"Muitas vezes,não fazemos o que realmente queremos,talvez com receio de estarmos errados ou por medo do que pode acontecer,afinal,pra tudo,tem uma consequência não é ? Mas,as vezes não conseguimos resistir a isso,é algo mais forte que nós. E depois que já fizemos,ficamos nos perguntando se aquilo foi realmente certo."

Pov. Austin

- Filho ? - minha mãe perguntou enquanto eu comia minhas panquecas no café da manhã.

– Sim ? - olhei para ela.

– Seu pai e eu teremos que fazer outra viagem de negócios - ela disse.

Dei de ombros. Isso era bem normal. Eles estavam sempre viajando. Eu já estava acostumado.

– Tudo bem - disse - Quando vocês voltam ?

– Iremos hoje de noite e voltaremos provavelmente em umas 2 semanas.

– Legal - disse comendo outro pedaço de panqueca.

– Acho que seria muito bom se você tentasse falar melhor com seu pai não é ? Digo,quando voltarmos de viagem,talvez pudessem melhorar isso.

A olhei inexpressivo. Meu pai e eu nunca nos demos bem,e eu nunca quis melhorar isso,e ele também não. Na verdade,ele só se importava com seu emprego idiota,e estava sempre bajulando seu chefe. Até tentava me empurrar para a idiota da filha dele,a Kira.

– Isso não seria uma boa mãe - a pequena esperança que se estabelecia no seu rosto,logo desapareceu. E ela me olhou atenta,provavelmente esperando que eu explicasse o por que.

– Pode ao menos me dizer o por que ? - ela perguntou quando percebeu que eu não falaria nada.

- Você sabe o por que. Ele só se importa com o trabalho,ele não se importa comigo. Nem nunca se importou.

– Austin isso não ... - ela foi interrompida por meu pai e minha irmã, Emma entrando na cozinha.

– Bom dia - ele disse com sua expressão séria. Na verdade acho que é a única cara que ele tem,nunca demostra expressão alguma.

– Olá mamãe - Emma disse dando um beijo na bochecha de minha mãe - Oi Austin.

– Oi - disse pegando mais um pedaço de panqueca para comer.

– Vamos levar sua irmã para o aeroporto agora de manhã,depois voltaremos para organizar as coisas para a nossa viagem.

Emma iria estudar em Londres. Ela é digamos meio nerd,e adoro seus estudos. Talvez por isso que ela seja um grande orgulho para meu pai. Também tenho um irmão mais velho de 22 anos. O nome dele é Henry,ele é filho do primeiro casamento do meu pai. Ele também se orgulha muito dele,na verdade,o único filho qual ele não se orgulha,sou eu. E por isso ele me trata tão mal. Devo ser mesmo uma grande decepção.

Depois de terminar meu café,me despedi de minha irmã e segui para a escola.

( ... )

O professor tagarelava falando sobre alguns cálculos de matemática. Nem estava ouvindo alguma coisa que ele disse. Me distrai brincando com algumas mechas do cabelo da Ally.

– Dá pra parar ? - ela perguntou se virando na cadeira ficando de frente pra mim,já que eu sentava atrás dela.

– Não - disse sorrindo quando vi sua cara brava. Irritar a Ally é uma das melhores coisas que eu tenho pra fazer.

– Austin ! - ela exclamou.

– Eu te vi no jogo ontem. Acho que não resistiu a ideia de ir me ver não é ? - perguntou a provocando.

– Eu fui só por que não tinha nada melhor pra fazer - ela disse se virando de volta.

A cutuquei umas 10 vezes fazendo se virar com uma cara irritada.

– O que você quer agora ? - ela perguntou brava.

– Nada. Só gosto de te irritar.

– Você é muito chato sabia ?

– Você só fala isso porque no fundo gosta de mim - disse sorrindo triunfante. Ally revirou os olhos.

- Sr. Moon ? Senhorita Dawson ? - o professor, Sr. Laurent chamou por nós. Ally se virou rapidamente - Tem algo para compartilhar conosco ?

Nesse momento toda a sala já tinha se virado para nos olhar. Isso porque sentávamos nos fundos.

– Não - Ally respondeu.

– Mesmo ? Notei que estão conversando á um tempão, que tal fazerem dupla para o trabalho ?

– Que trabalho ? - perguntei.

Ele apontou para o quadro onde estava escrito coisas sobre um trabalho de cálculo em dupla.

– Não ! Por favor não me faça fazer um trabalho com ele,a gente se odeia ! - Ally exclamou fazendo boa parte da sala rir.

– Fale isso por você - sussurrei baixo o bastante para que apenas ela ouvisse.

A vi revirar os olhos mais uma vez. Ela ficava muito linda quando fazia isso.

– Mais um motivo para vocês fazerem juntos. Se organizem e sem reclamações.

O resto da turma voltou a fazer seus respectivos trabalhos e a conversa se estabeleceu na sala.

Ally se virou para mim com a expressão emburrada. O professor passou por todas as filas distribuindo a folha com os cálculos para fazermos.

– Por que tá com essa cara ? - perguntei rindo um pouco já que ela ainda estava emburrada. Ela recompôs a expressão,ficando séria.

– Que tal a gente só fazer logo essas contas e não se falar ? - ela perguntou.

– Não,obrigado. Mas eu posso fazer a primeira.

Peguei a folha de cima da mesa e rapidamente fiz o cálculo. Podia sentir Ally me olhando,provavelmente surpresa por eu estar fazendo algo que tenha a ver com matemática.

Assim que terminei,entreguei a folha pra ela,esperando que ela corrigisse. Ela pegou da minha mão e observou a folha calmamente.

– Incrível - ela disse me entregando a folha de volta - Não sabia que o loiro oxigenado sabia calcular.

Ri com seu comentário.

– Não sou oxigenado - disse um pouco ofendido,mas só estava brincando.

Ela riu e começou a fazer a próxima conta. Acho que fiquei tempo demais a olhando porque assim que ela terminou,também me encarou.

– Por que tá me olhando ? - ela perguntou

– Eu faço muito isso,você que não percebe - disse me lembrando de como eu costumava ficar a observando nas aulas. Não sei o que é,mas ela sempre teve algo que me chamou a atenção.

– Idiota - ela murmurou abaixando a cabeça para fazer outra conta. Sorri. Ela falava muito isso.

Terminamos logo aquele trabalho e entregamos para o professor,ele até nos liberou mais cedo.
Saímos da sala em silêncio e Ally se dirigiu até o seu armário,a segui até lá.

– Não sei por que está me seguindo - ela disse abrindo a seu armário.

– Eu quero te fazer uma pergunta - disse e ela logo o fechou me olhando atenta.

– Não sou obrigada a responder nada.

– Mas,eu vou perguntar igual - disse e como não fui interrompido,continuei - Por que você não acredita no amor ?

Ela estreitou um pouco os olhos. Eu queria peguntar isso pra ela desde que ela leu um tipo de poema na aula de literatura,ainda na sua primeira semana na escola. Foi nesse dia que eu comecei a "persegui-lá". Eu tinha curiosidade disso.

Flash Back On

A garota se levantou da sua cadeira devagar,notei que nunca tinha a visto antes,deveria ser nova na escola. Ela foi até a frente da sala com a expressão nada feliz,e obviamente desconfortável por ter que falar em público.

"Acho que existem muitas pessoas bobas e fúteis,algumas também um tanto ingênuas o bastante para acreditar em palavras bonitas,mas sem significado. Algumas pessoas sofrem demais por coisas idiotas e eu me pergunto o por que de tanto drama. As vezes precisamos passar por coisas nada agradáveis para entender o quanto somos sortudos por temos o que temos. Já ouvi muitas pessoas sofrerem por amor,e a descrição delas para essa palavras talvez não seja válida. Acho que o certo seria "atração" ou apenas um simples "gostar" mas amor,amor como essas pessoas descrevem,pra mim,não existe. Ou talvez exista, mas também não dessa forma,mas eu,simplesmente não acredito nessa palavra."

Flash Back Off

Ainda me lembro dessas palavras claramente,isso me chamou atenção. Ally agora olhava para o nada como se estivesse lembrando de alguma coisa. Já ia tentar chamar sua atenção novamente quando ela começou a falar :

– Acho que nunca tive uma boa imagem dessa palavra - ela disse olhando pra mim - Eu cresci achando isso uma grande besteira,só isso.

Até me surpreendi por ela ter falado normalmente,e não no seu tom de raiva ou apenas me menosprezando.

Me aproximei mais dela,praticamente colando nossos corpos,encostei minha testa na sua e ela me olhou atenta. Nesse momento,pensei que ela iria me xingar ou até mesmo me bater - ela seria bem capaz de fazer isso - mas não,ela ficou apenas imóvel.

A encostei nos armários e olhei fundo nos seus olhos por o que pareceu quase 1 minuto. Havia algo que eu queria fazer. Algo que eu queria fazer desde o dia que a conheci,algo inevitável. Eu queria poder sentir o gosto dos seus lábios. Eu até tentei fazer isso,semana passada,pelo que me lembro. "O que você pensa que está fazendo ?" ela me perguntou daquela vez enquanto me empurrava.

Mas,agora ela estava totalmente parada a minha frente,esperando que eu fizesse alguma coisa. E foi o que eu fiz,eu colei nossos lábios num movimento rápido,e por incrível que pareça,ela não me afastou.

Minhas mãos passaram para sua cintura e a apertaram com força enquanto as mãos dela passaram para minha nuca. Ela correspondeu ao beijo no mesmo instante em que nossos lábios se tocaram o que me fez sentir um pouco mais confiante.

Ela puxava de leve meus cabelos e agradeci mentalmente por não ter ninguém no corredor para atrapalhar aquele momento. Nos separamos por um momento,ainda ofegantes,mas dois segundos depois,já estávamos nos beijando de novo.

Ouvimos um pigarro e paramos de nos beijar no mesmo segundo,mas minhas mãos ainda permaneciam na cintura de Ally. Apenas virei minha cabeça para ver quem que tinha nos atrapalhado. Era o Sr. Laurent,o professor de matemática.

– Pra quem se "odiava" - ele usou aspas na palavra - Vocês estão muito bem não é ? Só lembrem que isso é uma escola.

Ele saiu ainda nos olhando e devíamos estar como pimentões agora.

– Tenho que ir - Ally disse pegando sua mochila que tinha caído do chão enquanto nos beijávamos,ela se livrou dos meus braços que estavam em volta dela e saiu praticamente correndo dali.

– Ally ! - tentei chamar por ela,mas ela nem mesmo se virou.

Encarei o chão por um momento. Não acredito que ela deixou eu a beijar.