Jogos Vorazes: O Despertar escrita por FernandaC


Capítulo 1
Torpor


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é o início da nova vida da Katniss. Contarei minha versão sobre como nossa corajosa heroína conseguiu superar seus problemas, como Peeta conseguiu superar os problemas dele e qual foi o destino de Gale.

Espero que gostem e não esqueçam de comentar, isso é muito incentivador!
xD



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Torpor. Não sentir mais nada é o meu único esboço de uma aparente felicidade. Ser feliz era a minha utopia, nunca mais conseguirei sequer sorrir. Destruíram minha família, meus amigos, minha casa. Eu era Katniss Everdeen, agora quem eu sou? Uma assassina frívola? Fantoche da Capital e dos Rebeldes? Uma amante desafortunada sem compaixão? Quem sou eu?! Com certeza uma jovem mentalmente desorientada com sérios sintomas depressivos, que se recusa a cooperar com o que quer que seja. Prazer, essa sim sou eu, a verdadeira Katniss Everdeen. A garota louca do Distrito 12 que matou a presidenta Coin, ao invés do sádico Snow, que deixou seu melhor amigo ser levado por pacificadores, que abandonou Peeta... Argh!, eu definitivamente não deveria estar pensando tanto.

Infelizmente meu torpor não impede meus pesadelos, toda noite é o mesmo sonho. Sempre começa com a grande explosão da mina com meu pai dentro, só que eu não escuto o usual som da explosão. Totalmente sem sentido, eu ouço Rue cantando em meu ouvido e isso me acalma, até eu sentir algo úmido escorrendo pelo meu ombro. Quando olho e vejo lágrimas de sangue caindo pelos seus olhos, então ela se transforma horrivelmente em bestante. Assustada, eu corro, corro... Mas não o suficiente. O sonho muda e vejo Prim ser despedaçada por outra explosão. Acordo gritando.

Sozinha, no escuro e apavorada. Levanto-me e sento na poltrona próxima da janela do meu quarto. Está para amanhecer. Observo as casas da Aldeia, lutando para esquecer o maldito pesadelo. Uma luz é acesa e chama atenção dos meus olhos. Peeta. O que ele faz acordado tão cedo? Humpf... Provavelmente ele deve ter tantos pesadelos quanto eu! Droga, ele está vindo para minha casa! Que diabos ele vem fazer aqui?! Acho que fui bem clara no nosso último e único encontro, quando ele estava plantando as flores de prímulas no meu cercado.


- Quem você pensa que é pra vir aqui e plantar essas flores? Justamente essas! - Disse empurrando seu ombro com raiva, após nos encararmos por longos e constrangedores minutos. - Você acha que eu não estou sofrendo o bastante? Ainda acha que eu sou uma bestante? Hein? Isso é pra me magoar?!

Peeta me encarava assustado, mudo. Suas mãos tremiam e sem dizer nada ele virou-se e foi embora.

- E não volte mais aqui!! - Gritei para as costas dele.

Parece que ele não levou tão a sério meu último recado. Pelo visto ele vem checar todos os dias se as flores ainda estão no mesmo lugar. Querendo ou não, eu não tive coragem de arrancá-las. Peeta se ajoelhou próximo de um canteiro e puxou uma prímula, rodou-a nós seus dedos e inesperadamente olhou para minha janela. Tomei um susto e no mais depressa que pude tentei me encolher na poltrona, na tentativa de me esconder. Desgraçado, será que ele me viu observá-lo? Tomara que não, tomara que não!

De fininho, fui agachada para o banheiro. Pela primeira vez em semanas tomei um bom banho. Por que? Não faço a mínima ideia. Só sei que o contato da água fria na minha pele aliviou a tensão dos meus músculos e desanuviou minha mente dos pesadelos. Infelizmente meu torpor está se dissipando e isso quer dizer que todos os meus sentimentos e conflitos vão invadir minha mente. Isso não é bom. Como agora, estou me perguntando o que o Peeta fará com aquela flor. Seja lá o que for, não me interessa. A vida do Peeta não me importa.

- Quero meu torpor de volta! - Falo angustiada para mim mesma debaixo dos pingos d'água.

Desligo o chuveiro e visto uma roupa. À meio caminho da porta do quarto, algo chama minha atenção, algo que não faz parte do cenário. Sobre meu travesseiro uma linda prímula repousa. Imediatamente eu fecho a porta e desço as escadas a mil, quase me chocando com a Greasy Sae.

- Nossa Katniss, por que a correria? - Pergunta-me ela preocupada.
- Desculpe, eu só me assustei com algo lá em cima. - Disse em meias verdades.
- Hum... Sei. Fome?

Sentei-me na minha usual cadeira e esperei pelo café da manhã, lutando para tirar a maldita flor e a atitude estranha do Peeta dos meus pensamentos. Se eu não conhecesse muito bem as flores, poderia jurar que aquilo pertencia à Snow. Era assim que ele me enviava seus recados, com rosas brancas. Por que Peeta deixou aquela flor na minha cama? Seria um recado? Não sei. Apenas que flor é tão delicada quanto era minha a minha Prim. Sinto tanta falta dela. Cade meu morfináceo?

- Katniss, - Assusto-me com Greasy Sae me chamando, viro-me e enxugo meus olhos. - é o dr. Aurelius no telefone e ele disse que você não pode ignorá-lo dessa vez, caso ainda queira ficar no Distrito 12.

Levei um minuto para absorver essa informação. Melhor não arriscar.

- Alô. - Disse entediosa
- Olá Srta. Everdeen, finalmente escuto a sua voz. Como vai? - Dr. Aurelius pergunta.
- Bem.
- Hum. Você tem tomado seus medicamentos? - Olho para a mesinha de centro na sala, todos os remédios lacrados, intocados, exceto um.
- Os morfináceos acabaram.
- Compreendo... E somente eles terminaram, certo? - Será que é para responder? - Srta. Everdeen, você tem que tomar seus medicamentos. É imprescindível para a sua depressão. Falando nisso, você quer conversar sobre algo, algum acontecimento? - Com certeza não. Eu quero mais é esquecer todo meu passado a partir da morte do meu pai. - O que você está sentindo?
- Bem, já que você não quer conversar, você poderia fazer-me um favor e checar se o Peeta está realmente bem? Sinto que algo o incomoda.
- Hãn... Certo. Vou ver o que faço.
- Ok. Então estamos acertados Srta. Everdeen, sua tarefa é tomar os remédios e checar o Peeta. E, por favor, atenda as minhas ligações, não quero ser forçado a fazer o que não quero. - Congelo diante da sutil ameaça de me levarem de volta para a Capital.
- Sim, vou fazer o possível. E dr. Aurelius, não se esqueça dos morfináceos.

Passo o resto da manha deitada no meu sofá olhando para o teto, sem conseguir desviar os pensamentos do vizinho padeiro. Agora, como se não tivesse nada para fazer - o que eu realmente não tenho, mas enfim - ganhei a obrigação de ver se ele continua vivo e bem. Por que o Dr. Aurelius não pediu isso ao Haymitch? Provavelmente, porque deve ser muito mais difícil de se comunicar com ele, ainda sóbrio, do que comigo. Pelo visto, o Peeta é o único de nós três que mantêm um contato com o médico. Mas claro, ele sempre foi o mais besta, quer fizer, mais sociável de nós.

- Oi Katniss, trouxe seu almoço. - Greasy Sae fala entrando na cozinha. - Coma antes que esfrie. E Katniss... - Ela esperou eu olhá-la.
- Você já pensou em dar uma volta por aí, sem ser pelos cômodos da casa? - Ela pisca para mim e vai embora. Se ela disse isso é bem possível que eu esteja em um estado horrível.

Mas para quê eu iria querer sair do meu sofá? Nada lá fora me interessa, não tenho motivos para sair. Olho para o lado e vejo um remédio para pele. Estranho, porque eles me enviariam um remédio desses? Levanto minha mão esquerda e me dou conta do quão vermelha e retalhada ela está, provavelmente toda parte queimada do meu corpo está assim. Peeta não aparenta ter mais cicatrizes de queimadura. É bem plausível que ele esteja seguindo à risca tudo o que o dr. Aurelius diz para fazer. Pronto, não preciso mais checá-lo! Missão cumprida. Mas... E se o que o dr. Aurelius se referisse ao estado emocional dele? No nosso último encontro ele estava tremendo... Sei que corro risco de ser presa, só que não vou checar ninguém, muito menos o Peeta. É tudo muito doloroso e encará-lo sem nenhum entorpecente para amenizar meu sofrimento é demais.

O estranho de ser uma mentalmente desorientada é que quando você acorda nunca sabe como foi parar no lugar. Isso tem acontecido com frequência nos últimos dias. Fico acordando dentro do meu armário, como vim parar aqui, é um mistério. Mais estranho ainda é que dormi com a flor na mão. Odeio ser mentalmente desorientada. Odeio ainda mais o Peeta por tê-la trazido para mim. Peeta... Peeta... O que eu preciso fazer para te arrancar da minha mente? O pior é que tenho uma vaga impressão de tê-lo visto em meus sonhos nessa tarde. Argh, frustração! Espero muito que o dr. Aurelius envie os morfináceos.

Ponho a flor em um copo com água e deixo-o na bancada da pia do banheiro. Levanto os olhos e me vejo refletida no espelho. Se eu não estivesse movendo os olhos poderia jurar que aquela imagem não pertencia a mim. Mas pertence. É impressionante observar como as marcas de guerra e dor marcaram minha carne. Evitando meus olhos, entretanto lambendo meu pescoço, ombros... Todo meu lado direito está vermelho e enrugado. Nojento. E, pela primeira vez, eu sinto meu corpo ardendo nos lugares retalhados. A depressão estava me impedindo de sentir a dor física no meu organismo e acho que não permiti que ninguém viesse cuidar de mim. Prim não ia gostar disso, ela não ia querer que eu ficasse assim. A prímula do Peeta solta uma fragrância tão boa e suave, e isso me faz lembrar dolorosamente da minha irmã.

Lavo meu rosto com água gelada, não quero voltar a chorar. Não quero. Só quero esquecer a dor, a angústia, esquecer porque eu estou só, sem minha família. Esquecer de tudo. Parar de especular os motivos do Peeta com essa flor no meu travesseiro, suas atitudes e gestos.

Gostaria de saber há quanto tempo estou sentada no piso frio deste banheiro. Pela janela vejo que é noite e pela dormência nos meus músculos, no mínimo umas três horas. 180 minutos tentando esquecer, tentando não enlouquecer. Alguém bate na porta de entrada. Bem, seja lá quem for, vai continuar batendo, pois creio que fiz um pequeno progresso e já consigo pensar nas coisas sem me machucar fisicamente... Mas que droga, essa pessoa não vai desistir mesmo? As batidas estão mais urgentes e agressivas agora. Não acredito que vou ter que ir ver quem está tentando derrubar minha porta. Desço pisando leve e já muito irritada.

É engraçado como certas coisas acontecem. Se antes eu queria tirar o Peeta da minha mente, ao abrir a porta ele simplesmente evapora.


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Notas finais do capítulo

Então, curtiram?
Em breve postarei o próximo capítulo!

Beijos.