Acordo pela manhã nos braços de Percy. Aquela tinha sido uma noite maravilhosa e eu desejava que nunca tivesse acabado.

Eu estava vestida apenas com a camisa e a calcinha. Levanto e visto meu short. Amarro o cabelo de qualquer jeito e fico olhando Percy dormir.

Então me vêm na cabeça as sensações de culpa e vergonha. O que tínhamos feito foi assistido pelos deuses, pelos Idealizadores e pelos campistas. Sinto meu rosto ficando vermelho.

– Não posso acreditar que fiz isso! – afirmo comigo mesma.

Por outro lado, conheço o histórico dos Jogos e sei que sexo na arena é muito bem visto pelos Idealizadores. Nada como um pouco de diversão em meio ao drama. Isso só daria créditos à ideia de Malcolm. “Os amantes desafortunados da 49° edição”.

De repente o som de um canhão acorda Percy. Ele levanta num pulo, olhando para os lados. Quando nota que não havia ameaça, relaxa.

– Agora somos cinco... – eu conto.

– É! Chegamos à final... – ele diz.

Para os Idealizadores, os cinco últimos sobreviventes são considerados finalistas. Paralelo aos jogos, eles promovem reportagens e entrevistas com nossos colegas de chalés. Ou seja, os cinco últimos são as celebridades dos Jogos.

É quando o pensamento me traz uma memória que, suponho, todos nós acabamos esquecendo. Final. Último dia. O prazo de Zeus. Sete dias!

Sete dias! Faço um calculo mental tentando lembrar direito de quantos dias tinham se passado... Estamos no sétimo dia!

Conto a Percy este fato e ele apanha seu tridente, batendo com ele no chão.

– Então, vamos à batalha!

Um sino toca e o rosto de Effie surge no céu.

– Olá queridos! – ela diz com um sorriso no rosto – Bem-vindos ao último dia dos Jogos Vorazes! Apenas cinco estão vivos. Os mais fortes, os mais espertos, os melhores! Vocês têm até a meia noite para que apenas um de vocês esteja vivo. Se essa regra não for cumprida, ambos estarão mortos e a 49° edição não terá um vencedor. Nós enviaremos as bestantes ao anoitecer. Então, acho melhor que vençam antes disso! Que a sorte esteja sempre a seu favor!

Ela bate palmas, dá seu tchau de miss e seu rosto some.

A palavra “Finalistas” aparece no céu. Em seguida, é substituída pela foto de Percy, com o número 3 de seu chalé. Depois, vemos o rosto de Clarisse com o número 5. O de Cato, também do 5. Dois finalistas do chalé de Ares não eram surpresa alguma. Eles sempre estavam entre os cinco últimos. Depois surge minha foto, com o número 6 abaixo de meu rosto.

Minha mão gela... O próximo me diria se o quinto sobrevivente era Malcolm ou Nico. Então o rosto sorridente de Malcolm surge na tela. Nico está morto. Não sei se fico aliviada ou triste.

Não quero enfrentar Malcolm, mas sei que ele não hesitaria em me matar se fosse o caso.

Quando a imagem no céu vai embora, eu e Percy apanhamos nossas armas. Sinto falta da mochila, que perdi em algum momento que não me recordo direito.

Começamos a andar pela ilha. Eu caço alguns pássaros e nós assamos numa fogueira. Quando nos alimentamos, decidimos procurar nossos oponentes.

É difícil saber se os outros três estão próximos a nós, afinal há outras três ilhas nas quais eles podem estar. Mas suponho que ainda estão na primeira que fomos. Por isso, decido que devemos ir para lá.

Vamos à praia e entramos no mar. Fico feliz que a água não esteja mais tão gelada quanto antes. Percy nada com destreza incrível, segurando seu tridente e me ajudando a nadar o mais rápido que podia.

Quando chegamos à outra ilha e saímos da água, Percy e eu paramos para escutar o ambiente. Estava silencioso, exceto pelo som de insetos a distancia e das ondas.

– Acha mesmo que eles estão aqui? – Percy me pergunta.

– Sim. Tenho quase certeza que Clarisse e Cato estão nos esperando para dar o bote.

Não sabia como, mas meu instinto me dizia que o Jogo acabaria nessa ilha. Clarisse, Cato e Malcolm estavam em algum lugar desta ilha.

Nesse momento, um grito quebra o silencio. Um grito quase feminino, mas carregado de brutalidade e ódio. Clarisse.

Percy entra na mata na minha frente, correndo, e o sigo de perto. Saltamos raízes e arbustos até chegar a uma clareira.

Então, vejo Clarisse agonizando com uma lança perfurando sua barriga. Ela tentava arranca-la, mas não tinha mais força para fazê-lo. Sinto um misto de prazer e piedade. Quando ela nos percebe, olha para mim com fúria.

Clarisse abre a boca para falar, mas uma quantidade enorme de sangue escorre dela. A garota cai de lado, o olhar ainda furioso, gemendo de agonia.

– Por pior que Clarisse seja – Percy diz – não acho que ela deve sofrer tanto...

Percy dá um passo em sua direção, mas eu seguro o seu braço.

– Espere... – digo – Deve ser uma armadilha. Malcolm não conseguiria vencer os dois. Não sozinho... Cato não está aqui, pelo menos, não à vista. Suponho que ele tenha feito isso, e esteja esperando que apareçamos para salva-la...

– E então nos matar... – Percy acompanha.

Olhamos para cima, nas árvores. Não havia sinal de Cato.

Clarisse dá um grito maior e percebo que ela conseguiu arrancar a lança, fazendo com que mais sangue seja derramado. Sinto um embrulho no estomago.

Ouve-se um canhão. Clarisse está morta.

Então Cato aparece, com alguns ferimentos pelo corpo, e se abaixa perto de Clarisse. Ele parecia surpreso e irritado, o que me faz acreditar que não havia sido ele quem a matou. Observo o filho de Ares socar o chão com raiva.

– Imbecil! – ele grita, levantando e virando para os quatro cantos – Você vai morrer lentamente filho de Atena! Vou arrancar cada dedo e cada dente seu!

Estava falando de Malcolm. Meu irmão conseguiu matar Clarisse e deixar Cato ferido? Era difícil aceitar. Mas cada um evolui muito na arena.

Subitamente, vejo o tridente de Percy atravessar o peito de Cato e o garoto cai de joelhos, sem expressão. Olho para Percy.

– O que...

– Não podia perder a oportunidade! – ele diz, olhando para mim como nada tivesse acontecido.

O canhão de Cato ecoa pela ilha.

Restam três tributos. Eu, Percy e Malcolm.

– Nunca subestime um filho de Atena! – escuto por trás de mim – Você deveria saber isso melhor que ninguém, Annabeth.