Strong escrita por Ana Flávia Furtado


Capítulo 1
Apresentação




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Encarei a luz que cobria o gramado... Era bonito o contraste de cores ali, até mesmo naquele lugar horrível. Cinco dias, apenas cinco dias e já era o suficiente para se enlouquecer. Paredes brancas, impecáveis. Roupas cinzas, perfeitas. Sorrisos por todos os lados, falsos. Cada um daqueles rostos era falso, tinha vontade de socar cada um, cada um que vinha me dizer que tudo agora ficaria bem e me aplicava quantidades imensas de remédios, com sorrisos no rosto. Pesadelos cercam minha cabeça todas as noites, mas se é ruim demais sonhar, talvez seja pior ainda permanecer acordado. Coisas ruins acontecem quando se está acordado, quase não se há beleza.

Encarar a grama verde pela manhã se tornou um hábito, em nenhum dos cinco dias em que permaneci ali choveu... Levei como um bom sinal, afinal.

Mas quem sou eu? Onde estou? Como vim parar aqui?

Sou Alice, só Alice, sou mediana, olhos claros e cabelos escuros. Estou em um lugar ruim, ou clínica psiquiátrica, tanto faz. Vim aqui por estar louca.

Já teve a sensação de querer acabar com tudo? A sensação de que nada deveria ser do jeito que é? Que você não faz parte do todo? É essa sensação que se tem quando se está enlouquecendo, não com drogas, mas com a própria mente.

Em alguns momentos não se pode chorar, simplesmente porque não podemos nos humilhar na frente das pessoas.

Nunca parou para pensar que aquela garota que se senta isolada, com um blusão mesmo em calor escaldante e olhando o tempo todo para cima, esteja só tentando esconder seus cortes, suas lágrimas, suas dores?

Ninguém nunca pensa que aquele garoto que dorme em sala de aula, vai dormir tarde por problemas familiares. Não se passa pela cabeça das pessoas que aquela garota magra e franzina, tem problemas alimentares. Ou até mesmo que uma ou outra pessoa não se encontra ausente porque não se sente parte do todo.

As pessoas só pensam nelas mesmas. O ser humano sempre quer a própria felicidade.

Quando foi a última vez que você se perguntou: quais serão os problemas que aquela pessoa tem?

Talvez você nunca tenha se perguntado isso.

Todos sempre vamos ter a sensação de nunca fazer parte de um todo, de uma sociedade. Mas como isso afeta outras pessoas? Como afeta pessoas que já apanharam por serem gordinhas? Como afeta aqueles "nerds" que são zoados por não serem os mais bonitos? Como te afeta?

É tão fácil julgar alguém que se mutila, uma pessoa com anemia, uma pessoa que tira notas baixas, é fácil, fácil demais falar do outro, o problema talvez seja não entender como a pessoa se sente.

Teve uma época em que era suicida, o desejo de morrer já era maior que tudo, já teve essa sensação? Nessa mesma época estar em sociedade me incomodava, já não via "o lado bom da vida".

Fui internada cinco vezes, no total. Consegui escapar de quatro burlando tudo e fingindo estar bem, todos pareceram acreditar sempre. Entretanto essa quinta não, esta é diferente.

Não fui arrastada para um quarto impecavelmente arrumado, branco, limpo. Eu escolhi ir desta vez.

Eu escolhi estar ali, com roupas cinzas e bregas, em um quarto sem pó, com uma cama, uma mesa e uma janela, mais nada. Mas essa janela, essa janela é tudo o que preciso para entender que vou sair daqui, que vou estar bem, que não precisarei mais de uma lâmina para acabar com a dor.

Olhei para meus pulsos, ainda estão inchados, mas olhar para eles agora não me dá mais vergonha, essas cicatrizes fazem parte de mim, talvez eu até sinta falta quando elas sumirem, elas registram tudo que enfrentei.

Eu sou louca.

Vou apresentar minha história, desde o começo, você vai entender o motivo de tantos pensamentos em torno de "se encaixar na sociedade", você vai entender o motivo dos cortes, o motivo da dor, o motivo da loucura, o motivo da internação. Entenderá tudo com clareza e talvez assim pense duas vezes antes de falar que seus problemas são ruins.

Os problemas de todos são ruins, mas para cada um, seu problema sempre parece ser pior que o do outro.

Espero que entenda o que quero dizer, porque esta é minha história.


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