Tudo pode mudar por causa de um Nome escrita por HeyLay


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo:

Monster - Imagine Dragons.

"Desde que eu poderia me lembrar
De tudo que está dentro de mim,
Apenas queria me encaixar...
Nunca fui ninguém para os dissimulados.
Tudo o que eu tentei ser
Só não combinava comigo..."



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É dia de Colheita! Penso, horrorizada. Meu Deus! Era dia de Colheita! Levanto-me determinada a fugir de toda aquela pressão. Mas para onde eu iria? O que eu faria? Se fosse para a floresta não duraria nem um minuto! Era o que todos diziam quando eu colocava a ideia sobre a mesa. Começo a me debater por causa dos pesadelos, estou suada, meus pensamentos não tinham sido muito bons comigo aquela noite. consigo ver minha irmã me encarando.

— ERA EU! ERA EU! - digo, repetidas vezes, ofegante.

Katniss entendera. Era meu nome naquele papel! Eu tinha certeza disso.

— Shhhhh, acalme-se Prim. Seu nome está lá pela primeira vez!

Ela tinha razão.

— Mas nos jogos do ano passado era a primeira vez da garota do Distrito 3 também! Eles não dão seus nomes para os grãos, Katniss! Eu tenho a mesma quantidade de chances que muitas pessoas desse Distrito! - Falei num sussurro. Eu estava desesperada.

Katniss revirou os olhos, como se não entendesse o motivo de eu estar tão nervosa. Ela tinha o nome ali não sei quantas vezes e quase que dobrava a quantidade todos os anos que se passavam, era ela quem deveria estar preocupada, não eu.

— Fica calma Prim... Vai ficar tudo bem!

Parei de tremer por um tempo, mas eu sabia que poderia ser sorteado um amigo, um parente... dois tributos seriam escolhidos, sendo que eu poderia ser um deles, eu sabia que as chances poderiam dobrar no ano seguinte por causa do Massacre Quaternário, mas sabia também que eles nunca repetiam um Massacre, era um mais doloroso que o outro!

— Katniss, ano que vem é o Massacre! Por que foi que eu fiz doze esse ano? Por quê? - perguntei, com intensidade em minha voz.

Comecei a chorar novamente, eu sempre ficava assim quando a Colheita estava para acontecer, mas eu tinha outro problema esse ano. E era maior! Meu nome estava lá! E tinha chance de estar bem em cima da pilha enorme de nomes de Tributos femininos!

— Canta pra mim?

Pedi, nervosa.

— Claro, claro!

Ela respondeu. Eu amava quando Katniss cantava. Era diferente. Eu me sentia especial, como se não tivesse medo de nada. Como se tudo fosse, realmente, ficar bem.

— ”Bem dentro da Campina!

Sob o salgueiro...

Uma cama de grama...”

Era maravilhoso. A voz dela me acalmava e me adormecia, não por ser chata ou algo do tipo. Fazia eu me sentir bem.

— Está melhor?

Apenas assinto, querendo acreditar que vai ficar tudo bem.

— Preciso sair, O.K.?

Ela sussurra em meu ouvido.

— O quê? Não, Katniss... Fica aqui comigo!

Ela para de frente para a porta e pensa um pouco.

— Preciso sair, Prim. Resolver problemas. Tenho mesmo que ir. Volto logo, O.K.?

Ela faz que vai sair, mas apenas pega a jaqueta marrom pendurada atrás da porta.

— Lembra da música, tudo bem?

Assenti, mas eu não queria pensar em uma mentira. Aquela música e aquela coisa toda de ficar tudo bem! Eu tinha sei lá quanto por cento de chance de ir para a Arena e morrer logo no inicio! Mas todos pensavam que eu era pequena de mais para conversar sobre isso ou para entender algo. Eu parecia ter um bloqueio mental que não me deixava imaginar matando alguém, e eu realmente queria que isso fosse uma vantagem.

Eu sabia para onde Katniss estava indo. Minha irmã caçava todos os dias e depois ficava em um lugar onde poderia falar o que bem entendesse. E sua companhia sempre era Gale. Eu sabia disso porque a seguia todos os dias. Foi quando descobri que essa era a minha vantagem! Eu parecia invisível, eu me sentia invisível. Sabia de tudo o que as pessoas faziam pelo simples fato de acharem que eu era nova de mais para entender.

Levanto-me da cama, visto apenas um casaco que meu pai deixara para mim assim que eu nasci. Visto as botas que Katniss fez com o couro de algum animal que caçou. Ah, Katniss, tão ingênua... qual a explicação que ela me daria caso eu perguntasse com que dinheiro conseguia nossa comida? Não sei... acho que não mentiria para mim.

Digo para minha mãe que vou andar por aí na companhia de Buttercup antes de me aprontar para a Colheita. Eu sabia que ela não me negaria a isso porque entendia o modo como meu emocional se encontrava. Eu precisava conversar com Lady, ou com meu gato. Aquilo era essencial! Eu precisava desabafar com alguém que não daria uma opinião ou que não me respondesse com uma música falsa.

Sigo caminho junto de meus dois animais e os levo comigo até um campo, deixo Lady presa à um pedaço de madeira e Buttercup fica livre pelo lugar. Chego perto da cerca elétrica que mostra o limite do lugar onde moramos. A Costura é um lugar horrível, assim como quase todo o Distrito! Menos a Vila dos Vitoriosos e o centro, onde acontece a Colheita todos os anos.

Eu sabia do segredo da cerca. Vira Katniss atravessar por ali mais de milhões de vezes e nunca levara sequer um choque. Era apenas para deixar os moradores com medo e acabar com a esperança de fuga dos mesmos.

— Gale, não chegaríamos a andar nem dez quilômetros!

Ouço a voz de minha irmã ao longe. Seu melhor amigo revira os olhos. Estão sentados um do lado do outro. O arco de Katniss ao lado esquerdo dela.

— Eu teria filhos caso não vivesse assim...

— Mas vive, Gale!

— Eu disse se não vivesse!

Katniss ri.

— Prim acordou assustada novamente... Sonhou que seu nome tinha sido sorteado...

Ela olhou todo o lugar, como se temesse o fato de alguém ou algo chegar e matá-la.

— Ela tem chances mínimas, Katniss... Sua irmã não vai ser sorteada!

Ela suspirou, olhou para trás, logo para o arbusto onde eu me escondia para observá-los, nem tão longe nem tão perto. Mas o suficiente para conseguir ouvir tudo sem ser percebida.

— Todos sabemos que manipulam os jogos para que as crianças mais novas deixem o show mais interessante, Gale. - Katniss falou quase que num sussurro. O menino apenas assentiu.

Eu sabia que era verdade o que ela dizia e era o que me deixava mais triste ainda. Não tive tempo de "aproveitar" o momento tristeza pois meu braço começou a coçar. Droga! Olhei para baixo. Tinham algumas frutinhas roxas como amoras. Eu vira algo parecido no livro do papai, o qual Katniss guardava e folheava de vez enquanto. Tentava me lembrar do nome daquilo.

— Você se voluntariaria por ela?

Perguntou Gale, chamando minha atenção. Katniss pensou um pouco. Ela pensou!

— Sem pensar duas vezes... - disse, o rosto sério.

Gale sorriu, aquilo me acalmou, mas logo me deixou mais paranoica que antes. Eu poderia ser escolhida, Katniss se voluntariaria por mim, mas então eu perderia minha irmã para os jogos! De quê adiantaria?

— Eu também... Se não tivesse meus irmãos...

Gale chama minha atenção. Agradeço em silêncio.

— Precisamos sair daqui! - Grita Katniss. - Não deveríamos ter vindo. Esse dia não é muito bom para ficar aqui... É o pior...

— Pior para quê?

Gale tirou as palavras de minha boca.

— Eles podem aparecer a qualquer momento, estamos em área proibida... Sabe do que estou falando, não faça essa cara de idiota ingênuo.

O garoto sorri. Ela estava certa. Katniss se levanta com a ajuda de Gale, pega o arco e algumas flechas. A caça não fora muito boa naquele dia, o garoto deve ter convencido de que não era um bom dia para caçar ilegalmente. Eu também concordo. Olho novamente para as frutinhas. Amora... aquilo me lembrava amoras... e tinha um jeito diferente. Algo típico de...

— É veneno Gale!

Grita Katniss.

— Hã? O quê? Não! Eu já comi dessas frutas...

— Não! As que eu te dei aquele dia não eram dessas... Eram aquelas que se parecem com uvas. Será que você nunca aprende?

Ela sorriu, parecendo estar aliviada por se encontrar ali para livrar o amigo da morte... Por enquanto.

— São amoras-cadeado...

Ele as jogou pelo chão. Era isso, amora-cadeado... eu me lembraria para o resto da vida. Ouço um barulho não muito comum. Preciso avisá-los de que algo está para acontecer. Encontro um galho em formato de “Y” e retiro o elástico que estava pendendo meu cabelo. Pego uma pedra e acerto, perfeitamente, em um animal pequeno. Eles pensariam ser alguém da Capital chegando e sairiam dali.

[...]

Vou correndo assim que eles saem pela cerca. Sei disso porque eu cronometrara o tempo que demoravam para chegar até lá. Olho se não há ninguém por perto, com bastante medo e cautela. Passo pela cerca desligada que demarca nosso limite e sigo até em casa antes mesmo de Katniss chegar. Tomo um banho bem rápido, com a ajuda de minha mãe, e visto a roupa que a mesma me entregou. Era o dia de se aprontar! Em outros tempos, o motivo seria uma festa. Nos dias de hoje, o motivo é a morte. Ou pelo menos parte dela...

— Ah, para com isso, Patinha! Você está linda!

Diz Katniss, logo depois que reclamo da roupa. Ela arruma minha camisa e se levanta para que minha mãe continue a fazer a trança no cabelo dela. Aquilo que eu usava era a roupa que Catnip usou em sua primeira Colheita. Eu não estava reclamando pelo fato de ser velha mas, convenhamos, Katniss é bem mais bonita que eu!

Seguimos o caminho até o centro, o qual era um pouco longe da Costura, e, ao chegar, Katniss me deixa em uma fileira para as crianças da minha idade. Ela sai. Consigo vê-la por um raio de uns dez metros. Ao me virar, tendo a atenção chamada pela mulher da Capital, a perco. O “filme” sobre a guerra passa. Um frio na barriga define minha ansiedade para saber se seria aquele o ano de minha morte ou o de minha sorte. Olhando para a mulher, querendo desviar o olhar mas nunca o fazendo por causa da curiosidade, recebo a notícia que mais parecia ser um tiro no coração... o que seria bem mais fácil de se aceitar.

— Bem, como sempre... primeiro as damas!

Ela se vira para o lado do pote com os nomes das meninas e revira alguns papéis, pega alguns, mas logo muda de ideia e pega outro.

— Primrose Everdeen!

Ouço a mulher da Capital anunciando meu nome. Fico paralisada por um tempo, seria aquilo um sonho ou eu estava em plena realidade? Olho para os lados, todos me encaram. As meninas abrem caminho para que eu passe por elas. Procuro por Katniss.

Onde minha irmã se metera? Estaria ela com Gale? Não, ele estava ali na colheita, eu o vira. Além disso, as fileiras são separadas. Definitivamente não estavam juntos! Ela dissera mais cedo que precisava sair... Talvez tivesse armado algo para que conseguisse fugir. Meu tempo se esgotava, eu não teria nenhuma chance na Arena caso fosse para a mesma.

Effie me chamava novamente, alguns pacificadores do 12 me seguravam pelos braços, me dando apoio, aquilo não poderia ser verdade! Era meu primeiro ano! Como foi que eu tive o azar de ter o nome sorteado?! Eu não duraria nada naquele local, não sei caçar, não consigo matar, não sei fazer quase nada! A única coisa que faço direito é ajudar minha mãe, mas é diferente... Eu ajudo a salvar vidas e não a acabar com elas.

Katniss teria uma chance pelo menos... Ela poderia ganhar por mim! Eu sei que eu é que fui sorteada, ela não tem a obrigação de fazer nada por mim, mas eu a vi mais cedo, aquela mulher coletou o sangue dela e Katniss me acompanhava com os olhos. Onde ela estava? Por que é que aquela estrada estava menor? Eu precisava de mais tempo! Passei a mão em meu rosto, estava queimando e eu aposto que estava vermelho. Eu começara a suar, onde é que minha irmã estava? Olhei novamente, assustada, para todos os lados. Gale me encarando, o rosto triste. Percebi que minha blusa estava para fora. Katniss me chamaria de patinha e depois arrumaria para mim, como fizera pela manhã, logo depois de cantar para eu dormir.

Eu queria chorar, estava em choque. Me perguntava cada vez mais o motivo de aquilo estar acontecendo. Por que logo eu? Encarei Gale, ele apenas balançou a cabeça em negativa. Ele não se voluntariaria por mim, ele tinha os irmãos e a mãe, não poderia abandoná-los por causa de uma garota frágil como eu, que não serviria nem para dar comida para o Buttercup! Cheguei perto do palanque e subi as escadas laterais. Effie estava lá, estendendo as mãos para mim. Ela me assustava. Todos fizeram silêncio. Nunca vira aquele Distrito tão chocado como naquele dia. Uma criança que teve seu nome pela primeira vez fora sorteada. Algumas colocaram mais de cinquenta papéis por causa dos grãos. Eu precisava fazer alguma coisa, mas já era tarde de mais! Eu estava lá! Katniss não poderia mais se voluntariar por mim. Eu deveria lutar pela minha sobrevivência nos Jogos Vorazes.

— Senhoras e senhores, Primrose Everdeen!

Anunciou Effie.

— Aplausos, queridos, aplausos!

Eu realmente viveria os últimos dias de minha existência ao lado dela? Quisera eu pensar que não. O Distrito não se manifestou, não fizeram nada. Apenas me encararam. Eu nunca fiz nada para merecer um sinal de respeito. Eu vivi debaixo das asas de minha irmã e agora pagava o preço por não ter criado independência mais cedo.

— Bem, vamos agora aos rapazes!

Ela fez suspense, retirando minha atenção dos meus pensamentos. Eu queria sair dali, meu rosto deveria demonstrar isso. Quem é que quer lutar num jogo desses? Onde apenas um sai vivo? A expressão facial da mulher parecia demonstrar apreço pelo que fazia, ou pelo que era obrigada a fazer. Effie desejaria estar no distrito Um, em meio ao luxo e pessoas mais saudáveis, ou até mesmo na Capital, um lugar perfeito para pessoas como ela. Mas Effie estava num distrito doentio, num lugar cheio de doenças e cheio de pobres coitados! Ela remexeu os papéis uma, duas vezes e puxou um único e mortal papelzinho lacrado. Abriu-o e pronunciou o nome do rapaz com um tom prazeroso.

— Peeta Mellarck!

Espera? Era o menino da padaria? Ele não era nobre no local? Suas chances de ser sorteado não eram as mínimas? Bem, as minhas também eram e veja o que aconteceu! Olho para toda aquela plateia, eles não aplaudiram em momento algum. As pessoas seguiam os passos do garoto e, quando chegou ao mesmo lugar onde eu estava, todos ficaram nos olhando, com pena. Aquilo seria mais difícil e doloroso do que eu imaginava. Pisco meus olhos várias vezes. As pessoas deveriam ter mais amor ao próximo! Colocar 24 crianças numa arena para matar uns aos outros era tão desumano quanto prendê-las em distritos, em meio à pobreza extrema e à fome! Penso. Pelo menos uns cinco distritos tinham boas condições de vida e neles existiam as academias que treinavam tributos! Por que é que nasci logo no mais pobre? Só temos um único vitorioso e ele é um bêbado que não faz nada da vida!

Effie me manda cumprimentar o tributo masculino, estendo minha mão direita com mais facilidade que eu imaginara, o peso em meu corpo era maior que o meu peso real, era algo muito, mas muito pesado e eu não sabia se aguentaria por mais tempo.

— Bons Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor!

Finalizou a mulher com a peruca rosa.


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Notas finais do capítulo

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