Kaela

Quando o sol se ergueu bem na minha cara eu percebi que o dia não seria dos melhores. Cato tinha viajado pro outro lado do oceano atrás do “amor da sua vida” – que nojo! – e eu estava novamente sozinha naquela droga de distrito-cidade com minha péssima reputação.

Ouvi barulhos vindos da parte de baixo da casa, isso me alertou que minha mãe estava em casa, será que ela tinha em fim se livrado de ser uma completa workaholic, ou só estava atrasada para ir pró seu trabalho no centro? Espero que ninguém nunca me pergunte sobre minha mãe, eu não saberia responder, eu não a conheço, quer dizer, eu sei a cor dos seus olhos – que são uma das únicas coisas que eu tenho idênticos aos dela -, a cor dos seus cabelos, sua cor favorita, coisas que só de observar uma pessoa por um tempo você saberia, mas eu não sei o que ela sente quando me olha, o que ela pensa ou se ela me culpa de algo, eu simplesmente convivo com uma estranha, e eu acho que ela me vê como um fardo.

– Oi mãe. – falei enquanto sentava na bancada colocando café em uma xícara.

– Hmm. – seca.

– Vai estar para jantar ho... – antes de eu terminar, ela estava dando ‘tchau’ com a porta aberta e saindo, mais um dia sozinha, dei de ombros e continuei o café.

Como eu adivinhe antes de sair da cama, meu dia seria ruim, tia Laurie simplesmente não estava em casa, foi visitar alguém no 2, eu estava só. Sai andando esporadicamente por Atlanta, desci até o centro, para em seguida subir até as plantações mais altas, fui até a cachoeira, voltei chutando a terra de maneira melancólica, e foi quando eu ergui meus olhos que meu dia realmente se tornou deplorável.

– Como vai Kaela, sentiu saudades? – encarei a garota a minha frente como quem vê um fantasma, ela estava ali pra acabar com o pouco que restou, e eu não tinha em quem me apoiar.

***

Kali

Senti a adrenalina me percorrer quando vi o rosto dela afundar um pouco, Kaela Meyers, se prepare, eu vim pra extravasar.

***

Eu ainda estava olhando fixamente para o sorriso semi-doentio que Kali ostentava em minha direção, eu estava ferrada, mais que ferrada, o pouco de reputação que eu guardasse iria pro lixo no que dependesse dela.

– Saudades de você? Nem que eu estivesse louca eu sentiria, você estragou muita coisa Kali. – falei venenosa.

Ela colocou a mão no peito e fez cara de dor.

– Eu passo 6 anos e meio longe e é essa recepção que você me dá? Nem parece que fomos amigas.

– Amigas? – debochei – Você nunca foi amiga de ninguém, você pisou na confiança que eu coloquei em você. – falei, ferida.

– Bem, eu nunca pedi para confiar em mim. – ela sorriu e começou a andar, parando do meu lado – Ah, eu voltei pra casa dos meus pais, nós veremos bastantes Meyers. – e voltou a caminhar, já longe ela se virou para gritar: - Você conhece pessoas interessantes.

Algo nessa amistosidade não me cheirava bem, um furacão estava se formando acima da minha cabeça, e estava prestes a me sugar, Kali Hills faria, de novo, minha vida um inferno, eu podia escolher me preparar para lutar, ou deixar que o inferno me engoli-se, porque cedo ou tarde ele começaria.