As Cores Do Outono escrita por SakuraHimeT


Capítulo 2
Capítulo 2- Castanho Caramelizado e Verde Menta


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui está mais um capitulo nesta semana. Espero que gostem! ^^



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Os primeiros raios de sol invadiram lentamente o meu quarto. O galo ao longe fez-me acordar com o seu bom dia  agudo.

Estremeci na cama, resmungando e tapando os ouvidos com uma outra almofada.Tinha durmido mesmo mal e agora o meu despertador era uma ave.

Deviam ser uma oito horas da manhã, levantei-me e mesmo de pijama dirigi-me à cozinha. Tinha um bilhete em cima da mesa.

Bom dia querida.

O café está na cafeteira e tens pão fresco com queijo da Dolly e doce de abóbora. Volto pela hora do almoço. 

Beijos Maki..

Enchi uma caneca de café  e sentei-me no alpendre. O galo continuava a cantar os bons dias e enjilhei o nariz.

Na cidade por estas horas, eram as buzinadelas do trânzito que acordavam as pessoas.Aqui era tudo natural.

A pequena fumaça que saía quente da minha caneca acariçiava-me a face juntamente com o ar fresco da manhã de Outono. Não podia negar, mas sabia mesmo bem.

Ao meu lado direito estava lá a casa grande. Perguntáva-me se também tinham uma vida agrícula como a da minha tia. A chaminé já não tinha fumo e tudo parecia calmo.

À frente da fazenda, o nevoeiro passava por entre as árvores. E avistava-se uma parte do rio.

Bebi o café e entrei. Subi novamente para o quarto para tentar mudar de roupa mas o frio era tao intenso que voltei a enrolar-me na colcha quente e nos lençois de flanela. Abri o meu livro e começei a ler.

Mais tarde a tia chegou para o almoço e eu acordei com o motor do seu chervolet a trabalhar á frente da casa.

-Raios! Adormeci!- levantei-me apressadamente e fui escovar os dentes depois de cair duas vezes ao chão.

-Sakura? Está tudo bem?- gritou a tia do andar de baixo.

-S-sim!- gritei de volta, com a boca cheia de espuma. Estáva horrivel. Os cabelos revoltados, pequenas olheiras de uma noite mal dormida e o pijama todo amaranhado.

Mudei de roupa, e tentei me recompor. Quando reparei que ja estava decente, desci para a cozinha.

A tia começara a fazer o almoço, pois um doce cheiro a azeite e cebola refugada invadia todo o recinto. Percebi que estava esfomeada.

-Bom dia tia.- sussurei para a mulher e sentei-me à mesa.

-Olá querida, como te sentes?

-Mais ou menos.- bufei sem ela ver. 

-Compreendo. -voltou-se para mim.- Por favor, podes ir buscar umas batatas ali ao saco na dispensa?- apontou para uma porta ao lado.

Levantei-me e fui buscar.

-Quantas?

-Umas oito.

Apanhei uma, duas , tres e fui guardando-as umas em cima das outras no meu colo sobre o meu braço que estava dobrado. Mais quarto , cinco, seis... reparei que iam cair. Sete e... oito! Consegui equilibra-las todas no meu colo, mas quando me levantei para voltar a entrar na cozinha, as primeiras de cima cairam para o chão. Resmunguei baixinho.

Maki riu-se e foi apanhá-las.

-Querida, estava ali um balde para as pores.- mostrou o balde pendurado na porta de madeira.

Revirei os olhos, comentando mentalmente. "Sim claro um balde, tá tia, eu nao sou de campo nunca fui buscar tantas batatas num balde!" Eu seria sempre desastrada para o resto da minha vida.

-O que faz aos fins de semana?- perguntei a tentar mudar de assunto.

A mulher ficou em silencio por uns momentos. Depois voltou-se para mim e tirou as batatas para uma bacia, descascando-as.

-Depende. Quando está muito frio, passo os dias em frente à lareira a fazer tricot ou croché. Faço bolos e tartes. Quando está bom tempo, sempre vou verificar os animais e pastar as ovelhas.

Franzi o nariz. Uau , que vida de..campones!

-E tu?

Eu hesitei no que dizer. Os meus pensamentos voaram até à minha bela cidade, aos meus amigos e ao meu pai. Merda, estava cheia de saudades.

-Vou para a casa da Tomoyo as vezes, passamos muitos fins de semana juntas. Vamos ao cinema, ao shopping fazer umas compras, saímos com o nosso grupo de amigos...

-Estás na idade para sair com os teus amigos,realmente.- sorriu.

-Sim, mas não aqui, neste campo!-falei rispidamente sem querer. Percebi que tinha falado demais.Mas também era verdade, não era? Primeiro ninguem saía aqui, ninguem ia ao cinema, não há cinema sequer senão arvores animais e fazendas. Segundo, aqui só existiam adultos e pessoas velhas. Tinha a certeza que não havia ninguem da minha idade que pudesse falar. Conclusão, odiava isto. Queria voltar para a cidade.

Por mais que fosse aborrecido a minha mente gritava.Por Deus, Sakura, mal conheces a mulher e já a ofendes-te.Apressei-me a responder.

- Desculpe, eu nao queria...

A senhora sorriu quase tristemente para mim, continuava a descascar as batatas.

-Eu já estive a tua idade. Sei o que é e vivia aqui nesta casa com os meus pais, os teus falecidos avós.Mas a minha geração foi diferente da tua. Provavelmente se tivesses a minha idade, estarias agora a fazer tricot ao calor da laleira.- continou a sorrir.

Eu fiquei calada.Resmunguei comigo mesma por ser tão idiota e tão frontal a uma senhora já quase de certa idade.

-Eu compreendo a tua parte e respeito a tua opinião por nao gostares disto aqui e achares aborrecido. No entanto, preciso que respeites também a minha parte de te querer aqui e saber que estás bem.

Corei e torci as minhas mãos uma na outra. Ves? Nunca mais a ofendas. Pobre da mulher, és tão idiota.

-Desculpe, sim eu entendo. Não volta acontecer, é  tudo novo e estranho para mim. Sinto falta dos meus amigos.- murmurei triste.

-Vais ver que tudo passa rapido. Logo , logo já estás de volta a casa.-  A mulher lavou as batatas e meteu-nas na grande panela ao lume.

O cheiro a legumes frescos meteu-me com água na boca. Sem perceber já estava a cortar uma cenoura. A tia sorriu.

Depois do almoço, Maki saiu no seu chervolet azul e fiquei por casa.

Fui arrumar o meu quarto e as minhas roupas. Na paisagem a frente da janela, a "casa de gente rica" parecia estar acompanhada. Um carro preto entrava na grande garagem de madeira. Saíram duas pessoas e tentei ver quem seriam. Não consegui, estavam demasiado longe.

Mais tarde, sentei-me a ler um outro livro que a tia tinha na sua sala. Um romance antigo. Lembrei-me que a estas horas, o papá estava no aerporto a seguir destino para os USA. Que inveja. Gostava tanto de ir a América. Andar pelas ruas de Nova Iorque, visitar o Empire State Building, a estátua da Liberdade, enfim! Era um mundo aparte de tudo. Mas eu estava ali, num lugar onde só reinava a natureza.

Passaram-se três dias desde que cheguei ao norte. Até ao momento,fiquei  à espera de receber noticias do meu pai ou até dos meus amigos. Tomoyo ligou-me e falámos sobre diversos assuntos. Fiquei tão bem disposta em tempos, desde que soube que vinha embora para o campo, a minha alegria nunca mais tinha sido a mesma. 

Tomoyo namorava um rapaz da Inglaterra. Chamava-se Eriol e segundo ela, era um deus grego. Gargalhei com as maneiras dela ao telefone. Em breve iria para Londres passar as férias de Natal. E eu, muito sinceramente esperava passar as minhas férias em casa!

-Sakura, preocupas-me tanto.- falou. 

O que?

-Como assim?

-Estás sempre... assim. Sozinha, não andas para a frente.- a sua voz parecia seria ao telefone.

-Andar para a frente?- nao estava a gostar daquela conversa.

-Sim, já tens uma idade boa para-

-Não! Tomoyo, tu sabes o que penso em relaçao a isso.- exaltei-me e ela prendeu a respiração.- Desculpa, mas eu sou sempre assim. Eu nunca.. nunca vou..- senti as lagrimas nos olhos. Porque raios.. porque era sempre aquilo?

-Espero que um dia encontres alguém que te faça feliz amiga. Espero muito. Eu amo-te Sakura e quero que sejas feliz! Por favor, faz um esforço.

-Eu sei, obrigada Tomoyo, eu amo-te também. Fica bem! Beijos.- e desligamos.

Apertei o telefone entre os meus dedos. Mordi o labio até sentir dor. Era sempre a mesma coisa. Todos tinham namorados menos eu. Nunca me senti apaixonada, verdadeiramente. Não sabia o que era. Nunca ninguem me despertou interesse. Ficava sempre sozinha, mas gostava que os outros fossem felizes porque mereciam. 

Eu era simplesmente o patinho feio.

Ainda era cedo. Levantei-me da cama e fui à cozinha à procura de café. Olhei lá para fora atraves da janela embaciada. Já faziam tres dias e não fiz nada a nao ser estar dentro de quarto paredes , lendo livros e chorando de saudades.

Os raios do sol cruzavam as árvores como olofotes de luzes de um palco.

Sorri e ganhei coragem.

Lavei a caneca do café e corri para o quarto mudar de roupa.

Com uma manhã bonita, porque não conhecer um pouco das redondezas do campo?

Vesti o meu amado casaco quente e o meu cachecol vermelho. Penteei os meus cabelos curtos caindo sobre a lã. Calçei as minhas botas da neve e saí de casa.

O orvalho da noite banhava todas as folhas secas no chão. Evitei as pequenas poças de lama e saí da cerca que dividia a estrada da casa da tia.

Andei devagar pelo caminho, até parar à frente do "chalé de gente rica". Realmente parecia nao estar habitada àquelas horas da manhã.

Aproximei-me um pouco do portão de madeira.

-Sem duvida esta é uma casa de sonho...- murmurei para mim. Os jardins estavam cuidados e cheios de flores. Mais ao fundo havia uma garagem também com um chervolet azul. E parecia nao haver existencia animal.

Respirei fundo e voltei as costas. Sonhava um dia ter o meu pequeno espaço só para mim. Trabalhar quem sabe no estrangeiro como Touya e quem sabe conhecer alguém que me faça feliz.

Cruzei a estrada e avistei o rio lá em baixo. Desci um pequeno monte de terra e pedras com cuidado até estar na margem das águas. Molhei a mão e arrepiei-me com a temperatura.

Acompanhei os movimentos do rio e quando dei por mim já estava demasiado longe de casa.

O sol brilhava por entre as árvores secas, criando um misto de brilhos e cores de Outono.

Andei mais um pouco entre as arvores e foi entao que num grande carvalho numa pequena clareira á beira das águas, avistei um baloiço lá pendurado.

Aproximei-me  do objecto.Era feito de duas grandes cordas de fibra e apenas uma tábua de madeira a servir de acento.

Olhei em volta.Provalvemente haviam crianças a viver ali perto.

Voltei a olhar para o baloiço. Lembrei-me da minha infância há muitos anos atrás. O papá tinha feito um lá para casa, mas o Touya andava mais do que eu. Era sempre para me irritar. Típico irmão mais velho, chamando-me monstro , e eu chorava dias inteiros por nao  andar no baloiço.

Sorri passando as pontas dos dedos nas cordas.

Perdida em pensamentos, sentei-me e começei a balançar o meu corpo contra a brisa fresca.

Que saudades de andar de baloiço. Que saudades de ser criança, brincar, correr e cair. Tomei mais balanço e fui de encontro ao céu azul.Voltei para trás, por baixo das árvores amarelas. Novamente para o céu e assim sucecivamente.

Senti-me viva.

Tudo o que pensava sobre a cidade, desmonorou-se completamente ali mesmo.

Estava apaixonada pelo campo. Queria ficar ali para sempre.

Balançei mais duas vezes e repentinamente olhei para a minha esquerda. Á beira do rio, estava um vulto de um rapaz.

Assustada perdi o controlo do balanço e voei para a frente caindo num monte de folhas secas no chão. Foi a minha salvação na hora.

-Oh!- gritei.

-Hei! - o rapaz gritou e veio ter ao meu encontro.

Agaixou-se para me apoiar nos seus braços.

Levantei os meus olhos para ele e o tempo parou.

O jovem era lindo.Devia ter mais ou menos a minha idade.Era alto, tinha cabelos castanhos cor de chocolate, sobrancelhas grossas, nariz recto e queixo quadrado. Usava um sobretudo castanho escuro com um cachecol de linho verde.

Mas o que me fez perder o ar foram os seus lindos e intensos olhos caramelizados.

Ele olháva para mim atónico. Eu deveria estar horrivel naquela posição envolvida pelas folhas , as pernas e as maos com lama. 

O nosso olhar ficou preso um no outro durante alguns minutos. Esmeralda e âmbar.

-Está bem?- perguntou.

Aquela voz...

-Ah sim.. eu acho que sim.- tentei-me ajeitar no chão.

Reparei que ao lado dos nossos joelhos estava um pequeno livro e um copo térmico que cheirava a café.

-Descul-desculpa, eu não queria..

-Não faz mal. Está mesmo bem?Magoou-se?- perguntou.

Voltei a olhar para ele corada.Ele sorriu para mim e tirou uma folha castanha que desmaiava suavemente por entre os meus cabelos.

Prendi a respiração.

-Acho que estou um pouco tonta... perdoe-me.- senti-me demasiado constragida e olhei para o chao.

Ouvi-o novamente a sorrir.

-Está tudo bem.

Apertou-me os ombros e ajudou-me a ficar de pé, sacudindo o resto das folhas da minha roupa.

-O-obrigada.- respondi ainda sem olhar para ele.

Curvou-se e apanhou o café e o livro do chão.

-De nada. Não é todo o dia que encontramos alguém diferente por aqui, e com olhos cor de menta.- argumentou sorrindo.

Corei dos pés à cabeça. O que estava acontecer?

-É nova por estes lados?

-É... bem, podemos dizer que são umas pequenas férias aqui ,sim..- comentei envergonhada.

-Estou a ver. Prazer, sou Syaoran Li.- estendeu-me a mão direita.

Olhei para ele. Que rapaz tão gentil.

-Prazer, sou Sakura Kimonoto.

Apertamos as mãos sentindo o primeiro contacto corporal. Pele com pele. Ele estava tão quentinho.

-Podes me tratar por Sakura.- sorri.

-Claro, digo o mesmo.- e desapertámos as maos. Voltei a sentir o ar gelido na pele.

-D-desculpa, eu acho que preciso de ir, agora... a minha tia vai chegar para o almoço e eu...- com o coração aos pulos, pensei em fugir dali.

-Mas ainda é cedo para o almoço, queres me acompanhar?- levantou o copo do café.- Ainda não tomei o meu pequeno-almoço.Venho muita vez para aqui sozinho.- sorriu e pela primeira vez corou.-E oh! As tuas mãos!- exclamou tirando um lenço do bolso do grande casaco e entregou-me para as limpar.

Ele era tão fofo.

-E-está bem, então.-concordei. 

Ele apontou para o carvalho.Sentámo-nos debaixo da árvore ao lado do baloiço.

-Que tal o baloiço?- perguntou. Reparei que estava perdida a olhar para o objecto.

-Anh? Ah sim.. o baloiço. É bonito, é rustico. Eu tive um assim quando era criança, há muito tempo atrás.

-É, eu também tive um.- riu e berbericou o café.

-Espero que a criança deste baloiço nunca deixe de o usar como nós.- murmurei olhando para o céu.

Syaoran olhou para mim.

-É como abrir os braços e voar lá para cima.- apontei.- E também espero que ela nao saiba que roubei-lhe por minutos o seu brinquedo.- dei uma pequena risada.- Seria demasiado constragendor.- corei.

-Ela não dirá nada, ficará mas sim ,feliz, por alguem sentir o mesmo que dela.

Fiquei calada e curvei-me para o rapaz atenta.

-Em tempos ela fugia para cá, para se sentir livre e também alcançar o céu. Mas depois era preseguida pelas irmãs mais velhas e nunca ficava sozinha. Porém um dia, a familia separou-se. E quando nesse tempo era hora de encontrar a liberdade, já era tarde demais.

Syaoran olhou para o ceu e ficou em silencio por alguns segundos.

-Então, a criança cresceu e agora este é o seu lugar onde encontra a paz, longe de tudo.

Calou-se e voltou a cruzar o olhar comigo.

-Nunca... nunca pensei que o baloiço fosse teu. Perdoa-me outra vez.- murmurei triste.

Ele sorriu.

-Porquê que dizes isso, se já falei que está tudo bem? Gostei de ver alguém o usando como eu usava em outros tempos...-ambos olhamos para o baloiço.

-Então agora já não o fazes?

-Não.- riu abrindo o livro.- Agora, ele só faz parte de uma memória.

As folhas caíam suavemente do carvalho sobre nós.

-O que lês?- perguntei curiosa.

-Poemas do Outono.

Aproximei-me ligeiramente dele. Syaoran virou duas páginas e citou um excerto.

"Uma árvore em flor fica despida no outono.

A beleza transforma-se em feiúra, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. 

Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente."

-Que lindo...-sussurei.

-A minha mãe deu-me há algum tempo atrás. Gostava que ela o lesse comigo.- parecia triste.

-Onde está a tua mãe?

-Muito longe daqui, na verdade.

-Lamento...- desculpei-me.

-E a tua familia?- perguntou Syaoran fechando o livro.

-O meu irmão está no estrangeiro e o meu pai vai trabalhar uns meses para a América. Por isso vim passar esse tempo com a minha tia Maki Kinomoto. 

O que estás a fazer? Falar da tua vida a um estranho!

Ele não é um estranho, chama-se Syaoran.

Mas conheceste-o à pouco mais de dez minutos.

-Hm.

Ao longe ouvimos uma buzina de um carro. Parecia de um chervolet.

-Oh meu deus, é a tia! Ela chegou e não estou em casa!- levantei-me apressadamente sacudindo a roupa.

 Syaoran levantou-se ao mesmo tempo que eu.

-Desculpa, eu preciso ir agora.- voltei-me para ele hesitante.- Obrigada mais uma vez! Até outro dia!- e dei-lhe as costas.

O rapaz pareceu assustado com a minha reação e senti que hesitou em dizer alguma coisa, mas apenas despediu-se.

-Até breve!

Sai a correr da clareira, para longe do carvalho, do baloiço e de um par de olhos intensos que me fazia corar.

Cheguei à fazenda , o chervolet estava estacionado em frente da casa e a tia descarregava caixas vazias para o chão.

Apressei-me a correr.

-Tia! - cheguei ao pé dela e ajudei-a com as caixas.

-Bom dia , querida. Tudo bem? Dormiste bem?- alegre como sempre.

-Sim, desculpe-me, fui dar uma volta, nao sabia que chegaria tão cedo.

-Oh amor, eu vendi tudo demanha cedo no mercado.- falou entusiasmada.- Espero vender assim todos os dias, olha quantas caixas vazias.- piscou-me o olho feliz.

Não pude de deixar de gargalhar com a sua atitude. Aquela era a sua vida, tinha que respeitá-la.

Arrumamos as caixas no celeiro e reparei na sua dimensão. Á nossa volta haviam montes de cubos feitos em palha e num canto no fundo, havia a cerca  duma familia de ovelhas. No andar de cima, era o galinheiro.

-Qual delas é a Dolly?- perguntei aproximando-me dos animais.

-A mais velha, querida.- a tia falou da porta do celeiro.

Procurei pela ovelha  e encontrei-a na esquina da cerca. A lã franzida e castanhada da velhice nao passava despercebida e carregava uma boa quantidade de leite.

E pela primeira vez naqueles dias, fiquei completamente encantada. Queria exprimentar tudo o que estava lá. Precisava de conhecer. O que eram, como eram.

-Será que mais tarde..?

-Claro que sim, ajudas-me para amanhã?- perguntou a tia com um sorriso.

-Sim! Por favor, deixe-me exprimentar isto, estou ansiosa!- falei aos pulinhos.

A tia gargalhou e chamou-me para irmos almoçar.

-O que aconteceu criança? - perguntou enquanto metia-mos a mesa.- Estás diferente.

Estremeci e por momentos lembrei-me dos olhos caramelizados.

-Diferente? Porque pergunta?- sem controlar senti as maos tremerem.

-Não sei.  Estás entusiasmada com isto tudo, parece-me.- sussurou alegre.

-Com.. tudo?- perguntei.

-Sim, o teu pai sempre me disse que o campo nunca foi a tua..hm..onda? E agora olha para ti, estás diferente.

-Não se passou nada, tia, a sério!- menti

-Certo, mas os teus olhos brilham, Sakura.

Oh raios.

Fiquei calada.

-Onde estiveste esta manhã?- a tia cerrou os olhos, fazendo uma careta engraçada.

-Eu? E-em lado ne-nhum!- gagueijei e rapidamente coloquei os pratos e talheres na mesa.

Maki sorriu de lado, desconfiada. Estaria metida em sarilhos? Esperava que não, logo no meu quarto dia.

Depois do almoço, a tia emprestou-me uma roupa adequada para a fazenda. Vesti um macacão de ganga por cima de um polover castanho. Prendi o meu cabelo num coque deixando alguns fios cairem sobre as orelhas e calçei umas botas de cano alto pretas.

Chegámos ao celeiro e corri até a zona dos animais. A Dolly veio ter comigo à portinha de madeira.

-Olá linda.- sorri e acareciei-lhe as orelhas.- És tão fofa.

A tia entrou na cerca comigo e fechou a porta atrás dela. Puxou um balde de metal por baixo da barriga da ovelha e ensinou-me como se tirava o leite.

Observava cada detalhe e cada jeito que se fazia com as mãos ao segurar as tetas da Dolly. Depois de encher metade do balde a tia levantou-se, puxou um banco pequeno e eu sentei-me á frente do animal.

-Agora faz como te ensinei.

-Certo.

Segurei duas tetinhas da ovelha e puxei firme para baixo. Um fio de leite saiu de encontro ao balde.

-Oh!- exclamei encantada.

Voltei a fazer diversas vezes e com cuidado para nao magoar o animal. No fim o balde estava cheio de leite fresco e quentinho, pronto para fazer queijo caseiro.

-Gostaste?- perguntou a mulher.

-Adorei, obrigada. Foi uma experiencia unica.- falei acariciando o animal novamente. O meu coraçao pulava de alegria. 

-Depois se quizeres espreitar se as galinhas puseram ovos, é no andar de cima.

Saímos da cerca e Maki mostrou-me os materiais a usar quando se tratava dos animais. As horas da alimentação de cada um e a hora de recolha de produto.

Mostrou-me o seu tractor na rua e uma enorme fazenda cheia de árvores de fruto.

Realmente o campo era mesmo o paraíso que a cidade nunca teria.

Ao final do dia, arrumamos novamente as caixas no chervolet cheias de frutos, legumes e litros de leite, prontas para o mercado do dia seguinte.

Á noite depois do jantar, a tia foi dormir e pus-me á janela do quarto. Olhei para as estrelas e pensei novamente no rapaz de cabelos castanhos.

Syaoran.. era o nome dele.

Estivera o resto da tarde distraida ajudar a tia que esquecera-me por completo  da bela manhã que tive, juntamente com uma queda engraçada e depois um abraço caloroso daquele jovem.

Suspirei. Ele deveria viver para ali perto. Se o baloiço era dele e passava horas e tardes inteiras ali sentado, com certeza que a sua casa era perto.

Fechei a janela e meti-me na cama.Gostava de poder ve-lo novamente.O seu lenço encontrava-se já lavado em cima da minha mesinha de cabiçeira. Tinha de o devolver.Sorrindo, mergulhei na noite, sonhando apenas com uma criança pequena, andar no baloiço, de cabelos castanhos e olhos caramelizados.

Fim do Capítulo.


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Notas finais do capítulo

Novo capítulo, na próxima semana! Beijos a todos! :)



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