Morgan correu quando avistou Rihito, com os cacos dos óculos do amigo em mãos. Rihito, Rihito! ele chamava. Alcançou-o ofegante, estendendo o objeto. Os olhos azuis do menino se arregalaram. Lembravam geleiras.

– Eu procurei logo que voltei junto dos outros meninos, mas não consegui achar! Depois, o que a gente encontrou foi isso... Oh! Me perdoe, se eu não tivesse demorado tanto..! - O louro fazia uma expressão de criança tristonha e chorosa que esperava repreensão dos pais.

Rihito amava seus óculos, usava-os desde novo. Fora através deles que pode ver toda sua infância. Seu pai, que os dera ao garoto. Sua mãe de frágil saúde que, sempre temendo a hora de abandonar o filho, dissera para seguir com os estudos e ser um rapaz exemplar e capaz de se cuidar sozinho. Seus raros amigos de escola que persistiram e atravessaram a barreira de sua timidez para lhe fazer companhia.

Ficou em silêncio.

– E--eu vi uns meninos rindo no campo! Aposto que foram eles que te machucaram!

Os olhos glaciais do garoto eram agora mais gentis ao observar o amigo de cima.

– Tenho um óculos reserva em minha bolsa caso algo acontecesse a este... Não se puna, Morgan. - E tocou-lhe de leve no braço enquanto falava.

Os louros cabelos dele teriam sido um lugar melhor para pousar os dedos, mas absolutamente não o conseguiria fazer.

Rihito adentrou o quarto sozinho a fim de encontrar o reserva. Sentou-se na beirada da cama e ponderou que seguramente a causa responsável pela quebra de seus óculos não fora a bolada que tomou durante a educação física. Não poderia desconfiar de Morgan, mas alguém, certamente, havia destruído-os. Sem razão aparente.

O garoto empunhou uma tesoura para meter-lhe em seu travesseiro num acesso de raiva e rasgar-lhe de ponta a ponta; chegou a fazer menções mas desistiu. Sabia que caso o fizesse, nem teria mais onde dormir.