Em pouco tempo as meninas do quartel juntamente com a nova integrante chegavam a casa de Sandra. Todas estavam muito empolgadas, umas para saber o que o futuro lhes destinava e outras, no caso outra, simplesmente por estar no quartel das feias.

Assim que chegaram Mariana e Aura Maria foram arrumar a casa enquanto Sandra e Jamille faziam o jantar. Mariana estava mais animada depois da viagem de onibus, conversar com as amigas lhe fazia muito bem, além de esquecer por alguns instante a irritante presença de Daniel Valencia que a cada dia estava mais presente em seus pensamentos.

Aura Maria aproveitou o momento a sós com Mariana para mais uma vez interrogá-la e também orientá-la.

– Agora que estamos só nós duas, sem a Sandra e sem a Jamille, você pode me confessar querida! Falou baixinho Aura Maria.

– Confessar o quê Aura Maria, ai que estresse! Respondeu Mariana ajeitando as almofadas no sofá.

– Confessar que está se apaixonando pelo doutor vampiro! E isso se já não está de fato apaixonada por ele. Riu Aura Maria.

– Não seja boba Aura Maria! É claro que não estou apaixonada e nem me apaixonando. E ria baixinho porque senão Sandra e Jamille vão nos escutar. Pediu Mariana.

– Se tem medo que elas escutem é porque tem algum sentimento, Mariana! Aura Maria declarou como se tivesse descobrido algo magnifico.

– Fala baixo Aura Maria! Mariana pediu novamente, dessa vez tampando a boca da amiga com a mão.

Aura Maria assentiu com a cabeça e levou Mariana para o quarto, trancando-se lá. Ela pediu que a amiga fosse sincera consigo mesmo e que ela, Aura Maria prometia não julgar e nem condenar.

– Eu não tenho nada para declarar Aura Maria. Mariana concluiu sentando-se na cama.

– Tudo bem, então eu começo. O doutor Daniel é um chato, isso é verdade! É arrogante, prepotente, orgulhoso e mau encarado. Mas ele é divino, tem uma força na voz que faz o corpo inteiro estremecer. Ele chama a atenção por onde passa e se não fosse tão vampiro até eu corria o risco de me interessar por ele. Confidenciou Aura Maria.

– Você sim Aura Maria, não eu! Mas que estresse! Concluiu Mariana.

– Eu só quero que você olhe pra dentro de si mesma querida, se você sondar o seu coração o que vai encontrar dentro dele? Aura Maria perguntou seriamente, também sentando-se na cama.

– Meu trabalho, minhas amigas, minhas cartas! Mariana sorriu, um riso sem graça.

– E em seus pensamentos, o que encontra? Aura Maria conseguiu. Finalmente tocou num ponto que Mariana ficou encabulada.

Mariana levantou-se da cama e começou a andar de um lado para outro, por mais que tentasse fingir ou esconder era evidente que se ainda não encontrava o doutor Valencia em seu coração, em seus pensamentos, pelo menos, ele era o dono supremo.

– E então? Aura Maria insistiu.

– Em meus pensamentos sim! Mariana declarou desabando na cama em meio a lágrimas quentes e incontidas.

Aura Maria a abraçou carinhosamente.

– Nós daremos um jeito amiga. Vamos arrancá-lo nem que seja a força do seu pensamento e antes, também que ele resolva fazer um rapel até o seu coração! Aura Maria sorriu, tentando confortar Mariana.

Na cozinha Jamille e Sandra estavam se entendendo muito bem. Apesar de Sandra não cozinhar muito bem, Jamille lhe dava boas dicas sobre como preparar uma gostosa macarronada simples e prática.

– Nossa Jamille como você cozinha bem! Sandra elogiava. Com quem aprendeu a cozinhar assim?

– Com minha irmã, ela é uma excelente cozinheira. Jamille sorriu.

– E você mora com ela, não é mesmo? Sandra perguntou provando um pouco mais do molho da macarronada.

– Sim, desde que nossos pais morreram ela tem cuidado de mim. Ela é a pessoa mais preciosa no mundo para mim. É a única família que eu tenho! Jamille falou com certa tristeza na voz.

– Bom agora você tem a nós também e estaremos sempre com você! Sandra sorriu.

– E então Sandra me conta um pouco mais sobre a Ecomoda, a presidente, o vice-presidente e qual era mesmo o nome do doutor que chegou a pouco? Jamille fingiu não lembrar.

– Doutor Daniel Valencia? Sandra quis confirmar.

Jamille assentiu com a cabeça.

– A Ecomoda como você deve ter ouvido falar está se recuperando de um embargo. Sandra começou.

– Embargo feito pela própria presidente não é? Jamille perguntou mexendo o macarrão, sem olhar Sandra.

– Sim, ela embargou para que outros bancos e os credores não o fizessem, assegurando que a empresa ficaria a salvo.

– Entendi. E é verdade que ela era somente uma assistente, digo assistente da presidência?

– Sim, ela era assistente do seu Armando. Tadinha sofria nas mãos dele. Até o dia em que se apaixonaram! Sandra comentou envolvida com a história.

Sandra contou toda a história do romance de Betty com Armando, mas omitiu os detalhes sinistros. Jamille ficou satisfeita ao saber que Armando havia abandonado Marcela, apesar de não contar em seus planos com o amor que ele aparentemente sente por Betty.

– Então Marcela está viajando? E não tem previsão de regresso? Jamille perguntou montando a macarronada.

– Ainda não, parece que ela está curando as feridas em Miami. Sandra falou pegando os pratos para por a mesa, sem saber que na verdade Marcela estava em Cartagena.

– E quanto ao doutor Calderón, ouvi falar que ele era acionista dos executivos minoritários? Jamille perguntou fingindo desinteresse.

– Renunciou, deve estar caçando alguma mulher pelo mundo afora. Fazendo mais uma vítima para o seu mural. Sandra riu lembrando do ex-chefe.

– É, isso é bem típico dele mesmo! Jamille falou baixinho.

– Como assim? Você conhecia o doutor Mario? Sandra perguntou intrigada se aproximando de Jamille.

– De ouvir falar apenas, claro que eu nunca tive contato com ele, só mesmo pelas revistas de fofoca. Jamille mentiu.

– Atah! Bom e quanto ao doutor Valencia, está lá na caverna da presidência infernizando a vida da pobre Betty. Sandra comentou colocando os pratos na mesa.

– Como assim infernizando? Jamille perguntou curiosa.

– Infernizando porque aquele homem é o próprio demônio! E só sabe falar grosserias e desaforos. Ta certo que ele não grita histéricamente com o doutor Armando, mas em compensação cada sussuro dele é uma ofensa. Sandra concluiu.

– Ele é tão ruim assim? Jamille perguntou curiosa.

–Pior, Jamille, ele é bem pior! Sandra concluiu. Pronto acho que já podemos chamar Aura Maria e a Mariana para jantarmos e lermos logo essas cartas que estou morrendo de sono.

Durante o jantar todas elogiaram os dotes culinários de Jamille, o que para ela foi um balsámo, desde a morte dos pais quando era adolescente, não tinha amizades e participar do quartel, era muito bom. Tão bom que por alguns instantes ela esqueceu os motivos que a levaram até ali e se viu também empolgada para desvendar o que o futuro lhe reservava.

– Meninas e se chamassemos a Betty? Aura Maria perguntou.

– Mas ela não está com o doutor Armando e com o Nicolas? Sandra questionou.

– Eles podem já ter tido alta. Já são quase nove horas da noite, vamos ligar pra ela e saber se ela não quer vir! Aura Maria declarou e correu para o telefone.

Dona Júlia atendeu e reconhecendo a voz de uma das amigas de sua filha, imediatamente passou o telefone para Betty que estava na sala juntamente com Patricia, folheando revistas de noiva a escolha do vestido perfeito para a mais nova noiva de Bogotá.

– Alô Aura Maria! Aconteceu algo? Betty perguntou preocupada.

– Não amiga! Sussegue que não aconteceu nada com a Ecomoda. É que hoje teremos leitura de cartas aqui na casa da Sandra e queríamos saber se você não quer vir para cá? Aura Maria convidou muito entusiasmada.

– Não sei Aura Maria já são nove horas da noite, daqui que termine a leitura, ficará muito tarde para eu voltar para casa, porque não deixamos para amanhã que é fim de semana? Betty perguntou.

– Ai amiga todas já estamos aqui e até mesmo a nova recepcionista, que é simplesmente um amor de pessoa. E você pode dormir aqui nós juntamos as camas amiga! Aura Maria declarou contente.

– Está bem, vou ver se o meu pai me libera. Ah! Mais uma coisa Aura Maria posso levar alguém? Betty perguntou pensando em Patricia.

– Claro que sim amiga, mas a noite é das garotas não traga o doutor Armando heim! Declarou Aura Maria.

– Está bem, confesso que até eu não o quero ver hoje! Betty riu seu riso mais particular e desligou o telefone sem dar maiores explicações a Aura Maria.

Quando voltou a sala Seu Hermes já estava chamando a todas para dormir.

– Ai papai, sabe o que é, é que as meninas do quartel vão fazer uma noite das garotas e me convidaram. Betty falou.

– Como assim noite das garotas? Seu Hermes perguntou intrigado.

– É papai é uma noite em que vamos nos reunir, conversar, ler cartas de tarô. Betty explicava quando seu pai a interrompeu.

– Beber álcool, sair com rapazes não é senhorita Pinzón! Pois saiba que você não vai, não é porque é uma alta executiva, presidente de uma empresa que fará agora o que quiser! Não senhorita, nesta casa há regras e estas regras devem ser obedecidas. Seu Hermes declarou.

– Ai Hermes não seja chato, elas não vão beber, é só uma noite inocente com as amigas da menina, deixe ela ir. Pediu Dona Júlia.

– Não acoberte a menina Júlia! Dá última vez que ela saiu com essas amigas, voltou bêbada! Ou será que a senhora esqueceu disso. Seu Hermes declarou irritado.

– Isso já faz muito tempo Hermes! Deixe a menina ir se divertir um pouco com as amigas. Ela trabalha tanto na Ecomoda, não tem um momento de lazer para se distrair com as amigas. Dona Júlia insistia.

– Está bem, está bem Júlia! Concordou Seu Hermes. Mas se beber nunca mais sairá de casa para uma festinha ouviu dona Beatriz!

– Sim senhor papai. Betty assentiu.

– E a que horas volta amanhã? Porque creio que vai dormir na casa das amigas, para não voltar tarde, não é? Seu Hermes perguntou.

– Depois do almoço, talvez. Betty falou. Mas não se preocupe que eu ligo!

– E a loirinha? Seu Hermes perguntou olhando para Patricia.

– Ela vai comigo, é claro. Betty respondeu.

– O quê? Eu com aquele quartel de horrorosas? Mas nem morta Betty. Patricia declarou fechando a revista que folheava.

– Tem certeza Patricia, Mariana vai ler as cartas! Betty contou entusiasmada.

– Sim doutora Pinzón! Não me interessa saber o que o futuro me reserva, pois eu já tenho exatamente o que eu quero. Patricia declarou e subiu para o seu quarto.

Betty foi para o quarto e arrumou algumas roupas, o pijama, escova de dentes e mais algumas coisinhas necessárias a uma dama que passaria a noite fora de casa. Quando saiu do quarto, fez uma ultima tentativa de levar Patricia consigo. Bateu na porta e pediu para entrar.

– O que foi Betty? Patricia perguntou já deitada na cama e novamente folheando uma revista.

– Você está com sono. Betty perguntou.

– Depois de dormir a tarde inteira, claro que não! Patricia respondeu sem olhar Betty.

– Então porque não vem comigo? Vai ser divertido a Mariana é muito acertiva em tudo o que ela diz. Betty sorriu.

– Ai Betty, eu não tenho interesse em me misturar com o quartel das feias. Não combina comigo! Sem falar que sempre tivemos desavenças. Patricia explicou fechando a revista que folheava.

– Eu entendo, mas queria muito que você fosse Patricia. Betty comentou colocando a pequena malinha no chão.

– Mas porque Betty, você agora é uma mulher bonita, independente, determinada, não precisa de mim. Alias eu é quem preciso de você. Patricia falou.

– Eu nunca tive uma irmã Patricia, alguém pra dividir segredos, compartilhar momentos e por mais que a nossa convivência no passado tenha sido terrível! Betty riu. Hoje eu te considero uma grande amiga. Talvez o fato de morarmos juntas, não sei, fez com que nos tornassemos mais próximas.

– Você me considera uma irmã Betty? Patricia perguntou emocionada.

– Quase isso. Betty riu. Você tem sido o mais próximo de uma irmã que eu poderia ter. E significaria muito pra mim que você participasse desta noite comigo e com as meninas!

– Está bem então. Por você, eu vou! Mas não vou me arrumar, vou assim mesmo de pijama.

Depois que Patricia arrumou algumas coisas para poder passar a noite na casa de Sandra, ela e Betty sairam de carro, enquanto dona Júlia observava a animação de Betty e Patricia ao irem para a tal noite das garotas. Nunca ela imaginara como as duas se dariam bem, realmente fez falta para a sua Betty ter uma irmã.

Uma hora depois Armando e Nicolas chegavam de táxi a casa dos Pinzóns. Cheios de saudades de suas amadas e ao receberem a notícia de que suas amadas haviam ido ter uma noite das garotas, não tiveram duvidas de que também participariam desta aventura. Se despediram de uma sonolenta dona Júlia com a promessa de que iriam cada um para a sua casa, mas tendo em mente que em alguns minutos se encontrariam também na casa de Sandra.

– Doutor Mendonza o senhor sabe pelo menos onde mora a Sandra? Nicolas perguntou.

– Não, eu não sei. Mas conheço alguém que sabe! Armando respondeu pegando o celular. Alô Freddy, preciso que venha imediatamente para a casa da doutora Pinzón!

– Mas meu honorável doutor já está muito tarde e a essa hora a doutora já deve estar dormindo. Freddy explicava do outro lado da linha, ele estava perto da casa de Sandra com Wilson e não queria ser forçado a abandonar os seus planos, de saber o que as meninas estavam fazendo, por causa dos planos loucos do doutor Armando.

– Não é isso Freddy! Armando gritou irritado. É que a Betty e a Patricia foram ter uma noite das garotas na casa de Sandra e eu e o Nicolas queremos saber como chegar lá, ou melhor queremos que você nos leve até lá porque eu ainda estou muito machucado para dirigir.

– Se é isso, eu e o Wilson estaremos aí em um minuto, pois saiba o senhor doutor que nós já estávamos chegando à casa da mais alta secretária da Ecomoda. Falou Freddy.

– Olha não precisa vir de táxi não que o meu carro está estacionado na garagem da mamãe do Nicolas e nós iremos no meu carro, entendeu Freddy? Armando perguntou e ao ouvir a afirmação do mensageiro do outro lado da linha desligou o celular. Pronto, agora é só esperarmos Nicolas que em breve estaremos na casa da Sandra com a minha Betty.

– E com a minha Patty. Adicionou Nicolas.