Klaus está sendo o mais perfeito cavalheiro. Sempre que pode, está ao meu lado, caminha comigo e sorri sempre. Achei que fosse brincadeira quando ele falou tudo aquilo no refeitório, mas percebi que estava enganada quando ele segurou a minha mão, quando estávamos caminhando e conversando pelo corredor.

– Começa hoje. Meus trinta dias – diz.

Solto minha mão. Ele adquire um ar divertido.

– Desculpe, mas você vai ter que me aturar. Durante este mês, vou tentar surpreender você. Depois de trinta dias, você pode me xingar e me mandar sumir. Mas antes, não – determina.

Suspiro, fingindo exasperação.

– Eu tenho escolha?

Ele sorri e balança a cabeça.

– Tá vendo? Adoro isso em você, esse seu jeito. E não, você não tem escolha.

Reviro os olhos. Ele pode estar jogando comigo.

– Por que está fazendo isso? – pergunto.

– Eu já disse. Porque estou apaixonado por você.

– Desculpe-me se não consigo acreditar. – Baixo o rosto, envergonhada demais para encará-lo.

Klaus para na minha frente, obrigando-me a olhar para ele.

– Eu tentei. Juro que tentei evitar isso. Ficava me perguntando o que estava acontecendo, como eu me sentia tão atraído por uma garota que mal conheço. Mas eu te observava e parecia que cada gesto seu me é familiar. O que é bem contraditório, já que você é um mistério para mim. E eu quero conhecer você, desvendar você, saber sobre a mulher maravilhosa que você tenta esconder.

Já falei que cada palavra dele me quebra por dentro?

Um mês? Para quê tanto?! Não duvido que eu já esteja apaixonada por ele.

Lina, você enlouqueceu?!, grito para mim mesma mentalmente. E se ele só estiver se divertindo, brincando comigo? Sei muito bem do que aconteceu da última vez. No final, o pior sempre sobra para mim.

Klaus toca meu braço, estudando meu rosto.

– Lina, eu não serei como ele. Eu não sou ele.

Arregalo os olhos. Como ele sabe? Como ele poderia saber?!

– Não sou como ele, Lina.

Ainda estou em choque. Klaus acaricia meu rosto e se aproxima de mim, dizendo mais uma vez:

– Não sou como ele. – E então ele me beija e vai para a sala.

Certo, não sei se fico feliz, normal ou entro em desespero. Não faço ideia do que Klaus entende como “começar hoje”. Será que pensa que é um namoro? Afinal, ele já me beijou duas vezes.

Ok, fiquei feliz com isso.

E o beijo dele... A pressão da boca dele na minha é tão maravilhosa que me fez desejar mais e mais. E olha que nem foi um beijo de verdade!

Respiro fundo. Nada pode acontecer durante esses trinta dias. E se eu, de fato, me apaixonar, não poderei nunca demonstrá-lo. Não quero me envolver. Se eu me apaixonar, não poderei expor a ele todos os meus motivos para...

Entro na classe. É uma das poucas aulas em que Klaus não pertence à minha turma. Sento-me e ajeito a minha bolsa no meu colo. É quando noto um pequeno papel no chão. Pego-o e leio:

“Na primeira vez em que te vi, seus olhos me exerceram um fascínio de uma forma inexplicável. Por trás de todos esses mistérios, existirá algum que acoberte uma bruxa? Porque feitiço é a única coisa que explica a forma como seu olhar me prendeu a você.”

Eu ri, relendo o papel diversas vezes. Mas como ele conseguiu colocá-lo ali, sem que eu visse?!

Aquele foi o primeiro bilhete de muitos que recebi, somente naquele dia.

“Quero muito tentar apagar essas marcas ruins com coisas boas. Você deixa?”

“Durante todo esse tempo, teve horas que bateu um desespero ao pensar que iria demorar até que você me permitisse me aproximar de você.”

“Perguntei-me diversas vezes, durante esse tempo, quando afinal eu iria me apaixonar. Uma voz no meu cérebro disse: ‘e se já aconteceu e você não percebeu?”

“Ontem, estava deitado. De repente, acordei. Sonhei que você estava me fazendo cafuné porque eu estava doente. Parecia real.”

“Penso em você a todo instante. Penso no momento de te ver, te abraçar, te beijar de verdade... Meu coração estremece quando você sorri para mim.”