Tudo pode mudar por causa de um Nome escrita por HeyLay


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas lindas!! Eu não ia voltar antes do ano novo, mas resolvi postar esse capítulo antes porque estou muito feliz!!! E o motivo? Cem comentários na fic! É a primeira vez, em toda a minha vida, que tem esse tanto de gente lendo!! Muito obrigada à todos os comentários, eu fico muito feliz mesmo! A maioria foi dizendo coisas boas sobre a história e isso me deixa ainda mais alegre! Espero que gostem... e não, esse não é um capítulo qualquer...

Música do capítulo:
2 AM - Iron Maiden

" A vida parece tão patética
Eu gostaria de deixar tudo para trás
Esta cadeira, esta cama
Estas paredes que caem em minha mente
Agarrar-me à algo melhor
Isto apenas o arrasta para a lama
Você apenas desiste ou continua
E tenta aceitar o prejuízo

Aqui estou eu novamente
Olhe para mim novamente
Aqui estou eu novamente
Sozinho..."

P.S.: A primeira parte da música não tem nada a ver com a história, mas a segunda parte, pelo menos pra mim, se encaixou perfeitamente. Espero que gostem do estilo mais pesado da música e que sinta na pele o que Prim se sentiu ao perceber os olhares sobre ela...



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Abri os olhos pela manhã. Apenas mais dois dias. A luz do Sol me incomodava um pouco. Fazia meu estômago ficar ruim... Ela conseguia se misturar com as folhas das árvores, pelas quais estávamos passando, e criava imagens que eram destorcidas por minha mente, a qual criava criaturas estranhas e más. Criaturas que queriam me machucar... Traduzindo: seres-humanos.

Levantei-me, sem nenhuma vontade. Estava exausta. Acordara a noite inteira pensando que já estávamos na Capital. Em comparação às noites anteriores, aquela nem fora muito ruim... Pois eu sabia que o pesadelo maior estava por vir... E, naquele momento da madrugada, não sei o motivo, essa informação me confortou... Me conformou de que existia coisa pior que aquilo por vir em meu futuro.

Sigo caminho até a sala do trem, mesmo usando pijamas. Eu sabia que estavam todos se preparando para a tão esperada chegada. As pessoas iam querer nos ver... E eu acho que a imagem de uma menina sonolenta e mal cuidada não era a melhor a se passar.

Effie também deveria pensar isso. Pois, assim que me viu, faltou dar um grito de desespero. Bem, ela praticamente fez isso, mas eu não a culpava. A mulher tinha coisas muito importantes com que se preocupar, nosso mentor era uma dessas coisas, e eu estava ali, fazendo birra por não querer trocar de roupa naquela hora.

— Ah, meu Deus, Prim! Vamos chegar em poucas horas! Precisamos terminar o café... Temos horários a seguir e você ainda nem tomou um banho!? - eu pensei em responder uma coisa muito mal-educada mas, à essa altura do campeonato, a única coisa que eu poderia fazer era assentir e ir me arrumar.

Pra falar a verdade, eu não tinha vontade nenhuma de me conceder alguns minutos de banho. Sabia que precisava, pois os pesadelos me faziam suar muito, mas eu não queria...

Aperto os botões do mesmo banho que Peeta me arrumou antes e deixo que a água fria caia em minhas costas, me acordando de uma noite medonha.

Muitos pensamentos me atormentam durante os minutos que deveriam ser calmos. Saio de lá pior do que entrara. Sabia que eu me sentiria assim, todos se sentem... É a ordem normal das coisas... Quem me dera ter idade o suficiente para afogar as mágoas na bebida... Haymitch parece ser feliz...

Troco de roupa, visto um traje simples, porém bonito, que alguém da Capital deixou para mim. Era branco. Sei que Effie me mandou vestir a roupa da colheita, mas não queria me dar ao luxo de pensar em quem eu amo. Isso só me deixaria pior.

Mesmo com isso em mente eu, teimosa como sempre, vou em direção à cômoda e pego a roupa. A saia cinza, a blusa branca, o broche...

O broche... O presente da filha do prefeito. Ela queria que fosse minha lembrança de Distrito. Passo o pássaro entre meus dedos... A segurança que me fora dada naquela sala escura enquanto esperava as visitas volta para me confortar. Sinto-me sã e salva com aquele objeto em mãos, como se fosse o símbolo de algo grande... Mas era apenas algo indesejado pela Capital.

Talvez o fato de ter sido indesejado faz com que eu fique familiarizada com ele. É assim que me sinto. Como um algo indesejado... Como se nunca devesse ter pensado em nascer.

A porta se abre. É Haymitch.

— Oi... - falo, ainda com o pássaro em mãos.

— Vamos chegar em menos de uma hora, não acha melhor se alimentar...? - pergunta, calmamente.

Espera aí, o mentor estava calmo? Ele estava... Calmo? Estava normal?

— Eu já estou indo, Haymitch. Obrigada por me chamar...

— Certo, não vou insistir. É melhor que sobra mais para mim... - não sei o porquê, mas eu ri com aquilo.

— Eu disse que eu vou lanchar!

— Não me importa, Primrose... Se não chegar lá agora, não chegue depois. Terei devorado tudo...

E ali estava o "querido" mentor de antes...

— Certo, certo... - disse, me levantando. - Estou indo para o vagão sala... Estou indo me alimentar...

Ele sorriu torto. Haymitch deixou que eu passasse primeiro pela porta e depois fez um trocadilho idiota com meu nome. Eu sabia que estava bom demais pra ser verdade...

— Você deve ir PRIMeiro... - e depois deu uma gargalhada alcoolizada. Credo...

Peeta estava no lugar de sempre. Comendo os doces de sempre. Com a mesma expressão de sempre.

Parece que minha presença o incomodara. Peeta me encarou.

— Pensei que ela tinha dito que era para vestirmos a roupa da...

— Colheita... Eu sei disso, mas não fiquei com o estômago muito bom. Quero me livrar daquela roupa o mais rápido possível...

— O.K.

Concordou, sem se importar muito. Effie chegou na sala, me olhou de cima até em baixo, praguejou algo que não consegui definir o que era e voltou para sua cabine. A culpa não era minha...

— A culpa não é minha Peeta... - falei, quando percebi que o menino não parava de me olhar, suplicando com o olhar, como se quisesse que eu fosse até ela e me desculpasse, ou que, até mesmo, vestisse a roupa.

— Eu sei...

— É só que, se eu vestir aquilo, não vou conseguir segurar o café da manhã por muito tempo. Essas lembranças me deixam enjoada! Como se eu sentisse que nunca mais as verei, então... Faça suas escolhas...

— Eu te entendo... Também não me sinto bem nessa roupa. Talvez pelo fato de estar um pouco pequena... E apertada, mas acho que o mal é sentimental... - falou como se quisesse que eu me sentisse bem.

Peguei um pouco de pasta de amendoim e passei num pão. Peguei uma bebida maravilhosa e terminei a refeição. Era o que eu conseguia engolir... Toda aquela comida e a única coisa que consigo manter em meu estômago é um pão e um pouco de suco de laranja com hortelã.

Peeta percebe meu inquietamento e começa a dizer algo, mas outra coisa me chama a atenção. É uma construção enorme. Um lago, ou um rio... Ou até mesmo um mar, não sei dizer...

Prédios, talvez, se erguem com uma rapidez inexplicável. É lindo. É...

— Sejam bem-vindos... à Capital! - anuncia Haymitch.

Eu e Peeta nos levantamos, de bocas abertas, para ver da janela.

— Nossa...! - exclamei.

— É... Foi assim que me senti quando vi pela primeira vez...

Mais prédios tomaram conta de minha visão. Eu nunca vira algo daquele jeito em toda a minha vida. As casas mais bonitas que eu conheci eram as do centro, mesmo assim eu nunca estive, realmente, dentro de uma.

Peeta arregalou os olhos, assustado, quando uma multidão tomou o lugar dos prédios em nossa visão.

— Oh, quem são eles? - perguntei.

— Cara Primrose, apresento a você: a população da Capital... - falou Haymitch. - Dê um tchauzinho, quem sabe eles não se simpatizam com vocês?

Peeta acenou para as pessoas bizarras, as quais piraram e começaram a gritar o nome dele desenfreadamente.

— Creio que deveria fazer o mesmo... - comentou Haymitch.

— Eles são estranhos... - falei, entre dentes, enquanto dava um sorriso, o qual tentei fazer parecer o menos forçado possível, e, junto dele, um aceno de mão. As pessoas se descabelavam para nos ver.

— Sim, não são normais... São a nobreza... - disse, Haymitch. - Continue sorrindo, Prim... - advertiu, quando viu que eu parei.

— Eu nunca sorri por mais de alguns segundos... Meu rosto dói...

— Hum... Só mais alguns segundos...

Sorri novamente. Peeta não parava de dar tchauzinhos para a população.

— Não sei se consigo fazer isso até todos passarem...

— Tem certeza de que vai conseguir patrocinadores com a cara emburrada, menina? - indagou o mentor. Abri um enorme sorriso. Maior e mais bonito que qualquer um que tenha dado em toda minha vida. - assim está melhor...

Continuei daquele jeito até que aquela gente toda ficasse para trás. Eles eram loucos... Tão estranhos... tão... coloridos?!

— Queridinha! - Effie chamou minha atenção. - Já pode parar de sorrir.

— É, isso já está assustando... - Haymitch, que parecia ter ingerido mais álcool, comentou.

— Certo...

Parei de sorrir.

— Ansiosa para conhecer sua equipe de preparação? - perguntou Effie.

— Não sei...

— Ah, eles são uns docinhos... - interrompeu.

Não disse mais nada até que o trem parasse. Não ficamos num lugar de fácil acesso. Estávamos longe de todos... Aquele seria o momento em que eu ficaria linda para impressionar os patrocinadores e, quem sabe, conseguir minha vaga de sobrevivente...

[...]

Alguém me encaminhou para uma sala. Como Effie disse no dia anterior, era única. Todos os Tributos estavam ali, prontos para impressionar. A única coisa que nos separava era uma parede de madeira com uma cortina branca.

Três pessoas entraram na minha repartição. Um homem e duas mulheres. Ele tinha o cabelo roxo e uma delas era verde... digo, a pele era verde... sim, verde mesmo!

— Oi, queridinha! - disse uma mulher com a voz fina e irritante.

— Oi... - respondi.

— Vênia, tem certeza de que é a garota certa? - indagou o homem.

— Por que não seria?

— O cabelo dela é tão... diferente...

Diferente?

— É mesmo... - confirmou a segunda mulher. - Você tem razão...

— Diferente como? - perguntou a primeira.

— Olha pra ele e me diz se parece ser de uma menina do Doze... - respondeu o homem, sem se importar que eu estivesse ouvindo.

A mulher apenas observou e deu de ombros. São todos assim? Me perguntei por pensamento.

— Então... Prim, não é isso? - a moça verde começou. - vamos fazer umas coisas aqui antes de te entregar para o se estilista, O.K.?

— Que tipo de coisas? - perguntei, meio que com medo.

— Vamos arrumar seu cabelo, a unha, fazer as sobrancelhas... - ela disse, olhando para minhas sobrancelhas, revirou os olhos. - Depilação, coisas básicas...

— Mas...

— Precisa ficar bonita para o desfile... E esse é o nosso trabalho! - completou a segunda mulher.

— O seu é apenas ficar calma e não se preocupar... - foi a vez do homem. Consegui apenas assentir, eles me deixaram um pouco assutada. - Sugiro que feche os olhos. Trabalhamos melhor assim... - pediu.

Foi o que eu fiz. Tentei pensar em coisas felizes, em arco-íris, na coroa da vitória, na fortuna que eu ganharia caso conseguisse sobreviver...

Isso fez com que aquela tortura toda passasse mais rápido.

[...]

Quando percebi, não estava mais na mesma sala de antes. Era um lugar fechado, totalmente lacrado. Não era apenas uma parede de madeira que me separava dos outros. Será que eu levara aquela coisa de olhos fechados a sério de mais e dormi durante a arrumação toda? Eu não sabia.

Olhei no espelho. Eu estava de roupão. Sim, apenas com ele! E não via minha roupa em lugar nenhum. O cabelo estava lavado e seco, tinha um cheiro bom. A pele estava macia e minhas pernas doíam. O rosto estava tão branco... eu estava tão limpa...

Um barulho à porta me chamou a atenção. Era um homem.

— Olá, Prim. Meu nome é Cinna. Sou seu estilista. Muito prazer!

Disse, erguendo a mão direita. Eu cumprimentei o homem, que poderia ser da Capital, mas que não se parecia com os outros.

— Oi... Cinna...

Falei, com vergonha.

— Bem, você sabe o motivo de eu estar aqui, não sabe? - fiz que não... eu realmente não entendia o motivo de precisar de um estilista. - Bem, a maioria responderia com uma pergunta...

— E qual seria?

— "Para me deixar bonita?" - sorri com o tom de voz feminino que ele usou.

— E como responderia? - entrei na brincadeira.

— "Não, querida, para impressionar..." mas, como você não perguntou, não vejo motivos para responder...

Assenti. Ele estava sendo educado comigo. Eu gostei daquele cara...

— Então...

— Então vou direto ao ponto.

— Certo...

— Estou aqui para fazer com que você tenha uma primeira impressão boa para conseguir patrocinadores! Estive conversando com seu mentor enquanto sua equipe te preparava e ele disse que é seu objetivo principal. - assenti com a cabeça. - Um estilista serve, nessas circunstâncias, para salvar, ou não, seu Tributo. Eu quero te salvar, Prim. Você parece ser uma boa garota... - ele sorriu. - E é por isso que resolvi fazer algo de diferente esse ano... algo que chamasse a atenção e que representasse seu Distrito.

— Tipo dois em um? - perguntei.

— Exatamente... - respondeu, gentilmente. Ele foi até a porta e pegou, com alguém cujo rosto não consegui ver, um pedaço de pano.

Cinna me entregou um vestido branco rendado. Eu realmente duvidava um pouco do fato de ele saber de onde eu vinha. Aquilo não tinha nada a ver com meu Distrito! Como é que um vestido branco e rendado vai representar o Distrito Doze, o qual é responsável por mineração?

— Como é que eu vou conseguir patrocinadores com isso? - perguntei, curiosa.

— Não se preocupe, Prim. O vestido representará seu Distrito! Apenas espere. - disse, lendo meus pensamentos e pedindo que aquela pessoa se retirasse, no momento em que eu os peguei para vestir.

Me trocar ali, na frente de um cara, o qual não conhecia há muito, me deixava um pouco constrangida. Por isso, para que acabasse mais rápido, apenas sorri e peguei o vestido, tirei o roupão e vesti.

Ficou perfeito. Era um vestido longo e muito bonito, não entendia se era conveniente, mas era lindo! Girei algumas vezes na frente do espelho. Aquela pessoa ali, com certeza, não era nada parecida comigo.

— Reluzente! - comemorou Cinna. - Agora vamos, menininha, tenho que preparar sua mudança de maquiagem!

— Mudança de...

— É uma surpresa...

— Mas...

— É como eu disse: não se preocupe, estou aqui para ajudar! Será como um truque de mágica que precisa estar perfeito! E, para estar perfeito, precisamos de paciência e de tempo... Por isso, vamos logo pois o tempo é curto!

Segui o estilista até o estúdio de maquiagem, logo à frente. Era um ambiente melhor que o que eu estava anteriormente. Havia um espelho que cobria toda uma parede, assim como aquele do trem, uma escada ao longe, que descia para o que se parecia um galpão, e uma mesa cheia de produtos.

— Lá em baixo é o laboratório... Portia, a estilista de Peeta, e eu costumamos passar horas e horas tentando criar algo interessante...

— Não há muitas coisas interessantes relacionadas à nosso Distrito...

— É aí que você se engana... - disse, pegando um frasco verde e o cheirando. Cinna fez uma cara feia e colocou o pote no devido lugar. - Bem, alguns experimentos dão errado, mas nunca conseguiríamos fazer algo interessante para o Um, por exemplo...

— É lógico, até porque ninguém prefere trabalhar com pessoas cheias de pedras preciosas, roupas luxuosas, coisas coloridas... - ironizei.

— Isso é muito comum aqui na Capital. É muito remoto e, como todos sabemos, coisas remotas são chatas. Sempre a mesma coisa todo ano. - disse. - Além do mais... estão na mesma situação que você, estão indo para a Arena E joias, nesse caso, não ajuda ninguém a vencer.

— E você não prefere viver no meio de pessoas como você, mesmo que seja remoto?

— Não prefiro... - disse, se dirigindo à uma gaveta pequena que saía da mesa cheia de produtos.

— Por quê? - Cinna deu de ombros.

Achei melhor parar com aquela conversa.

[...]

— Então, o que criaram para os desafortunados do Doze?

Perguntei, brincando. Cinna pareceu levar a pergunta à sério, o que foi bom, afinal eu estava me mordendo de curiosidade pra descobrir o que nos esperava.

— Algo que vai mudar a opinião de algumas pessoas sobre vocês...

Respondeu, sério.

— Não vai deixar a gente pelado, né? - perguntei. Cinna gargalhou, mas olhou para o meu rosto e viu que eu falava sério.

— É sério isso?

— Katniss me falou de uma vez que nosso Distrito ficou coberto apenas por pó de carvão... ela disse que dava para ver tudo e que não era nem um pouco agradável! eu ainda era pequena... - falei, sem me importar com o fato de que ele não a conhecia.

— E eu ainda nem pensava em trabalhar aqui...

— Mas você nunca viu os jogos?

— Alguns, mas não me recordo desse... - disse, pegando uma pasta de maquiagem e abrindo-a. Revelando três camadas de produtos de beleza. - E, respondendo à sua pergunta... - olhou nos meus olhos. - a mágica não resultará em perda de roupas... - encarou o vestido em meu corpo. - e sim em mudança...

— Mudança...?

— Novamente, sim...

Cinna caminhou até mim e pediu que eu fechasse os olhos. Eu tornaria a abri-los apenas quando estivesse pronta para o show. Cinna não falou mais nada comigo até que isso acontecesse. Parecia que, se algo desse errado, minha vida correria risco e isso resultaria em punição. O que, naquela altura do campeonato, era um pouco irônico, afinal, Cinna já estava sendo punido desde que decidira fazer aquilo.

[...]

Ele não deixou eu me olhar no espelho. Faltou colocar uma venda nos meus olhos! Bem, não precisou de tanto apelo. Afinal, eu estava com os olhos fechados e era guiada por ele. Voltamos à sala de quando me entregou o vestido branco.

O estilista me mandou calçar um sapato transparente. Eu acharia lindo, caso não fossem meus pés a ficarem à mostra. O homem adaptou mais algumas rendas no vestido e pediu que eu seguisse caminho.

Andamos lado a lado até um enorme portão de ferro não permitir que prosseguíssemos.

Cinna apertou alguns botões, dando o comando ao portão para que abrisse. A cada segundo que se passava, a sala cheia de Tributos ficava mais visível e mais assustadora. Não fosse por ele estar ao meu lado, eu não conseguiria andar até minha carruagem.

O homem ficou à minha frente e, para que eu não precisasse ficar olhando para o alto, ajoelhou-se.

— Vai dar tudo certo, O.K.? - apenas assenti. - não importa o que as pessoas aqui disserem. Você vai conseguir patrocinadores. Isso é uma promessa.

Completou.

— Ei, Cinna! - gritou uma voz de mulher. - como conseguiu ser mais rápido que eu?

A maquiagem exagerada dela me assustou. Com certeza não era uma mentora.

— Portia! - eu deveria ter imaginado que era a estilista de Peeta... - Eu disse que era mais rápido...

— Ah, que seja! - deu de ombros. - deixa eu ver como a nossa bonequinha ficou! - falou, com entusiasmo, como se me conhecesse desde sempre.

— Fique à vontade! - brinquei, sorrindo. Querendo parecer o menos nervosa possível.

— Já colocou todos os botões na roupa? - perguntou, referindo-se ao estilista.

— Claro! Acha que eu faria isso na frente de todo mundo? Acha que eu revelaria a mágica? Um mágico nunca...

— ...revela seus truques... eu sei, eu sei... - completou a fala de Cinna. - só queria garantir... - levantou-se, parecendo aprovar o trabalho do homem. Por um momento eu cheguei a pensar que eles fossem mais que apenas colegas de trabalho. O modo como se falavam, o modo como se olhavam. Cinna parecia gostar muito dela. - Além do mais... os outros estilistas são tão ignorantes e egocêntricos que nem perceberiam...

— É verdade... - concordou Cinna.

— Onde está o garoto? - perguntei à ela, interrompendo a conversa.

— Haymitch está falando umas coisas com ele...- eu já ia perguntar o que era, mas ela cortou minha fala, como se imaginasse. - nem queira saber o que é, querida... Não deve ser muito importante e eu não saberia lhe dizer. - assenti.

Alguns minutos depois, Peeta apareceu em um terno branco, com as mesmas rendas de meu vestido. Os desenhos na roupa eram completamente iguais nos detalhes. A única diferença era que a roupa de Peeta era maior, com isso os desenhos também eram maiores.

— Está linda... - falou, quando se aproximou de mim. O garoto me deu um abraço e um beijo no rosto. Eu ficaria mais feliz caso aquele não fosse um dia triste. Passei a mão direita por meu cabelo solto e prendi uma mecha atrás da orelha.

— Obrigada... - falei, sem-graça. Ele sorriu em resposta. - você também está muito lindo... e elegante...

— Parece até que vão se casar! - gritou Haymitch, apenas para encher a paciência. - o que seria menos deprimente que essa coisa toda...

— Alguém, por favor, toma essa garrafa de vinho da mão dele? - pedi, com raiva. Como ele poderia falar uma coisa daquelas? - se ninguém tirar, eu tiro! - gritei em direção aos seguranças.

— Está tudo bem, Prim. - falou Peeta. - foi apenas uma brincadeira, ele já parou... não vai fazer de novo, O.K.? - assenti. - Além do mais, os seguranças estão aqui por outro motivo...

— Ah, é?

— Sabe muito bem que eles não se importam com os mentores... se eles morrerem nem sentirão falta...

— Mas Haymitch é o único do Doze...

— Antes dele eles conseguiam... conseguiriam novamente...

— Então os seguranças estão aqui...

— Por nossa causa.

Assenti. Não queria falar daquilo. Não queria nem pensar na possibilidade de algum tributo começar a brigar com outro. Graças à Deus, Cinna chamou minha atenção.

— Prim, vou ter que falar rápido, pois o primeiro Distrito sairá daqui há segundos. - assenti. Cinna tirou a mecha de cabelo que eu colocara atrás de minha orelha. Ele me olhou em reprovação, como se eu nunca deveria ter tocado no meu cabelo. Como se a mágica fosse dar errado caso um único fio se deslocasse de seu devido lugar. - Quando você estiver lá... - continuou, apontando para a porta que nos separava da população bizarra da Capital. - bem no meio do desfile, eu vou apertar esse botão. - Mostrou o controle escondido na manga de seu terno azul escuro.

— E o que vai...

— Coisas acontecerão... Coisas incomuns...

— Mágica.

— Sim. Mágica... - ele sorriu. - Não se assuste, Prim... - pediu. - por favor, não se assuste! Não é real... é apenas um truque...

— Tem alguma chance de dar errado?

— Tudo tem chance de dar errado... e as chances aumentam quando se desespera... por isso, peço que prometa que não vai se assustar. - falou, baixinho. - Portia já teve essa conversa com Peeta, mas eu não queria fazer você sofrer por antecipação e ele vai te ajudar... agora prometa.

— Eu prometo, Cinna. Prometo que não vou me assustar.

Ao dizer isso, o estilista segurou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo na testa. Uma lágrima de medo queria descer por meu rosto, mas eu me mostraria fraca caso permitisse que acontecesse. E patrocinadores não gostam de Tributos fracos e chorões. Dei um forte e curto abraço em Cinna, como resposta. O nó voltava à minha garganta. Os três primeiros Distritos foram chamados. Glimmer, Marvel, Cato, Clove, Izzy e Carl já diminuíam de tamanho na pista, o que significava que estavam distantes, o que significava que minha vez se aproximava.

— Distritos Quatro, Cinco e Seis. Em posições! - gritou uma voz pouco audível. Ainda estava longe. Os Tributos tomaram seus lugares. Eu podia ouvir o grito das pessoas. O portão se abriu novamente.

Os três Distritos saíram, acompanhando os primeiros.

— Sete, Oito e Nove! - a mesma voz chamou. - em posições!

Eles já estavam longe. Minhas mãos suavam. Eu esfregava uma na outra em sinal de desespero. Minha hora estava chegando! Todos me veriam, todos iriam rir de mim...

Foi quando Peeta puxou minha mão direita.

— Ei! - protestei.

— Ficaria melhor se eu segurasse pra você? - perguntou, brincando com o fato de eu mesma estar segurando minha mão.

— Não sei...

— Ah, vamos...

— Não sei, Peeta... não sei se me sinto segura com vo...

— Dez, Onze e Doze! - anunciou a voz, cortando minha fala.

Segurei a mão do garoto com firmeza e subi na carruagem, o que o fez rir. Cinna acenou com a cabeça, como se aprovasse que ficássemos de mãos dadas. Haymitch deu uma demorada golada no bico da garrafa e sorriu para nós dois. De mãos dadas... como se estivéssemos nos casando.

— Você é nova e delicada... - falou Peeta, num sussurro. - o branco fica perfeito em você...

— Ah...

— Eu não teria escolhido melhor...

Um dos cavalos arrancou, fazendo com que um pequeno grito saísse de minha garganta. Peeta me segurou com mais força.

— Se sente segura agora? - ironizou. Não consegui dizer nada. - Vai ficar tudo bem, Prim...

— Você não está pirando? - perguntei. Peeta ia responder, mas o cavalo arrancou novamente. Os outros três seguiram-no, colocando o veículo em movimento.

Ele não respondeu. O portão começou a se abrir. A luz já estava pela metade, meu rosto ainda estava na parte escura.

De repente, uma multidão toma conta da minha visão. Centenas de pessoas bizarras estavam ali, gritando os nomes dos tributos. Senti meu rosto mudar. Eu estava apavorada. Eles torciam pelos Carreiristas! Eu não conseguiria ganhar patrocinadores, a não ser que Cinna surpreendesse mais.

— A ideia deles tem que ser muito boa para conseguirmos chamar a atenção dessas pessoas... - falei. Peeta não respondeu. Também parecia apavorado. A carruagem mantinha a velocidade uniforme, mantendo, também, uma única distância da carruagem do Onze. Rue olhou para trás, também estava apavorada.

Caso o menino não estivesse segurando minha mão, eu com certeza cairia. Foi quando eu percebi que eu precisava dele. Percebi que nos aproximávamos da metade da passarela e me desesperei mais ainda. A curiosidade me matava!

— Prim... vai esmagar minha mão! - reclamou o menino.

— Me desculpe... - foi a única coisa que saiu da minha boca. Depois disso, eu travei. Estávamos há cinco segundos de descobrir o que nos esperava.

Estávamos há cinco segundos de saber se as pessoas pensariam se valíamos a pena.

Quatro, três, dois... um.

Cinna parecia estar contando junto comigo, pois assim que cheguei ao um, senti algo de diferente e estranho na roupa.

Como eu sabia que era estranho? Bem, em primeiro lugar, uma núvem preta tomou conta de nós dois. Eu queria me desesperar, queria sair gritando pedindo que tirassem aquilo de mim... mas eu prometera a Cinna que, o que quer que fosse e acontecesse, eu não faria isso.

Peeta me encarou, confuso. Também não entendia o modo como aquilo traria patrocinadores à nós.

Foi quando algo aconteceu. A nuvem se dissipou por completo. Seria aquele o plano infalível de nossos estilistas? Eu pensava que sim, até que outra coisa nos atingiu.

Ouvi um barulho estranho. Olhei para baixo. Meu vestido estava estalando, como se estivesse rachando. Logo depois, as partes brancas se soltaram, como acontece com as cinzas. As pessoas bizarras começaram a nos olhar, curiosos. O que causava aquilo? Eu não sabia responder... ninguém, a não ser Cinna, sabia.

O último pedaço de tecido branco se soltou, revelando um outro completamente preto e bordado. Perfeito. Chamativo. Agora que tínhamos a representação de nosso Distrito, as cinzas que se soltavam passaram de brancas para pretas.

Eu pensei que era aquilo e fim. Já estava de bom tamanho... muitas pessoas nos chamavam, pediam um sorriso, uma olhada. Mas, para Cinna, pelo que deu pra perceber, não era o suficiente.

O novo vestido começou a estalar. A roupa formou "estradinhas", que se abriram como se fossem um rio, as quais foram preenchidas com algo parecido com lava de vulcão. Meu cabelo flutuava e estava vermelho. A maquiagem, antes branca e delicada, tomou um tom pesado. Escuro. Forte.

A plateia foi ao delírio quando as chamas foram transferidas de meu cabelo para o resto do meu corpo. Queimando, assim, o vestido negro. Apenas um pano fino me cobria. Não era fino o suficiente para mostrar alguma coisa, mas era leve o suficiente para flutuar, simulando o fogo engolindo o carvão.

Eu me via no telão. E eu estava linda. E, pela primeira vez em toda a minha vida, eu não me sentia pequena. Eu me sentia alguém. Me sentia importante, como se valesse a pena.

As carruagens pararam em um semi-círculo. Pensei que as chamas acabariam ali, que se apagariam... mas tive uma surpresa.

As chamas fizeram o trajeto inverso, o pano se transformou no vestido preto, que recolheu as cinzas brancas, que se transformaram, encaixando-se como um quebra-cabeça, no vestido branco rendado que eu estava usando antes de a mágica acontecer. Eu podia apostar que a maquiagem também voltara a ser a de antes. Olhei para Peeta. O terno também era branco. Como uma fita é rebobinada logo depois que filme acaba.

Foi aí que entendi o que Cinna queria fazer. Ele representou a queima do carvão... mas mostrou que nós, os Tributos, éramos fortes o suficiente para aguentá-la e importantes o suficiente para retornar ao modo original

A Capital parou. Pareceram entender. Caesar deveria estar pirando naquele momento. Peeta ainda segurava minha mão, eu não queria soltá-la. O Presidente Colorianus Snow deu as caras. Parecia impressionado, mas, ao mesmo tempo, com raiva. Raiva de alguém do Doze conseguir impressioná-lo.

Fiquei com medo. Aquilo poderia até me render patrocinadores... mas não impediria que tentassem me matar lá dentro. Agora eu tinha vinte e seis inimigos. Os outros Tributos, a Capital, Snow... e eu mesma. Eu me odiava naquele mesmo momento por ter sido a pessoa a impressioná-lo. Eu me odiava naquele momento por tudo o que fiz...

— Bem-vindos! - gritou. Sua voz rouca ecoou pelo lugar. - Bem-vindos, Tributos, à Capital! - Snow passou o olho por cada um de nós. - Bem-vindos ao Septuagésimo Quarto Jogos Vorazes. - Snow parou o olhar em mim e em Peeta.

Eu não tinha certeza. Mas pensei ter visto o homem me encarar ao completar sua fala. Ele não pegaria leve comigo. Snow tentaria me matar na Arena antes que outro Tributo tentasse. E eu me odiava naquele momento...


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Notas finais do capítulo

E então, feliz ano novo! Que tudo de bom aconteça para vocês em 2014! E então, gostaram? Esse capítulo ficou bem... bem... maior... por isso foi especial! Acho que foi o maior de toda a fic! E então, o que vocês acharam do vestido? Ficou muito igual... ficou muito bobo? Ficou completamente diferente? Gostaram? Mudariam algo? Opiniões são sempre bem-vindas! Beijinhos!