Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 16
Capítulo 16 - Heranças do Passado


Notas iniciais do capítulo

Ele segurou minha mão na sua e levou aos lábios. Um beijo suave e sua pele em minha mão. Alaric deslizava minha mão na pele de seu rosto. Eu sentia tanto amor. Tanto carinho naquele pequeno gesto. Ele abriu os olhos e olhou diretamente dentro dos meus.
— Eu morreria por você – e então ele me puxou para os seus braços, beijando minha testa – e foi o que eu fiz, eu me entreguei por você.



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Alaric continuou caminhando em minha direção, eu não sabia se devia correr ou simplesmente desaparecer. Se bem que, pelo pouco que eu conhecia dele, talvez não adiantasse muito. Ele não disse nada, então eu perguntei novamente:

-           Que tipo de coisa é você?

Ele parou bem na minha frente, um sorriso absurdamente suave e encantador em seus lábios, quando começou a falar:

-           Eu sou o mesmo tipo de coisa que você – Alaric respondeu soando como sino dos ventos.

-           Sem chance!

Tudo bem, eu estava apavorada, mas aí também já era demais! A mesma coisa que eu? Impossível! Eu tenho certeza absoluta de que eu sou um tipo de aberração única! Hey não deve ser comum, anjos tendo casos com vampiros, não é?

            Eu respirei fundo e tentei me concentrar na situação.

-           Você nem imagina o tipo de coisa que eu sou!

-           Aí é que você se engana. Eu procurei muito, querida Ayllin, muito.

Alaric andava em volta de mim, como se quisesse reconhecer o terreno. Eu estava meio desconfortável em vê-lo me estudar daquela maneira, mas o que me deixava mais desconfortável era ele me dizer que sabia quem eu era.

-           Eu não sou como o Matt! – tentei ser enfática, quem sabe assim a gente resolvesse logo a situação.

-           Sim eu sei disso também. E eu sei de algo que você não sabe.

-           É mesmo? O que?

            Alaric tirou o casaco de couro e ergueu um pouco a camisa. Sua pele era tão clara, tão perfeita. Ele definitivamente não era humano. Eu olhei com curiosidade, enquanto Alaric subia a camisa até a altura das costelas. Ela estava lá, exatamente igual a minha, só que muito maior e muito mais profunda. Alaric tinha a mesma cicatriz. A mesma marca em forma de lua queimada na pele. Só que a dele era funda, como se algo o tivesse transpassado.

-           Sabe o que é isto? – Ele apontou para a marca que começava um pouco abaixo da s costelas e atravessava o corpo dele, saindo nas costas.

Tapei minha boca com os olhos arregalados. Eu não podia acreditar. Na verdade, eu nem sabia no que acreditar. Eu sabia tão pouco á respeito da minha marca. Miguel sempre evitava estes assuntos.

-           Não quer saber porque eu tenho esta marca, Ayllin? Não quer entender porque eu tenho uma marca como a sua?

Eu assenti com a cabeça. Minha mão se levantou meio que fora do meu controle, em direção á pele de Alaric. A ponta do meu dedo contornando a cicatriz de meia-lua, eu podia sentir o calor ali. O mesmo tipo de marca que eu tinha. A marca que dizia que eu não era pura. Uma vampira! A marca que me classificava como vampira.

-           Você é um vampiro!

Não foi uma pergunta, porque eu não tinha dúvidas. Várias coisas faziam sentido agora. A força, o poder, a beleza e desenvoltura – Alaric era um vampiro!

            Ele colocou a mão sobre a minha e sorriu. Por mais estranho que fosse, eu não conseguia sentir medo. Eu não conseguia vê-lo como uma ameaça.

            Minha mão livre ergueu a blusa, mostrando minha marca também. A mesma cor. A mesma textura. O mesmo calor. Era engraçado, mas até a minha pele era como a dele. O mesmo tom, a mesma maciez. Eu me virei de lado e encostei minha marca próxima a dele.

-           Vê? Como eu disse, eu sou o mesmo tipo de coisa que você.

-           Como aconteceu? – foi a única frase que eu consegui formular.

-           Eu salvei você.

      Eu vinquei a testa.

-           Me salvou? De que? De Miguel?

-           Miguel jamais a machucaria, Ayllin. Miguel a amava tanto que não importava o que ela fizesse, ele nunca a machucaria.

De repente, eu entendi que não era de mim que ele falava. Os olhos de Alaric estavam perdidos em outro tempo. Eu não conseguia ver através deles.

-           Ela nos enganou. Enganou a nós dois.

-           Quem? Quem enganou vocês dois?

            Alaric me ignorou completamente. Era como se ele confessasse para si mesmo.

-           Ela usou você. Ela sempre soube que eu faria qualquer coisa por você. Eu não permitiria que ninguém a machucasse. Por isso ela se protegeu com você. Ela a usou como escudo.

Ele segurou minha mão na sua e levou aos lábios. Um beijo suave e sua pele em minha mão. Alaric deslizava minha mão na pele de seu rosto. Eu sentia tanto amor. Tanto carinho naquele pequeno gesto. Ele abriu os olhos e olhou diretamente dentro dos meus.

-           Eu morreria por você – e então ele me puxou para os seus braços, beijando minha testa – e foi o que eu fiz, eu me entreguei por você. Mastema não teve coragem de me matar, então ele parou. O resultado está aqui. A marca. A marca da lança de Mastema. Sua marca é menor porque eu a protegi com o meu corpo. A lança transpassou e a ponta atingiu você.

            Minha cabeça estava um nó completo. Eu sentia como se fosse explodir. Tantas coisas dançavam em minha mente. Eu não sabia o que pensar e no fundo, eu tinha medo de descobrir.

-           Quem? Quem enganou você? Quem me usou como escudo?

      Alaric baixou a cabeça um pouco, seus olhos perdidos no chão.

-           Sua mãe.

Eu senti um bolo subir pela minha garganta e tive que forçar para engolir novamente. Minha mãe? Minha mãe? Como ele ousava dizer alguma coisa sobre a minha mãe? Ele nem conhecia ela!

Eu estava completamente furiosa. De todas as dúvidas da minha vida, esta era a única certeza! Minha mãe é que foi enganada! Minha mãe é que foi traída! Hey, minha mãe era um anjo, literalmente!

Eu me soltei do abraço de Alaric o mais rápido que eu pude.

-           Quem é você para insultar a memória da minha mãe? Quem é você para falar de alguém que você nem conheceu?

-           Sim, eu a conheci. Eu a conheci muito bem, Ayllin.

-           Impossível!

-           Eu comecei a dar passos para traz, eu precisava aumentar o espaço entre ele e eu. Alaric não se aproximou, ele apenas continuou.

-           Eu não posso insultar a memória de alguém que ainda vive, Ayllin.

Eu parei. Como assim, alguém que ainda vive? Ela morreu. Ou foi banida, sei lá, mas ela não está viva.

      Alaric percebeu minhas dúvidas.

-           Sua mãe está viva, Ayllin. Ela está perfeitamente bem, aliás, agradeça a ela pela maioria dos seus problemas.

Agora eu sentia como se o chão fosse se abrir a qualquer momento. Eu não sabia se eu tinha frio, ou calor. Eu não conseguia definir nada.

-           Quem é você? O que você sabe da minha vida? Vamos, diga de uma vez.

Ele caminhou suavemente, através do cemitério. Seus passos graciosos denunciavam que ele não era humano, mas sua doçura não o deixava parecer com um vampiro. Alaric parou bem próximo á mim.

-           Eu sei tudo sobre a sua vida, meu amor, porque você é minha filha.

E foi aí que o mundo literalmente desapareceu. Ou pelo menos eu acho que sim, porque eu não lembro de mais nada. Quando eu acordei, eu estava na pensão. Deitada em minha cama, com Stefan e Elena, um de cada lado, segurando minhas mãos.

Eu abri um olho e depois o outro. Minha cabeça parecia que tinha sofrido uma pancada.

-           O que houve?

-           Eu não sei. Alaric trouxe você aqui e me pediu que cuidasse de você.

            Eu me sentei em sobressalto.

-           Ele está aqui?

-           Não. Ele foi embora.

            Eu me joguei nos braços de Stefan e desabei. Eu chorava tão compulsivamente que ele nem tentou me acalmar. Stefan apenas deslizava as mãos em minhas costas. Seu toque quente e confortável, acalmando minha dor. Eu não conseguia entender nada. Alaric não podia ser meu pai! Ele não podia! Eu queria odiá-lo. Eu queria pensar em tudo que eu sofri sozinha e odiá-lo, mas eu não conseguia. Eu havia gostado dele desde a primeira vez. Era tão estranho. Eu amava a minha mãe, eu a amava. Como ele podia dizer aquelas coisas? Na verdade, eu acho que o que mais doía, era a raiva de mim mesma. Eu havia me preparado por tanto tempo para odiá-lo, “a coisa” responsável por todas as minhas desgraças, e agora eu não podia. Eu simplesmente não conseguia.

            Eu senti a presença, antes de vê-lo.

-           Matt!

      Stefan me olhou com curiosidade.

-           Matt está aqui, deixe o entrar.

Antes que Stefan pudesse dizer alguma coisa, Matt já estava no quarto. Ele correu até mim e me puxou em seus braços. Agora que não existiam mais segredos entre nós era ainda melhor estar com ele. Suas mãos fortes e ao mesmo tempo suaves e delicadas, como correntes em volta de mim. Eu sentia tanto amparo nos braços de Matt que era como estar com Miguel. Ele beijou minha testa e acariciou meu cabelo.

-           Miguel quer falar como você. Ele me pediu que a levasse.

Eu apenas fiz que sim, quando Matt me pegou em seus braços. Com os olhos fechados e o rosto enterrado em seu peito, eu podia sentir apenas o vento de suas asas. Era tão bom. Não demorou muito para encontrarmos Miguel.

Existem muitos lugares onde moram os anjos, mas este, eu não conhecia. Era algo como uma ilha, não sei bem. E embora o sol brilhasse fortemente, eu não sentia seu calor em minha pele, o que significava que estávamos bem próximos do céu.

Matt me sentou em um tronco, embaixo de uma árvore imensa e sentou-se ao meu lado. Suas asas em volta de mim, como um cobertor de plumas. Miguel permaneceu em pé, á minha frente. Seu rosto era sofrido e triste. Eu sorri para ele, e ele estendeu a mão, tocando meu rosto.

-           Me perdoe Ayllin.

            Perdoar? Como alguém poderia não perdoar Miguel? Ele era simplesmente maravilhoso. Eu sorri, e ele continuou, embora seus olhos estivessem perdidos no chão.

-           Eu a amava tanto que fui fraco – ele levantou o rosto e continuou – mas eu não vou ser mais. Eu vou contar a verdade á você, querida. Eu devo isso a Alaric.

      Eu engoli em seco. Provavelmente o desmaio deve ter resultado em uma concussão.

-           Você conhece Alaric?

-           Sim Ayllin, eu conheço.

            Pelo amor de Deus, será que sou a única que ainda tem sanidade mental por aqui? Como é que eu não sabia que Alaric conhecia minha mãe, e Miguel conhecia Alaric? De repente, minha cabeça começou a doer novamente.

-           Ayllin, eu não posso responder todas as suas perguntas porque algumas eu nem mesmo sei. Eu acho que você deve procurar o seu pai e conversar com ele.

-           Sem chance! Eu não quero falar com ele! Você nem imagina o que ele falou sobre a minha mãe.

-           Ele disse a verdade.

-           Não, você na entende! Ele disse que minha mãe me usou para atingi-lo! Disse que ele me protegeu de morrer! Aliás, ele tem uma marca igual a minha.

-           O que o seu pai disse é verdade, Ayllin.

-           Como assim?

-           Eu vou explicar. Sua mãe se deixou corromper pelo poder – ele respirou fundo, antes de continuar – ela se deixou corromper por uma vampira. Esta vampira precisava do poder do seu pai. Sua mãe tentou corrompe-lo, usando você. Ela o convenceu de que era o melhor e de que assim vocês três poderiam ficar juntos. Alaric quase acreditou. Ele quase perdeu a vida por isso, eu não permiti. Quando eu percebi o que sua mãe havia feito, eu quis castiga-la, mas eu na pude. Você sabe que eu amava não sabe?

-           Sim.

-           Ela sempre amou a si mesma, embora ela tenha amado seu pai, em algum momento.

            Eu podia sentir a dor nas palavras de Miguel, enquanto minha cabeça tentava processar tudo dentro dela.

-           Existe um anjo chamado Mastema, um anjo poderoso, encarregado de fazer justiça. Mastema tentou punir sua mãe, mas ela segurou você nos braços. Ela sabia que seu pai não permitiria que você se machucasse, então ele te protegeu. Alaric se colocou na frente da fúria de anjo para proteger você. E é por isso que eu o admiro tanto. Alaric é um bom homem, apesar de tudo.

Então, era mesmo verdade. Toda a tal história sobre me salvar da minha mãe. Eu sentia como se estivesse vendo uma história em terceira pessoa. Era como se não fosse eu.

-           Meu erro foi não dizer a você a verdade sobre ela. Sua mãe nunca foi vítima, querida, você foi. Você e seu pai – e então, ele completou – acho que você deveria dar uma chance a ele. Alaric tem muita coisa para lhe contar sobre você mesma. Vocês são mais parecidos do que você imagina.

-           Talvez um dia – eu não podia dar o braço á torcer, de jeito nenhum.

            Matt me ajudou alevantar e sussurrou em meu ouvido que tínhamos que ir. Enquanto eu me preparava para voltar á terra, uma dúvida persistia em minha mente.

-           Minha mãe está viva?

      Miguel pensou um pouco.

-           Sim.

-           Porque você nunca me contou? Porque você disse que ela se foi?

-           Porque é a verdade. Sua mãe se foi para sempre. Ela não pertence mais ao nosso mundo. E eu não te contei porque quis te proteger.

-           Meu pai também não pertence ao nosso mundo, ele é um vampiro.

-           Seu pai é mais que isso Ayllin. E ele pertence ao nosso mundo sim – Miguel colocou suas mãos em meus ombros para continuar – não é o que você é minha filha, mas o que faz com isso é o que conta.

            Eu me despedi de Miguel e Matt me levou de volta. Eu fiquei parada na frente da pensão, sem ter certeza do que fazer. Tantas coisas diferentes passavam em minha mente. Eu suspirei fundo enquanto procurava pela chave no bolso do casaco.

            Entrei no BMW e dirigi o mais rápido que pude, em direção á casa de Alaric. Eu não precisei bater, quando parei na porta, ela se abriu.

-           Eu sabia que você viria.

Eu não sei o que aconteceu. Não entendo por que eu fiz aquilo. Eu só sei que eu queria tanto, tanto, que meu corpo não perguntou nada. Eu apenas me lancei nos braços dele. Alaric me envolveu com seus braços fortes, enquanto sussurrava em meu ouvido:

-           Minha filha.

Ele me levou para dentro e eu me sentei no sofá. Alaric sentou-se em uma poltrona de couro, em frente a mim.

-           Você conversou com Miguel.

-           Sim.

-           O que ele te contou?

-           Quase nada.

-           E o que você quer saber?

-           Tudo!

      Alaric sorriu.

-           Okay! Mas o que quer saber primeiro?

-           Como conheceu minha mãe?

-           Na terra. Aqui mesmo, em Fell Church. Eu sou um caçador, Ayllin. Foi por isso que conheci sua mãe.

-           Você caça vampiros?

-           Sim.

Os olhos de Alaric se perderam no passado. Mais uma vez, ele respondia mais para si mesmo do que para mim.

-           Quando eu conheci sua mãe, eu me apaixonei imediatamente. Eu quase não acreditei quando soube com ela estava.

-           E com quem ela estava?

-           Katherin.

-           Katherin? Quer dizer Katherin, Katherin? A mesma Katherin de Damon e Stefan?

-           Sim. O mesmo demônio que desgraçou a vida dos dois.

Uh, esta foi forte! Agora eu entendia perfeitamente o quão pequeno o mundo era. Todo mundo se conhecia, menos eu.

-           Mas Damon não te conhece.

-           Isso aconteceu antes, muito antes.

            Alaric suspirou fundo novamente e continuou a história.

-           Eu me apaixonei por sua mãe e então nós tivemos um romance. Eu só soube depois que ela estava com Katherin.

-           Como eu e Stefan?

-           Sim. Sua mãe era como você. Um anjo da guarda.

Quando ela me disse que estava grávida, eu quis leva-la embora, mas Katherin já a tinha corrompido. Sua mãe abriu mão de tudo pelo poder. Ela se transformou em um demônio, como Katherin.

-                      Porque você não me criou?

-           Eu não fui sempre assim, Ayllin. Houve um tempo em que eu era movido por vingança. Eu não poderia ter cuidado de você quando sua mãe havia me destruído completamente.

-           Você a amava muito?

-           Sim.

-           Porque você não me procurou antes?

-           Eu procurei, mas eu não consegui encontrá-la.

-           Mas você conhece Miguel.

-           Eu não posso ir onde os anjos moram, Ayllin – ele baixou os olhos e suspirou ainda mais fundo. Uma pequena lágrima se formando em seus olhos âmbar – não mais.

-           Vampiros não podem.

-           Meio vampiros sim.

-           Como você sabe?

-           Era o que eu costumava ser.

      Hey! Parece que eu não tinha entendido bem.

-           Como?

            Alaric sorriu e se levantou. Eu fiquei ali, observando. Ele abriu os braços com os olhos fechados. Duas sombras negras começaram a aparecer atrás dele – asas! Lindas e brilhantes, e absolutamente negras.

            Eu continuei olhando com cara de boba. Minha mente não formulava nada. Ele bateu suavemente as asas, e o vento que se fez me trouxe o cheiro dele. Era tão bom sentir. Era tão bom estar ali. O mais estranho é que eu sempre me senti em casa com ele. Eu sorri.

-           Foi é um anjo!

-           Fui.

-           Como “fui”?

-           Meu pai era um vampiro, Ayllin. E minha mãe era um anjo. Portanto, eu sou como você. Um mestiço.

-           Porque suas asas são negras?

-           Porque eu me tornei um vampiro.

-           Mas você já nasceu meio vampiro, como eu!

            Ele sentou-se ao meu lado e segurou minhas mãos. Eu me sentia tão parecida com ele agora. Eu podia ver os padrões do rosto, a cor dos olhos. O formato da boca. Eu me parecia tanto com ele. Como eu não havia percebido isso antes?

            Alaric passou a asa em torno de mim, abraçando-me delicadamente. Era tão bom. Tão quente. Muito mais quente que as asas de um anjo.

-           Nós dois não nascemos vampiros, Ayllin. Nós apenas temos os genes vampiros em nosso corpo.

      Bem, até aí, eu não tinha entendido absolutamente nada. Alaric continuou.

-           Tornar-se vampiro é sempre opção. Eu a fiz.

Alguma coisa no tom de voz dele me vez entender que não era uma opção fácil. Algo em Alaric não combinava nada com o estereotipo de vampiro que eu conhecia. Ele era tão nobre, tão bom. Algo em Alaric me lembrava muito Stefan – ele também havia se tornado um monstro por amor.

            Eu não sabia o que dizer a ele. Embora eu ainda tivesse muitas dúvidas, eu não me sentia no direito de bombardeá-lo com as minhas perguntas, então eu apenas o abracei.

-           Sinto muito.

      Alaric deslizou as mãos em meus cabelos, suavemente.

-           Não sinta. Como eu disse, foi uma opção. Eu a amava muito, mas mesmo assim, eu quis fazer isso, sua mãe não me obrigou.

Ele se afastou um pouco para olhar em meu rosto. Suas mãos suaves tocaram todo ele e Alaric sorriu.

-           Katherin sempre foi perigosa. Ela se escondia atrás de um sorriso doce e um rosto inocente, mas no fundo, ela sempre foi um demônio. Quando sua mãe e eu nos apaixonamos ela viu em mim uma possibilidade de obter mais poder.

      Eu o olhei com curiosidade, enquanto ele continuou.

-           Você sabe o quão poderosos os vampiros podem ser, não sabe?

-           Sim.

-           Os anjos são poderosos também, mas são limitados aqui na terra.

Eu concordei novamente.

-           A minha natureza mestiça me permitia possuir o poder dos dois. Era isso que Katherin desejava – ele baixou os olhos um pouco, fugindo do meu olhar – foi isso que eu fiz. Eu me transformei por poder. Katherin achou que poderia me controlar, como fez com sua mãe, mas quando eu soube da sua existência, ela não pode. Eu não queria isso para você.

Alaric acariciava meu rosto com as pontas dos dedos, enquanto suas asas suaves me cobriam em um abraço quente.

-           Eu quis você. Desde o principio, mesmo sabendo das intenções de Katherin, eu quis você.

-           Como assim?

-           Quando Katherin percebeu que não poderia me dominar, ela tentou fazer isto com você. Foi aí que eu desisti de sua mãe. Eu não conseguia mais ver a mulher por quem eu me apaixonei. Porque a mulher por quem eu me apaixonei já não existia mais. Eu precisava estar forte, eu precisava ser mais forte que sua mãe, mais forte que Katherin, então eu me transformei.

-           Por mim?

-           Por amor. Por amor á você.

            Eu senti pequenas lágrimas se formarem em meus olhos e logo eu não consegui contê-las. Eu finalmente tinha alguém. Alguém de verdade, alguém só para mim. Alguém que estaria sempre ali.

-           Se eu me transformasse, eu seria poderosa como você?

      Alaric sorriu.

-           Não amor, você seria muito mais. E é por isso que Katherin deseja tanto você.

-           Ela está morta.

-           Não, ela não está. Foi por isso que eu vim até aqui. Eu precisava proteger você dela.

-           Eu não vou ficar do lado dela!

-           O poder muda as pessoas, Ayllin.

Eu o abracei e descansei minha cabeça em seu peito. Por enquanto, eu não queria pensar em mais nada. Por enquanto eu só queria tê-lo comigo. Pela primeira vez em tanto tempo, eu finalmente o tinha ao meu lado.

Enquanto eu me deixava acalmar com a presença quente de Alaric comigo, eu pensei em minha vida. Pensei no ódio que eu alimentei do meu pai por todo este tempo. Eu pensei na razão de tê-lo odiado tanto – eu o queria por perto. Eu nunca o perdoei por ter me abandonado e pensar que ele era um monstro diminuía esta dor. Agora que eu sabia que ele nunca me abandonou, eu podia finalmente amá-lo.

            Eu passei a noite na casa de Alaric, aconchegada em seus braços, como se fosse uma criança. Ele acariciou me cabelo até que eu adormecesse. Quando eu acordei, embora ele não estivesse sentado ao meu lado na cama, eu podia sentir seu perfume em tudo. Eu me espreguicei e sorri – quase tudo em minha vida estava finalmente entrando no eixo, mas ainda faltava uma parte muito importante – Damon. Eu não conseguia tirá-lo da minha mente e a cada vez que eu pensava nisto, doía um pouco mais. Eu não sabia o que fazer á respeito dele. Eu tinha medo de que não pudéssemos mais ficar juntos, por que eu o amava. Eu me levantei e desci as escadas pulando os degraus de dois em dois, pelo menos por enquanto, eu não queria ficar triste.

-           Dormiu bem?

Alaric estava sentado no sofá, os pés apoiados na mesinha de centro, enquanto os braços estavam cruzados atrás da cabeça. Eu o olhei um pouco e sorri – meu pai era mesmo lindo!

-           Sim!

      Eu corri até ele e o beijei na bochecha. Ele me segurou.

-           Você não imagina quanto tempo eu esperei por isso – ele fez uma pausa e suspirou – especialmente depois que eu te conheci. Você me lembra o que sua mãe costumava ser.

-           Obrigado. Obrigado por não ter desistido, por ter lutado – agora eu é que estava suspirando – me perdoe por ter custado tão caro.

            Alaric olhou no fundo dos meus olhos e sorriu.

-           Valeu o esforço.


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