Capítulo 35 – Remember?

“Lembra?”

– Bellatrix –

Violet estava extremamente cansada, seu rosto pálido, sua pele fria e o rosto em chamas. Tentei chamá-la e trazê-la à realidade, mas tudo que obtive de resposta foi um grito de agonia da garota presa entre os meus braços logo antes de desmaiar.

– Violet! - chamou Cissa dessa vez.

Eu não esperava que ela desabasse, logo, assim que suas pernas cederam, todo o seu peso caiu sobre mim, que acabei de joelhos na grama e com sua cabeça em meu colo. Eu sabia dos efeitos do colar, mas não imaginei que seriam tão fortes...

– Merlin, o que fazemos agora? – perguntou Cissa ajoelhando-se ao meu lado – Ela está ardendo em febre Bella! Não podemos deixá-la aqui!

– Também não podemos levá-la para sua casa! – rebati – Dê um jeito na Morgana que vamos para a Casa dos Gritos...

Narcissa não respondeu uma sílaba sequer, apenas aproximou-se de uma Morgana desmaiada e murmurou apenas uma palavra: Obliviate. Logo voltou, colocou suas mãos em meu ombro e no de Violet, aparatamos para a Casa dos Gritos e, em questão de segundos estávamos no chão de madeira da casa abandonada.

– Me ajude a colocá-la no sofá... – pedi. Em poucos minutos eu e Cissa seguramos Violet e a deitamos no sofá.

– Eu vou buscar algumas coisas para cuidarmos dela. – avisou antes de aparatar novamente, deixando-me em pé em frente ao sofá.

Lentamente aproximei-me do estofado e ajoelhei-me ao lado da garota, que dormia profundamente. Observei-a por longos minutos... Os cabelos negros tinham crescido desde a última vez, a garota estava ainda mais linda. Sem ao menos pensar levantei minha mão até seu rosto e deixei-a em seus cabelos, por um momento senti falta da época em que Violet era apenas uma garotinha de 6 anos correndo pela casa... Muitos mistérios rondavam a infância da menina, mas apenas duas pessoas os conheciam.

Vendo-a ali, doente e frágil, trouxe-me à tona o mesmo sentimento de quando uma menininha de 8 anos caiu da escada. Tive vontade de protegê-la, de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, que era um mal passageiro... Aproximei-me lentamente e, rendendo-me à vontade que sempre tive, beijei sua testa em chamas. Eu nunca me permitia sentir, mas aquela menina conseguiu trazer um pouco de humanidade à minha vida e, sem ao menos perceber, sentia falta da criança que pulava na minha cama de manhã para tomarmos café...

– flashback on –

O sol já entrava pelas janelas abertas do meu quarto. Por que a Cissa tinha que ter a mania de abri-las todos os dias? Chegava a ser irritante!

– Mamãe! Mamãe acorda! – gritou uma menininha entrando correndo pelo quarto.

Porta aberta. Obrigada Cissa...

– Me deixa dormir... – reclamei colocando o travesseiro sobre minha cabeça.

– Acorda mamãe! – disse a vozinha infantil novamente escalando minha cama e subindo em cima de mim. – Vamos mamãe! Tia Cissa já fez o café... Você não está com fome?

– Sabia que você é muito chata às vezes? – falei tirando o travesseiro do rosto e deparando-me com uma garotinha de cabelos negros na altura dos ombros, pele branquinha como porcelana e olhos azuis como duas grandes safiras. – Já pensou em dormir um pouco de manhã? Que mania irritante de acordar cedo... Igual à sua tia!

– Dormir muito faz mal... – reclamou deitando a cabecinha em meu colo – Tia Cissa diz que se acordamos tarde o dia não rende...

– Você tem 7 anos! O que tanto precisa fazer que tenha que acordar cedo? – perguntei passando o braço sobre seus ombros.

– Brincar.

– Ah claro, como não pensei nisso antes? – ri – Lembre-me de bater na sua tia por te ensinar essas coisas...

– flashback off -

– Você era tão pequena naquela época... – murmurei acariciando seus cabelos. – Por quê levantei a varinha para você? Talvez tudo fosse diferente hoje... Ou talvez fosse pior – acrescentei ao me lembrar que eu era uma Comensal. Violet odiava Comensais.

Repentinamente ouvi um baque no chão de madeira, olhei para trás e vi Cissa com algumas sacolas.

– O que é tudo isso? – perguntei surpresa – Assaltou a farmácia irmãzinha?

– Isso é o que precisamos para cuidar dela. – respondeu encarando-me raivosa.

– E precisava de tudo isso?

– Por que não vai fazer algo lá fora enquanto eu cuido dela?

– Porque você tem a síndrome do excesso de cuidados. – respondi levantando-me. – O que vamos fazer?

– Ela está com febre, precisa de um banho frio...

– Não tem como levá-la para o banheiro... Se é que tem isso nessa casa velha...

– Por isso eu trouxe panos e água. Só precisamos deixá-lo úmido e passar na pele dela, especialmente na testa e no pescoço. Ela precisa tomar água também, mas como é impossível no momento, precisamos mantê-la hidratada passando o pano úmido nos lábios...

– Como sabe tudo isso? – perguntei enquanto molhava um pedaço de pano e colocava na testa da garota.

– Perguntei à governanta. – deu de ombros.

Narcissa trocava os pedaços de pano periodicamente enquanto eu afrouxava a gravata da menina e tirava seu casaco. Com um feitiço resfriei a casa e logo em seguida sentei-me no mesmo sofá que ela, colocando sua cabeça em meu colo e esperando.

– Os amigos dela devem estar preocupados... – começou Narcissa horas depois – Já está quase anoitecendo...

– Chame o Draco, ele é amigo dela não é? Pois então.

– Mas ninguém pode saber o que nós duas fizemos!

– E para quê existe o Obliviate?

– Vai realmente apagar a mente dela? De novo?

– Não temos outra escolha. Ela não confia em nós, provavelmente nos quer mortas! – falei levemente frustrada – O melhor a se fazer é darmos um jeito de levá-la até o jardim de Hogwarts e chamarmos o Draco. Ele a encontra, leva para o castelo e ainda passa por herói, ninguém saberá onde ela esteve ou o que ela quase fez com a Morgana.

– Bella... Ele estava certo não estava? Violet tem níveis de magia negra elevados? – perguntou preocupada.

– Sim... – respondi encarando a garota no meu colo enquanto acariciava seu cabelo – Eu sempre soube que ela teria uma magia poderosa, quando era pequena vivia quebrando os vasos da casa e até os do Colégio Interno... Às vezes a Magia Negra apenas se manifesta aleatoriamente, mas ela está envolvida numa profecia, o que torna as coisas mais complicadas.

– Ela fez um feitiço sem varinha...

– Ela não pode fazer isso, não pode continuar canalizando a magia nas palmas das mãos. – rebati negativamente – A Magia Negra é traiçoeira, se ela continuar a usá-la com frequência e sem controle, coisas ruins podem acontecer... Quando uma Magia Negra tão antiga se manifesta em alguém, é difícil controlá-la, é difícil resisti-la. Se ela esquecer o que houve hoje também vai esquecer que pode fazer magia com as mãos...

– É, talvez o melhor a se fazer é apagar o dia de hoje de sua mente...– disse encarando-a – Ela cresceu tanto não? Nem parece aquela menininha espoleta de 7 anos te acordando de manhã...

– Infelizmente ela aprendeu essa sua maldita mania de acordar cedo... Você anda me paga Cissa... – fingi-me de brava. – Todos os dias, exatamente às 7:30 você abria tudo quando era janela da casa e, meia hora depois, vinha ela atrás e pulava na minha cama para me acordar...

– Se acordamos tarde o dia não rende Bella. – rolou os olhos.

– Ah eu lembro muito bem disso... Essa pestinha me lembrava todos os dias! – ironizei.

– E você odiava não é? – riu – Lembro que a primeira vez que ela fez isso você gritou com ela, a Violet voltou para o quarto e ficou lá chorando...

– E você praticamente me derrubou da cama e me obrigou a me desculpar com ela... É, eu lembro dessas suas manias Cissa...

– Vai me dizer que não sente falta daquele tempo? – perguntou levantando a sobrancelha. – Lembra quando ela começou a te chamar de mamãe? Ela tinha sete anos...

– Sim, ela tinha conseguido me convencer a levá-la num parque trouxa horrível, crianças gritando, correndo, chorando... Arg foi terrível!

– Ela chegou em casa quieta demais e não quis mais brincar... – falou pensativa – Mas a surpresa veio à noite, antes de dormir... – riu.

– flachback on –

– Boa noite querida... – disse Narcissa beijando-a antes de dormir.

– Boa noite tia Cissa...

– Certo, chega de conversa – interrompi levantando-me parando na porta do quarto – Boa noite Violet...

– Boa noite mamãe... – respondeu inocentemente, fazendo-me paralisar com sua última palavra.

– O quê... Do quê me chamou? – perguntei surpresa ao lado de uma Narcissa estupefada.

– flashback off –

– E a explicação dela foi tão fofa! – sorriu. – “Todas as crianças do parque tinham uma mamãe... Elas disseram que a mamãe delas fazia tudo por elas, que colocavam para dormir, que brincavam e que gostavam delas... Você faz tudo isso, então é minha mamãe!” – riu – Você ficou paralisada!

– Você sempre teve o “instinto maternal”, eu não, aliás, nunca quis ter filhos porque não gosto de crianças... – resmunguei – Ah veja, a febre baixou... – falei quando percebi que sua testa estava na temperatura normal. – Acho melhor chamarmos logo o Draco, já está anoitecendo e seu querido marido quer a esposa em casa cedo... – ironizei.

– Muito engraçado Bella... – reclamou aparatando.

– Chega de aventura por hoje Violet... – sussurrei observando a garota dormindo.

Minutos depois Narcissa voltara, porém, acompanhada de Draco.

– Finalmente resolveram aparecer...

– Não é fácil entrar em Hogwarts sem ser vista. – ironizou Cissa.

– O que aconteceu? – perguntou Draco preocupado – Estão todos procurando por ela desde manhã!

– Ela foi atacada pela Morgana, fez magia negra e desmaiou. – respondi como se fosse óbvio.

– Espera... A professora Morgana é Comensal? E ela faz Magia Negra?

– Isso não vem ao caso. – cortei-o – Nós vamos levar vocês dois até a passagem do Salgueiro Lutador, então você vai carregá-la para Hogwarts e bancar o herói...

– Eu vou ter que carregá-la? Ficaram loucas?!

– Não grite com a sua tia Draco! – repreendeu Narcissa – Você vai sim carregá-la!

– E o que eu digo?

– Que estava procurando por ela no jardim e a encontrou perto do Salgueiro Lutador, desmaiada... – começou Narcissa – Como um bom amigo que é, ficou preocupado e a levou de volta para o Castelo.

– Complicado não é garoto? Talvez precisemos de um homem para fazer isso...

– Mas eu sou homem!

– Então faça o que estamos mandando. – respondi rispidamente.

– Tá, tudo bem...

– Ótimo! Agora venha, vamos aparatar na passagem... – falei estendendo a mão para Narcissa, que segurou a do menino e, segundos depois, aparatamos na passagem debaixo do Salgueiro.

– Vocês sabem que o Salgueiro não gosta muito de...visitantes...não é? Como vou passar por eles?

– Deixa com a gente essa parte, apenas leve-a em segurança para o castelo e fale o que dissemos. – mandei.

Draco aproximou-se e, com uma pequena ajuda minha e um grande esforço, segurou Violet no colo firmemente. Levantei-me, limpei minha saia e levantei a varinha para ela.

– Espera, o que vai fazer? – perguntou ele desesperado.

– Ela precisa esquecer o que aconteceu hoje. Não interrompa!

– Mas vai me atingir! Eu não...

– Calado! – mandei - Obliviate...

– Nós vamos à frente para te dar uma vantagem com o Salgueiro... – falou Narcissa adiantando-se e subindo para a entrada da passagem.

– Draco –

Minha tia é louca... Só pode! Como ela me manda passar por um Salgueiro Lutador sozinho? E ainda com a Violet no colo?

– Um último detalhe... – disse ela sacando a adaga que sempre carregava e riscando meu rosto.

– Ai! Por que isso?! – gritei indignado.

– Não grita comigo Malfoy! Você não passaria por um Salgueiro Lutador secular sem nenhuma marca, nem um idiota acreditaria! – ironizou – Mexa-se garoto! – mandou seguindo minha mãe.

– Ela definitivamente é louca... – sussurrei ajeitando a Violet nos meus braços e seguindo-a, sentindo o corte no meu rosto arder.

– Bella, o que você fez? – perguntou à Bellatrix ao olhar meu rosto.

– Detalhes Cissa, detalhes... – respondeu tediosamente – Ascendio!

Nunca tinha visto minha mãe em ação, mas devo admitir que naquele momento percebi de onde vinha meu talento. Pretensioso eu? Não, realista.

Ela e Bellatrix eram realmente uma dupla, pois enquanto minha mãe lançava um feitiço nos galhos do lado esquerdo, fazendo-os recuar, minha tia lançava nos do lado direito. Ambas sem esforço algum.

– Vá logo Malfoy! – mandou Bellatrix – Não se esqueça do que combinamos!

– Tá tia, já entendi... – reclamei andando pelo espaço que se abriu. - Neurótica...

Olhei para trás e vi quando ambas recuaram até finalmente entrarem na passagem. Sem outra alternativa, segui o caminho até o castelo, que permanecia aceso.

– É lógico que está aceso, é hora do jantar... – ironizei cruzando os portões.

Andei o mais rápido que pude até a enfermaria, porém, acabei cruzando com certa pessoa irritante.

– Draco Malfoy, o agarramento com a Seyfried não foi suficiente e agora escolheu a Snape? – debochou Blás na minha frente – Deixa o Morcegão ficar sabendo...

– Cala a boca idiota, você não percebeu que ela está desmaiada? Não ouviu que o resto dos alunos está procurando por ela o dia todo? E não fala assim da Sophie de novo, ouviu?!

– Tá, desculpa... Foi mal...

– Foi péssimo! – rebati – Agora será que dá para sair da frente?

– Claro, claro...

– Agora Blás!

– Tem alguém de mal humor hoje... – reclamou passando por mim.

Segundos depois cruzei a porta da enfermaria, porém, não era apenas a Madame Ponfrey que nos esperava. Sophie, Chambers, Addams, Lovegood e até o trio grifinório estavam ali.

Ótimo, não precisava de mais nada...

– Violet! – exclamou a ruiva.

– Onde ela estava? – perguntou Sophie. – E o que aconteceu com seu rosto?

– O que você fez com ela Malfoy?! – disse o Potter, seguido pelo cabeça de cenoura Weasley.

– Deixem ele falar, por Merlin! – repreendeu-os Ponfrey assim que deitei Violet na cama.

– Eu também sou amigo dela, caso não tenham percebido ainda... – ironizei.

– Hoje de manhã ela estava desmaiada no quarto, o Draco estava por perto e me ajudou a trazê-la para cá, mas no meio do caminho a Professora Snape nos parou e disse que cuidava dela. Nós voltamos e no horário do almoço viemos vê-la...

– Quando descobrimos que ela não estava aqui ficamos preocupados e começamos a procurá-la... – completei enquanto Ponfrey a examinava – Agora à pouco pensei em um dos lugares que ela costumava ir: o jardim.

– Foi o primeiro lugar que procuramos por ela.

– Então parece que não procuraram direito Potter. – rebati – Eu a encontrei deitada debaixo do Salgueiro Lutador, não pensei muito e fui pegá-la. Por isso o corte no meu rosto, um dos galhos me acertou...

– Mas o que ela fazia debaixo do Salgueiro Lutador? – desconfiou o Weasley.

– E eu é que vou saber? Perguntem para ela! – respondi irritado.

– Como ela está Madame Ponfrey? – perguntou minha loirinha. – De manhã estava ardendo em febre...

– Ela não tem qualquer resquício de febre. Se estava febril, foi muito em cuidada... – respondeu a mulher – Só está um pouco gelada, mas isso deve ser por ter passado um tempo no jardim. Não se preocupem crianças, ela ficará bem, só precisa de um pouco de repouso...

– Podemos ficar aqui?

– No máximo dois de vocês.

– Então eu fico. – prontificou-se Sophie.

– Eu também. – falei - E não reclame Potter, eu a ajudei de manhã e vou ficar.