I Need You Tonight escrita por Débora Falcão


Capítulo 18
Ligações




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A casa estava uma confusão. Eu estava em cima, no meu quarto, chorando como uma louca, e minha mãe e Nick estavam tentando me consolar.

"Calma, meu amor" dizia Nick. "Vai ficar tudo bem. Calma, calma."

"Como eu posso ficar calma?" Eu não conseguia respirar. Me levantei e fui até a janela. Ainda martelava no meu ouvido. Anne havia se suicidado com a arma do irmão. Arma do irmão.

"Nick, que tipo de irmão é esse que tem uma arma em casa?"

"Bom, eu não sei... parece que ele não é lá boa peça..."

"Como assim?"

"Olha, Kelly, eu não quero te deixar ainda mais nervosa."

"Eu já estou!" gritei. Eu estava mesmo histérica aquela noite.

"Mark faz parte de uma gang de pixadores em Los Angeles. É isso. É meio comum esse tipo de gang, e nessa época está muito na moda."

"Moda? Fazer parte de uma gang?"

"Tem gente que mata para ser aceito numa gang dessas, meu amor."

"Mas ele tem tudo! Eles são ricos!"

"Você se surpreenderia com a quantidade de playboys que fazem parte de gangs como estas. E garotas também."

Eu não disse mais nada. Fiquei em silêncio.

"Não se preocupe, meu amor, nada vai acontecer. Foi uma tragédia, mas agora vai ficar tudo bem."

Eu não tinha tanta certeza. Mas, o tempo passou, e eu e Nick continuamos juntos. Mark não deu sinal de vida. E nós gozamos paz por longos três anos.

Anne havia sido esquecida. Os tempos de colégio se foram, e agora Nick fazia faculdade. Mas eu nunca esquecera o que havia acontecido conosco. Durante aquele tempo, as lideres de torcida sempre sentiam que havia uma pessoa faltando, um lado vago, o lado de Anne. Eu não me importava muito com isso, ou fingia não me importar.

Eu consegui entrar para Harvard. E, aos vinte anos, me sentia bem. E eu e Nick resolvemos nos casar.

Preparativos para a festa tomaram conta dos meus pensamentos, e nós nos esquecemos completamente desses tipos de problemas.

"Mamãe, vamos comigo? Hoje é a última prova do vestido de noiva."

"A que horas?"

"Às três da tarde."

"Sim, querida, eu te acompanho."

"E agora de manhã vamos fechar com o decorador. Eu preciso de sua ajuda, mãe. Ele não quer fechar as rosas importadas, porque são muito caras, e não há rosas daquele tamanho em nenhum outro lugar."

"Ora? Mas nós vamos pagar! Qual o problema de serem caras?"

"Eu preciso da senhora comigo hoje."

"Onde está Nick?"

"Saiu com seu pai, foram buscar os ternos que ficaram prontos. Ah, não podemos esquecer seus sapatos. Ligaram informando que já foram confeccionados."

"Ok, ok. Vamos."

À noite, todos nós nos encontramos na sala. Eu me sentei, tirando os sapatos. "Estou exausta!"

"Também, Kelly, você deve ter posto aquele vestido mais de cem vezes."

"Mas eram tantos ajustes! O que era a última prova se tornou a penúltima. Amanhã é a prova do buffet."

"Opa, para este eu faço questão de ir."

Todos riram. Era uma pequena recepção, onde a empresa especializada faz todos os itens que estarão no buffet para que a noiva deguste.

"Ah, senhor meu marido, estou tão cansada!" Papai foi até mamãe.

"Eu também. Vamos dormir?"

"Sim."

Os dois nos deixaram sozinhos, eu e Nick, meu noivo.

"Você também vai dormir?" disse Nick, sentando-se ao meu lado.

"Não. Nick, quero passear um pouco no jardim. Estou tão eufórica que não conseguirei dormir!"

"Então vamos."

Passeando em silêncio à luz da lua, nós andamos de mãos dadas, sem nos contermos de emoção. Lembro de sentar-me na grama macia, Nick fazendo o mesmo.

"São tantas estrelas!"

Nós dois nos deitamos para admirar o céu, no jardim, a brisa suave nos envolvendo.

"Eu te amo, Kelly."

A frase saiu baixa, como um sussurro, despreocupada. Ele sempre me dizia, mas naquele momento, havia uma outra magia.

"Eu também te amo, Nick."

Ele aproximou-se de mim e me beijou docemente. Até que um zumbido fino nos atrapalhou. Celular.

"Alô." disse Nick. "Alô!" desligou. "Tenho certeza que tinha alguém do outro lado. Mas ninguém respondeu."

"Estranho..."

"Eu tenho a impressão que ouvi uma respiração na linha."

"Deixa pra lá. Deve ter sido engano, só isso. Bem, vamos dormir porque amanhã teremos um dia e tanto."

Nick descia as escadas para tomar café, quando eu notei que ele tinha desligado o celular com raiva.

"O que houve, Nick?"

"Nada, Kelly."

"Como nada? Você desligou o celular com raiva. Era alguém que te aborreceu."

"Eu não quero que você se preocupe à toa."

"E por que eu iria me preocupar?"

"Porque era o Mark."

Um gelo subiu pela minha espinha, e a voz ficou congelada em minha garganta. "Mark." consegui botar pra fora.

"Ele chegou de Los Angeles há três dias e está ligando para mim."

"O gangster, o irmão de Anne."

"Ele diz que quer vingança."

Um nervosismo me tomou. O que iríamos fazer? Ignorar? Chamar a polícia?

Sim. Chamamos a polícia. Eles rastrearam, mas os telefones que ligavam para Nick eram públicos, de diversos pontos aleatórios da cidade. Não adiantava muito.

Todos os dias, Mark ligava. Até que um determinado dia, as ligações misteriosamente pararam.

"Acho que o venci pelo cansaço." disse Nick.

Uma trégua que durou tempo suficiente para esquecermos dele.


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