– Eu nunca achei que você fosse tão burro assim – murmurou Ragnor Fell, carrancudo.

Magnus fez uma careta. Talvez não devesse ter vindo afinal. Mas precisava da opinião de seu amigo, mesmo que este fosse permanentemente mal-humorado.

Ignorando a ofensa, o Alto Feiticeiro do Brooklyn continuou:

– Nós saímos juntos, uma espécie de encontro. E nos demos muito bem. Você tem que ver quando ele cora. É incrivelmente lindo!

Ragnor Fell revirou os olhos.

– Eu posso te dar uma lista incrivelmente longa de porque isso não vai funcionar.

– Ragnor! Você não entende! – Magnus se levantou, fazendo com que Presidente Miau fosse jogado ao chão. O gato caiu em pé, logicamente, e saiu, miando de forma irritada. – Eu nunca senti isso antes!

Ragnor imitou a campainha de um daqueles programas de perguntas.

– Resposta errada, caro Bane. E esse é, na verdade, o 10º item da lista: você vai superar! Daqui a alguns meses, nem vai lembrar mais deste garoto e então encontrará outro e... acabará dizendo a mesma coisa, que “nunca sentiu isso antes”. Nós dois sabemos que será assim. E não venha me dizer que dessa vez é diferente!

Magnus fez biquinho, parecendo irritado.

– É diferente! Tudo bem, ele é um caçador de sombras...

– 23º item – interrompeu o outro.

– Existe mesmo uma lista? E ela é assim tão longa? Posso vê-la?

– Ela está na minha cabeça. Mas continue, diga o que estava querendo falar.

– Então, ele é um caçador de sombras, sim. Mas e daí?

Magnus, de forma esperançosa, encarou ao amigo. Este lhe parecia cada vez mais irritado.

– E daí? Você é realmente tão estúpido, Magnus, a ponto de perguntar isso? 36º item da lista: caçadores de sombras e membros do submundo são inimigos!

– Por que você tem que ser tão pessimista? – indagou o feiticeiro de olhos felinos, levantando os braços e olhando ao teto como se esperasse ajuda divina.

– O que você chama de pessimismo eu chamo de realismo.

– Ragnor – Magnus encarou ao amigo. – Eu acho que realmente deveria continuar com isso. O que poderia dar errado? – Dessa vez ele não soou esperançoso, apenas desesperado.

– E você acha que os pais dele, a Clave, vão aceitar isso? Já não basta ele ser um caçador de sombras homossexual... Namorar um membro do submundo, um feiticeiro, É SUICÍDIO! Claro, não acho que você vá se importar com isso. Nunca se importa.

Magnus recuou, chocado. Aquilo havia machucado, com toda certeza. E, no entanto, ele sabia que Ragnor estava certo. Ele nunca se importou com coisas como estas.

Mas isso foi antes de conhecer Alec.

– Acho que você deveria adicionar um item à sua lista – murmurou. – Alexander está apaixonado pelo jovem Wayland.

Ragnor o encarou, parecendo surpreso. Depois deu um pequeno e triste sorriso.

– Acho que sabe o que tem que fazer, não é Magnus?

– A coisa certa. Deixar que Alexander viva a vida dele. Eu realmente gosto do rapaz, mas não quero que ele perca seus poucos anos de vida comigo, quando poderia tentar formar uma família. Ou ser feliz com alguém que não será jovem para sempre.

– Me pergunto se algum dia encontraremos alguém que amaremos o suficiente para nos fazer abrir mão da imortalidade – sussurrou Ragnor, pensativo.

Magnus não disse o que estava pensando, que provavelmente ele já havia encontrado essa pessoa, mas a estava deixando ir. Não era necessário jogar sal na ferida. Ela doía o suficiente sem que ele o fizesse.

– Você não ia se encontrar com o caçador de sombras hoje? – indagou Ragnor, de repente.

– É, eu vou.

– Quando voltar eu estarei aqui, te esperando. Podemos nos embebedar.

Magnus sorriu. No fim das contas era bom ter seu amigo por perto.