Crossbreed escrita por LGustavo, maralice-chan


Capítulo 1
Dark, o orfão


Notas iniciais do capítulo

Dark finalmente conseguiu sair do orfanato que sempre odiou. agora tudo o que ele quer é ir embora de Fairfaxville do condado de Campbell e encontrar um lugar diferente para viver. Mas para isso ele precisa juntar dinheiro. Mas como fazer isso se ele sente fome 24 horas por dia e a comida não é barata?



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Capítulo Um

I

– Adeus, Dark! – Gritou uma garota. O rapaz magro e pálido de olhos azul acinzentados e cabelos flamejantes sequer olhou para trás. Apenas lançou um aceno por cima dos ombros.

Dark O’Sullivan estava feliz por ir embora dali e deixar todo seu passado para trás. Ele odiava o orfanato onde cresceu. Como muitos dali, Dark havia sido deixado na porta do orfanato quando ainda era um recém-nascido. Ele havia crescido sem saber nada sobre sua origem, apenas o nome que foi deixado junto a ele no dia que foi entregue: Dark. Quem no mundo daria um nome desses para uma criança? O sobrenome “O’Sullivan” foi dado pela freira que o encontrara.

Dark viveu a vida toda se sentindo um excluído. Não era igual aos outros garotos. Ele era mai forte e mais rápido que qualquer menino de sua idade, muitas vezes, até mesmo superava os adultos. Suas capacidades auditivas e olfativas eram incríveis. Apenas essas estranhas habilidades já faziam com que os outros lhe olhassem torto. Para piorar ainda mais, Dark tinha fome. Garotos de sua idade sendo criados quase a pão e água num orfanato pobre geralmente eram famintos, mas Dark era o mais faminto de todos. Parecia não ser capaz de pensar em nada a não ser comida. Várias vezes havia sido encontrado assaltando a cozinha ou então fugira para descolar comida na cidade. Em todas as vezes que fora apanhando roubando comida, havia sido castigado severamente. Mas isso não o impediu de continuar tentando complementar sua alimentação roubando pedaços de carne do açougue da cidade, ou pão da padaria, às vezes um doce da confeitaria... Não que Dark não se importasse com as punições ou achasse certo roubar. O problema era que Dark tinha realmente muita fome. Tudo o que comia parecia não satisfazê-lo. Era como se existisse um buraco sem fim em seu estômago.

Agora Dark estava indo embora, para o alívio das freiras do Orfanato de Sta. Mary. Agora elas poderiam alimentar corretamente as outras crianças, já que o Come-Tudo-Dark estava indo embora.

Dark suspirou ao pegar a estradinha de terra que levava ao terminal de ônibus da pequena Fairfaxville no condado de Campbell. De lá ele pretendia ir para alguma grande cidade, começar a vida longe dali.

– Duzentos dólares. – Disse a moça do guichê.

Dark tirou algumas notas emboladas do bolso e contou. Só tinha 175 dólares. A moça percebeu antes que ele dissesse.

– Sem dinheiro, sem passagem. – Ela sorriu com desdém. – Parece que você vai ficar por aqui, baby...

– É o que parece. – Dark guardou de volta as notas e se afastou amaldiçoando-se por ter comido aquelas três pizzas, mais o sanduíche de picanha e o milk-shake de morango.

Ao completar dezoito anos, a direção do orfanato dava a cada jovem uma certa quantia em dinheiro para ele começar a vida. Isso era o que diziam. De verdade, cada jovem trabalhava duro ali para juntar dinheiro para quando saísse. Dark trabalhou mais de cinco anos como pedreiro, carpinteiro e o que mais fosse preciso pra juntar a grana necessária para dar adeus ao Condado de Campbell e à Virginia. De todos os jovens que completaram dezoito anos naquele ano, Dark foi o que trabalhara mais, todavia foi o que recebeu menos. De seu pagamento, ou ajuda na instituição, como a madre superiora gostava de chamar, foram descontados as varias comidas que ele roubou na cozinha e na vila, fora o que ele quebrara com sua força descomunal e sua falta de jeito. No fim, Dark saiu do orfanato com apenas duzentos e vinte dólares e gastara exatamente quarenta e cinco dólares na única lanchonete da vila. Agora estava preso ali.

Mas não pudera se conter. Toda a sua vida comera coisas como macarrão insosso, hot dog sem salsicha, pão seco com geléia aguada e coisas assim. Quando ia escondido para a cidade e conseguia roubar algo diferente para comer, acabava tendo que engolir tudo muito rápido para não ser apanhado. Desse modo ele nem mesmo sentia o gosto do que comia, muito menos a fome passava.

Quando passou em frente à lanchonete que já assaltara uma ou duas vezes, Dark não resistiu e entrou ali. Finalmente podia comer o que quisesse sem pressa e, melhor ainda, podia pagar pela comida. Foi bom para o seu ego, mas não fez muita diferença para o seu estômago. Ele continuava com fome. Se não fosse sua grande vontade de sair de Campbell, ele teria gastado o dinheiro todo ali. Mas agora estava preso de todo jeito.

Dark voltou para a cidade de cabeça baixa e ombros caídos. Como precisava inteirar os duzentos dólares para comprar a passagem, decidiu procurar um emprego, mas ninguém na cidade queria empregá-lo. Todos fechavam a cara ao vê-lo e o mandavam sair antes mesmo que ele abrisse a boca. Estava pensando em procurar um lugar para passar a noite quando viu na vitrine da padaria uma placa que informava que o padeiro precisava de um assistente. Dark sorriu. Sempre fora bom para comer, quem sabe também não seria bom para fazer comida?

Ele entrou na padaria, mas descobriu que o balcão estava vazio. Ele ouvia os passos desajeitados do padeiro na cozinha e sentia o cheirinho do pão assando. Isso fez sua fome aumentar. Resistindo magistralmente a sua fome, Dark apertou a campainha sobre o balcão. O padeiro saiu apressado da cozinha.

– Sim? – disse um homem gordo com bochechas rechonchudas e rosadas. – Deseja alguma coisa...? – o padeiro começou a perguntar, mas logo o reconheceu. – Ah! É você. – ele fechou a cara. – O que veio roubar hoje?

– Nada. – disse Dark. – Eu vim pelo emprego.

– Você...? Trabalhando aqui?! – O homem bufou e colocou as mãos na cintura. – Olha aqui, seu ladrãozinho esfomeado...

– Voltei, papai! – uma voz melodiosa interrompeu a bronca do padeiro. Logo suas feições se abriram e ele sorriu docemente.

– Já voltou, Giovanna?

– A aula acabou mais cedo. – A menina disse antes de parar no meio da padaria e olhar de Dark para seu pai. – Você não é aquele garoto do orfanato? – ela perguntou. Dark fechou a cara. Da última vez que tentara roubar pães dali, a menina batera em sua cabeça com uma vassoura. – Você veio roubar mais alguma coisa?

– Por que todo mundo acha que eu vim para roubar?! – ele ficou bravo. – Tudo o que eu peguei o orfanato pagou, não foi?

– É, mas... – ela começou a dizer.

– É, mas agora eu não estou mais no orfanato. – Dark disse. – Eu tenho dezoito anos e estou procurando um emprego para não ter que roubar. Só que ninguém quer me empregar...

– Você quer trabalhar aqui como padeiro? – ela colocou a mão sob o queixo e olhou como se o estivesse estudando. – Tudo bem, mas o trabalho começa às cinco.

– O quê?! – Dark e o padeiro perguntaram espantados.

– Minha banbina, você não está falando sério, está? – O padeiro perguntou.

– Papai, precisamos de um assistente urgentemente. – Giovanna olhou para o pai. – Agora que eu estou estudando firme para ir para uma universidade, não posso mais ficar ajudando aqui e o Enrico não quer nem saber da padaria.

– Eu sei, amorzinho... – o padeiro disse ternamente. – Mas por que justamente ele? – ele apontou para Dark.

– É. Por que eu? – Dark perguntou.

– Por que o orfanato não pagou por tudo o que você roubou. – Giovanna disse colocando as mãos na cintura numa imitação perfeita do pai. – Trabalhando aqui, o papai poderá descontar do seu pagamento todos os pães, bolos e biscoitos que você comeu.

– Então eu vou trabalhar de graça?! – Dark perguntou horrorizado.

– Não exatamente. – Giovanna cruzou os braços. – Nós iremos descontar do seu salário trinta por cento de suas dívidas todo mês. O restante você pode gastar como quiser...

– Eu posso gastar todo o resto com comida? – Dark perguntou feliz.

– Se é o que você quer... – a menina olhou surpresa para ele. O padeiro suspirou profundamente. Se a filha queria assim. – Certo, você pode começar agora mesmo. – Giovanna disse apanhando uma touca e um avental atrás do balcão e atirando-os para Dark. – Papai tem muito trabalho na cozinha e eu tenho muito o que estudar se quero aumentar minha média na escola em cinco pontos...

Tanto Dark quanto o padeiro ficaram surpresos com essa atitude de Giovanna, mas não protestaram. Dark largou suas coisas num canto, dobrou as mangas e começou a trabalhar. No fim do dia, ele estava exausto. O padeiro, o Sr. Marvollo, não lhe fez nenhum elogio, mas o fato de não tê-lo xingado por nada era sinal de que tudo estava bem.

– Certo, Dark. – – Disse Marvollo. – Esteja aqui amanhã ás cinco.

– Sim, senhor! – Dark bateu continência. O padeiro bufou de impaciência e cruzou os braços sobre a enorme barriga.

Dark apanhou sua mochila com cinco trocas de roupa, mas roupa de baixo e um velho casaco de brim e se afastou. Ao vê-lo parado na rua olhando para os lados como se não soubesse para onde ir, o padeiro se aproximou de Dark.

– Ei, Dark! – o padeiro chamou. O rapaz olhou para trás. – Você tem onde passar a noite?

– Bem... – Dark coçou a nuca. Sentia-se sem jeito por confessar que não tinha onde dormir.

– Venha! – o padeiro chamou. – Meu filho Enrico tem muito espaço no quarto dele. Acho que você pode dormir uma ou duas noites aqui.

Comovido e sem saber direito como agradecer, Dark seguiu o padeiro até a parte superior da padaria onde o padeiro e seus filhos moravam. Marvollo bateu na porta de um quarto e entrou sem esperar convite.

Havia um rapaz deitado na única cama dali. Ele tinha os cabelos negros e encaracolados como o pai, mas a pele era cor de chocolate assim como a irmã. Quando Dark e Marvollo entraram, Enrico mal levantou a vista da revista que lia.

– Enrico, esse é Dark. – Marvollo apresentou. – Dark, esse é o meu filho preguiçoso, Enrico.

– Prazer. – Dark disse estendendo a mão. Enrico colocou a revista de lado e se sentou na cama, mas não pegou a mão de Dark.

– Eu conheço você. – Enrico disse o olhando com desdém. – Você é aquele ladrãozinho do orfanato...

– Argh! – Dark trincou os dentes e fechou a mão com força para não se permitir dar um soco no rapaz.

– Enrico! – o pai ralhou. – Dark vai ficar aqui com você. – informou. – Não quero que você o ofenda de forma alguma, está entendendo?

Enrico deu de ombros e voltou a se deitar para ler a revista.

– Dark, eu vou colocar um colchão aqui para você. – o padeiro disse num tom confortador que surpreendeu Dark. – Não se importe com esse meu filho. Ele só fala o que não deve. Te acordarei amanhã às quatro, certo?

Ao dizer isso o padeiro saiu e fechou a porta. Dark ficou parado olhando para Enrique. Conviver com aquele cara não seria muito diferente de conviver com os outros garotos do orfanato.

II

Três meses depois de começar a trabalhar na padaria, Dark já se adaptara ao lugar e ao jeito do padeiro, de Giovanna e até mesmo de Enrico. A princípio, Dark só queria juntar dinheiro para sair dali, mas ao começar a trabalhar, Dark pensou melhor e resolveu que seria mais sensato chegar ao seu novo destino com algum dinheiro no bolso. Então ele decidiu juntar dinheiro. O problema era que com a estádia na casa do padeiro, os descontos sobre seu pagamento aumentaram e para piorar ele não parava de comer e tudo era abatido do seu salário. Sendo assim, era meio difícil juntar dinheiro.

– Dark, o jantar está pronto! – Dark ouvira Giovanna chamar.

– Jantar! – Dark pulou do colchão em que dormia e já ia correr para porta quando ouviu Enrico bufar.

– Será possível que você só pense em comida? – Enrico perguntou cruzando os braços.

– Eu penso em outras coisas também. – Dark disse sem jeito.

– O que, por exemplo?

– Sobremesa. – Dark disse feliz.

– Mas isso é comida também. – Enrico disse carrancudo.

– Sério? – Dark levou um dedo aos lábios e fez cara de quem pensa. – Milk-shake, então...

– Isso... – Enrico ficou pensativo.

– É líquido. – Dark disse sorridente já saindo quarto. – Então não é comida.

– Não tenho tanta certeza... – Enrico murmurou indo atrás dele.

Quando chegaram à pequena sala de jantar, Dark se encantou. Havia frango assado, purê de batata, salada de alface e pão. Ele quase gritou de felicidade ao ver a comida ali quentinha esperando-o para comê-la.

– Ah, eu estou apaixonado! – Dark disse colocando a mão no peito.

– O quê? – Giovanna corou.

– Nunca vi um frango assado mais lindo! – Dark disse apontando para a comida. – Veja essa pele dourada e crocante... E esse cheirinho... Estou morrendo de amor.

– Você está morrendo é de fome! – Enrico disse empurrando Dark para o lado.

– Como sempre... – Marvollo completou. – Agora vamos comer. E Dark...

– Sim? – Dark, que já havia se sentado e estava com o garfo e a faca erguidos no ar em posição de ataque, olhou para o padeiro.

– Deixe a gente se servir primeiro ou não vai sobrar nada...

– Certo, mas a coxa é minha... – Dark disse olhando fixamente para o frango. – ...e a asa, e o peito, e o sobre...

– O que vai sobrar para a gente, então...? – Enrico perguntou.

– Vocês podem comer a salada. – Dark disse simplesmente.

– O quê?! – O padeiro perguntou aterrorizado. – Você quer que a gente coma só a salada?

Do lado de fora, no meio da rua, um homem observava a casa do padeiro e escutava com atenção a conversa da família. Ele era extremamente pálido, os cabelos eram negros, compridos e lisos. Seus olhos azuis acinzentados brilhavam no escuro. O homem tinha debaixo do braço uma pasta onde se lia Orfanato de St. Mary. Ele a abriu e leu o documento que estava ali. No cabeçalho estava escrito “Dark O’Sullivan”. Havia uma foto de Dark. O homem sorriu de lado.

III

– Aí! Que fome! – Dark reclamou ao se deitar no colchão ao lado da cama de Enrique.

– Fome? – Enrico bufou. – Você comeu praticamente a comida toda e ainda está com fome?

– Será que ainda tem aqueles biscoitos na cozinha?

– Para onde vai toda essa comida? Você é mais magro que um cabo de vassoura...

Dark já ia responder quando sentiu o cheiro. Aquele cheiro. Não era um cheiro comum. Não era como o cheiro das outras pessoas. As pessoas cheiravam a muitas coisas, principalmente a suor e perfume. Mas o cheiro que Dark sentia era diferente. Era cheiro de sangue. Junto com o cheiro vinham os passos. Passos mais leves que o vento e que Dark tinha certeza de que somente ele podia ouvir. Estava se concentrando nos passos quando ouviu o som de um corpo rasgando o vento.

– Boa noite, Dark! – uma voz fria disse.

Dark se ergueu do colchão e viu um homem em pé no parapeito da janela aberta. Enrico olhou para a figura e ficou quase tão branco quanto ela. O estranho homem sorriu e Dark teve certeza de que viu presas. Presas?

– Vampiro... – Dark sussurrou enquanto seu coração batia aceleradamente. Havia um vampiro na janela de seu quarto. Um vampiro.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, Dark se ver numa terrível situação e as vidas daqueles que o acolheram dependerá de sua decisão.