Marcela estava encantada por conhecer os pais de Michel, duas vezes por ano eles iam visitá-lo em Cartagena. Michel tinha alguns irmãos que também moravam na França entretanto desde que se mudara para Cartagena não os via. O senhor e a senhora Donnel eram muito refinados, cordiais e educados e logo se encantaram com a namorada do filho. Marcela era elegante, bonita, educada e embora ela não falasse francês podiam compreender que em cada frase dita por ela havia um toque de inteligência e maestria sobre qualquer assunto mencionado. Após o almoço, que foi totalmente típico de Cartagena, Michel levou o pai para conhecer a cadeia de restaurantes que estava sendo montada enquanto Marcela e sua mamãe preferiram ficar no apartamento para se conhecerem melhor. Dona Isabele falava pouco o idioma local, mas pretendia conhecer melhor a mulher que estava fascinando o seu amado filho.

– Marcela fico muito feliz por conhecê-la! Dona Isabele falou com um belo sotaque francês.

– Eu também estou muito feliz por conhecê-la senhora Isabele! Marcela falou com muita satisfação.

– Por favor me chame de Isabele. Sorriu a mamãe de Michel. Mas me diga vous travaillez?

– Não compreendo. Marcela sorriu.

Dona Isabele fez uma mimica engraçada para perguntar em que Marcela trabalhava.

– Bem eu era gerente de pontos de venda da empresa fundada pelos meus pais. Ela respondeu lembrando da Ecomoda.

– Ère? No ère mais? Dona Isabele perguntou curiosa.

– Sim, eu sai de férias e acabei ficando aqui em Cartagena.

– Tombé en amour pela cidade como Michel?

– En amour? Marcela perguntou confusa pelo idioma.

– Se apaixonou pela cidade como Michel?

– Na verdade não, não en amour pela cidade. Marcela adicionou francês a sua resposta.

– E então? Dona Isabele estava cada vez mais curiosa.

Não ficaria bem contar a mamãe de Michel tudo o que ocorrera na Ecomoda sobre o seu passado, omitiu essa parte mas foi muito franca sobre os motivos que a mantiveram em Cartagena.

– Me apaixonei pelo seu filho! Marcela declarou ruborizada.

– Então fez uma boa escolha, meu filho é um príncipe e você parece ser a princesa perfeita para ele. Dona Isabele sorriu e segurou as mãos de Marcela.

Marcela chorou de emoção, como era bom se sentir amada e se sentir querida. Por tantas vezes tentou ser a nora perfeita de Maragarita, Margarita a amava como filha mas de fato nunca se sentirá tão acolhida como estava se sentindo com a família de Michel. O pai de Michel estava encantado com o novo trabalho do filho mas mais encantado estava com a jovem Marcela e desejava saber como o filho havia encontrado tão belle dama.

– Pai é uma longa história. Mas direi que a encontrei no aeroporto de Bogotá e a conheci de verdade aqui em Cartagena e a cada dia me encanto mais com a sua presença. Michel sorriu.

– Então devo acreditar que ela no futuro será a mais nova senhora Donnel? Seu Louis questionou o filho.

– Sim pai, ela ainda não sabe mas no futuro pretendo pedi-la em casamento. Mas agora não, é preciso que muitas coisas ainda sejam apagadas e amadurecidas. Michel contou um pouco reticente.

– Que coisas filho?

– Algumas coisas do passado tanto dela quanto meu! Michel concluiu.

Michel estava apaixonado por Marcela, isso já não era sonho mas um fato. Entretanto ainda não estava seguro sobre os sentimentos de sua amada em relação ao doutor Armando Mendonza. E só poderia falar com ela sobre um futuro juntos quando tivesse certeza que Armando não era mais que uma lembrança opaca na memória de Marcela.

Mariana estava encantada com o novo restaurante escolhido pelo doutor Valencia, como da outra vez ele demonstrava ter muito bom gosto. Sabia exatamente o que pedir e como pedir e havia uma firmeza em sua voz que fazia Mariana se sentir tão frágil e tão protegida ao mesmo tempo, como um pássaro que é acalentado em seu próprio ninho.

– Esta gostando Mariana? Daniel perguntava tentando parecer simpático.

– Claro que sim doutor! O restaurante é muito elegante e a comida é divina. Mariana sorria.

– E suas amigas, não estranharam você não ir almoçar com elas?

– Sim, mas eu disse que tinha muito trabalho e que preferia ficar na empresa. Mariana falou um tanto desconcertada por ter mentido para as amigas.

– Então você mentiu Mariana? Ele perguntou intrigado.

Ela assentiu com a cabeça com um olhar triste.

– Mentiu por mim? Ele perguntou para ter certeza de que a estava trazendo para o seu lado.

– Não. Ela declarou confiante. Menti por mim! Para garantir que a nossa amizade não será mal interpretada pelas minhas amigas.

Daniel ficou desapontado. Por um momento começava a ter certeza de estar no controle da situação, mas a negativa de Mariana fez ele temer que ela não fosse tão fácil de se conquistar como supunha.

– Será que Armando está bem? Não tive mais notícias dele hoje. Daniel perguntou num tom casual, mas querendo descobrir algo mais sobre a briga de Armando e Nicolas.

– Eu creio que o doutor Armando está bem sim. Ainda mais com a Betty cuidando dele no hospital. Mariana sorriu imaginando o casal.

– Então Beatriz está cuidando do Armando? Daniel quis confirmar a informação.

– Sim e a Patricia do Nicolas! Mariana contou tomando mais um pouco do sorvete de flocos da sobremesa.

– Patricia Fernandéz? Daniel perguntou curioso.

– Sim a oxigenada da Patricia Fernandéz! Agora ela é noiva do doutor Mora. Mariana comentou.

Daniel gargalhou com muito bom humor, finalmente Patricia encontrara alguém tão ingênuo e bobo para levá-la ao altar.

– O que o deixou tão contente doutor Daniel? Mariana perguntou curiosa.

– Ah Mariana saber que finalmente a oxigenada da Patricia encontrou alguém para arrastar ao inferno. Ele riu.

– O doutor Nicolas está muito feliz com ela.

– Eu não duvido Patricia sempre foi muito boa de cama! Daniel comentou bebendo um gole de conhaque.

Mariana ficou perplexa ao saber que o doutor Valencia teve um caso com a oxigenada, e ele notando o desapontamento dela foi muito franco para sanar qualquer mal entendido.

– Sabe Mariana um homem como eu você deve imaginar que...

– Não se preocupe doutor Valencia! Ela o interrompeu. Eu não tenho que saber da sua intimidade, isso só diz respeito ao senhor.

– Eu só desejo que não ficasse algum mal entendido entre nós, que você pensasse que eu quero roubar a Patricia do doutor Mora. Ele frisou o nome Mora.

– Isso não me diz respeito. É lógico que uma mulher como a Patricia despertaria o seu interesse, apesar de antipática ela sim é muito bonita. Mariana falou com certa amargura na voz.

Daniel pensou que Mariana tinha ficado nervosa por causa do Nicolas, mas um pensamento estranho surgiu em sua mente. Poderia Mariana estar interessada nele? Quando Daniel pensava em seduzir e conquistar Mariana, ele pensava sinceramente em conquistar a confiança e simpatia dela, jamais pensaria em algo mais, além de tudo não via a secretária com olhos de desejo e recordando o que Mario lhe contara sobre Armando e Beatriz, como Armando seduziu e conquistou Beatriz, por mais que ele fosse arrogante e prepotente, ele não brincava com sentimentos, isso foi uma promessa que ele fez a si mesmo no passado.

– Mariana quero deixar algo claro entre a nossa amizade. Daniel falava seriamente a olhando nos olhos.

– Pode falar doutor. Ela conteve o sorriso ao notar que ele estava muito sério.

– Mariana nós somos amigos, cúmplices e nada mais! E quero deixar isso claro pra você, eu posso ter inúmeros defeitos mas eu não brinco com os sentimentos alheios. Daniel falou seriamente.

– Doutor eu nunca imaginaria que pudesse haver algo entre o senhor e eu. Ela mentiu um tanto constrangida.

– Eu sei Mariana só tive receio de que ocorresse algum pensamento errado. Quero tê-la ao meu lado mas como minha amiga, alguém que eu possa confiar. Ele estava sendo sincero.

– Não se preocupe doutor Valencia, prometo não deixar que o senhor brinque com os meus sentimentos! Ela riu ainda constrangida. E prometo ser uma amiga sincera.

– Que bom Mariana, é bom saber que posso contar com você! Ele sorriu, um riso sincero.

Betty saiu para almoçar com Patricia no restaurante do hospital, o que foi motivo suficiente para que Armando convencesse Nicolas a irem atrás das duas.

– Mas doutor Mendonza elas só foram almoçar! Nicolas ponderava.

– Sim Nicolas, eu sei disso! Mas você viu como aquele médico se engraçou com a Betty? E se ele estiver lá na cantina? E se ele almoçar com elas? Nicolas é muito perigoso não só para a Betty mas também para a Patricia, ficar sozinha com esse médico metido a engraçadinho! Armando convencia Nicolas.

– Mas como iremos, temos que ficar em observação não é mesmo? Nicolas ponderava.

– Nicolas somos homens, estamos bem. Mas não ficaremos bem se algum metido paquerar as nossas mulheres! Armando não conseguia conter o ciúme, estaria tranquilo se o doutor Solano não tivesse se mostrado tão interessado em Betty.

Armando era ciumento e era neurótico e apesar de confiar bastante em sua amada, doía saber que agora ela era deslumbrante e capaz de despertar a atenção de qualquer homem. E tanto amor tinha por ela quanto medo de que algum intruso a roubasse por isso nenhum cuidado era contido. Depois de convencer Nicolas a irem atrás das duas, tratavam de se esconder das enfermeiras, como se fossem ninjas. Vestiam somente uma bata branca, mas na cabeça deles estavam de preto e mascarados, se sentiam em Missão Impossível o que dava um gosto de aventura e ação às suas vidas. Uma enfermeira quase os pega quando estavam chegando a cantina mas por sorte Nicolas agiu rápido e se escondeu por trás de um armário que estava no corredor, puxando Armando também. Quando finalmente conseguiram chegar a cantina qual não foi a surpresa de ambos quando não somente o doutor Solano mas outro médico, também jovem, estavam almoçando com as suas amadas. Armando sentiu o sangue ferver enquanto Nicolas lembrava das palavras de Armando sobre lhe roubarem sua Paty, e tão inflamados estavam em cólera que chegaram brigando na cantina.

– Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! Gritava Armando totalmente histérico. Sabia que você viria atrás da minha Betty, seu doutor de meia tigela!

– E você heim quer roubar a minha noiva? Pois não, não vai levar nada de mim ouviu seu doutorzinho metido a galã de telenovela mexicana! Nicolas falava olhando para o médico que estava ao lado de Patricia.

Beatriz se assustou com a cena de ciúmes tanto de Armando quanto de Nicolas, tentava explicar que os doutores só estavam sendo educados e que estavam falando justamente sobre o quadro clínico dos dois pacientes. Mas era inútil pois Armando e Nicolas estavam muito alterados, e não ouviam as explicações lógicas de Beatriz. Assim Armando pegou Beatriz pela mão e Nicolas pegou Patricia pelo braço e as levaram da cantina. No quarto Patricia brigava muito ofendida com o noivo enquanto Betty estava tão furiosa e indignada pelo espetáculo que Armando havia feito na cantina que não conseguia dizer uma única palavra.

– Eu não acredito Nicolas que você achou que eu estava te traindo com aquele médico! Eu me recuso a acreditar na cena ridícula que tanto você quanto você Armando- ela disse olhando seriamente para Nicolas e para o namorado de Betty- fizeram hoje! Nós estávamos comportadas, almoçando tranquilamente e falando sobre vocês, porque nós não fazemos outra coisa além de pensar, falar e sonhar com vocês para que vocês cheguem e façam um escândalo digno de uma novela. Patricia bufou furiosa.

– Mas Pa, Pa, Pa, Paty meu amor nós só estávamos sendo cuidadosos! Nicolas defendia.

– Isso de ir atrás de nós foi ideia sua Nicolas? Por fim Beatriz questionou tendo a certeza de que a ideia partiu de Armando.

Nicolas e Armando se olharam, sabiam que o doutor Mendoza estaria em maus lençóis se Betty se inteirasse que foi o seu amado, quem convenceu o seu amigo a ir como ninja atrás delas.

– Foi nossa ideia Betty, de nós dois, juntos! Nicolas defendeu. Estávamos curiosos pra saber se vocês estavam bem!

– Sim meu amor, foi só isso, curiosidade para saber se estavam bem! Armando também defendeu.

Betty assentiu com a cabeça, o doutor Solano realmente tinha razão, tanto Armando quanto Nicolas estavam em perfeitas condições e haviam exagerado a dor para tê-las por perto.

– Então Patricia você está notando que tanto o meu amor quanto o seu amor estão bem melhor! Betty olhou com cumplicidade para Patricia.

– Sim Betty, parece que os nossos amados estão muito, muito bem! Patricia respondeu entendendo as intenções de Beatriz.

– Você está se sentindo bem melhor não é doutor? Beatriz abraçou Armando e lhe falou ao ouvido.

Armando assentiu com a cabeça com carinha de cachorro abandonado, derretendo-se inteiro pelo abraço de Betty.

– Então já esta bom o bastante para ficar aqui sem mim! Betty concluiu seriamente.

– E sem mim Nicolas! Patricia concordou com Betty.

Betty e Patricia deixaram o hospital e os seus respectivos amados e foram para casa descansar. Armando estava furioso consigo mesmo mas agradeceu a Nicolas a solidariedade de assumir a responsabilidade pela ideia de irem atrás delas.

– É parece que agora estamos literalmente sozinhos doutor Mendonza! Nicolas concluiu.

– Eu sei e me sinto péssimo! Mas o que eu poderia fazer? Só aqui nessa cama imaginando aquele miserável do doutor Solano sorrindo para a Betty, a minha Betty! Armando declarava.

– Bom doutor só sei que o senhor tem que começar a controlar esses ciúmes ou vai acabar nos arrumando mais problemas! Nicolas concluiu.

– Eu vou ligar pra Betty! Armando pegou o celular.

– Para quê? Não vê que ela está furiosa conosco! Nicolas declarou.

– Pra pedir desculpas, é claro. E pra saber se ela está bem? E se ninguém a seguiu até o estacionamento. Armando falou baixinho para si mesmo essa última frase pensando no médico.

Betty ouviu as chamadas no celular, mas como estava dirigindo achou por bem não atender. Armando se desesperou, estava claro que Betty não queria atendê-lo, pensou um pouco e começou a digitar uma mensagem no celular para enviá-la.

Quando a mensagem chegou ao seu destinatário, Betty pediu para Patricia ver por ela do que se tratava, pois enquanto dirigia temia se desconcentrar e bater o carro. Qual não foi a sua surpresa quando Patricia começou a rir ao ler a mensagem que dizia:

Se você demora mais um pouco

Eu fico louco esperando por você

E digo que não me preocupa

Procuro uma desculpa

Mas que todo mundo vê

Que é ciúme, ciúme de você

Ciúme de você, ciúme de você

Este telefone que não para de tocar

Está sempre ocupado quanto eu penso em lhe falar

Quero então saber logo quem lhe telefonou

O que disse, o que queria e o que você falou

Só de ciúme, ciúme de você

Ciúme de você, ciúme de você.

Quando Patricia começou a cantar a mensagem no tom da música brasileira Betty também começou a rir e pensou em como amava o seu doutor ciumento.

– Betty você vai ter que perdoá-lo, depois dessa serenata via telefônica, é o minimo que você pode fazer. Patricia sorria encantada com a mensagem de Armando.

– Eu já o perdoei Patricia, no momento em que nós voltamos para o quarto, mas ele precisa entender que deve conter os seus ciumes, isso não faz bem pra ele! Ficar me seguindo como se fosse um ninja, ele não é o Tom Cruise e não está no filme Missão Impossível!

– E a ideia de ter ido atrás de nós não foi do Nicolas! Patricia declarou.

– Sim, eu sei e até nisto ele induziu o Nicolas a mentir. Detesto mentiras! Betty concluiu.

– Ai Betty, sabe que ele até parece a Marcê! Como todo esse ciúme e essas cenas em público!

– Sim, eu percebi isso também e é por isso que ele tem que ficar de castigo, para não voltar a repetir isso novamente.

– De castigo? Que tipo de castigo Betty? Patricia perguntou curiosa.

– Um dia sem meus beijos! Betty riu. É claro que o castigo também vai ser pra mim, pois ficar sem senti-lo será um suplício!

E as duas voltaram sorrindo para casa.