Ben o observa até sua imagem sumir por entre os corredores.

– O que deu em você? – ele indaga ainda confuso – Me diz que você não fez isso para atingir a Sofia?

Anita fitou o ex-namorado sentindo um misto de vergonha e tristeza. Sabia que havia passado dos limites, mas não conseguiria ficar imune a tudo para sempre. Sua raiva em ver Ben e Sofia juntos há havia feito fazer algo que ela nunca teria feito antes... Provocar a irmã. E agora o olhar de reprovação do “seu príncipe” doida mais que qualquer outra.

–Porque você não para de fingir que se importa comigo e vai atrás da Sofia hein? – ela questionou irritada, pouco se importando em ser educada. Ben revirou os olhos, parecendo cansado. Seu dia estava sendo bem difícil.

– Porque o cara que você estava paquerando até agora foi atrás dela – Ben respondeu alterando o tom de voz – E eu... Eu me importo com você Anita – e isso era verdade. Ele gostava de como ela parecia sempre ter a solução certa para seus problemas, de como suas palavras o confortavam e o aqueciam como o sol. Gostava do seu caráter, da sua personalidade, de como pensavam de maneiras parecidas e queriam coisas boas para sua vida, mas agora de alguma maneira ele sabia que faltava algo. Suspirou profundamente, tentando não pensar nisso agora e seus olhos fitaram os olhos castanhos de Anita - E ai, vai me falar o que aconteceu para você agir desse jeito?

– Isso não é meio óbvio? – ela balbuciou confusa, se sentindo pressionada – A Sofia mereceu, por tudo que ela fez príncipe.

– Não – Ben meneou a cabeça negativamente – Eu sei que a Sofia não é nenhuma santa, mas, ela não fez nada sozinha Anita, você não tem o direito de descontar só nela, e ainda de um jeito tão baixo. Você tá sendo infantil agindo desse jeito Anita... Não tá nem parecendo você, eu estou decepcionado com você!

– Mas do que eu estou decepcionada por descobrir que minha irmã e meu namorado estavam me traindo por aí?

– Eu não estava te traindo por aí – Ben discursa ofendido – Você sabe que eu sempre te respeitei muito Anita, e você não sabe o quanto me arrependo daquilo, mas, foi só um beijo!

– Não, não foi só um beijo, foi tudo e... – ela hesitou, com os olhos marejados -Você me deixou assim Bem, o que você e a Sofia fizeram... Vocês quebraram algo lindo dentro de mim, que eu sinto que nunca vai ser restaurado.

– Eu sinto muito Anita – Ben falou sentindo um aperto no peito ao ver a ex-namorada daquele jeito – Por tudo, eu não queria que as coisas fossem daquele jeito, eu – ele se aproximou e tocou no rosto da garota aonde tinha uma lágrima – Eu queria poder consertar tudo, eu queria poder tirar essa dor de você, que você conseguisse me perdoar.

– Você não sabe o quanto tá difícil príncipe – ela disse numa voz chorosa – Ficar sem você – seus lábios se aproximaram perigosamente dos de Ben. Ele sente a respiração da Anita em seu rosto, e sabia que essa era a oportunidade perfeita de voltar com a princesa plebeia, a doce garota que parecia entender ele tão bem... mas algo dentro dele impulsiona seu rosto para o outro lado. Ele se afasta, confuso.

– Ben, a Vera tá chamando vocês dois para irem lá ver o Pedro – Giovana fala observando as próprias unhas, até seus olhos encontrarem os dos irmãos – Gente, o que aconteceu aqui, vocês estão com uma cara péssima.

– Não aconteceu nada Gio – Anita disse com a voz levemente magoada e levantou, pegando o cartão de visita da irmã – Você não vem Ben?

– Eu vou daqui a pouco, pode ir lá – ele respondeu e Anita seguiu em frente, desaparecendo da visão de Ben em poucos segundos.

– Quanta tensão no ar hein – Giovana comenta sentando no sofá de um jeito despojado. O celular nas mãos – Nem parece que era você e a Anita, vocês sempre se deram tão bem... – vendo que o irmão não respondeu nada, ela continua – Você precisa ver como o Pedro tá bem, sério, eu não sei porque ele ainda precisa ficar aqui, esse lugar é um porre, sério, essas cores mortas, sem falar que não pode fazer barulho. Ben? Ben? Ben? – ela levanta os olhos e não encontra mais o irmão ali – Tá todo mundo ficando maluco nesse lugar – ela revira os olhos, e continua falando com a Clara e o Vitor pelo whatsapp. Queria fazer uma surpresa para o irmão quando ele voltasse para a casa.

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Sofia andava pelos corredores rapidamente sentindo-se confusa e irritada. Ela queria gritar com alguém, fazer algo que pudesse expulsar do seu coração e da sua mente todo medo e angustia que estava sentindo nos últimos dias. A doença do irmão era a ponta do iceberg, mas ainda havia toda a história com a irmã. Ela temia, sem querer admitir, que corria um sério risco de pela segunda vez ser trocada pela doce e perfeita Anita. Havia visto nos olhos de Matheus o mesmo tipo de olhar que um dia viu no idiota do Ben quando ambos estavam falando com a sua irmã mais velha, o que há fez se questionar o que havia afinal de errado com ela?

Odiava o tipinho prestativo da Anita, com aquela coisa toda de ser educada e meiga só por convenção da sociedade, mas, parecia que era isso que os caras gostavam, caramba, Martin, Ben, e agora o Matheus também? Se Anita queria deixar ela com raiva e insegura, ela havia conseguido. E ela odiava essa insegurança, essa sensação de estar na corda-bamba, essa sentimento de estar prestes a perder algo novamente.

Matheus observava Sofia caminhando rapidamente alguns metros a sua frente. Os cabelos loiros balançando de um lado para o outro fugindo de seus olhos, entre um corredor e outro, indicava que ela estava em plena rota de fuga. Ele queria correr, gritar pelo seu nome, mas o bom senso de estar em um hospital falou mais alto. Nunca havia feito coisas muito impulsivas e se orgulhava de ser até um pouco calculista mediante as suas ações e sentimentos, mas desde que reencontrou a loira magrela que o odiava na infância, seus atos estavam cada vez mais impulsivos e passionais e agora ele se arrependia de ter deixado as coisas chegarem no ponto que chegaram, de ter magoado alguém, que era pela primeira vez, uma pessoa importante na sua vida.

Sabia reconhecer que havia passado um pouco dos limites e se perguntava agora, porque não havia falado de uma vez para a melhor amiga de infância que estava ali pela irmã dela? Seu ego havia permitido que ele para atingir Benjamin, em uma disputa territorialista estúpida, “usasse” Anita, que já havia sido uma garota doce e ingênua, mas agora parecia corrompida por uma vingança idiota contra a irmã, quando tudo apontava que o principal culpado da história era o maldito garçom.

– Ei – ele puxa o braço da loira, que estanca e vira para ele, quase que instintivamente. Seus olhos se encontram brevemente. Ela parece abalada, mas em seus olhos levemente marejados há um brilho encolerizado. Sua boca fica seca e ele sente um gosto amargo. O medo real de perder Sofia o deixa nervoso, e ele sorri, em meio a um suspiro fala de um jeito descontraído para disfarçar seu nervosismo – Treinando para a maratona loira?

– É, estou treinando para fugir o mais rápido que posso de idiotas feito você – ela fala sem esconder a irritação – E aparentemente eu estou precisando melhorar.

– Bom, eu tive que dar duro para chegar aqui... Acho que você está no caminho certo – ele continua e sorri, mas vendo que a loira não corresponde, sua feição muda. Adorava o jeito independente e inacessível de Sofia, mas, precisava confessar, isso o deixava bem inseguro. Se fosse qualquer garota as coisas seriam tão mais fáceis... Mas ela definitivamente não era qualquer garota.

– Olha – ele suspira fitando os olhos verdes a sua frente – Eu sei que eu sou um completo idiota, ou qualquer coisa que estiver passando por essa cabecinha agora, eu aceito qualquer tipo de xingamento, porque eu provavelmente devo merecer, mas... A gente precisa conversar, você não acha?

– Eu não tenho nada para falar com você “Teteu” – ela ironizou, fazendo no final uma voz chata e doce, muito parecida com a da Anita. Ele não consegue segurar uma risada, que a deixa mais irritada. Ele para, institivamente, para o seu bem, ele sabia que precisava parar.

– Já disse o quanto você fica linda quando está com ciúmes? – ele toca suavemente o rosto da loira, que se afasta e sente o rosto corar. Sente um alívio percorrer seu corpo ao constatar que a loira estava com ciúmes dele.

– Quem disse que eu tô com ciúmes de você garoto? – ela vira evitando olhar o risonho de Matheus.

– Então o que foi tudo aquilo mais cedo quando eu estava conversando a Anita?

– Não foi nada – ela fala convicta e olha nos olhos do moreno a sua frente – Vê se me erra tá?

– Esse é um pedido que eu não vou cumprir – Matheus discursa sério – Até porque eu não quero.

– Olha Matheus, nós não temos nada sério, tá? Você não precisa me explicar nada – Sofia continua, numa tentativa frustrada de autopreservação. Não queria se enganar novamente e ser desprezada depois por nenhum outro garoto. Não permitiria que isso acontecesse novamente, e talvez, terminar as coisas agora que estavam no começo fosse mais fácil.

– Eu sei que não preciso, mas eu quero – ele responde parecendo levemente perturbado – Você me qualificou para a sua irmã de “seu namorado” e eu não acho que isso não pareça que não temos nada sério.

– Eu, eu – ela balbucia, confusa, interrompendo a fala de Matheus – Foi um lapso, eu estava irritada, não é como se eu quisesse realmente falar aquilo.

– Bom, lapso ou não, eu adorei – um sorriso sonhador se fixou nos lábios do rapaz – E só para deixar bem claro, eu realmente não me importo com nada que sua irmã falou. Se o tonto do Ben preferiu a Anita, quem sou eu pra julgar, sabe, o cara fez a escolha dele. Acho que no fundo ele até deve se arrepender, porque você é incrível Sofia, sabe, assim, do jeito que você é – ele se aproxima e toca em uma mecha de cabelo da loira – Aquilo que eu sentia pela Anita era coisa de criança e nem se compara ao que eu estou sentindo por você agora.

– Não é o que parece! – ela responde ainda na defensiva – No final você vai escolher a princesa, já vi isso antes – ela solta, sendo sincera mas odiando se sentir fraca como estava se sentindo agora.

– Sei que o idiota do Ben já te machucou bastante, mas, eu não sou ele, eu realmente gosto de você Sofia – ele se aproxima e gentilmente beija o pescoço de loira, que não consegue se afastar - Eu não quero que você seja só mais uma garota – ele continua depositando vários beijinhos ao longo do pescoço alvo da garota, se aproximando perigosamente da orelha - Um rolo que não teve futuro... Então – ele hesita por alguns segundos e se afasta um pouco da loira, a olhando nos olhos – Sei que esse não é o melhor momento, mas as coisas não estão muito claras e eu preciso fazer essa pergunta... Sofia, quer namorar comigo?

– Oi? – Sofia fala surpresa e chocada – Namorar com você?

– Acho que você não levou muita fé no meu pedido, então acho que vou ter que me ajoelhar e pedir a sua mão em namoro – ele ironizou, e vendo que a loira revirou os olhos, seu sorriso aumentou.

– Endoidou de vez é Matheus? – ela indaga levemente desconfiada, tentando encontrar nos olhos do garoto a sua frente um pouco de sanidade.

– Talvez... – ele responde misterioso - Você pode acabar com isso logo respondendo “Sim, é tudo que eu mais quero”, ou eu posso me ajoelhar aqui, e vamos passar um pouco de vergonha juntos, e ai, o que você prefere?

– Acho que você não entendeu a parte que eu não sou igual a minha irmã – ela inclina o corpo na direção dele instintivamente, as bocas ficando muito próximas – Eu não me encanto com esse tipo de clichêzinho barato.

– Acho que eu posso aproveitar que a sua mãe e o seu padrasto estão aqui e pedir para namorar com você para eles, e depois me ajoelhar na sua frente e.... – ele flexiona o joelho esquerdo, ignorando a fala da loira.

– Você é definitivamente um ridículo Matheus!

– Estou esperando a resposta!

– Você não vai desistir não é?

– Eu sou bem persistente – ele pisca um dos olhos e sorri – Qual é Sofia, vai admite, eu sou tudo que você quer não é?

– Tô começando a achar que você é perfeito para a Anita mesmo! Quanta tosquice hein garoto – ela interrompe, se contendo para não rir – Antes que você tenha mais alguma ideia mais estúpida, eu – ela titubeia e pensa no garçom psicopata, em como gostaria de ouvir essas palavras saírem da sua boca. Mas isso nunca aconteceria, ela sabia, por mais que soubesse que mexia com Ben e que ele a desejava, sabia que era tolice achar que Ben admitiria namorar com ela algum dia. Ela não era perfeita como a princesa Anita. Um flashback rápido de como seria namorar Matheus passou na sua cabeça, e ela gostou do que viu. Ele era tudo que ela sempre havia idealizado como cara ideal para namorar... Bonito, rico, de boa família, a fazia sorrir, sem falar no beijo que era maravilhoso. Ela sorri incerta e responde – Não acredito que eu vou falar isso, mas, eu quero namorar com você – ela revira os olhos mal acreditando nas palavras que saíram da sua boca. Matheus sorri e puxa Sofia para perto de si, encostando seus lábios nos dá loira e a beijando com furor. Não se importava de estar num corredor em um hospital, queria só que ela soubesse o quanto ele estava apaixonado por ela, e pela primeira vez gostou de fazer algo impulsivo. Era o melhor beijo da sua vida... Tinha gosto de vitória.

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Ben lava seu rosto e observa seu reflexo no espelho do banheiro. Não conseguia entender o porquê de não ter respondido ao beijo, ou o porquê estava admitindo para si mesmo que a menina da echarpe não era tão ruim quanto ele pensava. Achava que quando se encantou por Sofia, no lobby do hotel em Miami, a beleza da loira o havia cegado, mas agora, ele estava conhecendo um outro lado da garota, e estava se surpreendendo. Fechou os olhos e sem querer se lembrou da conversa que havia tido com a loira mais cedo.

– Então você se sentiu no direito de ser meu salvador, meu herói? – a loira retrucou na defensiva, fazendo o moreno revirar os olhos, desgostoso – Um verdadeiro príncipe! – ela riu de modo debochado, fazendo Ben menear lentamente a cabeça em negação.

– Não sei porque eu ainda perco meu tempo tentando ser legal com você Sofia!

– Mas eu sei, e é tão óbvio Benjamin, você ainda se sente atraído por mim.

Lavou seu rosto novamente, cansado, não querendo pensar muito nisso agora. Tinha coisas mais importantes para pensar, como a situação atual do irmão. Queria poder esvaziar todo esse peso excessivo mental que estava na sua cabeça, e queria mais que tudo praticar seu amado parkour, mas sabia que isso não era possível, precisava encarar a realidade. Abriu a porta do banheiro, pronto para ir ver o irmão, mas ficou paralisado ao se deparar com o casal se beijando no corredor. Reconheceu os cabelos loiros, as roupas. Era Sofia. Seu mundo parou.

Continua [...]