Capítulo 7

– Não sei se posso fazer isso. – digo, quando estamos chegando à porta da cozinha.

– Fazer o que? – pergunta ele, inocente.

– Roubar comida! Porque é isso que estamos prestes a fazer! – digo.

– Não vamos roubar comida. – eu estava prestes a protestar, mas ele me interrompeu. – Não tecnicamente. Nós moramos aqui, temos direito de pegar comida a hora que quisermos. – disse calmamente.

– Nathan...

– Shhh. Fica quieta e me segue, ok? – ele fala olhando em meus olhos, agora e me perco naquela imensidão azul. – Ok? – pergunta novamente e eu concordo, desconsertada com o azul de seus olhos. – Então, siga-me.

Andamos silenciosamente até estarmos encostados na parede ao lado da porta da cozinha. Ouço sons de pessoas andando e de objetos de metal sendo colocados descuidadamente em uma superfície de mármore.

– A cozinha está cheia de gente! Como vamos entrar escondidos? – perguntei.

– Confie em mim! – disse ele e então fechou os olhos por alguns segundos, parecendo se concentrar em algo, e então os abriu novamente. Porém seus olhos não estavam mais azuis celestes, da cor do oceano, mas sim cor de safira. Um azul escuro e profundo, que eu nunca vira antes nos olhos de alguém. Era impressionante!

– Vem, vamos! – chamou.

– Como..?

– Vamos! – interrompeu-me, segurando meus pulsos e me puxando para a porta de entrada da cozinha.

E então, aconteceu a coisa mais estranha do mundo.

Mesmo estando cheia de pessoas trabalhando incansavelmente, quando entramos, ninguém parecia se importar com a nossa presença. Com a presença de dois pacientes possivelmente loucos entrando em seu local de trabalho para roubar comida. Mais estranho ainda, foi quando uma das cozinheiras olhou em minha direção, só que além de mim, como se não me visse! Isso me deixou intrigada.

– Vá em frente. – disse Nathan quando paramos em frente à uma geladeira. Olhei para ele - seus olhos ainda estavam com aquele tom de safira estranhamente lindo, e assenti.

Estendi a mão e abri a porta da geladeira, espiando cautelosamente para os trabalhadores a nossa volta, em busca de algum indício de que tinham nos notado. Não encontrei nenhum, então me concentrei na minha tarefa.

Assim que foquei na geladeira, tive certeza que estava sonhando...ou que estava tendo alucinações. Havia uma infinidade de alimentos deliciosos que há muito tempo eu não comia!

– Tem certeza que estamos no lugar certo? – perguntei incrédula.

Ele sorriu.

– Acha que eu me daria ao trabalho de me arriscar para assaltar a geladeira dos pacientes com toda aquela gororoba que eles chamam de comestível? Essa é a geladeira onde ficam os alimentos dos funcionários, que vamos concordar, é bem melhor do que o que tem no refeitório todos os dias! – ele ri.

– Tem razão... – disse com um meio sorriso, já estendendo a mão para os produtos da geladeira aberta.

Não pegamos muita comida, apenas o que podíamos carregar e, enquanto saímos, percebi novamente que aparentemente ninguém podia nos ver. Ou simplesmente nos ignoravam...

– Melhor irmos para um lugar mais isolado agora... Que tal minha cela? – sugeriu.

– Ok – concordei rapidamente com medo de ser pega. E enquanto seguimos pelo jardim em direção aos corredores que levavam às celas, notei que seus olhos ficavam cada vez mais escuros.