Simon
“Ando com uma vontade tão
grande de receber todos os afetos,
todos os carinhos, todas as
atenções. Quero colo, quero beijo,
quero cafuné, abraço apertado,
mensagem na madrugada, quero
flores, quero doces, quero música,
vento, cheiros, quero parar de me
doar e começar a receber. Sabe,
eu acho que não sei fechar ciclos,
colocar pontos finais. Comigo são
sempre vírgulas, aspas,
reticências. Eu vou gostando, eu
vou cuidando, eu vou
desculpando, eu vou superando,
eu vou compreendendo, eu vou
relevando, eu vou… e continuo
indo, assim, desse jeito, sem virar
páginas, sem colocar pontos. E
vou dando muito de mim, e
aceitando o pouquinho que os
outros tem para me dar.”
— Caio Fernando Abreu.

Acabei de ler em voz alta o poema, e não conseguia fazer nada além de deixar que as lágrimas rolassem pelos meus olhos. Não era como se eu pudesse lutar contra elas, então o melhor era deixá-las vencer, ou pelo menos acharem que venceram.

Meus olhos se fecharam lentamente, e assim como ocorreu nos últimos meses, meus pensamentos foram direto para ela. Tudo que eu fazia ultimamente era para ela, era apenas pelo fato de eu querer ela, e isso aos pouco estava acabando comigo. Literalmente.

Seu sorriso, a forma engraçada e totalmente sem jeito dela ao tentar imitar um caipira, a forma que seus lábios se mexiam, suas manias, seus defeitos, suas qualidades, tudo isso fazia falta para mim, até mesmo sentir a respiração dela contra meu rosto me fazia sentir só. Sem ninguém que pudesse me amar, ou me ajudar, e no fim percebi que estava sozinho e sem ela.

— Simon? — ouvi uma voz fininha atrás de mim, e nem precisava virar para saber de quem se tratava.

— Oie Soph — falei, e a vi vindo se sentar ao meu lado na grama, mas precisamente no meu colo.

— Tá fazendo o que aqui? — pergunta abraçando seu ursinho poo, presente meu aliás.

— Apenas pensando e vendo como a vida é injusta — murmurei com o olhar distante. — E você o que está fazendo aqui?

— Ah estava te procurando — fala enquanto se levanta do meu colo e me olha seriamente. — Você nunca mais brincou comigo — acusou com os olhos semi abertos.

— Eu estive sem tempo Soph — argumento tentando acalmar a pequena fera.

— Pensando na Bia né — falou — Eu gostava muito dela, que pena que ela teve que ir embola, só não entendi purque — fala errando em algumas palavras, mas bem poucas. Mesmo ela tendo pouca idade, sempre foi esperta e conseguiu aprender palavras que crianças da idade dela nunca conseguiram.

— Sim é por causa dela

— Porque você não vai atrás dela? — perguntou ingenuamente.

— Eu vou ir Soph, eu vou ir — Disse numa promessa vendo ela me olhar de forma confusa, mas depois apenas deixar pra lá.

— Quer blincar comigo?

— Claro meu amor, e do que você quer brincar? — indago esperando a resposta.

— De ajudar a mamãe a fazer comida, e quero que você ajude também — falou se pondo em pé e esperando que eu faça o mesmo.

— Ok, tudo que você quiser — me rendo enfim me levantando.

— Ebaaaa — ela grita, e logo em seguida pula para meu colo.

Jake

Engraçado como a vida dá voltas. Uma hora você é conhecido como o garanhão da turma, pega todas as meninas, ficam com todas, mais não se prende em nenhuma. E no momento seguinte você está preso, apaixonado e quase se casando. Bem esse sou eu.

Como aquela garota que dizia apaixonada pelo meu melhor amigo, agora se torna a minha noiva? Sinceramente não sei, apenas sei que às vezes o destino dá tantas e tantas voltas, que foi em uma dessas voltas que acabei me apaixonando por ela, mas é claro que nada seria tão perfeito assim, se as coisas não dessem certo. Mas as coisas só acontecem por causa do acaso, e foi ele que fez com que nós sentíssemos novamente tudo aquilo que por infantilidade nossa ou mais minha, deixamos esquecido no passado, só que agora, o nosso passado se tornou nosso presente e consequentemente nosso futuro.

— Filho? — olhei e me deparei com minha mãe.

— Sim mãe ?

— Já está tudo arrumado, espero que vocês tenham uma ótima noite — deseja sorrindo. E o que eu fiz?

— Você é a melhor mãe do mundo — a beijei na bochecha e saí disparado, até porque ainda tinha que ligar para minha pequena, e ir para faculdade.

Pov Desconhecido.

Por que tudo tinha que ser tão difícil? Por que minha consciência não me deixava em paz? Por que não conseguia dormir a noite sem ficar horas e horas lembrando-me do que fiz?

Para muitas pessoas o que fiz seria praticamente nada, e de certa forma não era, mas para mim aquilo era muito. Nunca fui de fazer nada de errado, então por que logo agora eu tinha que ter feito aquilo? Só por causa de uma amiga? Amiga? Meu Deus. Consciência pesada.

Olhei e vi o motivo que me causava tanto angústia nos últimos tempos. Ele conseguia fingir estar bem, fingia, era apenas isso que ele fazia. Mas eu sabia que ele não estava bem, seu sorriso estava apagado, sua voz antes alegre agora se encontrava opaca, seu semblante estava decaído, ele não parecia nada com aquele garoto que eu tanto vi durante todos os anos que nos conhecíamos. E tudo aquilo era culpa minha.Ou parte dela.

Já ouvi muitos dizer que o amor é um dos sentimentos mais forte que existe, mas tem outro igualmente forte, a culpa. Saber que tudo estava acontecendo apenas porque fui ingênua, era demais até mesmo para mim. Ele não merecia aquilo, e nem ela. Por isso decidi, eu ia fazer aquilo, nem que para isso eu tivesse que ir contra algumas coisas.

Levantei-me e fui em direção à minha sala de aula, até porque esse era o ultimo dia de aula na faculdade, e depois férias.

Simon

Cansado. Essa era a única palavra que acho para me descrever nesse momento. Depois de uma tarde na faculdade, enfim chegava à minha casa. Hoje era o último dia de aula para muitos, mas para mim não seria, ou pelo menos não seria se eu não quisesse. Olhei em todos os cômodos, mas não encontrei ninguém, assim subi para o meu quarto, e qual a minha surpresa ao me deparar com ela.

Bem ali sentada na minha cama estava Meg, trajava um vestido roxo que era um palmo acima do joelho, seus cabelos estavam soltos o que a deixava deslumbrante. Ela realmente estava linda, e tinha certeza que sabia para quem era tudo aquilo.

— Pelo jeito você e o Jake vão se divertir hoje à noite — disse sorrindo malicioso e vendo o rosto dela ganhar uma coloração rosada, e apenas aquilo me faz lembrar da Bia. Maldição por que será que ela não saía dos meus pensamentos? Por que era tão difícil tirar ela do meu coração? Será que eu já tinha tentando tirá-la do meu coração?

— Simon? Simon — olhei e percebi que a Meg estava me chamando — Estava com a cabeça no mundo da lua é? — perguntou brincalhona.

— Quem me dera que fosse — respondi meio evasivo.

— Você estava pensando nela não é mesmo? — inquiriu com o cenho franzido.

— Sim — virei o rosto para outra direção, pois não queria que ela visse a dor nos meus olhos.

Margarida

Por que doía tanto vê-lo sofrendo? Por que mesmo amando o Jake eu não suportava ver ele ali, triste e se acabando aos poucos? A resposta era óbvia demais até mesmo para mim. Era porque eu o amava, não da mesma forma que amava o Jake, era diferente, era um amor diferente.

— Sabia que odeio estar falando com alguém e essa pessoa me virar o rosto? — digo de forma brincalhona, mas não acho que tenha surtido qualquer efeito nele. — Simon? — o chamo, mas mesmo assim ele não me olha — Será que dá para olhar para mim? — pergunto tristemente.

— Às vezes a melhor saída é se esconder — se limita em dizer.

— Se esconder nunca é uma saída, apenas um refúgio do real problema — contra ataco sem me deixar abalar.

— O que você quer Meg? Não acha que deveria estar saindo com o Jake? — perguntou me olhando finalmente.

E nos seus olhos vi apenas dor. Era como se não existisse mais nada além da dor.O Simon pelo qual me apaixonei não existia mais, em seu lugar estava uma cópia mal formulada dele. Era uma cópia triste, fria e sem mais aqueles olhos vivos pelo qual eu me via encantada e apaixonada.

— Quero te falar algumas coisas — começo devagar — Sabe às vezes pego me perguntando há quanto tempo nós nos conhecemos? Há anos, não é mesmo? Lembro quando você chegou aqui, você sempre com seu jeito único, e é claro que logo me vi apaixonada. Apaixonada pelo seu jeito doce, seu sorriso, a forma que me tratava, traduzindo me apaixonei, mas você nunca me viu como mulher, ou pelo menos não de inicio. Assim eu preferi ser apenas a sua irmãzinha, e foi nesse meio tempo que me vi apaixonada pelo Jake. Sabe como é confuso você perceber que ama duas pessoas ao mesmo tempo? Não saber qual é a melhor opção pra você? Pois bem isso aconteceu comigo, mas eu escolhi você, pensei que você era o melhor para mim, e por um tempo, mesmo que ele tenha sido pequeno, você realmente foi a melhor opção.

— Meg...

— Não fale, por favor, eu preciso falar, eu necessito disso — implorei — Quando você foi para o Rio de Janeiro, eu estava em dúvida, mas ai você voltou. E então eu precisava saber se eu tinha chance com você, e você me deu bola, e então a gente começou a ter algo, se é que eu possa chamar o que tivemos de algo, mas nós tivemos. Não sei dizer se isso foi algo bom, ou se foi algo necessário ou desnecessário, apenas sei que ocorreu, e me fez bem. Você sabe que eu sempre fui possessiva, e eu nunca disse que não era, quando amo, eu realmente amo, protejo e sempre quero o melhor daquela pessoa, mesmo que para isso eu acabe involuntariamente o machucando. E acho que foi exatamente isso que aconteceu entre nós não é mesmo? Eu te amei demais, te desejei demais e no fim te machuquei — falei soltando tudo de uma vez só, mas eu ainda não tinha acabado

— Eu sempre te amei, amei tanto que não aceitava te dividir com mais ninguém, imagina então dividir o seu amor? E então a Bia apareceu, eu não tive que dividir você, não mesmo. Porque ela te tinha por inteiro, de corpo, alma, mente e coração. Sabe como doeu? Doeu saber que você a amava Simon, a sua própria irmã, eu te amei, amei tanto, e você deu todo o amor que eu queria justo para ela... Sua irmã.

— Ela é minha sobrinha — ele tentou falar.

— E daí? — o questionei — Você a amou Simon, amou uma desconhecida, em vez de me amar, e aquilo acabou comigo, e foi aí que comecei a odiar a Bia. Eu sei, isso era errado, ela não tinha culpa, mas porque, por que não era a mim que você amava? Era isso que me perguntava, de minuto em minuto, hora em hora, dia após dia, mas eu não achava uma resposta, e sabe quando eu consegui achar essa resposta? Apenas quando eu me vi nos braços do Jake, quando senti seus lábios nos meus foi que percebi o motivo de você não me amar Simon, eu percebi que tudo só dá certo quando estamos com a pessoa certa para nós. Você não era a pessoa certa para mim, assim como eu não era a pessoa certa para você — disse lutando contra as lágrimas — Sei que às vezes parece que não quero que você fique com a Bia, e apenas Deus sabe que não é isso. Eu quero muito que isso ocorra, quero que vocês sejam felizes, mas acima de tudo Simon, eu quero que você seja feliz. Nada mais me importa, além da felicidade daqueles que amamos, e eu te amo. Só que apenas agora estou aprendendo a te amar da forma certa, sei que ainda tenho muito para aprender, mas juro tudo que sempre quis foi apenas a sua felicidade, nada mais que isso. — finalizo sorrindo, ou pelo menos tentando, em seguida, juntei o resto de coragem que tinha e atravessei o caminho até a porta.

— Meg? — ouvi Simon me chamar, virei meu rosto em sua direção — Você sabe que eu quero ir atrás da Bia não é mesmo?

— Sim sei, e acho a maior idiotice que você poderia fazer no momento — fui sincera.

— Por que acha isso?

— Porque você simplesmente foi mal nas provas finais e você sabe muito bem, que os professores te deram mais uma chance para que recupere, mas realmente Simon, você acha que ir atrás da Bia agora dará tempo de você voltar e ainda estudar para que não reprove? Você sabe como seu pai vai ficar se você reprovar.

— E o que você quer que eu faça? Que a esqueça?

— Não, apenas que dê tempo ao tempo, e quem sabe as coisas não acontecem por acaso? — comento por fim, em seguida me viro já que não queria me atrasar.

— Meg? — novamente me viro e encontro o Simon me olhando. — Foi você quem escreveu aquela carta? — perguntou me olhando profundamente.

— Quando amamos, fazemos qualquer coisa para podermos ver, nem se for por apenas um minuto a pessoa amada feliz, foi apenas isso que fiz — digo saindo do quarto, assim, não dando chance para que ele pudesse dizer nada e nem me acusar por ter fingindo algo ou até mesmo o magoado. Respirei fundo e tomei mais um pouco de coragem. A noite seria longa.

(...)