Quando os Youkais Dominavam a Terra escrita por Kaoru Higurashi


Capítulo 21
Capítulo 21: O ataque começa


Notas iniciais do capítulo

Inutaishou cai em uma armadilha; seu castelo é atacado e mesmo Shippou e seus servos não saíram ilesos disso. A batalha começa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/4386/chapter/21

Seus olhos estavam fixos na mulher de longas madeixas negras que se aproximava a passos lentos. O kimono rosa florido farfalhando as longas mangas ao vento. Ela estava da mesma maneira que sempre estivera à muitos anos. Mas seus olhos tinham uma bondade disfarçada, e sob ela, Inutaishou podia ver uma alma negra e corrompida. Izayoi parou a apenas alguns passos dele e o fitou com aquela serenidade inexistente:

- Inutaishou.... Meu querido. Á quanto tempo não nos vemos.... Sentiu minha falta?  - e estendeu os braços pra ele, como se pedisse um abraço, os olhos pareciam mostrar pena do daiyoukai.

- Quem é você? – ele conseguiu perguntar, sem se mover do lugar.

- Sou Izayoi. Não se lembra de mim? – ela deixou os braços caírem dos lados do corpo, parecia decepcionada.

- Minha Izayoi morreu há muito tempo. Quem é você, que usa a aparência dela? – indagou mais firme.

- Sou eu. Eu voltei para te levar. – insistiu.

- Não pense que sou tolo o suficiente para me deixar enganar por um youkai que toma a aparência dos outros. – era aquele tom de ordem que fazia seus servos tremerem diante dele.

- Ora.. que decepcionante... – a voz de Izayoi soou bem mais sarcástica do que quando falou antes, também seu timbre ficou mais grosso – A habilidade dos kitsunes não é tão excepcional assim, afinal. Mas o que mais eu poderia esperar do lorde inuyoukai, não é?

- Kitsunes...? – estranhou Inutaishou – O que você tem com eles?

- Parece que o ‘lorde’ não é tão inteligente assim. – disse uma Izayoi cheia de sarcasmo na voz – Mas não se preocupe, eu nunca me aliaria àqueles youkais ridículos. Porém me asseguraram que roubar sua habilidade me traria muitas vantagens, até mesmo contra você. Vejo que estavam enganados....

 

O daiyoukai estreitou os olhos para o inimigo. Era estranho estar falando essas coisas para um ser que possuía a forma de sua amada esposa falecida.

- Isso é uma armadilha não é? – perguntou calmamente. O outro apenas concordou com a cabeça e um sorriso cínico. – Quem o mandou aqui? – perguntou novamente.

- Isso... – o youkai na forma de Izayoi começou – Você só saberá quando me derrotar.

- Com prazer. – e o daiyoukai desembainhou sua espada tão rápido que somente seu som metálico e o brilho reluzente da espada puderam ser vistos antes de alcançarem o inimigo, que não teve tempo de reagir. A espada passou direto pelo youkai, como se ele fosse vapor, e como tal, ele se desintegrou no ar.

– Uma ilusão? – se perguntou Inutaishou confuso.

- Vejo que não hesitou em me atacar mesmo estando na forma de sua esposa. – o inuyoukai se virou, procurando pela voz, mas não a encontrou, parecia vir de todo lugar – Mas como vai atacar um inimigo que não pode ver? – apesar de não vê-lo, Inutaishou quase podia sentir que seu inimigo estava sorrindo. Talvez se considerando o vencedor. Mas ele não conhecia toda a extensão do poder do lorde inuyoukai ainda.

 

O silêncio caiu subitamente assim que a voz terminou de falar e Inutaishou ficou mais atento ainda, aguçando seus sentidos. Nem o mínimo ruído escapava de seus ouvidos, o mais sutil cheiro era captado por ele, apenas a nuvem de poeira vermelha dificultava um pouco sua visão a longo alcance; mas podia se virar bem com o que tinha. Um som parecido a um disparo foi ouvido pelo youkai cão. Ele não pode precisar a direção, mas ele percebeu depois, que o ataque vinha do alto, de todas as direções. Milhares de lanças afiadíssimas, longas e finas como espinhos gigantes voaram sem sua direção. Seria impossível escapar de todas. O lorde então, sem se alterar, guardou sua espada e ergueu uma mão ao alto. Em instantes um brilhante chicote azul de luz se projetou de suas garras afiadas. O youkai moveu as mãos com graça e destreza em forma circular e o chicote girou em torno de seu corpo. A rotação era tão veloz que era como uma barreira ofensiva, as lanças batiam e ricocheteavam nela, muitas eram quebradas e feitas em pedaços. Quando as lanças pararam de investir contra ele, o lorde parou de girar a mão, e o chicote instantaneamente desapareceu. Nem uma única lança havia atingido-o.

- É só o que você tem? – zombou Inutaishou.

- Isso é só o começo – uma voz respondeu.

 

 

OoOoOoOoOoO

 

Sesshoumaru observou o céu por umas das grandes janelas do castelo. Algumas nuvens cinzentas tapavam o sol e sombreavam o chão. Era uma estranha calmaria, que de certa forma incomodava ao youkai. Desde que seu pai partira que esse estranho sentimento havia lhe invadido. Ele dizia a si mesmo que não era nada, mas sabia que provavelmente seus instintos estavam certos. Rin estava ao seu lado como sempre. A menina olhava confusa para seu mestre:

 

- O que foi, Sesshoumarusama? – perguntou curiosa e levemente preocupada por vê-lo tão disperso. Ele não lhe respondeu, apenas continuou fitando o horizonte.

 

Subitamente uma grande revoada de pássaros passou voando, vindas da direção da parte frontal do castelo e sumindo logo atrás deste. Pareciam desesperados para fugir de algo. O youkai abriu mais seus dourados olhos em aparente reconhecimento da situação.

- Rin! – chamou, sério. A menina olhou interrogativamente pra ele – Corra....e se esconda.

Ela piscou algumas vezes, confusa, ainda digerindo o que ele lhe dissera.

- Agora! – ordenou mais firme.

Sem mais um segundo de demora ela correu. Não sabia bem pra onde, mas correu. Tão rápido quanto podia. Ainda a meio caminho de algum lugar ela ouviu uma explosão abafada e distante, como o tiro de um canhão. Em seguida o castelo inteiro tremeu. Rin perdeu o equilíbrio e caiu. Outra explosão, agora muito mais alta e mais perto foi ouvida antes de tudo ficar escuro e silencioso.

 

As escravas entraram em desespero e corriam aos gritos, tentando se proteger. Tudo virou um grande caos. Inuyasha logo encontrou o irmão enquanto também corria pelo castelo, procurando saber o que estava havendo.

- Sesshoumaru! – chamou em meio às explosões e tijolos caindo.

O irmão mais velho se virou na direção do outro. Ele havia sacado sua espada e parecia pronto pra lutar.

- O que está acontecendo!? – o hanyou perguntou quase aos gritos por causa do barulho.

- Estamos sendo atacados, não está vendo imbecil?! – gritou de volta.

O hanyou franziu o cenho ante a resposta do irmão, mas não teve tempo de retrucar pois logo chegaram alguns guardas do castelo, afoitos, pedindo instrução a Sesshoumaru. O hanyou já ia se virando para ir pra outra parte, quando o mais velho se dirigiu a ele.

- A Tessaiga, Inuyasha! Pegue a Tessaiga!

- Tenho outra coisa pra pegar primeiro. – respondeu e saiu ainda mais depressa do que chegara.

- Hanyou idiota! – reprovou o mais velho.

 

Kagome saiu de seu quarto, assustada com o barulho das explosões. Viu todos correndo pra diversas direções e só se perguntava: “O que diabos está acontecendo?”. Ela tentou ainda perguntar a algumas servas que passaram por ali, desesperadas, mas nenhuma parou para lhe responder.

- “Preciso encontrar Inuyasha.” – e com esse pensamento ela saiu para os corredores apinhados de gente, correndo seriamente o risco de ser atropelada.

Ela continuou correndo pelo castelo, aparentemente sem destino definido. A mão sobre o peito, como se assim pudesse acalmar as batidas descompassadas do seu coração. O medo e a incerteza, tal como sua confusão parecia comprimir seu tórax e tirar-lhe o ar. Mas ela continuou a seguir adiante. Não muito tempo depois ela avistou alguém caído no chão, temerosamente se aproximou mais e viu que era o pequeno corpo de uma criança. A única criança do castelo.

 

- Rinchan! – chamou desesperada, pegando a menina em seus braços. A jovem abriu os olhos torpemente, como se tivesse acabado de acordar. Ela não tinha ferimentos e Kagome concluiu que deveria estar apenas desacordada.

- Onde está Sesshoumarusama? – perguntou a garotinha, confusa, assim que pareceu se dar conta do que acontecera.

- Não sei. – respondeu sinceramente. – Mas precisamos sair daqui. Consegue andar?

- Acho que sim. – Kagome a ajudou a se pôr de pé e em seguida segurou a mão pequena bem forte contra a sua.

- Fique perto de mim. – avisou a jovem. Rin afirmou com a cabeça e as duas seguiram juntas.

 

Os sons de explosões cessaram por um tempo e Ayame se perguntou se o ataque havia terminado. Ela fora acordada repentinamente pelos sons dos canhões e ainda não tinha muita certeza do que se passava ali. Só parecia haver uma conclusão lógica: Uma guerra estava começando. Ela caminhou lenta e silenciosamente pela sala vazia, ao lado do hall de entrada. Todas as escravas haviam corrido dali na hora do ataque e se escondido em algum lugar, e agora tudo parecia um grande deserto de objetos quebrados e tijolos pelo chão.

- “Já acabou...?” – se perguntou, não sabendo se ficava aliviada ou mais preocupada ainda.

 

Mas ela tinha razões pra se preocupar, e isso ela soube quando o castelo mais uma vez tremeu. Parecia que todos os alicerces se mexiam em suas bases e cada tijolo de pedra se deslocava do lugar. Desta vez porém, Ayame sentiu que o motivo do tremor não eram canhões ou causas naturais, mas parecia vir do chão... como se algo grande ou vasto viesse por ele. Ela se aproximou mais do chão, mas nem foi preciso encostar os ouvidos no mesmo para distinguir inúmeros passos se aproximando do castelo. Um golpe veio com força contra a parede e esta caiu da forma mais estrondorosa possível. A youkai lobo se encolheu, e pedaços da parede de pedra grossa passaram a centímetros de sua cabeça. Uma espessa nuvem de poeira invadiu o ambiente, fazendo-a tossir algumas vezes. Quando enfim ela olhou novamente para o buraco que se formara ali, viu com espanto o causador do estrago. Um gigantesco oni, armado com um enorme porrete metálico fora quem derrubara, à força, a parede. Logo depois, um sem-número de outros youkais invadiram o castelo, destruindo tudo que viam pelo caminho.

 

Ayame se encolheu num canto e torceu para que não fosse notada. Mas para seu azar, não foi o que aconteceu. Um youkai a avistou e veio rapidamente em sua direção, ela rolou para o lado bem a tempo de desviar da espada dele, que atingiu a parede logo atrás. Tão rápido quanto desviou a youkai lobo se agachou ao lado do inimigo e desferiu um forte chute no mesmo. Este caiu atordoado no chão e a ela aproveitou a chance para correr dali. Sim, ela podia ser uma princesa, e podia até ser mimada, mas quando era necessário ela lutava – ainda que não muito bem - , seu avô lhe ensinara, pois dizia que até reis e princesas deveriam saber a arte da guerra. Ayame nunca gostou de gastar preciosas horas nos treinamentos ou de ficar toda suja e suada depois, mas não havia outra saída, era uma exigência de seu avô – ainda que ela fizesse de tudo pra escapar dos treinamentos. Mas agora mais do que nunca ela precisava da experiência – ainda que pouca – conseguida neles.

 

[...]

Sesshoumaru posicionou-se de frente para o exército inimigo que avançava castelo adentro. Sua espada, Toukijin, empunhada, pronta para cortar alguns corpos. Os dourados olhos impassíveis, fitavam semi-cerrados os inimigos que se aproximavam cada vez mais. A ânsia de ver sangue derramado começou a tomar conta dele, logo mal podia se conter. O líquido verde, puro veneno corrosivo, começou a sair de suas garras. Ele não estava irado, tampouco estava abalado com a invasão inesperada; somente queria acabar com alguns vermes que interromperam sua paz.

Os inimigos estavam a alguns passos dele agora, e esse era o máximo que muitos deles conseguiriam chegar. O inuyoukai fez seu primeiro movimento. Numa velocidade incrível, fatiou diversos youkais com a Toukijin, tão rápido que mal puderam ver o que os atingiu. Alguns pararam e olharam perplexos, meio temerosos de seguir em frente, outros quiseram correr, mas essa misericórdia não seria lhes conferida. Um balançar da espada do daiyoukai e todos eles foram exterminados por uma onda de energia sinistra. Mas o exército era imenso e mais deles chegaram. Apenas mais insetos a serem pisados. Ainda sem mudar sua fria expressão Sesshoumaru retalhou-os um a um. Sangue manchava as paredes enquanto seus braços se moviam sem esforço e o cabelo prateado esvoaçante, impecável – tal como suas roupas – conferia-lhe um ar no mínimo solene.

 

Por outro lado, Inuyasha não se importou em ficar lutando com os invasores. Sua única preocupação, a mais imediata e desesperada pelo menos, era com uma certa humana, que ele ainda não conseguira localizar em meio ao caos.

- Kagome! - chamou pela enésima vez. E como nas outras, não houve resposta

 

Ele moveu as orelhas caninas para captar alguma coisa. Seu aguçado sentido o salvou de ser perfurado por uma espada que só não o acertou por que o hanyou desviou na última hora – sorte ele ter ouvido o som metálico da espada sendo desembainhada.. De um salto ele pulou de frente para o inimigo, que não hesitou em atacar de novo.

- Sankou Tessou! - gritou e desferiu o golpe, retalhando o youkai com suas garras. Não eram inimigos muito poderosos pelo visto.

- Inuyashasama! - ele ouviu alguém chamando, fracamente.

- Kaede! - exclamou ao ver a anciã. Estava com leves escoriações, mas nada de grave. Correu até ela, levemente preocupado – Você está bem? Onde está Kagome? Ela está com você? - como ele queria que a resposta fosse sim, mas nem sempre ouvimos o que queremos:

- Não, não sei onde ela está. Por favor encontre ela, não se preocupe comigo. - ela praticamente implorou e Inuyasha não entendeu por que ela achava a vida de Kagome tão mais importante que a dela. Mas sua consciência não lhe permitiria simplesmente abandoná-la ali. Virou de costas para a anciã:

- Suba!

- Não, por favor Inuyashasma, me deixe aqui. - ele e olhou perplexo por um instante e então , mesmo que contra sua vontade, a pegou nos braços e a levou – em poucos saltos – a uma parte do castelo que não fora atingida pela invasão inimiga.

- Fique aqui, estará segura por enquanto. - ele a viu olhá-lo quase com descrença – E deixe de ser essa velha teimosa que você é. - no entanto não era uma repreensão de verdade, era mais uma maneira de tranqüilizá-la (a sua maneira, claro). Ela cedeu e sorriu fracamente, quando ele já se afastava:

- Obrigada. - agradeceu, sabendo que ele a ouviria. - “Espero que Kagome esteja bem.”

 

OoOoOoOoOo

 

Inutaishou segurava o corpo inerte e já quase sem vida do oponente com uma única mão, a qual esteve enterrada no peito do inimigo a poucos minutos atrás. Nenhuma expressão além da seriedade passava por seu rosto.

- Já que me desafiou, pensei que ao menos pudesse lutar de igual pra igual comigo. - havia um certo desprezo inabitual em sua voz. Apesar de quase morto, o youkai ainda deu um último sorriso, um sorriso cínico e....vitorioso. Inutaishou franziu o cenho, não compreendendo o motivo daquele sorriso. O youkai cuspiu um pouco de sangue, que se juntou ao sangue já seco em seu queixo, o sorriso brilhava em seus olhos, orgulhoso de si.

- Mas do que está... - Inutaishou parou a sentença na metade. Não havia outro motivo para o youkai sorrir a não ser que seu plano inicial houvesse dado certo.

- Distração....completa. -  murmurou o inimigo, antes de fechar seus olhos pela última vez.

- O quê disse?! -  o daiyoukai pareceu espantar-se com uma descoberta repentina e desagradável – Espere, não morra! Me diga quem está por trás disso! - ele gritou, chacoalhando o corpo do youkai. Era tarde demais, ele estava morto.

 

A nuvem de poeria vermelha que antes encobria quase tudo foi sumindo gradativamente e o lugar outrora deserto e sem vida deu lugar a um campo gramado e amplo. A ilusão sumira, junto com a vida de seu criador. Inutaishou largou o corpo no chão e repentinamente uma sensação de urgência tomou conta dele. Precisava voltar pra casa, e logo. Se transformou em um enorme cão branco e voou dali o mais rápido que pôde:

- “Estou com um mal pressentimento” - quem dera ele que fosse apenas isso.

 

OoOoOoOo

 

Ayame correu por entre os escombros, sem se importar em olhar para os lados para ver se estava sendo seguida, era melhor assim ela imaginava. O exército de youkais continuava a invadir as dependências do castelo feudal antes tão suntuoso, agora praticamente em ruínas. Um grupo de youkais inimigos se puseram no caminho dela. Não havia outro jeito senão lutar. Todos vieram ao mesmo tempo, ela desferiu socos e chutes mas não faziam o mesmo efeito de antes. Um deles a derrubou com soco certeiro e ela foi parar no chão, atordoada. O demônio ergueu a lança para matá-la e Ayame apenas podia esperar o golpe lhe atingir. Mas antes que acontecesse, alguém atacou os youkais distraídos. Ela só viu quando os que estavam na frente caíram e logo atrás deles:

- Kouga!

- O que faz aí sua inútil, lute! - ele gritou e continuou a nocautear outros youkais.

- Quem está chamando de inútil?! - ela exclamou brava, levantando-se de um salto e chutando com força o estômago de um youkai, que caiu no chão desacordado. Kouga a fitou, perplexo. Não imaginava que ela lutasse mesmo:

- Então a princesinha tem seus truques? - disse cínico.
- É bom não me chamar de princesinha de novo a não ser que queira terminar como ele. - e apontou o inimigo desacordado. Ele achou prudente acatar o aviso, mas não deu o braço a torcer:
- Então vamos mostrar pra eles o que acontece se nos atacarem – e ele sorriu pra ela, confiante. Não da forma arrogante como sempre fazia, mas de um jeito diferente, animador.
- Vamos. – ela retribuiu o sorriso.


[...]

 

Os fôlegos cansados antecipavam a passagem das próprias humanas enquanto corriam para salvar suas vidas. Inuyasha, queria pensar Kagome, estaria talvez na próxima curva do corredor esperando por ela, ou talvez já estivesse a sua procura. A não ser que algo lhe tivesse...Não, não queria pensar que algo tivesse acontecido com ele. Ela apressou mais o passo, na esperança de afastar esses medos ao mesmo que isso a faria encontrá-lo mais depressa, não se esquecendo é claro que a pequena Rin corria ao seu lado, ofegante. Á medida que o ritmo da corrida se intensificava Rin parecia mais exausta e pronta a desistir. Kagome pensou na possibilidade de parar um pouco. Apertou mais a mão da menina quando, ao olhar rapidamente para trás ter tido um vislumbre de pelo menos três youkais que as perseguiam desde ela não sabia quando.

- Vamos Rinchan, não desista agora. - a pequena assentiu. Seu medo de morrer nas garras daqueles seres era maior do que seu cansaço.

Alguma coisa, grande e pesada cortou o ar do lado esquerdo de Kagome, vindo de suas costas e seguindo mais adiante, por pouco não a atingiu. Quando o objeto bateu no chão abrindo nele uma fenda no local atingido foi que Kagome distinguiu um enorme machado. Aquilo deveria atingí-la, e se o fosse, ela com certeza estaria morta agora. Ela olhou aterrorizada para os perseguidores outra vez, vendo que estes já quase as alcançavam. Rin espremeu a mão escorregadia de suor de Kagome entre as suas pequenas e geladas. Sem parar de correr Kagome puxou Rin para uma curva fechada no meio do corredor. Parou de correr de repente, causando que a mais jovem batesse o corpo contra o seu. Quase instintivamente ela olhou para trás logo em seguida e viu, ao lado da porta, um grande jarro  de porcelana decorativo. Talvez ela já soubesse que estava ali, talvez não, mas pensou que  poderia usá-lo:

- Rin! Corra e se esconda, depressa!! Eu vou distraí-los! - e empurrou-a para um canto. Sem mais palavras a pequena correu para trás de alguns objetos.
- Kagomesan! - chamou, após estar no lugar indicado. A outra lhe fitou interrogativamente – Tome cuidado. - havia receio na voz infantil.
- Pode deixar. - e sorriu de maneira confiante, mas que pouco convenceu a menina – “O que está fazendo Kagome? Não pode lidar com esses youkais. Você vai morrer” - pensou consigo mesma. Por um momento se arrependeu de seu heroísmo estúpido e desejou ter se escondido junto com Rin, mas ela sabia que isso não daria certo.

Suas divagações foram interrompidas quando os youkais surgiram na curva. Kagome se escondia atrás da parede, mas pôde ouvir os passos rápidos dos mesmos e antes que eles cruzassem a passagem ela empurrou o enorme vaso no caminho deles. Rápido como vinham não tiveram tempo de desviar e os dois primeiros youkais tropeçaram e caíram por cima do objeto e uns sobre os outros. O terceiro porém, mais ágil, saltou por cima dos companheiros, aterrissando com segurança do outro lado: onde estava Kagome. Enquanto os dois que haviam caído se levantavam proferindo alguns palavrões, o terceiro se aproximava da temerosa humana. Escondida, Rin fechava fortemente os punhos, aflita:

- “Por que sempre me mandam fugir e se esconder? Eu não sou tão inútil assim, sei que poso fazer alguma coisa” - e desobedecendo às ordens de Kagome ela saiu do esconderijo, apanhou uma viga de madeira no chão e correu até o youkai, mirando suas costas.

 

Kagome se encolheu no chão, já esperando por seu triste fim, quando um gritinho agudo chamou tanto a atenção dela quanto de seu atacante. Ambos olharam a origem do som e viram uma garotinha sendo levantada pelo braço por um dos youkais e um pedaço de madeira caído no chão aos seus pés. Ela se debatia tentando se soltar e seu captor ria dela:
- Que humana idiota, achou que nos derrubaria com isso.
- Rin! - desesperou-se Kagome. A menina lhe lançou um olhar culpado, sabia que devia ter ficado escondida.
- Pode matá-la, eu cuido dessa. - falou o que estava mais próximo de Kagome.

Quando o ser escamoso se aproximava para a matança e Kagome já aceitava seu destino trágico, por algum motivo o youkai parou de se mexer. Simplesmente ficou lá parado, como se fosse uma estátua, com seus monstruosos olhos vidrados, fixos nela e no nada, não parecia haver distinção. Rin soltou uma exclamação de alegria e em seguida o ser caiu pesadamente no chão, havia sangue em suas costas e um enorme buraco onde seria o coração. Ao erguer os olhos, Kagome viu o responsável. Seus olhos se encheram de lágrimas de felicidade:
- Inuyasha! - se ela não estivesse no chão, teria pulado no pescoço dele imediatamente.

Rin também já estava liberta, com o youkai que a segurava caído a seu lado, sem um braço e sem vida. Ele olhou para as duas, verificando se não estavam feridas e um grande alívio o percorreu ao ver que principalmente Kagome estava intacta.
- Não podemos ficar parados, mais deles virão. Venham! - ele disse, e elas o seguiram enquanto lá fora mais inimigos chegavam e lutavam contra as defesas do castelo.

 

OoOoOoOoOoO

 

O céu tinha um tom estranhamente avermelhado, como se estivesse em chamas. Sango atribuiu isso ao fato de ser fim de tarde, então ignorou o fenômeno. Shippou pousava displicentemente em seu ombro, Miroku tentou se aproveitar da distração da moça algumas vezes, mas só conseguiu mais hematomas em troca. A longa viagem de volta do castelo inuyoukai já estava quase chegando ao fim e a preocupação deles era evidente:

- Espero que Inutaishou já esteja fazendo algo para nos ajudar. - comentou Shippou.
- Confie na Kagome. - respondeu Sango.
- É no Inuyasha que não confio – retrucou.
- Só diz isso por que não se deu bem com ele, Shippousama. Mas acredito que ele vai cumprir sua promessa. - acalmou o monge.
- É isso mesmo. - apoiou Sango – Você ouviu o que ele disse quando... Shippousama!? - o kitsune não estava prestando atenção às palavras da escrava, mas apenas fitava o horizonte fixamente com os olhos arregalados e vidrados, sua garganta parecia incapaz de produzir qualquer som.
Sango e Miroku se viraram para a direção em que ele olhava e viram uma enorme coluna de fumaça se erguer do lugar onde deveria estar a moradia dos youkais kitsune, o avermelhado do céu provinha do reflexo do fogo sobre as nuvens cinzentas. Uma única palavra escapou da boca do youkai:
- Papai!! - e sem mais, ele pulou do ombro de Sango e correu para o local, sendo seguido logo pelos dois humanos.
- Shippousama! - gritaram eles. O coração de Sango se apertou.
- “Meu Deus, o que houve enquanto estivemos fora?”

Ao chegarem lá, só o que encontraram foi um palácio em ruínas e milhares de corpos por todo o lados. As chamas ainda consumiam tudo o que estava a seu alcance. Shippou, desesperado e com lágrimas nos olhos, procurava desesperadamente entre os escombros algum sinal de vida. Sango e Miroku logo se juntaram a ele. Um murmúrio baixo lhes chamou atenção, de forma que pararam e seguiram o som.
- Papai! - exclamou o youkai raposa, ao ver seu pai entre alguns caibros quebrados.

Os três ajudaram a tirá-lo de lá. Estava vivo, apesar de gravemente ferido. Shippou não conseguia conter o choro enquanto via o estado do pai. Os dois humanos se postaram pesarosos ao lado dele.
- Eles nos atacaram.... - disse Atsushi entre um murmúrio e um sussurro – Os soldados de meu irmão... - ele tossiu uma vez e se esforçou em continuar – Você estava certo... meu filho...
Shippou chorou ainda mais – Não pai, não fale mais, você está ferido – disse entre soluços.

- Ele queria roubar as habilidades de nosso clã... - continuou Atsushi, ignorando a preocupação do filho - Ele queria tomar meu lugar.... meu próprio irmão...  - um acesso de tosse o impediu de continuar, o sangue escorria de um filete de sua boca.
- Pai!
- Sango... - chamou fracamente – Cuide do meu filho...por favor... - seus olhos não tinham mais o radiante brilho esmeralda herdado pelo filho, sua respiração ficava cada vez mais curta e lhe custava mais falar qualquer coisa, mas ele se esforçava. Era seu último esforço afinal de contas. Sango também tinha lágrimas nos olhos:
- Atsushisama...
- Pare de falar assim papai, o senhor não vai morrer. - retrucou Shippou, chorando amargamente.
Atsushi deu um fraco sorriso reconfortante como só ele sabia dar e usou suas últimas forças para fornecer uma informação vital:
- Naraku.... - todos o olharam interrogativamente nessa hora – Ele foi o responsável.... Ouvi meu irmão falando seu nome.... - e tossiu mais algumas vezes antes de prosseguir – Ele queria destruir... - sua voz foi diminuindo e a frase morreu em seus lábios. Seu peito desceu, expelindo o ar de seus pulmões e não tornou a subir novamente. Vendo que ele ficara imóvel, Shippou se desespera.
- Pai... Pai! - as lágrimas já tinham seu caminho definido pelas lágrimas anteriores, que era reforçado pelas mais recentes – Papai, por favor não morra.- mas seus apelos não foram ouvidos.
Sango e Miroku só podiam ficar junto do youkai e tentar consolá-lo. O monge silenciosamente juntou suas mãos e fez uma oração pelo falecido. A jovem escrava parecia quase tão abalada quanto o kitsune. Atsushi fora para ela como uma espécie distante de pai desde que a aceitara. Ela nunca foi maltratada naquela casa e tinha um carinho especial pelo youkai. Mas nada disso importava mais agora.
Algum tempo depois, quando já quase não havia lágrimas, Shippou limpou o rosto com determinação mas de forma alguma com conformismo. Juntou as sobrancelhas e estreitou os olhos, quase tremendo de raiva. A dor e o ódio podiam ser vistos claramente em seus olhos:
- Naraku. Então esse é o nome do maldito que nós temos que matar.

Sango e Miroku se entreolharam preocupados. Aquilo era uma frase que jamais deveria sair da boca de uma criança, ainda mais com tanto desprezo e ódio. Mas ele havia decidido, vingaria seu pai nem que isso lhe custasse a própria vida, tinha idade o suficiente para decidir isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oni: youkai parecido com um ogro



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando os Youkais Dominavam a Terra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.