Behind the Mask escrita por Khaleesi


Capítulo 1
Only Chapter.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Gostaria de apresentar-lhes minha estréia duplicada (primeira one-shot e primeira estória com personagens de Naruto). Espero que gostem!



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Londres. 01 de outubro.

Em todo lugar existe um Jornal bem visto pela população, que traz as notícias de forma rápida e eficiente. O Jornal UK Notícias é o principal do Reino Unido, composto pelos melhores jornalistas, e as melhores notícias.

Mas uma jornalista está se destacando cada vez mais por suas ótimas matérias sobre os acontecimentos bizarros que vieram acontecendo nos últimos dois anos. Seu nome é Sakura Haruno.

Sakura além de boa jornalista é uma bela mulher. Com seus vinte e seis anos faz muitos rapazes e homens suspirarem por aí. Dona de cabelos de um tom róseo exótico, olhos verdes que assemelham a pedra preciosa esmeralda, rosto de porcelana com um rosado natural em suas bochechas. Uma face de boneca, já o corpo não. Definido por conta de suas corridas ao redor de Londres. E saudável por sua alimentação rigorosa que herdou de sua mãe.

E a mesma neste momento se encontrava arrumando as malas mais uma vez, afim de partir em mais uma viagem de trabalho.

Quando fechou o zíper da mala, uma mistura de ansiedade e euforia tomou conta do corpo dela, fazendo um pequeno sorriso aparecer em sua face enquanto observava em suas mãos o bilhete informando seu destino.

Prentef Hope.

(...)

Estação Central de Prentef Hope. 02 de outubro.

Haruno já podia ver a estação de trem se aproximando aos poucos através do vidro de sua cabine. Verificou mais uma vez se não estava esquecendo-se de nada ali.

O motivo de vir a Pretenf Hope, uma vilazinha esquecida por Deus no interior do Reino Unido, era uma série de desaparecimentos que vinha acontecendo com os jovens do local.

Havia sido relatado o sumiço de duas garotas com idade por volta de quinze, e um menino de quatro anos. Ela deveria fazer uma matéria sobre o acontecido e ficar acompanhando se o mesmo seria resolvido logo.

Quando desembarcou do trem uma lufada de ar frio bagunçou seus cabelos, retirando alguns fios de sua trança improvisada. Um panfleto veio voando e parou em seus pés. Abaixando-se para pegá-lo sentiu algo bater em seu ombro.

— Cuidado! – exclamou enquanto se levantava segurando o folheto.

— Não tenho culpa se ficou ai parada atrapalhando o fluxo das pessoas, senhorita – um rapaz moreno respondeu dando as costas para ela, não a deixando ver seu rosto.

— Mal educado – bufou.

Olhou para o papel que segurava. Era uma propaganda do Halloween local, dizendo a hora, data e local da festa.

É de costume de a vila fazer um evento grandioso no dia que se comemora o Halloween, com gincanas ao longo da tarde e um baile mascarado a noite, com premiação para os melhores fantasiados.

Um sorriso se formou em seu rosto, pois adora festivais. E o melhor de tudo, o baile será realizado na praça central, bem pertinho do hotel onde permanecerá.

“Não será tão mal ficar aqui” pensou a rosada.

Recuperando a posse de seus pertences do trem, seguiu em direção à parada de taxis que havia do outro lado da estação. O local era um pouco melhor que o de seu ultimo trabalho. Aqui havia mais táxis.

— Hotel Boulevard, por favor – informou ao taxista ao entrar no veículo.

Sem dizer uma palavra o senhor que dirigia pôs o carro em movimento.

A paisagem era espetacular. O outono está em alta, a cidade parecia coberta por uma manta alaranjada, por conta das folhas caídas. Apesar da queda delas, não se via muita sujeira espalhada pelas ruas ou entupindo bueiros.

Os olhos de Sakura acompanhavam cada nova construção que surgia, queria relatar tudo isso em seu livro de viagens. Ela possuía anotações de todos os lugares que visitou, seja a trabalho – como este – ou por lazer.

Mas o que realmente chamou a sua atenção foi uma enorme cerejeira. Ela se destacava ali no meio do enorme círculo gramado, que além dela possuía algumas árvores de outras variedades, e bancos.

— É lindo... – sussurrou.

— A praça central é realmente linda, principalmente por conta da Cerejeira Mestre. Uma boa escolha para o festival não? – o taxista pronunciou assustando-a.

— Certamente – concordou.

(...)

Delegacia de Pretenf Hope. 09 de outubro.

Já havia se passado uma semana desde a chegada de Sakura à vila.

A jornalista começou seu trabalho assim que se acomodou no Hotel. Sua primeira parada foi a delegacia, aonde conversou com as autoridades sobre o que haviam descoberto sobre os desaparecimentos, as características das vítimas, os endereços das famílias, e se já houve histórico de algo parecido anteriormente.

O delegado não estava muito disposto a ceder as informações que ela lhe pedia, mas com a lábia que aprendeu com seu pai, Haruno conseguiu convencê-lo a ajudar.

Naquele dia, fazia uma quinzena que as meninas tinham desaparecido, eram gêmeas e um tanto famosas por alegrarem as festas com seus números de dança e canto. E uma semana da ausência do garotinho, filho do prefeito.

Logo após a conversa, resolveu visitar os últimos locais em que eles foram vistos, e para cenas de crime os achou muito limpos, como se alguém quisesse apagar provas.

No decorrer dessa semana, não colheu muitos frutos. Na entrevista que fez com os familiares, descobriu que não conseguiria muita coisa ali, as mães só choravam e os pais eram como muros inexpugnáveis que não se tirava qualquer informação útil.

Raiva e frustração. Esses eram os sentimentos que começaram a dar lugar no corpo da jornalista, que antes tinha esperança e ansiedade.

Após uma semana sem muitos resultados, e uma matéria que não agradou seu chefe, Sakura resolveu visitar o delegado novamente. Mas dessa vez tinha um plano.

Ela abriu a porta da delegacia rezando para que o rapaz fizesse tudo como tinha planejado, pois se algo der errado estará em grandes apuros.

Dirigiu-se com passos calmos para a recepção.

— O Sr Yamato, por favor – pediu a recepcionista.

— Irei anuncia-la.

Haruno aproveitou o momento para estudar o clima do local. Alguns metros a sua direita, dois policiais seguravam um rapaz informando que o haviam pego numa tentativa de furto. As suas costas havia mais dois policiais, desta vez um homem e uma mulher, sentados nas cadeiras de espera. E próximo a porta havia um senhor tendo problemas com a máquina de café.

— O delegado irá recebê-la, por favor me acompanhe – disse a moça ao retornar.

Enquanto a seguia, ouviu a sineta da porta indicando que alguém adentrou no recinto. O mais disfarçadamente que pode, virou-se e constatou que era seu cúmplice.

Chegando próximo a porta do delegado, um estouro assustou o local. As pessoas que estavam ali gritaram e se jogaram no chão, e logo após o som, uma pequena cortina de fumaça apareceu.

A recepcionista correu para o banheiro, deixando uma Sakura meio agachada e bem próxima a sala do Sr Yamato.

Assustado com a confusão que se gerou, o dono da sala saiu correndo em direção a fumaça e acabou nem enxergando a rosada. Um erro.

Aproveitando que seu plano estava funcionando e que ninguém havia prestado atenção nela, entrou furtivamente no recinto e encostou a porta. O mais depressa que podia vasculhou a mesa afim de achar a chave do armário que continha as pastas confidenciais.

Bingo! Seus olhos brilharam ao ver a chave próxima a xícara de café abandonada. Bufando pela quantidade de chaves, começou a tentativa de abrir o móvel.

Entre uma tentativa e outra, seus olhos verificavam a porta e as frestas da cortina, eles procuram qualquer sinal de que o delegado estivesse voltando.

Já estava se estressando com as chaves, quando finalmente ouviu o cleng anunciando que o armário estava aberto. Sua felicidade quase foi ralo abaixo pela quantidade de pastas que ali havia. Mas parecia que a sorte estava ao seu lado, bem encima de todas, jogada a esmo, estava a que procurava, Caso 500: desaparecimento de jovens.

Sorrindo vitoriosa, abriu a bolsa e guardou a pasta, logo em seguida colocou no armário outra pasta com o mesmo título, porém vazia.

Haruno fechou o móvel, colocou a chave no seu devido lugar e voltou para seu canto meio agachado do lado de fora com o coração na boca. Seus olhos verdes esmeralda procuravam freneticamente algum indicio de que alguém tinha visto sua trapaça.

Aparentemente ninguém havia percebido sua pequena ausência.

Respirando aliviada, a rosada viu o delegado voltando para onde estava, pisando duro e com certa irritação no olhar.

Yamato possui características de uma pessoa comum. Cabelos castanhos, com corte quase militar, olhos pretos e pele um tanto bronzeada, tamanho médio seja na altura ou largura.

— Senhorita Haruno, peço perdão por deixá-la aqui desse modo e também pelo susto que passou – suspirou levemente irritado – aparentemente algum espertinho soltou uma bombinha com fumaça aqui na delegacia. Esses jovens...

Sorrindo disfarçadamente, ela levantou-se devagar e jogou sua bolsa no ombro.

— Realmente, esses jovens são terríveis! Uma brincadeira sem graça certamente – concordou.

Ele passou a mão no cabelo visivelmente cansado, e a moça viu ali sua oportunidade de escapar.

— Acredito que o senhor esteja um pouco cansado. Talvez seja melhor eu voltar em outro momento para perguntar sobre o caso.

— Agradeceria se fizesse isso – respondeu aliviado.

— Então vou indo – disse apertando a mão dele – até mais Sr Yamato.

Segurando protetoramente a bolsa, saiu da delegacia.

Sem tomar nenhum rumo, virou a esquerda na calçada e seguiu em frente, seu pensamento estava no que poderia haver de informações na pasta. Mergulhada em suas hipóteses acabou trombando em alguém.

— Me desculpe – Sakura pediu automaticamente.

— Aparentemente a senhorita gosta de atrapalhar o caminho das pessoas.

Sakura olhou assustada para o dono da voz. Era a mesma voz do rapaz que havia batido com a mala em seu ombro na chegada. Agora conseguiu ver o rosto dele. Era muito bonito por sinal.

Cabelos de um ébano, lisos e um pouco arrepiados nas pontas. Olhos de cor ônix, uma pele branca. Mais alto que ela, e fisicamente mais forte. Sua aparência e o pouco da sua personalidade já vista, dava um ar de seriedade, mistério, perigo e surpresas.

— Você... – a voz da rosada foi sumindo aos poucos pela pequena explosão de raiva que começou a sentir.

Semi cerrando os olhos, ela aproximou-se dele e com um dedo apontado em seu peito bufou.

— Talvez o Senhor deve-se olhar por onde anda. Jogar a mala em cima dos outros não é uma atitude cavalheira.

Rindo o moreno deu dois passos para trás e olhou a moça a sua frente de cima à baixo como se sua bronca o divertisse.

— Você é diferente, de um jeito interessante – aproximou o rosto do dela e sussurrou – tome um pouco de cuidado senhorita. Nem todos levam broncas numa boa por aqui.

Piscando para a mesma que ficou um pouco desconcertada pelo comentário incomum, seguiu caminhando.

(...)

Já em seu quarto do hotel, ela se permitiu respirar mais aliviada.

Sentada em sua cama, retirou com cuidado a pasta da bolsa, sentia que os documentos pesavam toneladas em sua mão culpada. Balançou a cabeça espantando o remorso por ter roubado, afinal se ela não tivesse agido assim seu emprego estaria em risco.

Sim ela era um pouco egoísta a esse ponto. Muitos gostariam de ter a pasta em suas mãos para ajudar na busca das crianças, já ela tinha como prioridade sua matéria. Jornalistas não possuem boa índole por motivos como esses e Sakura não é diferente deles.

No começo da carreira ela tentou ser certinha, sem usar de falcatruas ou coisa parecida. Mas seu rendimento não agradava os jornais que trabalhou, seus companheiros de trabalho conseguiam fazer ótimos trabalhos, deixando-a em último lugar. E isso só acontecia por que ela não era como eles.

Cansada de tudo isso, largou seus ideais de lado.

Às vezes se sentia culpada pelo que fazia, mas não podia voltar atrás. Sakura não podia ser boazinha, não em uma sociedade que esmaga quem tenta ir contra.

Por isso, deixou de lado a culpa e abriu o arquivo.

Seus olhos verdes iam engolindo cada palavra ali contida, absorvendo as informações, seu cenho se franzido uma vez ou outra e seus lábios iam apertando-se ocasionalmente.

“Sem sangue ou qualquer indicio de violência nos locais.”

“Desapareceram no fim da tarde.”

“Anéis, colares ou brincos que usavam foram deixados para trás. Sem digital nos mesmos.”

“Próximo aos objetos, nos dois locais, foi encontrado um papel com uma mensagem.”

“A mensagem é um desenho de um relógio de bolso, marcando às dezoito horas.”

“Havia um cheiro fraco de rosas no ar.”

Essas frases ficaram gravadas na mente dela. O restante do relatório dizia o que o delegado já havia lhe relatado, mas estas informações ele havia omitido. Por que escondê-las?

(...)

Avenida Central de Pretenf Hope. 10 de outubro.

O clima pela manhã era agradável para uma caminhada, e era isso que Haruno fazia no momento.

Com sua mente embaralhada, resolveu sair do hotel um pouco. Havia ficado lendo e relendo o arquivo, ocasionando uma insônia e fadiga.

Observando a redondeza um tanto distraída, seu olhar acabou pousando casualmente em um antiquário, seu letreiro informava seu nome, Past Óir.

Sakura tinha uma pequena paixão por antiguidades. Em seu apartamento em Londres possuía um cômodo totalmente decorado e mobiliado por móveis e peças antigas. Era seu escritório, aonde sentava e escrevia suas matérias, ou ficava ali apenas pensando na vida. Fazia-a lembrar de seu falecido avô. O mesmo possuía também uma pequena variedade de artigos, sempre que ela ia visitá-lo em suas férias escolares ficava ouvindo-o contar as histórias do seu passado, ou as aventuras que passou para ficar com aquele objeto.

Movida pela saudade que sentia, resolveu adentrar na loja.

Como quase todos os lugares daqui, uma sineta tocou assim que abriu a porta.

O local cheirava madeira, cidreira e estranhamente camuflado também havia cheiro de rosas.

Mas assim que a rosada pôs os olhos em um camafeu, o aroma do local acabou ficando para trás.

Aproximou-se da peça e com todo cuidado pegou-a. O desenho em relevo mostrava o perfil de uma mulher, podia se notar algumas flores enfeitando seu cabelo, a parte que contorna a figura é feita de ouro envelhecido e tinha formato de flores de cerejeira.

— Um belo colar.

Assustada com a voz repentina, virou tão rapidamente que acabou se chocando contra um armário que tinha por perto.

— Sua mania de trombar não é somente com pessoas, os móveis também fazem parte?

Aparentemente o destino estava de brincadeira com a jornalista, a última pessoa que ela gostaria de ver no momento era o rapaz mal educado que havia esbarrado duas vezes.

— Era só o que me faltava – bufou.

Sorrindo, o rapaz pegou o colar da mão dela e o segurou em frente ao rosto da mesma.

— Gostaria de ver outras peças como essa? – perguntou casualmente.

Sakura ergueu uma sobrancelha diante a proposta.

— Primeiro me diga seu nome – ela respondeu.

— Por que quer saber?

— Gosto de estar bem informada.

— Certo. Mas eu também gosto, então me diga o seu primeiro querida senhorita – ele respondeu enquanto dava dois passos para trás.

— Por que eu diria primeiro? – questionou-o intrigada.

— Você está na minha loja. Meu território, minhas regras.

Cruzando os braços contrariada, a rosada se encostou no móvel.

— Sakura Haruno.

— Sakura? Um nome interessante, significa flores de cerejeira em japonês – o moreno comentou – quanto a mim, sou Sasuke Uchiha.

Ele então deu alguns passos para frente e estendeu a mão para ela.

— Gostaria de ver outras peças como essa? – repetiu a pergunta com uma sobrancelha erguida.

Dando um meio sorrido Sakura segurou a mão estendida.

(...)

Hotel Boulevard. 25 de outubro.

Os dias de Sakura em Pretenf Hope estavam passando rapidamente, e ela nem percebia. Os motivos de sua distração era o caso do desaparecimento, que continuava sem solução, porém também não houve mais vitimas. E o belo rapaz dono do antiquário, Sasuke Uchiha.

Nesses quinze dias que se passaram desde que a rosada pôs os pés pela primeira vez na loja, ela sempre voltava para admirar o camafeu, consequentemente via o moreno também.

Enquanto ela ficava se deslumbrando com os artigos que ali tinha, os dois ficavam conversando. Recuperados da pequena antipatia que possuíam devido ao modo que se conheceram, começaram a ficarem mais próximos. Descobriram que tinham vários gostos em comum, e os mais variados assuntos para debater.

Nesse intervalo de tempo, chegaram até a saírem juntos algumas vezes.

Numa dessas, foram jantar em um restaurante próximo a praça, que é conhecido por possuir um bom estoque de vinhos.

Ambos um pouco embriagados foram caminhar ao redor da praça após o restaurante começar a fechar. Por estar sobre efeito da bebida, Sakura perdeu um pouco da timidez e acabou dançando descalça ao redor da Cerejeira Mestre, fazendo Sasuke rir.

Após sua pequena dança, acabou tropeçando em uma raiz da árvore e foi parar nos braços do moreno. Agindo por impulso, ou talvez pela hipnose dos olhos dele, Haruno o beijou. Sua surpresa foi que ele retribuiu.

Apesar do episódio, a relação que eles haviam criado não mudou, nem ele ou ela falaram sobre o acontecido depois.

Tudo o que aconteceu nessa quinzena ajudou a jornalista com a sua matéria. Enviou um e-mail para seu chefe com trechos do que havia escrito, obteve uma boa resposta. Fez uma cópia do relatório e logo em seguida devolveu a pasta a delegacia em uma de suas visitas até lá.

Nesses dias ela também aproveitou para conhecer melhor os locais de Pretenf, passeou por toda vila.

Mas visitou principalmente as relojoarias, procurando relógios de bolso que se assemelhassem com o do desenho encontrado.

O objeto era singular. Na parte exterior da tampa dele havia um desenho de alguma flor, mas a cópia que tinha no relatório era um pouco falha, impossibilitando uma melhor visualização. Sendo assim, ela levava junto a cópia que fez.

Além do problema de não ter muitos relógios por ai, só havia 3 relojoarias e em cada tinha no máximo 4 tipos dele.

Só restava um último lugar que poderia ter.

(...)

Sasuke parecia concentrado em algo, observou-a ao entrar no antiquário.

— O que é? – ela perguntou.

Ele levantou a cabeça e deu um meio sorriso. Levantando sua mão, mostrou a ela um relógio de bolso.

Sakura abriu a boca surpresa, e pegou o objeto.

— É lindo!

Era de um dourado mais escuro, não chegava a ser envelhecido ainda, seus ponteiros eram trabalhados com relevos. A parte externa da tampa tinha um desenho de uma flor de cerejeira, emoldurada por traços delicados.

— Ele faz parte de um conjunto, aquele camafeu que você se apaixonou faz parte também – comentou o moreno.

Ainda admirando o objeto, Sakura percebeu algo de estranho. Naquele momento eram passadas quinze horas, e ele marcava dezoito horas.

O mesmo horário do desenho...

Uma pequena pulga começou a se formar atrás da orelha dela.

— Sasuke você poderia pegar o colar para mim? Gostaria de prová-lo hoje – perguntou.

— Quando vai resolver comprá-lo? – riu ele.

Reviando os olhos divertindo-se da careta que ela fez, o mesmo se dirigiu para a parte de trás da loja.

Assim que saiu do campo de vista dela, a rosada pegou a cópia do desenho que estava no seu bolso, e colocou lado a lado com o relógio.

Espanto, incredulidade e um pouco de negação.

Essas foram as reações que Sakura teve ao compará-los. Sem dúvidas o artefato a sua frente era o mesmo do desenho.

O coração dela disparou, e para aumentar ainda mais sua tensão, sentiu cheiro de rosas pairando no ar.

“Não pode ser” pensou.

Ouvindo os passos de Sasuke anunciando seu retorno, ela ligeiramente guardou o papel. Ficou observando um jogo de louça francesa que havia no armário mais próximo, tentando quase inutilmente disfarçar sua surpresa.

— Sakura, venha até aqui perto desse espelho – ele a chamou perto de um espelho de corpo inteiro a alguns metros de distância.

Caminhando calmamente para acalmar seus nervos, ela foi a sua direção. Olhou interrogativamente para ele.

— Vire-se de frente a ele – disse o mesmo apontando o espelho.

Ela fez o que lhe foi pedido. Sasuke então puxou seus cabelos róseos com delicadeza para o lado, e acariciou levemente seu pescoço ali exposto. Sakura sentiu um pequeno arrepiou descer por sua espinha por causa do toque. Então com toda calma e com um olhar não decifrável em seu rosto, ele colocou o objeto no pescoço dela, deixando o pingente pousar próximo aos seios dela.

— Ficou lindo em você – o moreno sussurrou com a boca próxima a orelha dela.

O arrepio só ficou mais forte com esse gesto.

As suspeitas que antes ela possuía, foram para o espaço. Só conseguia pensar no corpo dele próximo, da temperatura quente que o mesmo emanava, ou da linha eletrizada que os dedos haviam deixado no corpo na jornalista.

Sem pensar muito corretamente, Sakura foi virando lentamente afim de ficar cara a cara com ele.

Assim que tiveram contato visual, o ar ficou carregado de intenções não pronunciadas.

Desta vez quem roubou o beijo foi Sasuke.

(...)

Praça Central de Pretenf Hope. 31 de outubro.

Os últimos dias do mês passaram com clima de preparação. A vila inteira estava se mobilizando pra enfeitar a praça, ruas e casas. O dia do Halloween por aqui era mais do que uma festa pagã, era o aniversário de Pretenf Hope, neste dia ela comemora seu centenário, um motivo a mais para ser um festival enorme.

Uma das tradições do evento era que todos deveriam ter um par para prestigiarem a festa. Sasuke acabou convidando Sakura para ser seu par, em um passeio que ele a convidou.

Apesar de toda euforia por conta do festival, e também do seu pequeno caso com o dono da loja, a jornalista estava preocupada com as pistas que percebeu ultimamente. A maioria levava para Sasuke, e isso estava tirando seu sossego.

Para esfriar um pouco a cabeça, ela resolveu ir as compras. Deveria ir vestida de alguma fantasia.

Não tinha muitas ideias do que usar a noite, bruxa era muito comum, vampira também. Ela queria algo que não a identificasse muito cedo, queria fazer uma surpresa para o moreno.

Até que numa loja seus olhos se depararam uma vestimenta inusitada.

(...)

A noite caíra e Haruno terminava de se arrumar no seu quarto do hotel, estava decidida a abrir o jogo com o Uchiha, tomou coragem para falar sobre suas suspeitas. Talvez fosse um erro, mas estava disposta a cometê-lo.

Sua fantasia não era feminista, mas conseguiu suprir seu desejo de esconder seus cabelos para dar um pouco de anonimato a ela.

Estava vestida de esqueleto, a roupa era composta por um macacão preto fosco com o desenho do esqueleto em branco, nos pés calçava uma sapatilha preta simples, nas mãos usava luvas também negras e por fim uma mascara de caveira que se assemelhava um capuz, tapando totalmente sua cabeça, não deixando seus fios exóticos de fora.

Ela e Sasuke haviam combinado de se encontrarem perto da Cerejeira Mestre às vinte e uma horas. O relógio pendurado na parede informava que faltava apenas meia hora para o encontro.

Com receio de chegar atrasada, resolveu sair do hotel mais cedo, e aproveitar para dar uma olhada no festival.

Enquanto caminhava para a praça observando as pessoas que passavam, viu por acaso uma cabeleira negra conhecida passar próximo a um beco.

Intrigada, a jornalista começou a se dirigir ao local.

O beco não estava totalmente escuro, mas ainda sim ela andou com cuidado pro ele. No final, aonde deveria ter uma parede, havia uma cerca. Agora observando mais de perto, ela reconheceu Sasuke, ele já tinha escalado a cerca e estava a alguns metros a frente, caminhando e assobiando.

Ela esperou uns instantes para escalar também, não queria que ele descobrisse sua perseguição.

A rota que estava tomando, ia em direção a pequena floresta até então desconhecida por Sakura.

A mente dela começou a formular mil e umas hipóteses do porque ele vir para um local como este. Somado as pistas que percebera, ela tinha medo que o sequestrador fosse realmente o Uchiha.

Com mais cuidado ainda adentrou por entre as árvores, se movia devagar para não fazer barulho e chamar atenção do moreno, que seguia firmemente.

Após minutos agindo assim, ele finalmente parou. Curiosa para saber o motivo da parada, deu mais alguns passos e ficou atrás de um carvalho largo o suficiente para escondê-la.

A frente dele havia uma pequena cabana feita de madeira, sua condição não era das melhores.

Sasuke então pegou um objeto de seu bolso, agachou-se para pegar um galho no chão, e ela viu que ele estava ateando fogo ao que parecia ser uma tocha improvisada. E então se encaminhou para a cabana.

Sakura estava estática. Não podia acreditar no que via, se sentiu suja por ter deixado ele a tocar. Beijou um sequestrador.

Com raiva tomando seu corpo, ela retirou o capuz e foi em direção a construção.

— Eu não acredito – falou enraivecida golpeando a porta aberta.

O moreno levou um susto ao perceber a presença da rosada ali.

— Sakura...

— Você... você é o culpado pelo desaparecimento! Por que?! – sua voz começou a se elevar por conta da fúria que ela sentia.

Amontoadas em um canto do recinto, estavam as gêmeas e o garotinho. Abraçados com medo do que viam. Os três estavam amarrados nas mãos e pés, e uma corda amarrada na cintura de cada um, os unia em uma pequena corrente humana.

Ver o estado em que eles se encontravam só deixou-a ainda mais enojada por ele.

— Eu não esperava que você me descobrisse. Inteligente de sua parte querida – Sasuke comentou em tom calmo.

— Não me chame de querida – rebateu-o.

— Tudo bem Sakura. Quer saber o motivo? Bem, eu vou te contar – começou-o olhando no fundo dos olhos dela – Hoje faz dois anos que minha esposa faleceu.

— Esposa? – indagou confusa.

— Sim, eu era casado. Tinha uma vida muito feliz ao lado da Rosa, mas o pai delas – indicou enraivecido as gêmeas – acabou com tudo isso! Ele a matou!

Sakura olhou atônita para o moreno a sua frente que visivelmente sofria.

— Era apenas mais um Halloween, minha amada Rosa tinha saído para comprar alguns ingredientes para sobremesa que queria fazer. Mas ao atravessar a rua da nossa casa, o pai delas vinha com o carro em uma velocidade absurda, e acabou atropelando-a. Ela não teve como desviar, e eu assisti tudo da minha porta, eu vi ela se chocando com o veículo, e depois caindo no asfalto – suas mãos que seguravam a tocha tremiam – ela estava grávida.

Nesse momento podia se notar algumas lágrimas caírem por suas bochechas. Ela começou a ficar com o coração apertado ao vê-lo assim.

— Ele estava bêbado e não conseguiu frear a tempo. E por causa disso minha esposa e meu filho morreram – continuou – como qualquer pessoa faria eu entrei na justiça por isso, queria-o preso, fazê-lo pagar, mas o pai dele – indicou o menininho – ajudou o assassino. Você sabe que antes de ser prefeito o pai dele foi juiz? Pois bem, ele deu ganho de caso para o bêbado e me fez pagar uma quantia de dinheiro por danos morais! Danos morais! O desgraçado mata minha esposa e eu cometo danos morais com ele?!

Suas mãos tremiam tanto que Sakura começou a ficar com medo que de ele a deixa-se cair e a cabana pegasse fogo.

— Por isso eu raptei os filhos deles. Quero que eles sofram o que sofri, que vejam como é péssimo ter as pessoas amadas tiradas de você, e te deixar apenas com lembranças!

Ele retirou então algo de suas vestes.

— Rosa sempre carregava este relógio de bolso, ele fazia par com aquele camafeu, lembra? Após o acidente, as únicas coisas que não quebraram ou foram esmagadas foram esses dois objetos – disse olhando a peça fixamente - Então deixei o desenho do relógio marcando dezoito horas, a hora em que ela foi atropelada, e borrifei o perfume de rosas que ela usava por causa do nome. Para os dois saberem quem fez e o motivo do desaparecimento.

Sakura entendia o sentimento de vingança que via em seus olhos. Mas mesmo assim, aquilo não era certo.

— Sasuke... Eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu, não sei o que eu faria se estivesse no seu lugar – as orbes dele grudaram os olhos esverdeados dela buscando uma salvação pro seu desespero – mas me diga, o que essas crianças tem de culpa? Foi um erro dos pais delas. Entenda por favor.

Ela então o abraçou em um gesto desesperado. O moreno então soltou o relógio, deixando-o cair no chão com um baque surdo, e envolveu a cintura dela com o braço. Cansado ele apoiou a cabeça na curva do pescoço delgado absorvendo o perfume.

— Solte-as. Mostre que você não é igual a eles. Você não precisa dessa vingança, garanto que sua Rosa não iria querer te ver neste estado, e nem ia aprovar o que está fazendo – suplicou em seu ouvido.

— O que devo fazer então? – questionou-a.

— Devolva-as, e diga para a polícia o que fez. Sim, você irá preso, mas não ficará com culpa em seu coração de ter feito algum mal a elas – disse colocando a mão no seu peito bem encima do coração.

Segundos se passavam, parecia que o Uchiha estava pensando nas palavras ditas. Sakura rezava para que ele compreendesse, e fizesse o que lhe pedia.

Ela não queria admitir, mas ela já estava apaixonada por ele. Por mais que estivesse errado, sentia que poderia mudá-lo, pois no fundo ele não é uma pessoa má.

— Rosa me perdoe – ouviu-o sussurrar.

Soltando-se dela, lhe entregou a tocha e foi em direção do menino. Com movimentos rápidos e eficientes desfez o nó da corda que amarrava as mãozinhas dele. Repetiu o processo com os pés e depois passou para as gêmeas.

Assim que as soltou, se virou para a jornalista, que olhava tudo com um pouco de alivio, e lhe estendeu a mão.

— Temos uma confissão a fazer.

(...)

Os dias que se passaram a partir disso foram muito agitados. Sasuke se entregou a polícia. As crianças voltaram para seus pais sem nenhuma marca de agressão. Sakura pediu demissão do jornal, passou a cuidar do antiquário enquanto Sasuke estiver preso, e o visita todo fim de semana no presídio que ele está, na cidade vizinha.

Apesar de toda a turbulência, e da dor de seu passado, os dois se permitiram um novo amor, pois o vento às vezes tira de nós algo que amamos, mas também nos trazem algo para aprendermos. Por isso não se deve chorar pelo que foi, e sim aprender a amar o que nos foi dado.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Sejam sinceros! rsrs