– Hermione Jean Granger!

Eu tentei, juro que tentei passar despercebida pelo salão comunal da grifinoria e subir pro meu quarto silenciosamente. Mas parecia que todo mundo tinha resolvido olhar para mim depois que eu passei pelo quadro.

Principalmente Gina Weasley, que resolveu gritar meu nome saindo de algum canto em meio à multidão e surgindo na minha frente com Harry e Rony.
– Onde você se meteu?

– Hermione, você perdeu aulas. Muitas. – Rony começou, ele dizia aquilo como se fosse surreal. Não era tão inusitado, eu já havia perdido aulas, mas nunca do Snape. – E uma era do Ranhoso.

Olhei em volta, todos os olhares estavam concentrados em mim. Encolhi-me. Eu odiava publico ou qualquer coisa do tipo olhando diretamente para mim.

Harry era o único que estava mais afastado, com certeza ele compreendia que eu tinha tido um motivo e ter a grifinoria toda olhando para mim era horrível. Ele já tinha passado por isso.

As únicas palavras que saíram da minha boca foram um murmúrio baixo.
– V-vou subir.

Passei por eles com agilidade e rapidez, menos de um minuto depois eu tinha entrado no meu quarto. Fechei a porta, encostei-me nela relembrando os últimos acontecimentos. Um sorriso bobo se formou em meus lábios, meus olhos estavam fixos na parede e ela parecia ser uma TV que reproduzia todas as cenas.

– Hermione, por que você esta com cara de besta olhando pra parede?

Pulei. Arregalei os olhos ao ver que não estava sozinha. Morri, ressuscitei. O que aquela Patil tinha na cabeça?
– Padma o que você quer? Me matar do coração?

Ela riu.
– Desculpe. Mas sua cara estava muito engraçada.

– Eu não trabalho no circo. Não sou palhaça pra ser engraçada.

Ela ia responder, mas foi interrompida com um grito.
– MIONE!

Automaticamente gritei.
– EU!

Gina estava muito chata, me interrogando. Argh.
– Olha, não precisava me deixar plantada no meio do salão.

– Não precisava me constranger.

– Ok. Sei que agi mal. Mas...

– Mas o que Gina? – interrompi – eu sou uma pessoa. Não é por que eu sou a sabe-tudo de Hogwarts que eu não posso faltar às aulas. Sabe, a guerra acabou, mudou muita gente, mas mesmo tendo atitudes diferentes, eu continuo a mesma pessoa. E eu não aguento mais essa pressão de todo mundo.

Eu não devia estar fazendo isso, mas fiz.

Gina estava pasma.
– Hermione, você nunca falou comigo desse jeito.

– Estou falando agora. – eu não conseguia parar. A raiva estava na frente da razão, Gina não tinha feito nada demais.

– Então é assim? Você some, chega com raiva e desconta na primeira pessoa? Eu só queria saber por onde você esteve, eu me preocupei.

– Não se preocupe comigo.

Ela quem estava com raiva agora. Ela me olhou nos olhos e eu encarei seus olhos azuis.
– Eu me preocupo sim. Você é a pessoa em quem eu mais confio no mundo. É minha irmã. E seja lá o que estiver acontecendo com você depois de tudo o que enfrentamos ano passado, de um basta. – aquelas palavras me fizeram querer chorar – não esta fazendo bem a você. Pare de ficar escondendo tudo o que você sente. Não vai te fazer bem.

Agachei-me no chão, minhas mão cobriam meu rosto banhado por lagrimas contidas por muito tempo. Padma já tinha sumido dali.

– Gi-Gina, eu n-não consigo. – solucei. Eu nunca tinha parecido tão vulnerável.

Gina se abaixou ate ficar na mesma altura que eu. Ergueu meu rosto.
– Você não precisa mudar, precisa melhorar. É diferente. Quando a gente muda pode ser pra melhor ou pior, você não pode mudar o que você é, mas sim melhorar o que você é.

Assenti com a cabeça ainda chorando.
– Gina, eu preciso te contar uma coisa.

Ela franziu o cenho.
– O que?

Engoli o choro, a tristeza, tudo. Agora eu contaria toda a verdade a ela.
– Eu apaguei a memoria dos meus pais, para que eles não corressem perigo. Bem, nas férias eu fui procurar eles como você sabe, e é verdade. Eu disse a Harry naquela outra carta que ele certamente mostrou a vocês que eu os havia encontrado.

– Sim, eu vi a carta e fiquei muito feliz por você Mione.

As lagrimas só saiam mais fortes.
– Gina, eu não tive coragem de falar com eles.

Gina levou a mão à boca. Seus olhos começaram a marejar.
– Hermione... não me diga que você...

– Sim. Eles emanavam alegria...como se tivessem recomeçado. Minha mãe parecia mais jovem, estava gravida. Sabe o que aquilo significava? Eu nunca vi aquele brilho nos olhos do meu pai antes, quando eu vivia com eles, eu devia ser... Pensei em ir falar com eles, mas não consegui. Eles finalmente estavam felizes, não precisavam de mim. Eu só traria os olhos preocupados da minha mãe de novo e tiraria dela a maior felicidade que já teve. Eu voltei dois passos e virei à esquina correndo, eu não conseguia ficar mais tempo ali Gina. Entrei num beco cai de joelhos no chão e comecei a chorar. Eu estou sozinha. Eu não tenho uma mãe nem pra brigar comigo, não tenho meu pai pra me chamar de princesa, beijar minha testa e me cobrir antes de dormir. Eles nunca mais vão estar na plataforma acenando pra mim como todos os outros pais de alunos. Você não tem ideia do que é lembrar toda noite que você não teve coragem de enfrentar sua realidade, que você preferiu chorar como uma criancinha a ir lá e falar com as pessoas que mais ama no mundo, mas elas não se lembram da sua existência, eu sou um nada pra eles. Eu não mereço esta casa.

– Isso... Hermione, por que você fez isso?

– Eu os amo.

Gina me abraçou.
– Mesmo eu achando essa forma de amor estranha, eu vou te apoiar sempre. Mana, eu te amo. – ela olhou pra mim – você tem a mim, Harry, Ron e todos os seus amigos. Sempre.