Lilian Evans

A campainha tocou. Olhei o relógio de relance, era pouco mais de nove da noite e eu não esperava ninguém. Pausei o filme que estava assistindo e larguei o pote de sorvete na mesinha de centro, caminhando em direção à porta e olhando através do olho mágico: a morena estava encostada na parede em frente, os cabelos naturalmente rebeldes estavam soltos e os olhos muito azuis, marcados pela maquiagem forte.

Revirei os olhos e cogitei a possibilidade de fingir não estar em casa, não queria conversar com ninguém, não naquela noite. Mas eu conhecia Lene, e tinha a mínima consciência de que ela não iria embora enquanto eu não abrisse aquela porta.

Respirei fundo uma última vez antes de destrancar a fechadura e receber minha amiga. Marlene McKinnon. A advogada mais durona que eu já havia visto e também uma de minhas melhores amigas desde o fundamental.

-Poxa ruiva, tava demorando, hein? – Reclamou ela, entrando em meu apartamento sem ao menos esperar minha resposta. – Não acredito que está vendo esse filme meloso de novo! – Olhou ela para a TV, em repreensão. – E ainda tá tomando sorvete de chocolate! Você nem gosta de sorvete de chocolate!

-É o que tem pra hoje... – Respondi, fechando a porta e retomando meu lugar no sofá.

-Não, não, não! A boa de hoje é uma baladinha sensacional que eu e Dorcas descobrimos essa semana!

Ah é, esqueci de comentar, Dorcas Meadowes. Cientista fora de série e, assim como Lene, minha melhor amiga.

-Hoje não, Lene. Por favor! – Pedi.

-Hoje sim, senhorita Evans! – Retrucou ela, impassível. Odiava quando ela agia assim, ou seja, quase sempre.

-Outro dia, eu juro! Só me deixa ficar em casa esta noite.

-Lily, é sábado à noite, dia de aproveitar e relaxar! Não de ficar assistindo filmes melosos e sofrendo por pouca coisa. – Lene reclamou.

-O fim de um namoro de dois anos não é pouca coisa! – Respondi, dura.

-Mas Matt Geoffrey com certeza é pouca coisa! Quem tem coragem de trair uma ruiva gata desse jeito com certeza não merece o mínimo de respeito!

Sim, trair. Depois de ser apaixonada por Matthew Antony Geoffrey durante toda a faculdade, finalmente havíamos engatado em um namoro logo após a formatura, que durou dois anos. Mas há menos de 24 horas eu havia descoberto que Matt me traía desde o nosso primeiro ano de namoro e que a lista de mulheres não era nem um pouco curta.

Uma ligação, algumas palavras. Foi assim que nosso namoro terminou, com ele me dizendo que não acreditava que eu nunca tivesse feito algo assim, como se tudo isso fosse a coisa mais normal do mundo.

E então, cá estou eu, na situação que vocês já devem ter percebido.

-Lene, eu sei que você e Dorcas só querem me ajudar, mas hoje não. – Implorei uma última vez, porém já sabia que Lene iria ganhar.

-Ei Lily, não estou dizendo pra você sair por essa porta e encontrar o homem da sua vida, só pra parar com essa fossa e sair pra curtir um pouco com suas amigas! Sabe, beber, rir, dançar, pegar algum gatinho...

-Não, não, não! – Interrompi-a.

-Ok, talvez só dessa vez NÃO pegar um gatinho... Mas se divertir! – Cedeu ela. – Anda, vamos! Já pro banho enquanto eu pego uma roupa pra você vestir!

Revirei os olhos, respirei fundo. Desliguei a TV, dando-me por vencida e vendo o sorriso de orelha a orelha que Lene já esboçava.

[...]

James Potter

-Eu ainda não acredito que ele vai ficar estudando! – Sirius reclamou, olhando para Remus e a grande quantidade de livros que o rodeava.

-Até parece que você não o conhece, né!? – Respondi, rindo.

-É por isso que ele não pega ninguém! Deve ficar falando sobre história e essas merdas aí... – Sirius provocou.

-Galera, menos, menos. – Remus pediu, tirando os olhos dos livros. – Eu tenho uma apresentação importante na segunda, tenho que me preparar!

-Você está lendo essas coisas desde hoje de manhã! Algumas horinhas e umas bebidas não vão te fazer mal nenhum! – Propus. – Prometo que não voltaremos muito tarde!

-Fale por você! – Sirius reclamou.

Remus revirou os olhos para o moreno que estava sentado no sofá e brincando com uma bola de futebol americano e depois se virou para mim, pensando no que eu havia proposto.

-O problema é a ressaca amanhã, estudar assim fica foda... – Pensou.

-Só não beber tanto assim, oras. – Falei o óbvio.

-Como se algum dia ele tivesse bebido até esse ponto! – Sirius riu e eu taquei uma almofada em sua direção. Se a ideia era convencer Remus, ele não estava ajudando em nada.

-Ok James, acho que algumas bebidas não vão me fazer tão mal assim! – Remus concordou, fazendo com que Sirius levantasse as sobrancelhas em surpresa.

-Uau, Remus Lupin saindo em um sábado à noite! – Provocou o cachorro, rindo.

-Você não tem mais nada pra fazer da sua vida não, Sirius? – Remus respondeu, rindo também e fechando o livro. – Mas e então, para onde vamos mesmo?

-Bom, tem aquele barzinho que fomos mês passado, música ao vivo e essas coisas boiolas e mais de boa ou podemos ir naquela balada no centro que abriu faz pouco tempo... – Comentei.

-Balada, com certeza! De boiolice já basta esse aí querendo estudar no fim de semana! – Sirius decidiu. – Sem falar que nessas baladas tem mulher de sobra!

-E mulher bonita, por sinal. – Acrescentei.

-Vocês dois não tomam jeito! – Remus repreendeu.

-Falou aí o cara que só ficou com duas mulheres na vida, sendo que namorou uma delas por três anos... – Sirius provocou.

-Três não, quatro. – Remus consertou. – E foram mais de duas mulheres, imbecil!

-Velho, quatro anos!? Emmeline Vance deveria ser muito boa! – Falei.

-Vocês vão mesmo falar dela?! – Remus reclamou.

Emmeline era um dos assuntos proibidos por aqui, depois de namorar quatro anos com Remus, que perdeu toda a azaração da universidade pra ficar de boiolice com aquela lá, resolveu se mudar para a Escócia e morar com sua tia, terminando o namoro com o Aluado. Apesar de fazer quase um ano desde o fim do namoro, Remus ainda não conseguiu superar completamente e, por isso, esse assunto ainda é um tabu para o grupo, não que eu e Sirius não provoquemos, né? Mas diferentemente de nós, Remus é o tipo de pessoa que não gosta de ficar com garotas apenas por diversão, para ele as coisas tem que ter o mínimo de sentimento e essas boiolagens por aí... Isso sim eu não entendo!

[...]

Dorcas Meadowes

Encostei no muro, do lado de fora da balada, esperando por Lene e Lily que já deveriam estar chegando. A movimentação do lado de fora era grande, como a balada havia sido aberta recentemente, não havia um dia sequer que aquele lugar não estava lotado de gente! Mas graças a meu colega de laboratório, Frank Longbottom, cuja esposa era uma das sócias da balada, consegui três convites para a área VIP com direito à uma mesa no segundo andar, onde a música não era tão alta.

-Finalmente, hein? - Reclamei, ao ver a morena e a ruiva se aproximando de mim. Lene sorria de orelha a orelha, deslumbrante em seu vestido preto, enquanto Lily parecia agir por inércia, deixando que Lene a guiasse.

-Desculpa, mas sabe como a Lily é lenta, né? – Lene provocou. Lily pareceu não ouvir.

-Ok, vamos entrar logo então! – Chamei e passamos por toda aquela fila de gente em busca de convites, passando pelos seguranças rapidamente e adentrando no recinto.

-Já podemos ir embora? – Lily quase gritou devido à música alta no fundo assim que pisamos no local, já bem cheio.

-Nem pensar! É agora que nossa noite começa, querida! – Disse Lene, sorrindo maliciosamente e arrastando-nos em meio à multidão.