Bernardo’s POV

Essa noite tinha sido a pior da minha vida, o frio foi tremendo e os insetos me picando foi pior ainda, sem contar a preocupação tremenda que eu estava com a Yummi e o seu tornozelo. Eu dormi abraçado a ela pra ver se o frio passava, não adiantou muito, mas foi bom mesmo assim. Em algum momento da noite senti a Yummi se mexer, ela passou as mãos no meu cabelo sussurrando.

–Obrigada por ter cuidado de mim. –ela sussurrou.

–Eu faria tudo de novo. -eu respondi sorrindo e ela se calou. Eu dormi novamente e tive sonhos ruins.

Acordei e meu rosto estava dentro do cabelo da Yummi e o rosto dela estava no meu pescoço, ela respirou forte e isso me fez arrepiar. Uou! Rebeca nunca conseguiu fazer isso em mim com beijos, e a Yummi com apenas uma respiração fez. Eu me mexi e ela abriu os lindos olhos verdes.

–Bom dia. – eu me desvencilhei dela.

–Dia... – ela bocejou e coçou os olhos. –Tô com fome! –ela exclamou.

–Acho que na minha mochila não tem mais nada. –eu olhei sem graça pra ela.

–Na minha tem amendoins. –ela sorriu gentilmente pra mim. –Pega ela pra mim?

–Claro. –disse me levantando e pegando a mochila dela e entregando pra ela que abriu e tirou um saco enorme de amendoim. Eu a olhei espantado, ela percebeu.

–Eu amo amendoim. – ela sorriu abrindo o saco. –Queria comer de noite quando eu ficasse sozinha na barraca.

–Por que você ficaria sozinha? – eu perguntei sentando novamente do seu lado.

–Olivia estava com planos de ir pra barraca do Josh. – ela deu os ombros e comeu um amendoim. –E eu ficaria sozinha. – ela me ofereceu o saco e eu peguei uns amendoins.

–E o Jonas? Por que você não ia pra barraca dele? – eu perguntei e ela ruborizou.

–Claro que não. –ela respondeu rápido engolindo o máximo de amendoins possíveis.

–É porque vocês são namorados... – eu a olhei mastigando. –E isso é meio normal.

–É eu sei. – ela engoliu e me olhou. –Mas, eu não iria, nem que estivesse acontecendo um apocalipse zumbi à barraca do Jonas não seria o meu abrigo.

–Por quê? – perguntei curioso.

–Olha uma lagarta azul! – ela apontou. Yummi era expert em mudar de assunto. Olhei e vi que era realmente uma lagarta azul.

–Isso é meio Alice no País das Maravilhas. – eu sorri pegando a lagarta com um galhinho.

–Será que estamos no país das maravilhas? – ela perguntou sorrindo.

–Bom, se realmente estivermos eu quero conhecer o Chapeleiro. – eu coloquei o galhinho no lugar e a lagarta saiu rastejando.

–Bernardo! –ouvi uma voz.

–Você ouviu isso? – ela me perguntou.

–Sim. –eu levantei. A voz chamou novamente. –Tem alguém chamando meu nome.

–Tem mesmo. – ela disse e uma voz feminina gritou “Yummi!” - Agora é meu nome.

–Estão procurando por nós. – eu sorri.

–Graças a Deus! – sua expressão era de alivio. –Será que você pode me ajudar a levantar?

–Claro. – eu apoiei minhas mãos em sua cintura e a ajudei a levantar, era a primeira vez que ela ficava em pé depois que fiz a tala pro seu tornozelo. Acho que ela colocou o pé no chão com força demais. Ela gritou de dor. –Calma!

–Okay. – ela me olhou.

–Achamos vocês! – olhamos e vimos que era Mingau e o Nicholas. - Vocês estão bem?

–Mingau? – a Yummi sorriu. –Eu tô sonhando, Bernardo?

–Não. – eu a olhei. –Eles nos acharam.

Lágrimas começaram a brotar dos seus olhos.

–Amor, vai chamar os monitores. –Nicholas disse pra Mingau.

–Vou lá. – ela saiu correndo.

–O que houve com o seu tornozelo? –Nicholas perguntou.

–Ela quebrou. – eu respondi.

–Yu, como você conseguiu essa proeza? – ele riu.

–Nickinho... – ela riu de leve. Eu nunca tinha ouvido ela o chamar assim. Senti uma coisa estranha. Ciúmes? Era bobagem da minha cabeça, eu não tinha por que ter ciúmes do meu melhor amigo. Ele era completamente apaixonado pela Mingau. –Eu caí do barranco.

–Por que eu não estou surpreso? – ele riu.

–Cala a boca seu idiota. – ela apelou.

Os monitores, a diretora, a professora e a Mingau chegaram arfando.

–Graças a Deus encontramos vocês. – a diretora respirou aliviada. –Como estão?

–Estamos bem. –Yummi respondeu.

–Mentira. –Nicholas se intrometeu. –Yu quebrou o tornozelo.

–Ai meu Deus! – a professora colocou a mão na testa. –Vamos leva-la rápido pra enfermaria.

–E não se esqueçam de ligar pra irmã dela. –a diretora disse.

–Vem Yu, vou te pegar no colo. –Nicholas pegou a Yummi no colo e a Mingau pegou a mochila dela. Voltamos para o acampamento, no caminho contamos como nos perdemos e etc. Eles nos levaram pra enfermaria, mas como eu aparentemente não havia sofrido nenhum trauma eu fui até o lugar onde a diretora estava. Ela me colocou pra falar com o meu irmão.

–Oi, Jorge. – eu falei.

–Como vocês estão? Estão machucados? Doentes? –ele disparou uma pergunta atrás da outra. Ele realmente estava andando demais com a Nick.

–Estamos bem! – eu respondi. –Só a Yummi que quebrou o tornozelo.

–Como assim a Yummi quebrou o tornozelo? – ouvi a Nick gritar. Meu irmão estava com o telefone no viva voz.

–Ela caiu do barranco, Nick. – eu respondi afastando o telefone do ouvido.

–Eu vou processar essa escola. – ela começou a ralhar e meu irmão tomou o telefone.

–Bê, estamos indo buscar vocês okay?

–Tudo bem. – eu desliguei o telefone e o entreguei pra diretora.

–Nicole Assunção estava com o seu irmão? – a diretora me perguntou.

–Sim, eles são noivos. – eu respondi e ela assentiu. – eles estão vindo nos buscar.

–Compreendo, até porque a senhorita Yummi Estela precisa ir ao médico.

–Pois é. – eu balancei a cabeça. –posso ir a enfermaria ver como ela está?

–Pode sim. – eu sai da “diretoria” e fui até a enfermaria do acampamento, antes de entrar ouvi uma voz masculina, cheguei mais perto da fresta da porta e vi que era o Jonas. Eles estavam conversando.

–Eu fiquei realmente preocupado com você. – ele disse.

–Agradeço a preocupação. – ela respondeu. A Yummi era fria com o Jonas.

–Aposto que você se perdeu por culpa daquele babaca.

–Aquele babaca cuidou de mim. – seu tom de voz era bravo. –Se não fosse por ele... Eu não sei como estaria agora.

Ai!

–Por que o defende tanto? – ele perguntou.

–E por que você é tão irritante? – ela rebateu.

Cara, eu simplesmente amo esse humor de cão da Yummi.

–Ei, calma! – ele se aproximou dela, e eu vi a bota ortopédica que ela estava usando. –Eu fiquei muito preocupado e com muita saudade. – ele colocou as mãos no rosto dela e a beijou. Fiquei furioso e dei meia volta e trombei com a Rebeca.

–Bebê, eu estava te procurando. – ela me abraçou.

–É você me achou. – revirei os olhos.

–Eu fiquei muito preocupada com você. – ela me olhou.

–Ficou?

–Fiquei! – ela disse com a voz atingindo um tom muito irritante. –Fiquei mais ainda quando soube que você tinha sumido junto com aquela lá.

–Aquela lá é a Yummi? – eu perguntei.

–Sim. – ela fez cara de nojo. – Aposto que ela tentou te atacar.

Eu já estava fadigado da Rebeca e todo o seu mimimi.

–Não tentou. – eu a olhei. – Mas, eu teria adorado se ela tivesse feito isso.

–Bernardo! – ela me olhou brava. – Como ousa falar assim?

–Quer saber de uma coisa? Eu cansei de você. – eu de desvencilhei dela. –Cansei da sua chatice, do seu egoísmo, da sua arrogância. Eu tô terminando com você!

–Como assim? – ela franziu a testa. –Você não pode terminar comigo.

–Não posso? – eu a olhei irônico. –Foi o que acabei de fazer. Me esquece Rebeca. – eu sai de lá sentindo um verdadeiro alivio. E eu estava decidido a conquistar a Yummi.