A Culpa é Minha e das Metáforas escrita por Larissa Waters Mayhem


Capítulo 23
Capítulo 22 - Uma Eternidade


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, espero que me perdoem pela demora. Agora vou postar todas as quintas.
Um grande abraço!



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Depois de pensar aquela baboseira sem fim adormeci sonho um bebê em seu confortável berço vestindo sua aconchegante fralda que não deixa assaduras, acordei como sempre, minha mãe me empurrando delicadamente e dizendo:

– Gus, hora de acordar!

De fato, não podia gastar minha vida dormindo, pois assim que morrer, vou permanecer em um sono eterno. Levantei-me desajeitadamente e pedi para que mamãe pega-se minha prótese para mim, assim que a encaixei no meu cotoco levantei-me e a abracei.

– Como disse para Hazel Grace, não posso me negar aos pequenos prazeres da vida – falei – E um deles é abraçar sua mãe.

– Ah, Gus! – disse com uma voz chorosa – Não me faça chorar logo de manhã.

– Tudo bem, mulher, te dou um desconto. – peguei em uma mão – Vamos subir? – perguntei.

– Sim, vamos.

Quando chegamos a cozinha a TV estava ligada em um canal de músicas, que passava um documentário da lendária banda, Joy Division.

– Esses caras eram lendas – disse papai quase engolindo a colher de serial, prestando atenção em Ian Curtis e seus ataques epiléticos em pleno show.

– Sem dizer que ele é bem original – comentei sentando-se a seu lado – Epilepsia nunca mais foi a mesma.

Enquanto minha mãe colocava leite na tigela o Joy Division começou a cantar Disorder, uma de suas músicas mais poéticas e depressivas. Um conselho meu velho, se estiver depressivo, nunca ouça Joy Division.

– E pensar que ia escola e perdia esse playlist retro incrível! – exclamei.

Mamãe colocou suas mãos na cintura me reprovando, apenas coloquei o serial na tigela me arrependendo da frase que falei. O meu celular que estava sobre o sofá da sala começou a vibrar, rapidamente dei meus saltos olímpicos e apanhei o celular.

Era minha Natalie Portman totalmente original, Hazel Grace. Assim que abri a mensagem senti meu coração sambar, se eu tivesse arritmia já estava a sete palmos abaixo da terra.

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– PELO AMOR DE ODIM! – bradei.

Meus pais correram até mim desesperados.

– O que foi Gus, está doendo alguma coisa?

– Sim! – bradei. – Meu coração frágil e ligeiramente clichê!

– O que? – perguntou meu pai.

– HAZEL GRACE VAI PODER IR ATÉ AMSTERDAM! - rapidamente respondi a mensagem de texto.

Está tudo indo às mil maravilhas para o meu lado.

Meus pais não estavam tão felizes com essa notícia, pois eles queriam mesmo, que eu fizesse a quimioterapia.

– Gus, você não vai. – disse papai.

Novamente voltaríamos a discussão, sentei-me no sofá e disse:

– Eu cansei de dizer, que eu vou morrer de qualquer jeito... Essa viajem não vai mudar nada.

– Augustus, o que custa tentar meu filho? Bem, ontem eu liguei para o Doutor, marcamos a quimio para às dez e meia.

– O que? Marcaram? – levantei-me – Mas eu não quero ir para esse raio de quimio! Eu não vou!

Mamãe sentou-se ao meu lado no sofá e disse:

– Não relute meu amor, é para o seu próprio bem.

Bem, meu velho, sabe quando duas partes de você mesmo lutam entre si? Era o que eu estava sentindo. Uma parte de mim não queria ir a quimioterapia, mas outra queria ir pelos meus pais, que sofriam tanto com aquela minha fase terminal. Você deve achar que eu não estou me importando com a morte, e que a estou tratando cordialmente e que vou esperá-la de portas a abertas, e assim que a mesma chegar, oferecê-la uma xícara de café, bem, todos acham isso, pois eu sou tão bom ator que ocuparia o lugar de Gerard Butler no filme de 300 (não que seja um filme épico, mas fácil de interpretar, se é que me entende) então estou fazendo o possível para parecer tranquilo com a espera da ingrata Morte.

– Eu sei que é mamãe – falei – Mas espere ao menos, eu chegar de Amsterdam, sei que não serão muitos dias, e minha situação não vai piorar.

– Querido eu...

A campainha da minha casa começou a tocar, não sou um guru nem nada, mas a única pessoa sem nenhum senso de ridículo tocaria a campainha nove e quinze da manhã, sem ser Isaac.

– Bom dia Sr. Waters – disse Isaac – Minha mãe deixou um cego se aventurar pelo seu quintal, qualquer vaso quebrado, me perdoe.

Papai ajudou Isaac a entrar em casa.

– Já pode morar aqui, meu chapa. – disse dando um tapa nas costas de Isaac.

– Senti uma saudade inenarrável. – falou – Mas eaí, vai ajudar seu amigo cego a se sentar, ou vai esperar que eu tropece em seu tapete?

– Calma aí TPM – ajudei Isaac a sentar no sofá.

– Então, como vai o coração, hein? – perguntou.

– Eu prefiro não comentar – meus pais ainda estavam na sala, ainda sinto-me envergonhado em dizer esse tipo de coisa.

– Ah, claro que você não quer abrir o seu coração na frente de seus pais, isso é constrangedor, não faça isso. – falou.

– Isaac, já tomou café? – mamãe perguntou a Isaac.

– Sim, obrigado. – respondeu.

Mamãe e papai saíram da sala, e se Isaac pudesse ver meu rosto, com certeza diria

“que merda eu fiz”.

– Que merda eu fiz. – disse Isaac.

– Voltou a enxergar? – falei surpreso.

– Não, é que quando você fica quieto, algo de ruim aconteceu.

– Bem, meus pais acreditam que a quimioterapia pode prolongar a minha vida, querem me impedir de viajar para Amsterdam. – sussurrei.

– Mas a Hazel vai ir? – perguntou.

– Sim, acabou de me mandar uma mensagem – respondi.

– Eu aprecio a sua coragem, meu caro – disse Isaac.

– Coragem para que? – perguntei.

– Apostar sua vida em uma paixão apocalíptica.

– Não apostei minha vida Isaac, e sim minha eternidade.


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