Pov. Austin

– Por que a gente tá fazendo isso mesmo ? - Ally perguntou, retorcendo o rosto, enquanto pendurava alguns enfeites e olhava para a árvore mal acabada com desdém.

– Porque é dezembro. Natal, você sabe. - Eu falei, de cima da escada aonde estava pra pôr alguns dos enfeites mais no alto. O melhor,pra mim, era o anjo que ficava no topo. Minha mãe tinha a mania de trocar entre o anjo e a estrela de ano em ano. Esse ano era do anjo.

– Nunca comemorei o Natal. - Ally falou, emburrada. - Não entendo o motivo de todos esses enfeites malucos, de tantos presentes e essas coisas superficiais. Quando era menor, eu ia na igreja que minha mãe frequentava e não era assim que queriam que eu lembrasse do Natal.

– Essa é só uma forma de dizer que comemoramos o nascimento de Jesus, mas não o significado. Acho que ninguém comemora de outro jeito.

– A não ser aqueles que não comemoram - Ally lembrou, balançando um presentinho embalado na mão, uma das decorações, e apontando para ela.

Eu ri, mas acabei quase caindo da escada por culpa do meu pé torto e ela a segurou pra mim.

– Obrigado - agradeci.

– Tudo bem, não seria legal se você quebrasse a perna no Natal - ela brincou. - O que é isso na sua mão ?

– Advinha - sussurrei próximo ao seu rosto antes de erguer o que estava em minha mão acima de nós. - Um visco. Regras são regras, certo ?

– Está mesmo falando sobre regras pra mim ? - Nós dois rimos e ela pôs as mãos no meu ombro. - Tudo bem, vou seguir as regras apenas uma vez.

Eu a beijei. E não pude evitar não sorrir durante o beijo. O Natal esse ano seria bem mais especial. Justamente porque eu tinha alguém que realmente amava pra beijar embaixo do visco. Não podia ser melhor.

– Crianças ? Acho que a árvore ainda não está pronta. - Minha mãe apareceu magicamente na sala falando num tom de reprovação misturado com malícia que era bem engraçado pra ela.

Bom, podia ser mais engraçado, mas depois do que aconteceu da última vez, era mais vergonhoso. Ally corou e sorriu de canto, um pouco desconfortável. A apertei forte na cintura e ela me dirigiu um sorriso melhor, porque sabia que eu estaria com ela em qualquer momento.

No dia depois da festa de Halloween, quando ela dormiu na minha casa, e meu irmão e Gavin bateram na porta logo de manhã, Ally precisou se esconder no banheiro por causa dos dois idiotas. Eu tive que expulsá-los dali, o que foi difícil, porque por algum motivo eles tinham muito a dizer. Eu quase não ouvi nenhuma palavra.

Mas depois que eu finalmente me livrei deles, o pior apareceu.

Quer dizer,nem tanto, mas podia ser. Era a minha mãe. E na verdade ela não nos deu nenhuma bronca nem nada, foi até legal. Mas acho que não era preciso dizer que nós dois tínhamos ficado com vergonha.

Foi uma manhã embaraçosa.

Mas nós sobrevivemos.

– Por que temos que montar isso sozinhos, mesmo ? - Perguntei, me referindo as outras pessoas dessa casa que nem se deram a honra de aparecer por aqui.

– Vocês estão disponíveis. - Ela disse, sorrindo de orelha a orelha. - Aliás, se não estivessem ajudando aqui, estariam fazendo outras coisas quais eu não posso supervisionar.

– Mãe! - Exclamei, envergonhado. A loira apenas riu e nos deu as costas.

– E não esqueçam de ir buscar a Emma no aeroporto! - Ela gritou, já quase no andar de cima.

– Eu adoro a sua mãe. - Ally disse, rindo. - Mas adoro a sua irmã também. A que horas o vôo dela pousa ?

Peguei meu celular e olhei que horas eram. 15:48.

– A uns 15 minutos atrás.

Estávamos atrasados. Nos olhamos por um mísero segundo com os olhos arregalados antes de começarmos a correr para fora da casa em direção ao meu carro.

( ... )

Não foi difícil encontrar Emma. Era uma loira cercada de malas demais para uma pessoa só sentada no saguão olhando fixamente para a tela do celular com as mãos apoiadas em uma almofada rosa.

Ela nos avistou rapidamente, e seus ombros pareceram relaxar com isso.

– Sabe pelo que eu agradeci na Ação de Graças ? - Ela perguntou, quando nos aproximamos, ainda sentada. Olhar venenoso. A expressão meia irritada. - Ter uma família que se preocupa e cuida de mim. Mas sabe uma coisa que eu realmente queria ? Um irmão que não me esquecesse! - Emma me tacou a almofada na qual estava apoiada. Com uma mira perfeita no meu rosto. Nossa, como eu tinha sentido falta da minha irmã. Ela geralmente demonstrava seu amor jogando alguma coisa na minha cara mesmo.

– Oi pra você também. - Eu disse, mas ela me ignorou totalmente e logo foi abraçar Ally. Revirei os olhos.

– Na última vez que vim pra cá, eu estava realmente apoiando vocês juntos. - Ela sorriu gentilmente para Ally. - Mas agora, eu só lamento por você, querida. - Se ela me olhasse agora, estaria com os olhos do demônio mais uma vez.

– Senti falta do seu senso de humor, maninha.

– Não estou falando com você.

– Acabou de falar.

Ela grunhiu, mas não se virou pra mim.

– Vocês não vão passar o caminho de volta todo brigando, né ? - Ally perguntou, retorcendo o nariz numa careta engraçada.

– Sim. - Eu disse.

– Não. - Emma disse ao mesmo tempo.

– Pense como uma vingança por todas as vezes que dei carona pra você e sua irmã. - Eu disse a Ally, a provocando. A mesma semicerrou os olhos e Emma começou a gargalhar feito uma louca.

– Vocês são mesmo perfeitos! - Ela exclamou, balançando as mãos de uma forma ridícula mas animada.

Ally geralmente corava nesses momentos. Mais uma vez, era o que estava acontecendo. Estávamos juntos a poucos meses mas na minha cabeça, parecia muito mais tempo.

– E quanto ao seu namorado ? - Ally perguntou. Acho que eu já tinha comentado algumas vezes sobre o cara britânico cujo Emma estava namorando sem nosso pai saber. Era engraçado.

Mas não parecia agora, já que o rosto de Emma ficou sério, mas ela ainda mantinha aquele olhar divertido.

– Ele foi preso.

– O que ? - Perguntei, um pouco alto demais. - Quando você disse que ele não era do tipo que o pai gostava não imaginei que fosse um criminoso.

– Ele não é um criminoso. Essas coisas podem acontecer com todo mundo. - Ela falou, completamente inocente.

– Ah,claro, todo mundo pode ser preso sem nenhum motivo.– Ironizei.

Ally riu.

– Por que a gente simplesmente não sai desse aeroporto logo ? - Emma falou, obviamente querendo se livrar do assunto. Ela pegou algumas das suas malas e saiu andando na frente, talvez brava ou chateada.

Ally e eu nos olhamos rapidamente, mas só pegamos as coisas da Emma em silêncio e a seguimos. Talvez o amor não fosse complicado apenas pra gente.

( ... )

Eu realmente tentei conversar com a Emma sobre o mesmo assunto do aeroporto. Mas ela não estava facilitando muito. Quando ela tentou me ajudar, eu também a ignorei. Agora, ela estava fazendo o mesmo. Justo. Mas ainda me perguntei como ela conseguia se meter em tanta confusão em tão pouco tempo e nunca ser descoberta.

Ela também já sabia sobre a vida secreta de Henry. E acho que fiquei um pouco decepcionado por ela não ter me falado antes. Mas tudo bem, eles tinham um trato. Um segredo pelo outro. E agora, acho que nenhum de nós iria entregar o outro. Mesmo que eu adorasse ver meu irmão se ferrar pelo menos uma vez na vida.

Emma tinha ido dormir já que estava cansada da viagem. Minha mãe ainda estava envolvida com a decoração extremamente exagerada e meu pai ... Bom, eu nem mesmo tinha o visto antes. Deve estar no trabalho. Meu irmão devia estar no apartamento que Gavin arranjou na cidade. Era melhor que estivessem longe mesmo.

E eu estava deitado na minha cama esperando Ally voltar. Seu celular tinha tocado a alguns minutos atrás e ela tinha saído pra atender. Já estava demorando um pouco e eu já estava até mesmo me levantando para ver aonde ela estava quando a mesma voltou para o quarto.

Ela entrou rápido e eu a olhei novamente.

Me levantei rápido.

Tinha algo errado, ela parecia assustada, talvez até estivesse tremendo um pouco. Seus olhos estavam cheio de lágrimas e acho que ela não conseguia falar.

– Ally ? - A chamei, porque não era como se ela tivesse ali. Agora as lágrimas estavam escorrendo. - O que houve ?

– Era meu pai - ela balançou o celular na mão. - Ele ... ele ligou pra avisar ... - ela parou um pouco,estava começando a soluçar e eu não sabia o que fazer para fazê-la se sentir melhor. - Minha mãe ... Ela teve uma parada cardíaca.