“Há algum tempo atrás

O meu coração começou a doer por dentro

Enquanto eu via tudo acontecer de lado

Há algum tempo atrás

Eu comecei a odiar o homem que te faz chorar

Talvez fosse melhor estar eu ao teu lado

Ser aquele que te abraçaria e te amaria”

Já perdi a conta do número de vezes que isto aconteceu. É incrível como este cenário se repete e se volta a repetir. Mas será que isto nunca muda?

Nem precisei de olhar para o ecrã do telemóvel para saber que eras tu que me estavas a ligar àquela hora da madrugada. Eram quatro da manhã, por amor de Deus. O que te faz pensar que eu vou atender?

Pois fica sabendo que se fosses outra pessoa eu tinha atirado o telemóvel à parede. Mas eras tu… e sendo tu... bem, és tu.

E eu sei. Sei que estás num banco de jardim qualquer a chorar. O que é que o teu namorado disse desta vez? Aposto que não foi nada assim de tão grave. Sempre choraste por tudo e por nada. Caramba, és tão sensível. Não será altura de começares a controlar isso?

Sempre te disse que não tens jeitinho nenhum no que toca a escolher homens. As tuas relações duravam sempre menos de uma semana. O teu recorde foi duas semanas. Como é que essa relação de três anos foi acontecer? Tens de me lembrar, porque eu não me lembro de quando é que começaste a namorar a sério. És tão criança.

Para não falar que foges sempre que algo não está bem. Quantas vezes é que fugiste da casa que partilhas com ele? Admira-me que ele ainda te venha procurar. Sinceramente, tens de crescer, garota.

Eu não vou estar sempre disponível para te ir buscar a um sítio distante sempre que tens uma discussão com ele. Se queres saber, obrigaste-me a gastar as últimas gotas de gasolina que tinha no depósito – precisava delas para ir para a universidade amanhã.

Não te preocupes, não desgosto de ti por isso. Sempre foste egoísta, um pouco egocêntrica até – vives para ti mesma, faz parte do teu charme. Um tique de princesa que utilizas com esse teu narizinho empinado.

E não me pediste autorização para te deitares na minha cama desfeita como se fosse a tua. Roubas-te a minha última cerveja do frigorífico sem remorso nenhum. E agora o que vou beber quando ele te vier buscar? Esquece, podes beber à vontade, eu vou precisar de uma coisa muito mais forte de qualquer das formas.

Os teus olhos inchados e o teu nariz vermelho fazem-te feia. As tuas lágrimas babam-te a cara toda e pareces um bebé a fazer uma birra. Onde está a classe de princesa que tinham ainda ontem quando nos encontramos e ele te estava a levar a passear? Pergunto-me se ele já te viu assim, com o vestido engelhado e a beber uma cerveja como quem bebé água – fica sabendo que é uma coisa muito feia de se ver.

“Estou ao teu lado há muito tempo

Ao teu lado sem dizer uma palavra

A esconder a dor do meu coração”

E mal me sento ao pé de ti começas a falar em todas as coisas cruéis que ele te disse – que na minha opinião de cruel não tem nada. Lá estás tu a exagerar outra vez. E sabes, perguntares como é que eu estou era educado e ficava bem. Mas não faz mal. É assim desde que te conheço.

Por vezes devias olhar para mim enquanto falas. Talvez percebesses que eu não estou a apreciar a conversa. Se queres mesmo saber, dói como o caraças ouvir-te falar dele. Mas tu nunca vais olhar para ninguém enquanto falas dele, pensas que eu não sei que enquanto falas os teus olhos o vêm? Diz lá se não é como se ele estivesse mesmo à tua frente?

“Eu penso,

Tento esconder cá dentro

Tenho tanto medo de te perder”

Devia mandar-te embora. És uma mulher horrível. E eu queria mesmo beber a última cerveja. Os teus suspiros cansam-me. Estás me a destruir por dentro. Que será que ele viu em ti? Não tens nenhum ponto positivo na tua personalidade. És desprezível, sabes disso não sabes? Se fosses uma personagem num filme serias a rapariga odiosa que toda a boa gente odeia.

A maior parte das pessoas que consideras amigos têm medo de falar contigo. Tens de entender, as tuas mudanças humor são explosivas e magoam muita gente. És instável.

Alguém instável não consegue ter uma relação. Provaste-o durante sete anos – lembraste que há dez anos atrás as tuas relações não duravam mais que uma semana?

Talvez se me tivesses avisado que conseguias manter uma relação séria eu me tivesse declarado a ti. Levar-te-ia para um sítio onde estivéssemos só os dois – o que costumava a acontecer com frequência, antes do outro aparecer – talvez te levasse a um castelo (sei como gostas de te sentir uma princesa) e te encostasse a uma parede e te beijasse. Quem sabe… quem sabe o que poderia dar?

Acho que nunca vamos saber. Eu nunca te encostei contra a parede quando tive a oportunidade. E tão cedo ela não vai aparecer. Já lá vão três anos que eu espero por uma oportunidade, arrependido por não te ter levado a um castelo mais cedo.

E nem penso em encostar-te à parede agora. Tenho a certeza que me ias bater. Que dizer, olha para os teus olhos… a maneira como eles brilham quando falas dele.

“Seguras a minha mãe e dizes que não há ninguém como eu

Que ter um amigo como eu é uma bênção

Todas as vezes que quiseste ficar como amigos assim

Eu tive que suprimir o meu amor”

Devias parar com isso. Não me chames de amigo. Sinto uma facada no peito cada vez que me chamas esse adjectivo cortante. Não te rias para mim assim. Não olhes para mim enquanto estás a pensar nele. Sabes muito bem que me custa estar aqui contigo. Não sejas bonita enquanto fores de outro. Sê feia. Sê muito feia. Alivia a minha situação. Tem pena de mim. Não sorrias assim – era assim que sorrias há dez anos atrás.

“Amigos, como amigos ficam

E se não te consegui dizer o que sentia

Foi com medo de te perder

Mas houve agora esta canção

Pois irá dizer-te a confissão de um amigo”

Não atendas o telemóvel. Não deixes que ele te venha buscar. Amanhã eu levo-te lá. Não sejas egoísta ao ponto de o obrigar a conduzir a esta hora da madrugada. Fica. Retiro tudo o que disse. És linda. És a rapariga mais bonita que eu já vi. Mesmo quando ficas feia és linda. E eu gosto do teu egoísmo. Sê egoísta só comigo. E as tuas explosões de humor fazem-te fofa. O teu narizinho empinado e a tua aura de princesa fazem-te tão atraente. Então não vás. Fica.

“Eu amo-te”

Corres para a rua assim que ouves alguém bater à porta. Sabes que ele que te veio buscar. Ele nunca te deixaria ficar fora de casa, pois não? Ele preocupa-se contigo. Ele olha para ti da mesma maneira que tu olhas para ele. Que lamechas. Que coisa mais parva.

Fecho a porta enquanto dizes as palavras rápidas de agradecimento – e nem te apercebes que eu já não te estou a ouvir. Uma cerveja agora não seria má ideia, mas tu bebeste a minha última. Sua presumida irritante. Mas como sabes: não faz mal. Dentro do armário que tu não abriste eu guardo várias garrafas que fazem o mesmo efeito da cerveja – e vê lá, atuam no meu cérebro bem mais depressa.

Talvez eu não fosse bom o suficiente. Os teus padrões são bem elevados, eu sei. Tu queres um príncipe. Um príncipe educado que te faça viver como a princesa egoísta e presumida que és.

Dói tanto, garota. Dói tanto.

Eu ter-te-ia dado tudo o que quisesses.

Eu amo-te, garota. Eu amo-te, princesa.

E tu nuca hás de saber o quanto.