Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, muito obrigada pelos comentários de cada um. Bom, vamos ao capítulo. Seria legal se ouvissem Wrecking Ball - Miley Cyrus.



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– Ela está armando contra a Quinn – falei para os meus pais. – Kitty jurou que iria se vingar por ela ter terminado o namoro. Ela inventou tudo.

Os dois trocaram um olhar de dúvida.

– Quinn terminou com Kitty há dias – acrescentei, defendendo-a. – E tenho quase certeza de que foi porque tinha medo de acabar mordendo aquela garota. Ela sabia que estava perdendo o controle, mas se conteve.

Mamãe lavava a louça da minha festa meio frustrada.

– Rachel, Quinn está passando por algo muito difícil, lutando consigo mesma. Não podemos ter certeza do que aconteceu.

– Não aconteceu nada!

– E “nada” estava acontecendo no seu quarto? – perguntou papai. – Você está envolvida demais com Quinn para ser imparcial, Rachel.

– Ela é uma Fabray – argumentou mamãe, mergulhando os pratos na pia. Parecia muito chateada. – Ela deseja não ser assim, mas pode não conseguir lutar contra esse seu lado. Talvez tenha sido até perigoso deixa-la morar aqui. Nem sei mais se fizemos a coisa certa.

– Vocês estão sendo injustos. Só porque os tios dela são horríveis não significa que Quinn seja um monstro! Ela não mordeu Kitty. Por favor, vamos até a delegacia!

Meus pais trocaram outro olhar inseguro. Então papai disse:

– Rachel, independentemente de como a gente se sinta, Quinn pediu para cuidar disso sozinha. Vamos respeitar o desejo dela. E você também vai.

– Agora eu tenho 18 anos – observei. – Não preciso da permissão de vocês para fazer nada.

– Mas precisa de um carro – observou mamãe.

Corri até o gancho perto da porta dos fundos, onde meus pais guardavam as chaves. Tinham sumido.

– Cadê as chaves?

– Isso é para o seu próprio bem, Rach – disse papai. – Você foi muito a fundo com Quinn. Precisa recuar.

– E é nossa responsabilidade protegê-la – acrescentou mamãe. – Queremos ajudar Quinn também, é claro. Mas você é a nossa maior prioridade.

Encarei os dois, me sentindo traída.

– Ela não nos quer agora filha. Fizemos tudo o que podíamos – disse papai.

O telefone tocou e eu agarrei o aparelho.

– Quinn?

– Não, é a Mindy.

– Não posso falar agora...

– É sobre a Quinn – disse ela. Havia pânico na sua voz.

– O que é? O que está acontecendo?

– Não sei se devo contar.

– Diga logo, Mindy. Por favor.

– Eles estão fora de controle. Estão falando em espancar a garota pelo que ela fez com a Kitty. David incitou todo mundo com aquele papo de vampiro. Eles estão malucos!

Meus dedos apertaram o fone.

– O que você ouviu exatamente?

– Tem uns caras... esperando a Quinn. Vão leva-la para o celeiro do Brody e “dar uma lição nela”. – Ela fez uma pausa. – Estou com medo por ela, Rach. Não fez o que ela fez com você...

– Nada!

– Mas estou com medo por ela. Estão falando do sangue em você e dos arranhões em Kitty e de como a perna dela se curou tão depressa... e de todas as coisas que acharam no site sobre a família da Quinn, Rach. – Ela fez outra pausa. – E Kitty ouviu você chamar a garota de vampira também. No estábulo.

Aquele dia no estábulo, há milênios. Mais uma vez eu piorei as coisas para Quinn. Pelo jeito, eu é que sou perigosa...

– Eles ficam falando sobre vampiros e estacas – gritou Mindy.

– Estacas? – perguntei. O fone quase caiu da minha mão.

– É, Rach. Estão levando estacas, como se estivessem na Idade Média ou sei lá o quê! Para o caso de ela ser uma vampira de verdade! Eles piraram!

Estacas. Pessoas fora de controle. Turbas. Meus pais biológicos foram destruídos dessa maneira...

Lutei para permanecer calma.

– Eles disseram quando isso vai acontecer?

– Esta noite. Mais tarde. Vão pegar a Q quando ela sair da delegacia. Todo mundo já soube que ela foi presa.

É claro. A rede de boatos devia estar frenética.

– Obrigada, Mindy

– Eu... eu sei que a gente não tem sido amiga ultimamente...mas isso... isso é loucura. Achei que você deveria saber.

– Preciso desligar.

– Rach?

– O quê?

– Feliz aniversário.

– Tchau, Mindy.

Desliguei o telefone, escancarei a porta antes que meus pais pudessem me impedir e corri para selar Bela.

***

CARO BASILE,

Desculpe o papel timbrado barato da Delegacia de Polícia de Mount Gretna. Tenho sorte de possuir ao menos isso para escrever a você.

Parece que fui acusada de “atacar” uma garota local, Kitty Wilde, e de morder seu pescoço. Eles vão terminar de me “fichar” logo, portanto vou tentar ir “direto ao ponto”, como dizem por aqui. Mais importante: eu NÃO cravei as presas naquela garota insuportável. Ela inventou o ferimento. Os policiais enfiaram uma série de fotos “chocantes” debaixo do meu nariz, observando minha reação. Não pude deixar de rir. Marcas de mordidas, sim. Mas de um vampiro? Não. Mas foi uma falsificação hábil. Kitty sem dúvida é esperta. E aparenta ser imune à dor. As marcas pareciam bastante profundas. E havia uns bons hematomas. Bravo. Trabalho excelente.

Durante um período particularmente sombrio, cheguei a desfrutar da natureza tortuosa de Kitty. Agora meu flerte retorna para me morder. Irônico, não?

Fora isso, sinto que o humor neste pequeno povoado está bastante implacável no momento. Ainda que eu deva ser liberada “com o compromisso de ficar à disposição” até que seja acusada formalmente, tenho uma forte suspeita – intuição de vampiro – de que “a coisa tá preta”.

Ou, para usar termos que você terá mais facilidade de entender, a turba está se reunindo, como previ já há algum tempo.

Escrevo porque sei que você ansiou pelo prazer de me destruir pessoalmente por tê-lo desafiado – por violar o pacto e arruinar seu plano. Ah, como deve ter ansiado por cravar fundo a estaca. Mas agora a tarefa será feita por um bando de adolescentes americanos ridículos. De certo modo eles foram melhores do que você, Basile. É cruel da minha parte ficar feliz em privá-lo do que tanto quis? Sinto mesmo alguma alegria em saber que lamentará que não tenha sido por suas mãos...

Dito isso, vou de boa vontade ao encontro do meu destino no humilde condado de Lebanon, na Pensilvânia. E, assim, a história se repete. Mais uma Fabray destruída. Lutarei para partir de modo tão corajoso e estoico quanto meus pais. Para manter a honra do clã – que é mais do que você fez, Basile, segundo meu ponto de vista.

Também escrevo em favor da Rachel. Eu não a mordi, Basile. Ela permanece sendo uma adolescente americana. Deixe-a assim. O sonho de uma princesa Dragomir acabou.

Há mais coisa a dizer? Parece estranho, dada a minha queda pelas missivas cheias de divagações, que minha última carta seja tão breve. Mas, na verdade, estou morta – em mais de um sentido. (Quem pode resistir ao humor negro? Não é sinal de coragem rir da própria extinção?)

Confio esta carta ao Serviço Postal dos Estados Unidos. Uma organização muito confiável. É rara a burocracia à qual podemos confiar nossas últimas palavras. Acredito que esta vá encontra-lo em curto tempo.

Sua sobrinha em sangue e memória,

Quinn.

***

Os cascos de Bela trovejavam na noite chuvosa. Eu estava congelando na sela. Era o fim do inverno e a noite continuava gelada. A chuva misturada com a neve batia no meu rosto, derretendo através da blusa fina. Não tive tempo de pegar um casaco.

– Anda Bela – instiguei, batendo os calcanhares nos flancos, desejando que a égua seguisse mais depressa. Parecia que ela entendia minha urgência, porque voava pelo campo congelado. Rezei para que não caísse na toca de um bicho e quebrasse a pata, porque a noite estava escura demais e nós corríamos de maneira imprudente pelo terreno irregular.

Salvar Quinn... Salvar Quinn... Era o que martelava nos meus ouvidos a cada batida de cascos.

À minha frente, o celeiro dos Weston surgiu, cinza-claro e em arco, como uma lápide contra o céu. Um gritinho escapou dos meus lábios. Já havia carros ali. Mas não posso estar atrasada demais. Não posso. Quando saltei de cima de Bela antes mesmo de ela parar, escutei vozes dentro do celeiro. Vozes raivosas, masculinas, e um ruído de briga. Corri até o celeiro e abri a porta pesada, puxando-a para trás em seu trilho enferrujado.

Lá dentro, um pandemônio. A briga já estava acontecendo. A turba estava solta.

– Brody, não – gritei, vendo meu ex-namorado no meio da balbúrdia. Mas ele não prestou atenção. Ninguém sequer me notou quando corri para o meio da confusão, tentando tirar os garotos de cima de Quinn. Havia sangue por toda parte e punhos voando enquanto Quinn lutava sozinha contra eles. Ela era muito forte, mas não o bastante para aguentar aquilo...

– Vou matar você pelo que fez com ela – gritava Blake Strausser ao socar Quinn. Tentei agarrar os punhos de Blake, mas alguém me puxou para longe, lançando-me contra a parede. Voltei gritando para eles pararem, mas ninguém prestou atenção. Estavam embriagados de vingança, medo e ódio, ódio de alguém diferente deles.

– Parem – implorei. – Deixem ela em paz!

Quinn deve ter ouvido minha voz, porque se virou para mim, só por um segundo, e vi surpresa em seus olhos. Surpresa e resignação.

– Quinn, não – gritei, sabendo o que ela iria fazer.

Iria se destruir.

E então ela fez um movimento fatal. Virou-se para os garotos já furiosos e mostrou as presas.

A bravata de machão foi abandonada pelos agressores.

– Vampira! – gritou Blake, com terror e choque se misturando na voz.

– Filha da mãe... – xingou David Karoufsky, recuando, parecendo petrificado, como se de repente tivesse percebido que aquilo não era mais apenas um jogo. Ele havia liberado um poder que jamais esperara realmente, apesar de todas as suas histórias de vampiros, sites e estacas.

Blake também se afastou cambaleando pelo piso coberto de feno, mas ainda tentando pegar algo atrás, às cegas.

Eu vi antes que ele a localizasse. A estaca. Feita em casa. Grosseira, porém fatal. Parcialmente enterrada no feno. Mergulhei para pegá-la, mas Brody também viu e foi mais rápido. Agarrou-a e foi na direção de Quinn, que lutava para ficar de pé, pronta para se defender do lutador Atarracado, mas mesmo assim muito forte.

– Não, Brody! – gemi, me ajoelhando com dificuldade, e tentei agarrar as pernas dele, sem conseguir. Quinn rosnou e avançou também.

E então, como se fosse em câmera lenta, vi meu ex-namorado levantar o braço, saltar para frente e enfiar a estaca no peito de Quinn.

– Brody... não! – gritei. Ou pensei ter gritado. Não me lembro de ter ouvido as palavras saírem da minha boca.

E numa fração de segundo tudo estava acabado.

Brody – o garoto legal – estava junto ao corpo de Quinn. O corpo totalmente imóvel de Quinn.

– O que você fez? – esbravejei no silêncio súbito.

Brody recuou, com o pedaço de madeira pesado, afiado e sangrento na mão.

– Tinha que ser eu – disse ele, me olhando com expressão arrasada. – Desculpa.

Eu não sabia o que ele queria dizer. Não me importava.

– Quinn – gemi, cambaleando pelo feno. Desmoronei ao lado dela, tentando sentir sua pulsação. Ela estava lá, porém mais fraca do que o normal. O sangue escorria pelo buraco da sua blusa. Um buraco enorme. Olhei para o círculo de rostos. Rostos familiares. Garotos que eu conhecia da escola. Agora a raiva havia sumido e a consciência do que tinha feito parecia se assentar. Como puderam ter feito isso? – Chamem alguém para ajudar – implorei.

– Não, Anastácia – disse Quinn, baixinho.

Eu me curvei sobre ela, apertando gentilmente a mão no buraco em seu peito, como se pudesse parar o sangramento.

– Quinn...

– Acabou, Rachel – ela conseguiu dizer, com a voz suave. – Deixe para lá.

Uma voz forte e poderosa veio do canto mais escuro do celeiro.

– Saiam. Todos vocês. E nunca falem sobre isso. Nunca. Nada aconteceu aqui.

Dorin. Meu tio havia abandonado sua postura alegre e falava com uma autoridade inesperada enquanto emergia das sombras, caminhando com passos firmes, assumindo o controle.

Pés se arrastaram depressa no feno enquanto o grupo de adolescentes obedecia e se dispersava, correndo como se as palavras do vampiro fossem um estilingue lançando-os na noite.

De onde Dorin tinha vindo? Por que não havia chegado a tempo? Corri até ele, batendo os punhos manchados de sangue em seu peito.

– Você deixou isso acontecer! Devia ter protegido a Quinn!

– Saia, Rachel – insistiu Dorin, segurando minhas mãos. Ele era surpreendentemente forte. A tristeza enchia seus olhos. – Esse é o destino de Quinn. É o que ela deseja.

Não. Não pode ser. Nós acabamos de nos beijar...

– Como assim, “o que ela deseja?” – choraminguei, correndo de volta para Quinn, caindo de joelhos. – Nosso destino é ficarmos juntas, certo? Diga Quinn.

– Não, Anastácia – respondeu ela, a voz fraca e sumindo. – Seu lugar é aqui. Tenha uma vida feliz. Uma vida longa. Uma vida humana.

– Não, Quinn. – Solucei, implorando que ela vivesse. Ela não podia desistir. – Quero viver com você.

– Não é para ser, Anastácia.

Juro que vi lágrimas em seus olhos agora negros, logo antes de eles se fecharem. Comecei a gritar e depois só me lembro das mãos do meu pai me levantando, puxando-me para longe, carregando-me – lutando contra nada e contra tudo – até a Kombi. Eu não sabia quando eles haviam chegado nem como tinham me encontrado.

Não importava.

Quinn havia morrido.

Fora destruída.

O corpo desapareceu. Dorin desapareceu. E, seguindo a instrução do vampiro, ninguém mencionou o que acontecera. Era como se a coisa toda tivesse sido um sonho. Não fosse o cordão no meu pescoço, o modo como o fecho parecia queimar no ponto onde os dedos dela havia lacrado, talvez eu mesma não acreditasse.


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Notas finais do capítulo

Então... rs. E agora, o que será vai acontecer?