A Seleção-Interativa escrita por Alice Zahyr


Capítulo 44
A Origem do Trono - Parte I


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEY! Gente, sei que demorei anos para postar, mas o motivo vocês já sabem, porque todo autor reclama da mesma coisa: escola. Eu tenho prova toda semana, portanto, passo os dias estudando, inclusive fazia muuuuuito tempo mesmo que eu não pegava neste laptop! Esse cap vai trollar mt gente que achou q a fic tinha acabado kkkkkkkkk' NÉ SAMANTHA *----* Espero que gostem, fuuuuuuuui!



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E ali, em meio ás cinzas, fumaça e caos, nós nos beijamos intensamente, enquanto a chuva caía sem previsões de acabar.

***

Quando abri os olhos, Jason ainda estava na minha frente, encarando-me com aquele olhar azul-mar perdido. Pisquei, e senti as lágrimas caírem abruptamente, pesadas e cheias. Ainda chovia, mas havia algo de diferente na forma como eu me encaixava no cenário. Como se, de repente, toda aquela guerra, todo aquele barulho e correria, já não valessem mais para mim, não fizessem diferença, pois tudo que eu conseguia pensar era que eu jamais poderia perder aqueles olhos azuis novamente. Nunca mais.

– America! - um grito forte ecoou pelos jardins, que já não eram mais jardins, e sim cinzas. Mas eu conhecia aquela voz. Não pude confundi-la. Soou tão alto como um brado desesperado. A culpa me invadiu, mas eu sabia que não podia mais dar lugar á ela. Jason não podia ser uma culpa por causa de Maxon, e eu não poderia mais enganar meu coração.

Maxon andou até mim com uma expressão devastadora. Seus olhos lacrimejavam, e seu rosto estava coberto por fuligem, assim como os braços e os ombros. Suas mãos estavam levantadas, indagando-me o que era aquilo que ele acabara de ver. Mas o pior... Estava no seu olhar. A confusão, a raiva. A traição.

Eu acabara de trair alguém com quem estava prestes a casar.

– VOCÊ! VOCÊ A FORÇOU! - Maxon bradou, indo para cima de Jason, que tentava segurá-lo. Me pus entre os dois antes que eles começassem a lutar. De canto, pude perceber que Samantha havia parado com os pés em cima de um rebelde, que caído no chão, estava certamente morto por causa do sangue que escorria ao seu diâmetro. Ela observava o que acontecia, arfando. Mas não com ironia no olhar, e sim com medo. Eu também sentia medo.

– Para. - pedi, silenciando-o. Ele me olhou com as sobrancelhas franzidas. Não acreditava que o que vira era verdade... - Maxon, eu o beijei.

Suas lágrimas desceram com força. Os lábios apertaram-se, ficando da cor do sangue. Ele fechou os pulsos e me encarou com a mesma expressão.

– Diga que é mentira, America... Por favor, é mentira. Você me amava! Por que o meu amor não é o suficiente para você? Você amava ele durante esse tempo todo? Nós... Nós íamos nos casar! - Maxon contra-argumentou. Ele tentava segurar as lágrimas, mas assim como eu, não conseguia. - Você voltou. Por que? - ele perguntou para Jason com um olhar de nojo.

– Eu não queria roubá-la de você, Maxon. Mas eu soube que Alec estava a caminho do castelo com alguns rebeldes para um atentado, e tive de vir com Samantha... - Jason falava firmemente, mas Maxon o cortou. Pensei que aquilo se estenderia por horas.

– Basta. Pra mim, basta. Vocês podem... Sumir da minha vista. - Maxon falou e sentou-se num pedaço de banco quebrado. Ele apoiou as mãos no joelho e pôs a cabeça sobre elas. Tentei me aproximar, mas não fazia ideia do que dizer. Olhei para Jason e fiz sinal para que se afastasse.

Respirei fundo e me acheguei á Maxon. Eu não conseguia ver direito por causa das lágrimas, e por isso tropecei no seu pé. Mas ele mal levantou o olhar. Procurei as palavras certas a dizer, porém todas haviam perdido o sentido para mim.

– Eu não sei o que dizer. - eu disse com os olhos fechados. - Eu poderia te pedir perdão, mas...

Maxon se levantou antes que eu pudesse terminar de falar. Ele se colocou á minha frente e olhou no fundo dos meus olhos.

– Você o ama? - ele perguntou. Não respondi. - Ama? - outra vez. Não respondi. - Você ama Jason?

– Amo. - eu falei e sustentei o meu olhar ao dele. Esperei que ele fosse gritar, xingar ou explodir, no entanto, nada disso aconteceu.

– Eu sou um idiota. Desde o instante em que eu soube que te amava, deveria tê-la pedido em casamento, mas ao invés disso, dei ouvidos ás pessoas, pensei que se você fosse mesmo a garota certa, me esperaria até o último momento. Mas outro cara ganhou o seu coração antes que eu tivesse te conquistado por inteiro - ele falou piscando rapidamente. Uma rajada de vento passou por nós e balançou seus cabelos desgrenhados.

– Não, Maxon. A culpa não é sua, não é de ninguém. Me sinto péssima em te ver assim, mas eu não posso mais esconder as coisas! Eu te amei de verdade, mas você não poderia ter feito nada. Ele simplesmente apareceu e... E... - não consegui terminar de falar, porque simplesmente estava rouca demais e destruída demais para continuar. Minha voz mingou aos poucos enquanto eu tentava me explicar, mas nada que eu pudesse dizer serviria para mim mesma e para ele. Apenas pedi a Deus que Maxon um dia encontrasse alguém que pudesse fazê-lo feliz como ele fora comigo um dia. - Você vai me odiar para sempre, não é? - perguntei, quase sem voz. Ele balançou a cabeça.

– America... Doeu ouvir que você o ama. - ele fechou os olhos - Mas... Nós já não éramos os mesmos desde antes dele. Ficamos frios. Talvez... Não era para ser - uma lágrima escorreu de seu olho, deixando um rastro fino até o maxilar. - Parecia tão perfeito...

– Se algum dia você puder, eu te peço que me perdoe, Maxon. Mas não posso mais me sentir mal por amar outra pessoa. Sinto muito - eu disse e me afastei, indo em direção aos grandes portões do castelo. Tudo o que eu queria era sair logo dali, parar num hotel qualquer, deitar numa cama macia e ao menos fingir que minha vida estava bem. Não fora exatamente a despedida que eu imaginei, mas, bem, eu sequer havia pensado em como seria, e saiu melhor, porém tão devastador quanto, do que deveria ter sido.

Depois de alguns passos, porém, um estrondo reverberou pelo chão. Felizmente eu estava longe o bastante para não ser atingida, mas um grito alto e agudo me fez voltar correndo na mesma hora.

"SAMANTHA!"

Um calafrio percorreu meu corpo até a espinha. Quando olhei para trás, vi Anna correndo desesperadamente até a Torre Principal, onde as chamas se misturavam com as gotas de chuva que ainda caíam. Um rebelde havia jogado uma bomba lá, mas era onde Samantha estava.

Corri o mais rápido que pude, e no caminho esbarrei em algumas pedras. Antes mesmo de chegar à Torre, porém, vi Anna lutar corpo a corpo com alguém. Era ela contra um homem. Provavelmente, um dos rebeldes liderados por Alec... Mas quando cheguei mais perto, vi que era ele mesmo - Alec.

– Solte-me, sua vendida! - ele gritou a plenos pulmões. A expressão de Anna era de puro ódio, mas ela não dizia uma palavra sequer. Alec arriscou pegar a arma de um soldado que estava morto e caído no chão, mas quando se agachou, eu só ouvi um estalo e fechei os olhos, assustada. Anna dera um chute no pescoço de Alec, exatamente na parte da medula, e ele caiu no chão. Seu corpo mole indicava que ele havia perdido os movimentos do pescoço para baixo. Me aproximei, com os nervos á flor da pele, mas duas mãos me seguraram.

– America, não! - era Jason. Ele arfava, e me segurava forte para que eu não avançasse. Mas àquela altura, temia que eu mesma não tivesse mais controle sobre meus movimentos. Enquanto eu olhava para as chamas que consumiam a Torre, perscrutei o diâmetro do lugar, procurando por Samantha. Porém, tudo foi tão rápido, que quando finalmente a vi, ela já estava sendo carregada por um Mercenário do batalhão de Anna. Vi que Maxon correu ao encontro dela. Ao longe, duas hélices giravam velozmente há já algum tempo. Foi então que eu entendi tudo. Sim, o sistema real era mesmo ágil.

– Levem-na para aquele helicóptero!Diga ao piloto que eu estou ordenando ida imediata á Base Médica de Illéa! Quando chegarem, mostre esse anel, e eles vão atendê-la num segundo! - Maxon gritou para o Mercenário. Em seguida, arrancou da mão um anel e jogou para ele, que agarrou habilmente. Depois disso, vi Samantha sendo levada embora e só então pude respirar outra vez.

– Obrigada, obrigada, obrigada - me joguei aos pés de Maxon, agradecendo debilmente. Ele me olhou assustado, e então esticou as duas mãos para mim, me tirando do chão.

– America, tudo bem, pare de repetir! - ele pediu com insistência, mas eu continuava, continuava, continuava... Senti meus músculos endurecerem, cada tendão meu tomado pelo estresse infernal daquele atentado. Maxon repetia "America, tudo bem!" mas tudo o que eu conseguia entender era "Guerra, guerra, guerra".

E então eu caí no chão, tonta e incapaz de respirar. Mas dois braços fortes me seguraram antes que eu batesse com a cabeça nas pedras. Três, dois, um...

– Você tem outro helicóptero? - era a voz de Jason.

***

P.O.V Jason

Depois do surto de America, acabamos indo todos para o mesmo lugar. Havia um helicóptero no saguão subterrâneo do castelo, e eu corri com ela para lá, junto com Maxon e... Mais ninguém. Não seria fácil atravessar parte de Angeles com ele do meu lado, mas eu teria de fazer isso. Tudo por causa de uma ruiva. Minha ruiva.

Abri a porta com força e coloquei-a nos bancos de trás. Em seguida fui para o assento do piloto e comecei a ligar o helicóptero, mas...

– Ei, ei, ei, o que é isso? - Maxon me perguntou com as sobrancelhas erguidas. - Eu piloto, cara. Senta aí. - ele anunciou e me mandou para o banco. Eu fui. Torci para que ele fosse realmente só um príncipe mimado, mas ele sabia mexer naquilo, e ligou os botões tão rápido que eu quase xinguei em voz alta. - Não vá achando que só porque eu estou ajudando vocês eu vou te deixar toma o que me resta.

– Não fique triste, Majestade. - eu falei com sinceridade, e ele me encarou pelo espelho com o cenho franzido. - Não é sua culpa se você não deu conta. Bem, é sim, mas eu só queria te consolar. - sorri, irônico.

Ele suspirou, irritado.

– A minha vida já está arruinada, mesmo. - ele falou e apertou o botão do centro da cabine. As hélices começaram a girar, e logo estávamos sobrevoando o castelo. De cima, senti uma pontada de pena quando vi toda a destruição. O castelo majestoso de antes, com grandes portões, escadas de ouro e o jardim suspenso - tudo destruído. A chuva já caía fraca, e as chamas deram lugar ás cinzas e aos cacos. Vários homens fardados - soldados de Illéa - haviam morrido, espalhados pelas terras do castelo. A Torre Principal tinha caído por causa da bomba que Alec jogara - a bomba que atingira Samantha. Samantha... Eu estava tão preocupado com ela, com America, com as famílias de quem havia morrido naquele atentado...

Esse sentimento me apareceu de surpresa. "Pena, eu?" Não. Não era algo normal e nem comum para mim. Passei anos em campos de batalha, sendo treinado para apenas uma, e sempre, a mesma coisa: matar, e defender os sulistas. Meu coração nem sempre teve espaço para caridades, mas agora, vendo que todo o lar de Maxon fora destruído... Cara, eu não havia pensado nisso antes.

– A gente não é mais criança, Maxon. Não podemos brigar como crianças - eu falei baixo, esperando que ele não me ouvisse ou ignorasse, mas ele ouviu.

– Onde quer chegar? Você já conseguiu o que queria, caso não tenha percebido. - ele disse, frio.

– Não estou falando disso. É que eu... Sinto muito pelo que aconteceu aqui hoje. Era... A sua casa. - eu disse olhando pela janela do helicóptero.

Alguns segundos de silêncio se passaram até que ele me respondesse. Mas só quando ele anunciou a chegada ao hospital entendi que o seu silêncio fora a minha resposta. Maxon estava destruído demais para diplomacias.

– Acho que chegamos - Maxon anunciou e começamos a baixar. Pousamos com o helicóptero sob um heliporto no terraço da Base Médica. Abri a porta e tirei America do banco. Ele também desceu. Acidentalmente paramos um de frente para o outro, como que tentando passar. Quando lembrei que Samantha já devia ter chegado, um ideia se acendeu na minha cabeça. Entreguei America para ele. - É melhor não... - ele falou, demonstrando sua mágoa.

– Preciso ir atrás de Samantha. Sei que vão cuidar dela melhor se você estiver junto. - eu falei, sentindo meu estômago revirar. - Preciso fazer uma coisa. - eu disse e saí correndo em direção á porta de incêndio. "Base Real, Base Real..."

Depois de descer correndo uns três lances de escada, cheguei ao Térreo. Havia uma recepção na entrada, e tudo me pareceu bem organizado para o caos que era o sistema das castas. Me dirigi á primeira recepcionista, que olhava os documentos de uma senhora antes de encaminhá-la à consulta. Ela vestia um uniforme branco com cinza, e seu nome no crachá indicava que certamente sua família migrara do antigo México para Illéa.

– Senhorita Madge? - me aproximei dela. Quando me viu, rapidamente indicou um corredor á esquerda para a senhora e passou as mãos na trança que descia pelas costas. Segurei o riso, pois mal sabia ela do que acabara de acontecer. O noticiário ainda não havia anunciado o atentado, mas logo, logo, isso aconteceria. Provavelmente o rei retardara a ação da mídia por motivos de embaixada. Ele não devia querer que os embaixadores saíssem correndo antes de saber do que realmente se tratava.

– Eu mesma - ela abriu um sorriso de canto. Cara, ela está me cantando? Eu devo ser muito gato! – Em que posso ajudá-lo, senhor...? - sua tentativa de ler meu bordão no uniforme foi por água abaixo quando ela viu as siglas – J.Z?

Esperei que ela mesma compreendesse quem eu era. Mas não consegui me divertir tanto quanto pensei que me divertiria ao ver sua expressão aterrorizada, e tirei logo as cartas das mangas. Ah, illeanos, sempre com medo dos sulistas! Lindo, maravilhoso!

– Madge, eu acabei de presenciar um atentado no castelo e não vim aqui para aterrorizar ninguém, apesar de que seria engraçado. Eu vim com Maxon, o príncipe– ainda não me acostumei a tratá-lo com essa formalidade, cara - e se você não me ajudar, teremos problemas. - fiz a minha cara de "olha, a decisão é sua" e em questão de segundos ela se moveu. Infelizmente, não foi como eu queria.

O barulho de alarme soou pela recepção e logo encheu o ar calma do Térreo. Olhei para ela e suspirei, cansado. Madge apertara o botão de invasão terrorista.

– Ah, Deus, eu não queria ter de fazer isso! - resmunguei quando vi Madge sair correndo da recepção. Ela levou cinco segundos para alcançar o elevador, o que foi muito burro. Como sou bonzinho, dei a ela a vantagem do tempo, assim ela poderia respirar um pouco antes de levar um baque. Obrigado a isso, corri até ela e abri o elevador com um simples golpe. Ela me olhou desesperada, e eu suspirei de novo. Cara, sério, é tão chato ser o herói e ainda ter que provar isso! – Madge, Madge, você não deveria ter feito isso, mulher. - eu falei, e num golpe rápido, lhe dei um soco na nuca e ela adormeceu. É, é, não foi tão forte assim... Eu odeio bater em mulheres. Mas o que eu poderia fazer? Logo um bando de guardas de shopping viriam atrás de mim. E eu não estava a fim de brincar de "sou o sulista, vou pegar vocês!"

Segurei a cabeça da recepcionista para amortecer a queda, sentindo uma horrível culpa, e uma tremenda fome. Encostei seu corpo adormecido na cadeira dentro do elevador e puxei o anel de chaves preso em sua cintura. Depois segui em direção á ala da Base Real, com a esperança de que os médicos ainda não tivessem atendido Samantha.

Na segunda curva, dois guardas apareceram. Eles correram na minha direção com as armas apontadas, porém antes mesmo que eu pudesse me livrar deles três soldados de Maxon surgiram. Eles cuidaram do serviço para mim. Agradeci com um gesto de cabeça e continuei correndo, procurando algo enfeitado demais para ser apenas para os cidadãos.

Encontrei. "Ala da Realeza" estava escrito numa placa super enfeitada (olha só, ouro! Alguém aí conhece? Eles parecem ter bastante disso por aqui!). Entrei rapidamente porquanto os guardas de Maxon me davam cobertura (a camaradagem em períodos de guerra surge naturalmente, logo, não há muito mistério nisso). A Ala da Realeza era bem reservada, dividida em apenas duas repartições, cuja divisão consistia em "A" (família real) e "B" (resto). Não que estivesse escrito "resto", mas juro que eu li "resto".

Trombei com um enfermeiro no meio do caminho para "B". Ele parecia nervoso e angustiado. E eu, com muita vontade de encontrar Samantha. Olhe aí, é por isso que eu amo o destino.

– Pode me ajudar, sim - respondi antes que ele me perguntasse - Onde encontro Samantha Campbell?

– Ali, senhor. - ele apontou para a direita e saiu de cabeça baixa. Percebi suas pernas bambearem quando deu de cara comigo. É por causa daquilo que eu disse antes: "eu sou o sulista, vou pegar vocês". Interessante.

Virei para a direta, e dei de cara com um quarto branco e inteiramente iluminado. Havia uma garota na maca - Samantha. Não fosse seus cabelos cacheados para fora do travesseiro, eu jamais a reconheceria. Ela estava muito mal. Sua perna fora engessada e levantada para cima. Uma espécie de tala de metal cobria-lhe a canela esquerda - a mesma coisa que fizemos com America na Base Sul quando ocorreu o acidente da máquina. Sua mão esquerda, toda enfaixada. Provavelmente ela recebera apenas os primeiros socorros.

Por mais que fosse difícil, difícil mesmo, vê-la naquela situação, eu precisava urgentemente terminar o que comecei. Não havia corrido aquele hospital inteiro pra bancar o badboy. Antes que o médico chegasse, eu teria de descobrir.

Entrei no quarto silenciosamente e fechei a persiana. Perscrutei o local á procura de uma seringa, e logo encontrei uma caixa cheia delas em cima da estante de remédios. Peguei uma e abri rapidamente, indo em direção á maca onde Samantha estava, desacordada completamente. Peguei um pedaço de algodão, embebi-o em álcool e passei suavemente sobre seu braço, onde consegui ver facilmente a veia mais próxima. Três, dois, um...

Tirei a seringa rapidamente. Três segundos - era sempre o que eu apenas precisava. O tubo continha sangue o bastante para que eu pudesse descobrir o que tanto me incomodava - e certamente também a ela. Joguei a seringa no lixo e coloquei o tubo no bolso da jaqueta. Abri a persiana novamente, e saí. Ninguém me vira. Agora, só faltava conseguir mais uma amostra sanguínea: de Maxon ou Amberly.

Mas isso seria um pouquinho mais difícil.

***

POV Maxon

America caía tão bem nos meus braços... A revolta em mim crescia a cada vez que eu olhava para ela e uma voz na minha cabeça dizia que não era mais minha. Um dia ela fora minha. Um dia. Não era mais. Mas a raiva não era de Jason, e sim de mim mesmo. Faltou pouco... E eu perdi. Droga! Nunca deveria tê-la deixado fora do meu alcance! Agora já era. Eu tentei. Tentei o máximo que consegui! Não poderia mantê-la trancada. Ela se apaixonou por Jason, e ele por ela. Eu, no entanto, fiquei de mãos vazias. America não me era um troféu, mas ela era para ser a minha esposa. A rainha de Illéa, a minha futura família.

Porém todos esses sonhos ficaram perdidos em alguma época da Seleção.

A raiva, a confusão, a angústia... Nosso amor se esfriou rápido demais, e eu não conseguia aceitar isso. Eu olhava para America, ali, em meus braços, machucada e fraca, e sentia vontade de cuidar dela. Mas lembro muito bem que, semanas antes, nossos beijos já não eram iguais. Tudo o que fazíamos soava inútil e frio. Lembro-me que, na véspera do casamento, eu me perguntei aflito se era mesmo o que eu queria. A primeiro coisa que me veio á cabeça foi um não. Mas a constância do amor que um dia fora real tomou minha consciência e me enganou. Que estávamos frios, isso não era novidade, mas a pergunta que me perturba é: "Eu a amava?"

...

Entrei com ela pela porta de incêndio que dava exatamente para a Ala "A" da família real. Quando apareci, dois enfermeiros logo vieram e me ajudaram com America.

– Ela foi baleada? - um deles perguntou. Balancei a cabeça em negação.

– Presumo que seja estresse pós-traumático - eu anunciei e me sentei na cadeira. Uma enfermeira apareceu com uma caixa de pronto-socorros e sentou ao meu lado sem dizer nada. Ela me lembrava um pouco Anna, a mercenária... - Ai, Deus. Preciso de um telefone, rápido! - pedi e imediatamente me deram um. Disquei o número da Primeira Patrulha Aérea, e rapidamente fui atendido.

– Pois não, Vossa Alteza? - era a voz de Jenna, a Chefe da Base Aérea. Agradeci aos céus por ser ela, assim seria bem mais fácil de explicar.

– Preciso de um resgate imediato no Castelo, Jenna - fiz uma careta ao sentir meu estômago contorcer - Tem uma garota lá... Anna Parker, Mercenária - a enfermaria tremeu ao ouvir esse nome. Achei engraçado sua atitude, pois ela mal devia saber o quanto Anna nos ajudara até então.

– Senhor, já estamos sobrevoando essa área há cerca de vinte minutos, mas não encontramos ninguém, exceto os mortos. Sinto muito por isso - Jenna falou. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos por um tempo, respirando fundo e lutando contra o instinto de correr eu mesmo até lá e encontrar Anna. - Senhor?

– Tudo bem. Obrigada por seus serviços, Jenna. Continue a busca por sobreviventes por mais uma hora. Caso não encontre ninguém, está liberada para voltar para a sua Base - eu disse e desliguei o telefone.

Agora só restara eu ali. Sozinho, e preocupado. Não havia me ferido, mas pessoas com quem eu me importava haviam morrido ou se machucado. America, Samantha, meus soldados, alguns criados... Anna Parker. Minha cabeça entrara em fusão só de pensar que talvez ela tivesse morrido. Não, Anna é a garota mais durona que você já viu, Maxon. Ela está bem. Provavelmente jogando poker na floresta.

Olhei para o relógio e percebi que uma hora e trinta minutos já haviam passado. Levantei e, meio tonto, perguntei ao médico de plantão se America estava bem.

– Você chutou certo, Vossa Alte...

– Maxon - eu o corrigi, cansado de tantas formalidades. Meu pai brigaria comigo caso estivesse aqui, mas, bem, ele não estava. Provavelmente havia ido com minha mãe para um abrigo ou para a primeira embaixada que encontrasse pelo caminho, dar um reunião urgente sobre o atentado. Ele sabia que eu estava bem e seguro.

– Perdão, Maxon– o médico fez uma careta ao dizer meu nome - Ela está com estresse pós-traumático. Como você deve saber, ocorro em períodos de extremo estresse, como esse atentado. Acho que ela vai melhorar com os medicamentos calmantes que eu dei, mas é melhor que ela fique muito tempo descansando. De preferência em um lugar seguro, e calmo.

America estava dormindo, mas seu corpo estava tremendo muito. Enquanto eu a observava, as horas foram passando, e cada vez mais eu preocupava com alguém que eu não deveria me preocupar tanto assim. Tudo bem, já havíamos nos encontrado em outras vezes, e ela salvaria minha vida em todas essas vezes, mas há certo tempo minha mente fora invadida pela sua presença e eu sequer havia autorizado isso! Essa confusão estava me deixando mais revoltado ainda. E o tédio, a preocupação... Ah, Deus!

De repente, vi a imagem de uma garota se formar pela janela do quarto de America. Esfreguei os olhos, possivelmente vítima de uma alucinação do cansaço. Mas quando virei para trás, ela estava lá. Anna. Com a mesma roupa de sempre - calça de couro preta, jaqueta preta e armas na cintura. Seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo alto, e os cachos desciam bagunçados pelas costas. Havia uma expressão de cansaço em seu resto, assim como todos nós. Mas seus olhos indicavam um brilho diferente.

– Por Deus, Anna, pensei que você tivesse sido pega. - eu falei indo em direção á ela. Anna me abriu um sorriso sarcástico.

– Você pensou mesmo isso? Acabou de me ofender, Vossa Alteza – ela falou e sacou uma maçã da fruteira ao lado. Eu mal tinha reparado, mas havia uma mesa cheia de comidas ali. - bem. Nunca sou pega.

– E fico feliz por isso - soltei um riso abafado, transparecendo toda a tensão que eu guardava dentro de mim mesmo. Sem mais o que dizer, me voltei para o quarto de America. Anna se aproximou e pôs a mão em meu ombro.

– Eu sinto muito por tudo isso, Maxon. Nossas diferenças não nos fazem menos iguais. Você sabe que eu sempre estaria aqui, não é? - ela me perguntou. Assenti com a cabeça, com medo de chorar. - Torço para que as duas melhorem. - Anna abriu um sorriso de canto e encostou a cabeça na parede da janela. Mas eu percebi algo de diferente na forma como ela falou aquilo. Uma melancolia estranha e não bem-vinda.

– Por que você falou assim? - perguntei, me virando para ela com as mãos nos bolsos. Anna olhava para baixo. - Você diz como se você não importasse.

Esperei que ela rebatesse meu argumento, mas nada aconteceu. Seu silêncio me massacrou. Ela retomou a postura de antes e arqueou as sobrancelhas para mim - a expressão de garota durona de volta á face.

– Me sinto muito boazinha em ter te ajudado, mas isso faz mal pro meu corpo. Portanto, estou me mandando, Alteza. Você pode me procurar enquanto estiver com a Samantha. Espero poder voltar ao castelo um dia e fazer uma performance de sensualidade e rebeldia outra vez em um jantar oficial de gala. - Anna falou com ironia, e então se virou para ir embora.

Percorri com os olhos todo o trajeto de seus passos, no entanto, rapidamente vi Anna desaparecer junto com a luz do Sol.

***

POV Universal

Jason procurava com pressa por Maxon. Ele precisava fazer os testes antes que alguém reparasse em toda a sua correria. Mas só conseguiu encontrá-lo quando saiu acidentalmente por uma porta de incêndio que deu exatamente na Ala "A".

– Jason? - Maxon o chamou, confuso. Ele estava horrivelmente cansado, com bolsas abaixo dos olhos. Seus cabelos estavam desgrenhados, não perdido o charme, mas Maxon estava exausto, debruçado sobre a mesa ao centro da Ala enquanto esperava alguém ressuscitar dos danos do atentado.

Jason acenou com dois dedos para Maxon e foi diretamente para o quarto onde America estava.

– Como ela está? - Jason perguntou, sentindo um nó na garganta que dificultava sua respiração.

– Estresse pós-traumático, calmantes e repouso - Maxon informou de uma vez só.

– Ah - Jason suspirou e sentou no banco em frente ao quarto - Cara, eu deveria ter matado Alec quando tive a chance. Maxon riu fraco.

– Você deveria ser trancado na Masmorra por não ter feito isso - ele disse.

– Vocês tem uma Masmorra? Ah, cara, que brega! Que coisa medieval! Masmorras são muito chatas. Eu aposto mais em uma cadeira elétrica, estilo norte-americano do século vinte e um - Jason disse, rindo em seguida.

– Estamos conversando sobre métodos de morrer. Nunca pensei que falaria sobre isso com um sulista. Há algum tempo, soaria muito irônico. Agora, é só o tédio. - Maxon disse, dando lugar ao silêncio por alguns minutos.

– Maxon? - Jason o chamou. Ele não respondeu. - Maxon? Dormiu, princesa? - tentou a provocação, mas ele não respondeu. A Bela adormeceu. Hora de por a mão na massa, sulista.

Jason levantou-se e, sutilmente, foi até Maxon, com o cuidado de parecer que tinha a intenção de pegar alguma fruta caso alguém aparecesse. Mas a Ala A estava mais parada que tudo. Maxon tinha um braço caído para o lado, e sobre o outro, dormia com a cabeça. Jason esperou que o cansaço lhe falasse mais alto, e quando chegou perto o bastante, sacou outra seringa da jaqueta. Sem muitas cerimônias, precisou de apenas três segundos para tirar quantidade suficiente de sangue. Rapidamente tirou-a e guardou no bolso direito. Afastou-se dali o máximo que pôde, e seguiu em direção á Sala de Pesquisas, no terceiro andar, com acesso restrito.

Ele pegou a argola de chaves de Madge e testou a chave azul. A porta abriu-se imediatamente, revelando uma sala de alta tecnologia e segurança perfeita para evitar que alguém o atrapalhasse. Do lado de dentro, Jason travou a fechadura e acessou o painel restrito de senhas, alterando os dados. Em seguida, foi em direção á mesa de centro, onde dispunha de alguns microscópios e aparelhos de análise sanguínea.

– Exame de DNA... - ele clicou na opção assim que a tela computadorizada apareceu. O aparelho indicado foi "Sonda de desoxirribonucleico" - Isso aí, colega.

– Por favor, insira as amostras a serem analisadas neste tubo de coleta. - a voz do computador pediu. Ele colocou os dois tubos coletados com sangue dentro do tubo de coleta, que voltou para o centro da mesa para análise. Depois de alguns segundos, um nome apareceu na tela - Maxon Schreave Tentis, príncipe de Illéa. Tipo sanguíneo: O positivo.

– E a outra amostra? - Jason perguntou, confuso.

– Perdão, mas a outra amostra não coincide com nenhum cadastro sanguíneo dos cidadãos de Illéa. - o robô falou.

– Ah, droga. Eu deveria ter pensado nisso antes. Vocês trabalham com as castas, logo utilizam cadastros... Mas, espere, há outra forma de descobrir. Não há nenhuma semelhança nos genes das duas amostras? - Jason perguntou.

– Semelhança, há, mas não é possível identificar o dono da outra amostra. - o computador respondeu. Jason deu um estalo com as mãos e bateu na mesa.

– E se eu souber quem é o dono dela? - ele falou.

– Poderia cadastrar essa pessoa em nosso sistema, senhor? - o computador pediu, exibindo uma ficha de informações.

Jason demorou a responder, pensando rapidamente em tudo o que poderia acontecer quando o rei e a rainha soubessem que Samantha era irmã de Maxon e, portanto, uma princesa e herdeira do trono. Mas ele foi surpreendido com uma explosão na porta da sala. A porta abriu, e Clarkson apareceu. Ao seu lado estava Amberly, e atrás deles dois guardas muito bem armados. Quando Amberly adentrou a sala, seu nome fora anunciado pela voz do computador. Mas, não apenas isso.

– Amberly Tentis, rainha de Illéa. Tipo Sanguíneo: O positivo. Senhor, a amostra que temos aqui coincide com o cadastro da rainha. Seria essa pessoa irmã de Maxon e filha da rainha? - a voz do computador anunciou.

Jason não soube o que fazer. Ficou em choque - o que nunca acontecera. Clarkson estava na mesma situação. Apenas Amberly conseguira se mover, indo em direção aos tubos de ensaio com as amostras de sangue.

– Por Deus, a análise de DNA é positiva. - Amberly falou, atônita. Ela se dirigiu então á Jason e seus olhos imploravam por uma resposta: - Jason, quem é o irmão de Maxon?

Clarkson estava pálido dos pés a cabeça. Foi então que Jason juntou todas as peças daquele quebra-cabeça: a manta de Illéa guardada por Magda (mãe de Samantha), a rainha que sofreu um "aborto" na primeira gravidez, e a lei real secreta que dizia que nenhuma garota podia anteceder o direito de trono do herdeiro homem. Clarkson havia metido suas mãos sujas na filha da rainha. Samantha era a filha da rainha, escondida por Clarkson para dar o trono á Maxon.

– Samantha, a sulista. Ela é a sua filha, rainha. A que você pensou ter sofrido um aborto e estar morta... Ela está aqui. Viva. - Jason falou, encarando Clarkson com uma tremenda repulsa.

– O que?! Clarkson, você sabia disso? - Amberly perguntou ao marido com os olhos debulhando em lágrimas. Clarkson não a respondeu.

Mas Jason, sim.

– Foi ele quem deu a sua filha para os sulistas.


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, geeeeeeeeeent? Quem aí esperava que Jason fosse virar o Homem das Seringas? Parei, huehue. COM MAIS UMA RECOMENDAÇÃO POSTAREI UM BÔNUS ATÉ O FIM DO FERIADO, VIU! COMENTEM!!!!