando: O que minha mãe temia tanto? Ela era poderosa, um anjo de sangue puro. Porque diabos Katherine exercia tanto poder sobre ela? De qualquer maneira, aquela não era a hora das respostas.



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 -           Stefan!

      Eu corri para ele, e o sustentei em meus braços.

-           Você veio! – Stefan sussurrou.

-           Eu disse que viria.

      Eu o abracei forte.

-           O que quer Katherine? O que quer para deixa-lo ir?

      Katherine andou pela câmara.

-           Que fique no lugar dele.

-           Não! – minha mãe gritou.

-           Como disse Lenore? Ousa me desobedecer?

      Minha mãe se arqueou sobre o próprio corpo, abaixando a cabeça.

-           Não senhora.

-           Isso é bom! Isso é ótimo! Porque meu humor está maravilhoso e não quero que ninguém o estrague.

            Naquele momento, eu fiquei pensando: O que minha mãe temia tanto? Ela era poderosa, um anjo de sangue puro. Porque diabos Katherine exercia tanto poder sobre ela? De qualquer maneira, aquela não era a hora das respostas.

-           Eu fico – eu assenti.

-           Não! – Stefan grunhiu.

Eu o abracei mais forte, sussurrando em seu ouvido.

-           Não se preocupe. Eu posso cuidar disso.

      Ele continuou negando com a cabeça e tentando se soltar do meu abraço.

-            Converse com Alaric. Converse com ele, e ele contará tudo.

      Depois de muita luta, Stefan concordou em sair.

Minha mãe se aproximou e tirou as algemas dele. Eu lhe entreguei a chave do carro e o abracei uma vez mais.

-           Cuide-se – eu pedi.

-           Vou voltar, Ayllin. Eu prometo que vou voltar – Stefan jurou.

-            Converse com Alaric.

      Stefan se afastou com olhos tristes, o que partiu me coração.

Assim que minha mãe fechou a porta da câmara, meu coração gelou. Maus pressentimentos enchiam toda a escuridão do lugar.

Senti meu estômago se retorcer e minha visão falhar. Segurei na parede para evitar cair no chão.

-           Ayllin!

            Minha mãe correu para mim e me sustentou. Eu estava fraca demais para impedi-la.

-           Não acredito que esta garota está doente! – Katherine resmungou.

-           Lenore. Cuide dela e dê um jeito de deixa-la preparada. Precisamos começar o ritual o mais rápido possível. Antes que aquele seu vampiro venha busca-la. Eu vou descansar.

Minha mãe passou o braço em minha cintura e me conduziu á uma passagem estreita, entre as paredes de mármore. Descemos mais uma escada e chegamos á outra câmara. As paredes eram de tijolos e cheiravam a mofo e terra. O chão estava empoeirado e sujo. Ela me levou para uma pequena cela e forrou a cama com lençóis limpos.

-           Deite-se aqui.

      Eu não pude negar. Tudo girava e meu estômago parecia que iria sair pela boca.

-           Eu estou bem! – eu resmunguei.

-           Fique deitada aqui e espere. Eu vou ver se Katherine já adormeceu.

Assim que ela saiu, eu forcei meu corpo a se levantar – de jeito algum eu me permitiria fraquejar perto delas!

      Minha mãe voltou quase em seguida, trazendo uma bandeja com comida.

-           Coma! – ela deixou a bandeja em minha frente.

            Assim que senti o cheiro, uma ânsia forte me golpeou. Eu segurei.

-           Coma!  - minha mãe repetiu.

-           Eu não quero! Não estou com fome.

-           E porque não está com fome, Ayllin? Me responda!

-           Já me alimentei.

-           Acha que eu sou boba, garota? Eu disse! Disse para fugir enquanto ainda tinha tempo! O que acha que Kahterine vai fazer quando souber a verdade? Garota estúpida! Garota estúpida!

      Minha mãe andava de um lado para o outro da cela.

-           Vai fazer um buraco no chão, se continuar com isso.

-           Seria ótimo, quem sabe assim você conseguiria escapar!

      Eu a segurei pelos ombros.

-           Se está tão preocupada comigo, me deixe fugir! Katherine está dormindo, é só me deixar ir.

Ela se sentou sobre a cama, deixando o rosto cair entre as mãos. Sua respiração estava pesada e entrecortada e podia jurar que ela estava chorando. Seus cabelos louros caindo sobre as pernas.

-           Eu não posso! Eu não posso! Não entende? Acha que eu gosto disso?

Opa! Sinal de alerta vermelho! – Se eu acho que ela gosta? Claro que eu acho! Ou pelo menos, achava.

-           Porque não pode?

Minha mãe suspirou profundamente, limpando os olhos com as mãos. Quando seu rosto se elevou, a máscara estava de volta. Nada de mãe, nada de nada. Apenas Lenore, o anjo caído.

-           Garota estúpida! Estragou tudo!

-           Porque está preocupada? Vai deixar Katherine me morder mesmo.

-           Acha que eu sou idiota, Ayllin? Acha que eu não seio que aconteceu?

-           Não sei do que está falando – eu desconversei.

-            Katherine não pode te morder, não é? Seu pai lhe preparou, ele lhe contou!

Eu continuei olhando fixamente para ela.

-           Me deixe ver! – minha mão ordenou.

-           Não tenho nada para lhe mostrar – eu resmunguei.

-           Mostre Ayllin, mostre!

Minha mãe se levantou e colocou as duas mãos em meus ombros. Quando sua pele começou a cintilar, eu sabia exatamente o que estava acontecendo.

Lentamente, o poder dela foi fazendo com que eu me transformasse. Minhas presas se alargaram, assim como minhas asas negras, espalhando uma brisa quente por toda a cela.

-            Satisfeita? – eu grunhi – agora pode correr como um cachorrinho e contar para Katherine. Quem sabe ela me mate de uma vez e você fique livre de mim e do meu pai!

            Minha mãe não deu importância as provocações. Ela apenas admirou minha nova forma, enquanto suas mãos deslizavam nas plumas das minhas asas.

-           Não foi Alaric. Não foi Alaric que lhe transformou – ela repetia.

Eu não respondi.

-           Foi ele, não é? Damon! Damon te transformou! Por isso o cheiro dele é tão forte em você.

      Minha mãe sorriu.

-           E Katherine pensando que era sexo!

      Ela parou de repente e me encarou com estranheza.

-           É isso!

Ela me olhava com tanta admiração e carinho que eu comecei a me preocupar com o que ela estava vendo.

-           O que foi?

Minha mãe tocou meu rosto com as mãos e depois desceu caminhando sobre minha pele. Seus dedos gelados fazendo cócegas. Ela parou com as palmas voltadas para minha barriga. Alguma coisa lá dentro deu uma tremida estranha, como se não fizesse parte de mim.

-           Hey, isso é estranho!

      Eu empurrei a mão dela e ela sorriu.

-           Você realmente não faz idéia, não é?

-           Do que? Do que eu não faço idéia?

-           Não sabe porque vem se sentindo estranha e cansada. Não sabe porque tem tido tanta sede.

-           Eu estou ótima!

-           Já tinha desmaiado alguma vez, Ayllin? Em todos estes anos, já tinha se sentido mal?

-           A transformação. Damon me disse que isso era normal.

-           E você concorda com ele?

Agora minha cabeça estava cheia de minhocas! Se essa era a intenção, ela havia conseguido. Será que eu ia morrer? Será que algo tinha dado errado e eu não suportaria a transição?

            Minha mãe colocou a mão sobre minha barriga novamente, fazendo a mesma coisa se mexer.

-           Sabe o que tem aqui, Ayllin? – ela me perguntou sorrindo – Uma semente, uma semente do seu vampiro!

      Eu engoli em seco e me sentei na cama, porque de repente o chão não existia mais.

-           O quê?

      Minha mãe continuou acariciando minha barriga e sorrindo, como uma idiota.

-           Você está grávida!

      Grávida! A palavra retumbava em minha mente como uma bateria de escola de samba.

-           Como assim, grávida?

Forcei meu corpo a se levantar e comecei a andar pela cela.

-           Eu não posso estar grávida! – eu continuei – não posso! Simplesmente não posso!

      Minha mãe cruzou os braços sobre o peito, encostada na parede da cela.

-           Porque não pode, Ayllin? Você é adulta e saudável. Tem um relacionamento de caráter sexual com aquele vampiro, não tem?

-           Sim, mas... – minha mãe me interrompeu.

-           Mas nada, Ayllin. Se ninguém lhe disse, é assim que acontece.

-           Eu sei, mas isso aconteceu dois dias atrás! Não posso estar sentindo tudo isso! Não posso sentir ele se mexer!

Eu pensei um pouco e me lembrei do sorriso bobo no rosto de Amarillis, e da conversa que ela teve com meu pai. Da preocupação dele, e de Matt. Eles sabiam! Por isso estavam tão preocupados!

-            Amarillis! – eu confessei.

-           Ela esteve com você, não é? – minha mãe perguntou.

-           Sim!

-            Amarillis sempre foi muito ligada a você – as palavras pareciam corta-la em pedaços – por isso ela sentiu. Sentiu que algo acontecia.

Minha mãe tocou minha barriga novamente, agitando o pequeno ser.

-           Vê? Eu ainda consigo mexer com ele, como Amarillis faz – ela parecia ainda mais admirada do que eu.

-           Como faz isso?

-           Não sei, mas sei que posso senti-lo aqui dentro. É como se eu pudesse toca-lo.

            Eu suspirei profundamente e me sentei na cama, deslizando a mão em meus cabelos.

-           O que eu vou fazer, mãe?

Mãe! Pela primeira vez, eu a chamava de mãe. Sem deboche, sem ressentimento, apenas minha mãe. A suplica pareceu alcançar o coração dela. Minha mãe deitou minha cabeça em seu colo e ajeitou meu cabelo com os dedos.

-           Vou dar um jeito – ela sussurrou em meu ouvido.


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