Noite Sem Fim escrita por Juh, Taís, Amanda


Capítulo 1
Capítulo único — Konoha, 31 de Outubro de 2003.


Notas iniciais do capítulo

Escrevemos esta oneshot para um concurso de Halloween.
Nossa primeira darkfic, esperamos que gostem!

Boa Leitura.



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Noite sem fim

Escrita por

Taís, Amanda e Juliana

...

Noventa e oito anos, não é pra qualquer um...

Pensou Sasuke depois de sacudir a cabeça, procurando não cochilar no volante enquanto dirigia até o rancho Uchiha.

Não puxou aos primos matutos que apreciavam a vida e o trabalho da zona rural, embora reconhecesse que ali tinham um trabalho próspero com a venda de legumes, e uma bela de uma vista não maculada pela poluição, como outrora era na cidade.

Sacrificar as rodas zeradas de seu carro novo em todo aquele barreiro não o animava muito, mas acreditava valer a pena para comemorar mais um ano de vida da avó tão amada.

O problema é que estava cansado, trabalhara o dia todo e assim que terminou seu expediente meteu o pé na estrada, procurando chegar antes que partissem o bolo — tinha certeza que o primeiro pedaço seria dele, era o neto preferido da avó.

Será que ainda lembrava-se dele?

Claro que lembra! Repreendeu-se por ter tal pensamento.

Tinha certa tendência a delirar quando a sonolência apossava-se da mente.

Passou a mão entre os cabelos, e apertou o volante, procurando ficar desperto e focar na estrada, a escuridão parecia engolir seu carro e tudo o que podia ver a sua frente era a luz do próprio farol.

Olhou novamente para o GPS do carro.

Estava confuso quanto ao caminho, não sabia bem que entrada pegar. Já fazia algum tempo que não ia às festas de família, chegava a culpar-se por isso, devia ser mais prestativo com os entes não tão queridos assim.

Era do tipo que preferia celebrar um aniversário, do que comparecer à um velório.

Não queria que sua agenda o fizesse ser do tipo que só comparece a velórios.

Bem... Era o que estava acontecendo, e por isso esforçou-se para estar presente nesta data não tão querida assim — levando em consideração ser o dia das bruxas —, mas por outro lado, era também, o feliz aniversário da matriarca da família Uchiha.

Tinha certeza que estava perdido, mas quando o GPS sinalizou já ter chego ao rancho, percebeu que não era só a cabeça dele que estava com defeito, mas aquele aparelho de merda também!

Continuava no meio do breu, uma estrada de pedra onde havia apenas seu carro, cercado por árvores imensas, ocorrendo-lhe que talvez sua avó as tivesse plantado ali quando criança. Tsc...

A bateria do celular havia acabado. Deu uma olhada no relóginho de bolso que estava sempre pendurado no espelho retrovisor interno do carro. Marcavam 22:38hrs... Só não sabia há quanto tempo era 22:38, pois, o ponteiro do relógio estava parado.

Argh...

Não chegaria a lugar algum com aquela porcaria de GPS sinalizando errado, celular descarregado e nenhuma ideia de que hora da noite poderia ser.

Apertou os dentes prosseguindo com o carro, percebendo o forte refletir da lua no riacho... Riacho!

Oh enfim, não estava perdido!

Ainda lembrava-se de vir se banhar com o primo Naruto quando criança, não estava nada longe de chegar, e tomaria com pressa o rumo agora reconhecido, se não fosse à freada brusca que teve de dar...

Uma mulher estava na beira da ponte, de braços aberto prestes a se jogar!

Quase levou a porta do carro consigo ao correr feito maluco na direção da moça. Lembrava-se também com muita vivacidade o quão fundo era o riacho, e dos puxões de orelha que tomava quando teimava nadar em direção a ponte, onde a profundidade aumentava.

Correu recebendo o vento feroz em seu rosto, corria com toda velocidade que podia e ainda assim suas pernas pareciam não entender o ritmo que o perigo exigia.

O tempo parecia ter parado.

NÃO!

Uma fração de segundo e o vulto rosa dos cabelos esvoaçantes, atirava-se com determinação dentro d'água.

Sem titubear, jogou-se em seguida, recebendo um choque de adrenalina e desespero ao emergir agarrando o corpo que encontrou debaixo d'água.

Todas as rezas e procedimentos médicos que aprendeu chamuscavam em sua mente, bombardeando pensamentos de socorro, pensamentos estes que foram dispersos pelo barulho de tosse que a moça fazia ao expelir água pela boca.

— O que você pensa que está fazendo, seu idiota? — perguntou a moça debatendo-se para se livrar dos braços que a seguravam possessivamente. — Você me atrapalhou! — acusou emburrada e Sasuke de repente caindo em si a libertou.

— Você... Você pulou daquela ponte... Tinha ideia do perigo? Parecia que você...

— Parecia que eu...? — perguntou tentando entender onde o rapaz queria chegar.

— Parecia que você queria se matar! — disse sem disfarçar o horror nas feições bonitas, e ela não se conteve, assim que compreendeu o que ele estava pensando caiu na risada, tentando abafar com uma das mãos delicadas.

— E você... Você pulou aqui pra me salvar? — perguntou a moça nitidamente desdenhando da atitude impulsiva de Sasuke, que sentia-se decepcionado com toda aquela situação.

— O que mais poderia ter feito? Moças como você, não costumam se jogar do alto de uma ponte, no meio da noite a fim de dar um mergulho! — defendeu-se indignado com a imprudência dela.

Percebendo sua frustração, cessou completamente a zombaria e suspirou.

— Ok, me desculpe... Agradeço sua performance de salvador, obrigada! Meus próprios pais não teriam se arriscado assim por mim, eles sequer se importam que eu esteja fora de casa a esta hora! Desculpe se te preocupei, eu só queria tirar a muvuca que estava minha cabeça... Desculpe pelo inconveniente, eu realmente sabia o que estava fazendo. — explicou ela abrindo os braços para mostrar seu perfeito estado físico e sorriu.

Sasuke queria ficar zangado e dar uma bronca na garota, mas percebeu a sinceridade de suas palavras. Ela só queria espairecer a cabeça, como ele próprio muitas vezes já fizera.

Notou que estavam se olhando, ainda dentro da água, sua pele pálida parecia arrepiada, os dentes batiam e os lábios arroxeados demonstravam o frio.

— Você ainda é muito jovem, não devia brigar com seus pais... Procure compreendê-los. — aconselhou. ­— Agora vem, você está tremendo, vou te levar pra casa... — disse segurando-a pelo braço, mas ela puxou de volta para soltar-se.

— Não vou voltar.

— Pare de besteira, onde você mora?

— Perto daqui, mas não vou voltar. — disse firmemente. Sasuke notou a rebeldia em sua voz. Também sabia que logo os pais iriam procurar por ela, então apenas certificaria-se de não pegar uma pneumonia.

— Esta bem. Mas não posso deixá-la aqui sozinha, estou indo até o rancho de minha família, me diga seu nome e a levarei comigo, quem sabe assim, você tenha tempo pra pensar melhor e decida voltar...

— Sakura.

— Prazer Sakura. Sou Sasuke Uchiha. — respondeu abrindo um sorriso amigável. Sakura apenas assentiu com a cabeça.

Ele a guiou até seu carro, abrindo e fechando a porta, em seguida condicionando o ar para que se aquecesse um pouco, e tornou a dirigir. Mais a frente percebeu as faixas amarelas, listrado de preto, que cercavam as laterais da rua.

— Houve um acidente aqui perto. — disse Sakura também observando as faixas.

— Quando foi isso? — perguntou estranhando, os únicos acidentes em zonas rurais dos últimos tempos, eram as vacas que ficavam atoladas no barro quando chovia.

— Não sei ao certo, mas não faz muito tempo. Ainda estão diagnosticando. — respondeu olhando para trás, enquanto Sasuke via pelo retrovisor as luzes de viatura que faiscavam ao longe.

— Certamente foi ataque de animal. As pessoas não deveriam ficar se aventurando pela noite, o lugar é bonito, mas extremamente perigoso. — concluiu Sasuke como uma nítida advertência e ela sorriu entendendo perfeitamente o que queria dizer.

— Estou com vergonha de sua família, Sasuke, seria melhor que me deixasse por aqui. Eu moro perto. — assegurou ela.

— Primeiro vou te fazer comer alguma coisa e tirar essa roupa molhada.

— Não quero dar trabalho.

— Tarde demais pra isso, você já deu! — disse trocando um sorriso com ela. Era uma garota muito jovem, dezenove talvez... Muito bonita também. A prova disso é que seu vestido encharcado estava ensopando o estofado do carro novo e ele não se importava com isso. De alguma forma estava grato pela presença dela ali.

Assim que cruzaram a entrada do rancho, Sasuke estacionou seu carro e a vendo suspirar desligou, voltando-se para ela.

— Não precisa ficar nervosa. Certamente vão pensar que é minha namorada, mas estou disposto a driblá-los antes que façam qualquer pergunta sobre nós ou nosso estado, ok? — disse ele num tom suave, colocando uma mão em sua face para confortá-la.

Sakura respondeu com o olhar. Confiava nele. Seus lábios estavam entreabertos, e a proximidade fez com que Sasuke se inclinasse sentindo sua respiração de perto, fechou os olhos e antes que pudesse fazer o que pretendia, escutou as batidas no vidro do carro.

Eram seus sobrinhos!

Doces ou travessuras, doces ou travessuras, doces ou travessuras, tio Sasuke?

Diziam todos ao mesmo tempo, estendendo uma cesta já com alguns doces anteriormente arrecadados para ele.

— Vocês já têm o suficiente ai! — disse virando-se para Sakura que sorria com as carinhas esculpidas de abóboras que usavam na cabeça.

Saiu do carro lhes abraçando e deu a volta para pegar Sakura. Mais à frente estavam todos os parentes, escutando e dançando uma animada música country, enquanto sorriam e bebiam. Tinham também algumas luzes e todos pareciam muito animados.

Viu Naruto acenando de longe e retribuiu com um gesto de cabeça, segurou a mão de Sakura, e aproveitando a distração de todos os demais, entrou de fininho com Sakura, passando pela sala ao subir as escadas.

O antigo casarão em que fora criado em nada mudou. Era bom estar de volta ao lar. Seguiu até o banheiro pegando toalha para os dois.

— Termine de se secar, vou ver se encontro algo para vestir. Me espere aqui... — avisou ao jogar-lhe uma toalha, Sakura pegou no ato e sorriu pra ele.

— Esta bem, não demore. Tenho que ir embora. — pediu e Sasuke sorriu, percebendo que ela voltaria para casa de bom grado. Se fosse o caso, estava até mesmo disposto a dizer algumas palavras tranqüilizadoras aos pais da moça, que de certo estavam preocupados, embora Sakura não pensasse assim.

Conseguiu um vestido dentro do armário que havia em um dos quartos, e voltou ao banheiro para entregá-lo a Sakura.

A toalha estava jogada no chão e ela já não estava mais ali.

— Sakura? — chamou pelo corredor, sem receber resposta alguma.

Rapidamente desceu as escadas, adentrando na muvuca de familiares que começaram a lhe abraçar e dizer algo como “o quão bonito e crescido estava”, junto da música brega e alta que faziam com que não entendesse nada.

Desviando-se de todos, parou ao encontrar Naruto.

— Hey Sasuke! — cumprimentou o primo.

— Naruto. Viu a garota que estava comigo? — perguntou, olhando entre as pessoas que se balançavam fora do ritmo.

— Garota? — perguntou. — Ah sim, carinha... Já estava mesmo na hora de trazer sua garota para conhecermos!

— Viu ela? — tornou a perguntar.

— Não. — respondeu dando de ombros.

Continuou a procurar entre as pessoas, começando a sentir-se frustrado. Parou olhando em volta quando finalmente a viu num canto escuro, mais afastada das outras pessoas.

Andou calmamente em sua direção, atraído pelo sorriso travesso que lhe dava.

— Travessura é, Sakura? Brincando de se esconder de mim? — perguntou num tom sedutor. Sakura deu um passo para trás, e com extrema agilidade Sasuke lhe deu o bote, segurando-a no colo e escutando um delicioso gritinho de surpresa.

Só queria admirá-la. E segurá-la em seus braços, e talvez... E talvez, pudesse beijá-la...

Inclinou-se se permitindo um leve roçar de lábios. E logo pressionou-lhe a boca a fim de explorar melhor seus encantos. Sentiu a maciez dos lábios que aos poucos umidecia-se contra os seus. Conscientizou-se o quão fria estava sua pele e quis abraçá-la com mais força, acariciar seus braços finos até que eles voltassem à temperatura de antes... Mas só conseguiu elevar sua mão para os cabelos macios dela.

Macios e extremamente molhados!

— Se você tivesse sido mais rápido... — sussurrou Sakura ao separar-se. Seus olhos lentamente fecharam-se. Sasuke apoiou a cabeça de Sakura em sua mão e percebeu naquela região um líquido mais grosso.

Afastou os dedos, fitando-os completamente ensangüentados.

Se você tivesse sido mais rápido...

Sentiu-se enjoado, atordoado ao ver as olheiras roxas que rodeavam seus olhos... Seu corpo estava desfalecido.

Estava segurando um cadáver!

Piscou algumas vezes e de repente viu-se novamente no rio, onde a havia salvado... Sakura agora estava em seus braços completamente sem vida... Estava morta.

Se você tivesse sido mais rápido...

As palavras dela ecoaram nítidas em sua mente de novo.

Sasuke fechou os olhos com força, tapando os ouvidos com as mãos. Não queria escutar aquilo de novo! Droga, nada daquilo era real! Estava ficando maluco!

Isso não é real!

Mentalizava tentando acreditar.

Não é real!

Isso não é real!

ISSO NÃO É REAL!

Acordou ofegante, num solavanco, encharcado de suor em seu quarto.

Era o maldito pesadelo! O mesmo pesadelo que se repetia todas as noites, há meses.

Massageou as têmporas, sentando-se em sua cama. Abriu a gaveta da cabeceira ao lado de sua cama, tirando de lá o antigo noticiário que lhe trazia de volta à realidade...

Konoha, 31 de Outubro de 2003... Sakura Haruno... Dezessete anos... Ponte de Konoha... Suicídio.

Ele hesitou, amargando as lembranças da noite em que viu a garota pular daquela ponte. Havia batido com a cabeça numa rocha no fundo do riacho, quando subiu com o corpo em seus braços, tinha sido tarde demais.

Como um CD riscado, sua mente revivia os fatos e repassava o mesmo pesadelo com aquela noite — todas as noites.

Estava para sempre encarcerado numa noite sem fim.


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Notas finais do capítulo

Búuh !!!

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