Minha última semana foi turbulenta. Sério. Glimmer inventou que se eu fosse uma líder de torcida seria muito ótimo pra minha reputação - se é que eu tenho uma.

Eu disse que não, é lógico. Mas como sempre minha opinião era a última que importava, lá estava eu seguindo para o ginásio com uma microssaia das líderes de torcida.

“Clove, Cato terminou comigo ontem.” ela disse rapidamente entrando no ginásio. Ela não parecia com raiva, o que foi muito estranho. Que eu saiba Glimmer não era uma garota de levar um fora.

“Finalmente, duas namoradas é demais, não acha?” Eu disse irônica.

Ela respirou fundo.

“Ele terminou com a Katniss também.”

“O quê? Você está me dizendo que ele terminou com vocês duas?” Perguntei incrédula. “Então nosso plano está dando certo?”

“Eu acho que sim.” Ela disse. “Você continua o ignorando, não é?”

“Continuo, nos últimos dias ele já me convidou três vezes pra sair e até pediu pra fazer dupla em um trabalho de escola. Recusei todos.”

Ela me olhou como se eu tivesse três olhos.

“Trabalho de escola?” Ela riu. “Meu Deus, ele ta caidinho por você, Clove.”

Aproximamos do grupo de garotas no meio da quadra.

“Então garotas, essa é Clove. Ela acabou de entrar para o grupo.” Glimmer percebeu que ninguém fez absolutamente nada. “Cumprimente ela, meninas”

Recebi alguns sorrisinhos sem graça.

"Como é que ela vai entrar para o grupo, se o grupo já está completo?”Uma garota que com certeza foi bronzeada artificialmente e ficou parecendo um peru de Natal assado me olhou esnobando.

“O grupo já está completo? Ótimo.” Comemorei. “Eu nem queria mesmo.”

Glimmer olhou pra mim e depois se aproximou perigosamente dela. E eu sabia que aquilo daria totalmente errado.

“Está completo?” Glimmer estreitou os olhos. A garota bronzeada assentiu. “Pois então não está mais.”

Todas nós não entendemos até Glimmer chutar a canela da garota. A menina Peru-assado caiu no chão e gemeu.

“Sua louca.”

“Vejo que agora está incapacitada de dançar então...” Glimmer apontou para a porta. “Fora!”

Algumas das outras meninas ajudaram a garota bronzeada a levantar e ela saiu mancando lançando um olhar perfurante em mim. Como se eu tivesse culpa.

“Belo chute, mas você foi muito mal.” Eu disse a Glimmer que sorriu maldosamente.

“Eu sei, mas creio que ela não tenha quebrado nada.” ela disse. “E além da mais, ela te esnobou. E só eu posso te esnobar.”

Quando eu percebi o que Glimmer havia tinha dito, ela estava longe de mais para que eu pudesse socar seu nariz.

“Então vamos lá, meninas. O que ensaiamos ontem. Clove tente acompanhar.” Ela se colocou a frente do grupo virando-se de costa. “Cinco, seis, sete, oito. E um, dois três, quatro...”

Ela começaram uma coreografia que envolvia passos muito complicados, giros estranhos e salto que eu nem me atrevi a fazer.

Talvez você já saiba o que aconteceu. Eu trombei com a garota da frente, pisei no pé da menina ao meu lado. E na posição final, sem querer, eu soquei na barriga a menina de trás, que depois disso ganhou um tom meio esverdeado. Eu estava rezando para que ela não vomitasse em ninguém.

“Excelente garotas.” Percebi que Glimmer não olhou pra mim. Mas é claro. Eu nunca havia dançado. “Continuem. Clove, você vem comigo.”

Ah! Que divertido.

“Tem como se esforçar pelo menos ou quer que eu te tire do time?”

“Isso, me tira do time e eu ficaria feliz.” Sorri.

“Que droga, você não percebe o tanto de garotas que gostariam fazer parte do time?”

“Só que eu não me encaixo nesse tanto de garotas, entende?” Bufei. “Tudo bem, eu me esforçarei daqui pra frente, mas eu não me responsabilizo por hematomas em suas amiguinhas.”

Glimmer revirou os olhos.

“Vem, vamos continuar. Está quase na hora do almoço.”

Algum tempo depois...

P.O.V. Cato

“Está vendo. Olha lá. O que eu não tenho que Peeta Mellark tem?” Clove, a mais nova líder de torcida gata estava sentado junto com o filho do padeiro.

“Você quer mesmo que eu fale?” Marvel disse sorrindo.

Olhei incrédulo pra ele.

“Muito engraçado.” Bufei.

“Cara, você devia desistir dessa garota. Quantos nãos você já levou dela essa semana?”

“Eu não vou desistir dela, não vou mesmo.” Bati na mesa com força. “Eu não consigo entender. Eu já tive três namoradas ao mesmo tempo. E nunca tive trabalho com isso.”

“É e agora você não tem nenhuma por causa de uma garotaque você achou bonitinha.” Marvel riu.

“Eu achei que seria mais fácil conquistá-la.” Admiti. “Ela é diferente.”

“Ela diferente por que ela disse não a você. E isso te incomoda. Muito.”

Talvez ele tivesse razão. Quem ignoraria o capitão do time de basquete?

“Olha cara, eu juro que se você conquistá-la, eu venho de saia durante uma semana.” Marvel prometeu.

“Esqueceu quem eu sou? Em mais ou menos dias ela vai perceber que está perdendo e vai vim correndo pra mim. Se eu fosse você, eu não faria isso.” Eu aconselhei. “ E além do mais você faz parte do time. Não seria bom um jogador andar de saia por aí.”

Ouvi Marvel gargalhar.

“Eu não vou voltar atrás, Cato. Esqueceu que é você que está correndo atrás dela?” Ele zombou. “Cara, você está abaixando de nível, viu?”

Eu olhei de volta pra mesa onde ela estava sentada. Eu tinha um objetivo e não desistiria dele tão fácil, eu tinha que conquistá-la. E além do mais quem perderia a oportunidade de ver seu melhor amigo usando saia? Não seria eu.

“No que está pensando?” Marvel me tirou do transe.

“Eu preciso convidá-la pra algum lugar. Tem alguma ideia?” Perguntei.

“É pra ela te dar mais um não?” Ele sorriu. “Garotas gostam de romantismo.”

Foi a minha vez de rir.

“Desde quando entende de romance?”

Ele escorregou um pouco da cadeira.

“Meu pai disse isso. Ele arrumou uma namorada dez anos mais nova que ele e fez um jantar a luz de velas.”

Jantar a luz de velas. Eu acho que não. Seria muito para um primeiro encontro. Eu não estou tão desesperado assim. Se tivesse algum evento que mais pessoas fossem...

“É isso!” Gritei.

“O quê!?” Marvel pulou da cadeira.

“Eu tive uma grande ideia! Prepare a sua saia Marvel.”

P.O.V. Clove

Peeta e eu nos sentamos em um canto refeitório. Glimmer queria que eu me sentasse com as líderes de torcida. Mas eu preferi sentar com ele.

“Então você não vai me dizer o que está acontecendo?” Ele perguntou.

“É uma longa história.” Respondi, mas não consegui olhar em seus olhos.

“Uma longa história.” Ele repetiu. “Você mudou. E só queria saber o porquê.”

“Eu não posso contar.” Minha voz estava falhando.

Peeta era o meu único amigo, antes de tudo acontecer.

“Achei que fossemos amigos, Clove.” Ele suspirou.

“Mas nós somos. Melhores amigos.” Lembrei.

“Eu não tenho tanta certeza.” Ele olhou para suas mãos. “Você mudou muito. Esqueceu do que me dizia sobre as líderes de torcida, que elas eram garotas fúteis e idiotas? Agora você virou uma.”

“Eu queria experimentar uma coisa nova.” Menti.

“Fico feliz por você, Clove. Só não quero que você se torne uma pessoa que você não é. Lembre disso.” Ele se levantou da mesa e saiu do refeitório.

Pois é, esse é o grande problema. Desde quando aceitei tudo isso, eu não tive muitas escolhas, eu não estou conseguindo ser eu.

Estava quase chorando ali, quando percebi que Cato estava andando na minha direção. Ultimamente ele anda meio obcecado. Por mim. E isso me assusta. Muito.

“E aí Clove!” Ele se sentou onde Peeta estava sentado.

“Não cansou de levar fora, Cato?” Perguntei zombeteira.

“Eu tenho um convite pra você. E não aceito não como resposta.” Ele disse confiantemente.

“Sério?” Fingi não estar interessada.

“Sábado agora, não sei se você ouviu, terá uma festa na praia e eu quero que você vá comigo.”

“E eu já disse que não quero nada com você?” Perguntei.

“Como amigos,” ele disse a palavra amigos com certa dificuldade. “Vamos à praia como bons amigos.”

“Como amigos?” Repeti. “É não vou a lugar nenhum com...”

Senti meu celular vibrar. Era uma mensagem da Abbie:

Seja o que for dessa vez aceite.

“Pensando bem, Cato, não seria uma má ideia sair com você.” Eu disse isso e ele sorriu. “Como amigos.” Lembrei.