Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 8
Ser salva de uma execução por luzes coloridas não é tão ruim


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus docinhos!
Bom, antes do capitulo, gostaria de dizer que enviar comentários não faz o dedo cair e ainda deixam a autora muito feliz... Será que escrever um pequeno comentário é assim tão complicado?
Mas, agora vamos ao que interessa:



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VALENTINE

Ficar presa a uma árvore não fazia parte dos meus planos, quanto menos ficar presa a uma arvore esperando minha execução por algo que não fiz e sem se lembrar de nada.

Minha roupa ainda estava úmida e meus pulsos estavam atados com nós muito bem dados do outro lado do tronco. Depois de ter pulado de dentro daquela sombra — uma situação que deveria ganhar nota 10 no quesito esquisita — e ter sido pega junto com outra garota por aquele grupo de adolescentes de armaduras, que achavam que tínhamos ferido um rapaz que já estava caído no chão quando cheguei.

A garota estava presa em outra arvore do meu lado, me lembrava vagamente dela. Seu nome deveria ser Ronnie e a conhecia há pouco tempo, logo depois de termos sido convocadas para uma espécie de aventura para salvar um acampamento de férias para filhos de deuses gregos. E essa não era uma informação que precisava agora.

Se não fosse uma das poucas memórias que sobraram, eu poderia jurar que deveria ser alguma historia que tinha inventado quando era pequena, mas tinha certeza que não era. Se estava se sentido completamente perdida? Sim, eu estava. Minha cabeça latejava e todas as memorias mais antigas ou até mesmo coisas sobre a minha personalidade tinham sido completamente apagadas. Definitivamente não sabia quem eu era.

Tentei lutar contra o grupo antes de ser pega, mas vence-los foi completamente impossível. Eram apenas duas contra 20 pessoas e sua líder, a garota ruiva que parecia esta manipulando nossa sorte, já que todos as minhas flechadas erravam o alvo e faziam minha quase-amiga parecer que estava tentando acertar alguém com um machado de olhos vendados depois ficar em um gira-gira em alta velocidade. Nossa tentativa tinha saído completamente patética, assim fomos facilmente pegas e desarmadas, então presas ali. Ter revidado só os fez achar que éramos ainda mais culpadas e precisavam de uma pequena reunião para decidir qual seria a melhor forma de nos matar.

Dois deles nos vigiavam um pouco mais a frente com um ar entediado, um garoto e uma garota de aparência durona. Se estivéssemos com nossas armas, talvez poderíamos fugir com mais facilidade.

— Acha mesmo que eles vão nos...? — Perguntei a Ronnie, que tinha desistido que tentar arrebentar os nós da corda que a prendiam.

— Nos matar? É claro que sim. Só queria poder ser executada vestindo algo mais digno, como uma armadura e não isso — Ela apontou para o vestido e os saltos que usava, sem contar a inúmera quantidade de joias. Queria saber para qual festa ela iria daquele jeito.

—Qual a festa?

— Não, foi Medeia. — Respondeu ignorando a minha pergunta — Eu deveria ter ido para o Mundo Inferior no seu lugar ao contrário disso. — E então continuou a praguejar e a usar todos os tipos de palavrões possíveis. Ronnie estava mesmo enfurecida, principalmente com alguém. Mas ainda sim, através da fúria, era possível ver uma pequena sombra de medo e decepção pairando sobre si. Ao mesmo tempo parecia que ela não estava li, seu pensamento devia estar a bilhões de quilômetros de distancia.

—Não tenha tanta certeza disso — Disse pensando no que aconteceu naquele lugar. As únicas coisas boas de lá foi ter conhecido aquele cachorro enorme de três cabeças e Leo, o garoto fantasma engraçado que me ajudara na pequena missão para pegar não-me-lembro-o-que.

— As senhoras tem o direito de permanecer caladas. — Grunhiu um dos guardas.

Meus pulsos queimavam onde a corda apertava e meu corpo já estava cansado de ficar naquela mesma posição a horas, nossos pés estavam amarrados a eles mesmos. Seria ainda mais complicado ainda ter que escapar pulando como se estivesse em uma corrida de saco-de-batata, só que sem o saco-de-batata.

Uma ideia idiota surgiu na minha cabeça. Tentei usar a cabeça e os dedos da mão que estavam soltos para tentar mandar uma mensagem silenciosa para ela com pequenos movimentos. Demorou um pouco, mas a mensagem finalmente conseguiu ser entendida. Era hora de tentar fugir usando um plano idiota.

Ordenei a minha mesmo para parecer mais deplorável o possível. A única coisa que restava sobre mim em minhas memorias eram meu nome e que tinha alguns poderes ligados a morte. Talvez tentar parecer que estava morta ou morrendo fizesse parte deles.

Minha pele começou a ficar mais pálida, flácida e sensível. Meu cabelo começou a perder o brilho assim como o meus olhos. Em poucos segundos, estava mais parecendo um esqueleto humano por causa da magreza. Acho que eu já podia me inscrever em um papel para uma daquelas séries de zumbi que ouvi os guardas falarem.

— Socorro, acho que estou... estou... — Fingi que cai, ainda presa pelos braços.

— Ajudem-na logo! Oh, deuses, que coisa horrível! Que tamanha desgraça, acho que eu vou... eu vou desmaiar... — Ronnie fingiu estar desmaiando, só que um pouco dramática demais. Mesmo assim, os guardas acreditaram e nos levaram para um estacionamento de trailers abandonados escondido no meio das arvores.

Abri um olho e estalei os dedos — um dos códigos que criei —, essa era a hora a parte mais emocionante do plano. Ambas aproveitamos que eles estavam distraídos enquanto lutavam para nos carregar em seus braços e fizemos força para cair de lado com nosso peso. Cai rolando na grama meio-unida e levantei. Usamos as mãos atadas para dar uma pancada na cabeça de cada um enquanto estavam completamente perdidos. Em meio minuto, tínhamos dois guardas desmaiados e dois sorrisos loucos no rosto.

— Eles não vão demorar muito para acordar. Vamos nessa. — Disse. Ficamos escondidas atrás de um dos trailers, que era azul e branco desbotado, e observamos o local.

Os trailers estavam em meio que um semicírculo e no meio, 4 troncos de arvore caídos em torno de uma fogueira. As pessoas do grupo estavam reunidas ali, assando alguns marshmallows enquanto decidiam se seria envenenamento ou decapitação.

— Temos que pegar nossas coisas. — Era bom começar pelo mais fácil. Por sorte, ao contrário da porta, uma das janelas estava aberta. Pedi a Ronnie que me ajudasse a subir até lá. Tudo tinha saído perfeitamente se não fosse a parte em que tinha que atravessa-la, acabei calculando mal onde para e cai com tudo sobre o meu pulso. A dor foi angustiante, mordi os lábios com tanta força para reprimir o grito que acabei sentindo o gosto enjoativo do meu sangue. Lutei para conseguir pegar uma faca que estava em cima de um balcão com a boca e finalmente se livrar das amarras que prendiam minhas mãos.

Apesar de não me recordar das coisas, tinha uma sensação estranha — como um sexto sentido — que me motivava a fazer tais loucuras como aquela. Uma determinação extra capaz de me fazer querer lutar contra um exercito inteiro de guerreiros de armaduras ou pular de um avião em pelo ar. Anulei a ultima parte, algo me dizia que aviões para mim não eram tão seguros.

Ambos os pulsos estavam marcados e vermelhos, principalmente o que estava doendo. O massageei rapidamente e voltei a minha busca. Aquele trailer deveria servir de enfermaria improvisada. Havia duas macas estreitas de ambos os lados, armários cheios de coisas presos as paredes e papeis espalhados entre dois pequenos balcões. Um deles tinha um porta-retrato, na foto um garotinha sardenta de 6 anos com uma janelinha dupla sorria abraçada a um centauro em frente a uma casa azul. Outras crianças estavam mais ao lado, incluindo um garotinho loiro com cara sonolenta e outro um pouco mais velho, com olhos multicoloridos e expressão alegre. Todos eles vestiam a mesma camiseta laranja com um Pégaso negro estampado em baixo de um conjunto de letras que formavam uma palavra vagamente familiar: Acampamento Meio-Sangue.

O centauro não me era estranho, já a garota era a mesma que liderava o pessoal que estava lá fora, talvez uns 16 anos mais nova e o garoto sorridente, era o mesmo cara que tínhamos encontrado feridos horas antes.

Ouvi o barulho da tranca da porta se abrindo e entrei debaixo de uma maca. Mantive a calma quando um braço caído apareceu no meu campo de visão. Só consegui relaxar após ouvir uma voz rouca e conhecida.

— Valentine, ainda esta viva ou o que? — Disse Ronnie, tirando os sapatos altos pretos e sentando na maca da frente, a que estava desocupada. Sai de baixo da outra com uma cara nem um pouco amigável.

— Por que não disse que podia abrir a porta dos fundos? — Perguntei incrédula. Apesar de tudo, não estava com raiva.

— Você não perguntou. Alias, acho que valeu a pena, sabe, eu gostei da sua atitude meio bad-ass. — Respondeu ela inocentemente.

— Fala isso pro meu pulso — Revirei os olhos e apontei para lugar roxo/vermelho inchado. — Me ajuda a procurar.

— Okaa-aaay. — Ela virou as costas e começou a revirar os armários, tirando de dentro de um algo que não queria. Um pote de biscoitos cheio de pequenas barrinhas douradas. Iria começar um interrogatório quando empurrou uma daquelas coisas na minha boca, quase me matando engasgada — Vai melhorar.

Tinha gosto de Croissants e barras de chocolate Wonka. Parecia estranho, mas era muito bom e me fez sentisse bem melhor, logo a dor foi sumindo.

— O que é isso? — Estava tentada a pegar mais outro pedaço quando vi que o pote já estava guardado.

— Ambrosia. Quíron nos disse que se comêssemos um pouco, nos curaria ou pelo menos ajudaria.

— Quem é Quíron? — Foi completamente inútil tentar lembrar quem ele era, às vezes eu esquecia que tinha esquecido tudo.

— Dãr, o centauro, aquele que ajudou a gente, o treinado do acampamento lembra? — Disse ela. Eu neguei. Mal tive tempo de pensar quando sua mão agarrou meu cabelo e simplesmente soltou. Todas as engrenagens da sua cabeça pareciam estar trabalhando em potencia máxima — Seu cabelo esta molhado. Nico disse que teria um rio, um rio que fazia esquecer e se uma pessoa caísse lá dentro...

— Meu meio irmão? — Ele também era uma das únicas coisas que eu não havia esquecido.

— O idiota do seu meio-irmão? Sim... Entendi...Mas. Você. Esqueceu. Tudo. Quase tudo...

— É... — Ela soltou um berro quando unhas se gravaram em sua perna. Elas pertenciam à mesma mão caída, cujo dono era mesmo dos olhos multicoloridos. Sua camisa ensanguentada havia sido substituída por uma faixa branca que percorria todo seu tórax. Seus olhos estavam abertos, porém vagos, os contornos que tinham as cores do arco-íris agora estavam opacos e cobertos por algo que parecia ser névoa e a respiração estava franca, dava para perceber que estava desistindo de lutar, mas outro alguém dentro dele estava lutando contra a sua própria vontade.

Assim que conseguiu se soltar do aperto, nos afastamos da maca ainda sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo. Minha aljava e arco magicamente apareceram em meu ombro, como se aparecessem quando eu pressentisse o perigo.

— Mas como??? Ah tá, deixa quieto... — Murmurou Ronnie do meu lado.

O corpo do rapaz se levantou rapidamente. Os cabelos castanhos dele estavam colados na testa por causa do suor e suas mão abertas, onde esferas de arco-íris se formavam. No seu rosto não restava nenhum sinal da felicidade que tinha naquela foto.

Esquivamos de uma delas, que atingiu a porta de um dos armários e a destruiu na mesma hora soltando uma claridade muito forte. Pilhas de caixas de remédios caíram aos nossos pés.

— Você tem um arco e um monte de flechas. Que tal aproveitar que nossa boa sorte voltou e usa-los?

Agarrei uma flecha mesmo tremendo e coloquei no alvo. Atirei propositalmente no seu pé, mas foi o suficiente para atrasa-lo antes que causasse mais estragos. Não conseguia pensar em atirar para matar com aquela foto na minha cabeça.

Esquecemos que a porta da frente nos levava diretamente para o lado da fogueira, a garota ruiva conversava com um garoto de pálido e roupas negras que trazia consigo um caderno de desenho? Tanto faz, ambos interromperam a conversa quando nos viram sair correndo e os outros levantaram totalmente surpresos.

Nosso amiguinho conseguiu nos alcançar. Grunhiu algumas palavras indefinidas para a líder, pronto para jogar outra daquelas bolas de luz nela, que estava completamente sem defesa. Antes disso, seus olhos se viraram para mim, o controle de seu corpo parecia estar em disputa, agora estavam meio multicoloridos e refletiam as cores do arco-íris, significava que tinha recuperado o controle, pelo menos um pouco e fez um pequeno movimento com a cabeça quando eu peguei armei o arco, um sim. Então a cor opaca da névoa voltou e levantou a mão, pronto para um lançamento que a acertaria em cheio. Disparei e em milésimos de segundo, ele já estava caindo com uma flecha cravada no peito, mas antes, tinha o visto dar aquele mesmo sorriso alegre. Acho que queria finalmente poder ficar em paz.

Toda aquela cena pareceu rodar em câmera lenta até que quando uma menina de aproximadamente 14 anos apontou para o topo das nossas cabeças , então tudo voltou a acelerar normalmente. Uma luz negra com formato de elmo que parecia mais uma caveira flutuava em cima da minha cabeça, acontecia o mesmo na da Ronnie, só que ao invés de um elmo, era um martelo flamejante vermelho.

Um frio súbito tomou conta de mim naquela hora.

— Campistas Rejeitados do Acampamento Provisório de Trailers, recolhidos e encontrados por nossa querida Amy a pedido de Quíron ao longo dos anos, filhos dos deuses menores e espíritos da natureza, eu lhes apresento aquelas que estão destinadas a trazer nova casa, onde ficaram seguros de livres de ataques de monstros e criaturas sombrias, sua casa de volta e todos aqueles que pertence a nossa espécie, conforme anunciado pelos desenhos da nossa antiga portadora do Oráculo. As garotas destinadas a salvar os acampamentos, Jupiter e Meio-Sangue: — Nico anunciou perfeitamente, como se tivesse treinado para dizer aquilo a vida toda — Lady Veronica, filha de Hefesto, deus dos ferreiros, do fogo e dos vulcões. E Lady Valentine, filha de Hades, deus dos mortos e senhor do Mundo Inferior.

E então, todos se ajoelharam, como se fossemos rainhas e eu não tivesse acabado de matar seu amigo.


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Notas finais do capítulo

Desculpe-me se alguma parte saiu confusa, é que como a Valentine havia acado de perder a memoria, é obvio que as coisas devem ter ficado confusas na perspectiva dela. Então essa era a intenção.
Espero que tenham gostado e só avisando novamente que comentar não arranca pedaço.

Até a próxima :)



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