Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 4
O Inferno agora está satisfeito


Notas iniciais do capítulo

"Nada é gratuito. Tudo precisa ser pago.
Para cada lucro em uma coisa, pagamento em outra.
Para cada vida, uma morte. Mesmo a sua música, da qual
ouvimos tanto, teve que ser paga. Sua mulher foi o
pagamento por sua música. O Inferno agora está satisfeito."
— Ted Hughes, "The Tiger's Bones"



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Nota mental: Nunca, jamais, em hipótese alguma, discutir com Sebastian fora de casa novamente.

Clary estava parada em frente a uma parede vazia. Ela não tinha a mínima ideia de como fazer um apartamento surgir ali e, mesmo se conseguisse criar alguma runa, ela não estava com a estela. Já dera chutes e socos, rezara para o Anjo e até iniciara um diálogo dramático com a parede. Mas, aparentemente, nada havia funcionado.

Ela cruzou os braços. Não sabia quando Sebastian pretendia voltar e simplesmente não poderia ficar esperando ali para sempre. As pessoas que caminhavam por perto já estavam começando a achar a situação um pouco estranha. Talvez ali as pessoas não costumavam conversar com paredes.

Clary estava tentada à sair andando até encontrar Sebastian, mas já estava ficando escuro e ela tinha grandes chances de acabar se perdendo. Levou 2 minutos para reavaliar suas opções e por fim, decidiu que andando estaria mais segura e menos nervosa do que sentada em frente a um apartamento invisível.

Sendo assim, Clary começou a caminhar na direção mais iluminada que encontrou. Não queria ficar chorando igual uma criança, mas não conseguia evitar. Era absurdamente incrível como a vida de uma pessoa pode mudar de um momento para outro.

Em um dia, ela estava bebendo café com Simon como uma adolescente normal de Nova York. E agora lá estava ela, andando por ruas desconhecidas procurando pelo irmão que também não conhecia.

Clary não conseguia arrancar as palavras de Sebastian de sua mente. Ela realmente não conhecia o irmão. O que sabia sobre ele? Que ele era um assassino que não sentia piedade de suas vítimas? Que ele só se importava consigo mesmo? Que ele queria destruir o mundo? Disso ela tinha certeza. Mas, por um momento, ela imaginou o que teria acontecido se realmente tivesse sido criada por Valentim. Talvez ela tivesse ficado igual Sebastian. Uma assassina.

Balançou a cabeça para afastar o pensamento. O que estava acontecendo com ela? Não podia pensar nessas bobagens. Tinha que se concentrar no que estava fazendo.

— Ora, ora, ora. Que surpresa encontrá-la, Clarissa.

Clary congelou. Que burrice! Estava tão distraída nos próprios pensamentos que mal prestou atenção para onde estava indo. Ela olhou ao redor e se viu em uma rua escura à qual não se lembrava de ter entrado. Provavelmente também perdera a noção do tempo, porque não havia mais ninguém ali. Ninguém para ajudá-la.

Finalmente, Clary levantou o olhar para encarar o dono da voz fria. Tinha a mesma altura de Sebastian, mas com cabelos negros e olhos cinzentos. Seus músculos expostos estavam cobertos por runas, e ela reconheceu algumas: força, agilidade, coragem. Clary não o reconheceu.

— Nós nos conhecemos? — perguntou ela, dando um passo para trás. Precaução.

Ele deu de ombros.

— Imaginei que não fosse me reconhecer. Meu nome é Peter — ele olhou ao redor, como se procurasse alguém. Em seguida, voltou a encará-la. — Conheci Valentim, Clarissa. Meu pai fazia parte do Ciclo. É claro que agora ele está morto, por culpa de seu pai.

Clary sentiu uma sensação ruim. Não estava gostando daquele cara, e sentia que precisava sair dali antes que fosse tarde demais.

— Muitas pessoas morreram por culpa de Valentim. Mas agora ele está morto também, não é?

— Sim, de fato — Peter concordou — Mas seu irmão ainda está vivo e ele é muito pior que Valentim. Jonathan tem sangue de demônio correndo nas veias, e pretende queimar o mundo. Não posso deixar isso acontecer, não é?

Por algum motivo, Clary se sentiu tentada a socá-lo. Ele não podia falar de seu irmão assim. Ele também não o conhecia.

— Acredito que não há muito o que fazer sobre isso.

— Na verdade, Jonathan tem uma fraqueza — ele sorriu. Peter tinha um sorriso cruel, não tão diferente do de Sebastian. — Você.

Clary quase caiu para trás, algo que seria estupidamente estúpido. Aquilo era ridículo, Sebastian não tinha fraquezas. E, se tivesse, não seria ela.

— Eu não sei do que você está falando.

— Não sabe, hein? — Peter sorriu mais ainda, se divertindo — Todos sabem o quanto ele é obcecado por você, Clarissa. O quanto você o deixa fraco. E eu vou destruir a fraqueza dele, e assim, irei destruí-lo também.

Clary perdeu o ar. Aquele homem queria matá-la, e ela não teria nenhuma chance de luta. Não tinha nenhuma arma e Peter era dez vezes mais forte que ela. E ela estava sozinha.

Peter deve ter sentido o medo da garota.

— Não se preocupe, docinho. Apenas Jonathan sentirá sua falta, mas ele não durará muito tempo — Clary estreitou os olhos, lembrando-se de seus amigos. Ele percebeu. — Ah, você ainda acha que seus amigos se preocupam com você? Depois de você os terem abandonado? Para ficar com ele?

Clary sentiu os joelhos enfraquecerem e sua visão ficou turva. Aquilo não podia ser verdade. Ela sacrificara tanta coisa pensando em ajudar, e agora, eles nem ao menos se importavam com ela. Ela iria morrer sem encontrá-los novamente, sem explicar porque ela tinha feito aquilo. Nunca se sentiu tão pequena em um mundo tão imenso.

E então, quase que violentamente, seu peito se encheu de uma coragem repentina. Ela estava com raiva de Peter por estar fazendo aquilo, de Sebastian por tê-la deixado, de todos os seus amigos que desistiram dela tão facilmente; e, principalmente, estava com raiva de si mesma. Não deveria ter feito aquela maldita proposta, não deveria ter discutido com Sebastian e não deveria ter saído andando sozinha por lugares desconhecidos.

Mas ela não podia fazer nada para mudar o que aconteceu. Foram suas próprias escolhas, e ela não podia se arrepender. E, definitivamente, não podia morrer como um alvo fácil.

Clary olhou ao redor, procurando algo que pudesse usar como arma. Não iria encontrar uma estela, mas talvez um pedaço de ferro ajudasse.

Localizou um pedaço de madeira ao lado da escada de um prédio. Ela se sentiu estúpida por pensar em usar um simples pedaço de madeira contra um Caçador de Sombras altamente treinado e sedento por vingança, mas não havia outra opção. E ela também não pretendia matá-lo, apenas queria ganhar tempo para fugir.

Clary mal teve tempo de pensar direito no assunto e decidir com calma, e já agiu por impulso. Passou por debaixo das pernas de Peter e agarrou o pedaço de madeira, arremessando-o contra a cabeça dele. Não ficou esperando para ver sua reação.

Enquanto corria, Clary se amaldiçoou por ter esquecido a runa de agilidade que ele tinha nos músculos. Em menos de um segundo, Peter a agarrou por trás e a lançou contra a parede de um beco. Clary gritou de dor e desabou no chão, sem forças.

Peter se aproximava calmamente, o rosto furioso sangrando onde ela o havia acertado. Mesmo sem ter para onde fugir, Clary reuniu forças para ficar de pé. Se tivesse que morrer, seria lutando. Como a Caçadora de Sombras que ela era.

Ele a empurrou contra a parede, o braço contra seu pescoço. Clary estava nas pontas dos pés, mal conseguindo respirar.

— Me falaram que a irmã de Jonathan Morgenstern era uma boa lutadora. Ouvi falar sobre os seus grandes feitos, salvando os amigos do próprio pai — Peter apertava tanto a garganta de Clary que, a qualquer momento, ela iria perder o ar. — Mas você não me parece uma boa lutadora.

Isso não era justo. Ela queria mostrar que era uma boa lutadora, que era uma verdadeira Caçadora de Sombras. Por um momento, Clary esqueceu do ar que lhe faltava e usou toda a força que ainda restava para chutar os joelhos de Peter. Ele se desequilibrou e soltou Clary, que caiu enfraquecida no chão. Pôs as mãos na garganta, se certificando de que ainda estava ali e que ainda conseguia respirar.

Seus olhos ardiam em lágrimas de dor e medo. Sua mão se fechou em torno de uma pedra pouco afiada e enquanto Peter recuperava o equilíbrio, ela cravou a pedra em seu rosto. Ele gritou de ódio e estendeu os braços, em uma tentativa de pegar Clary; ela recuou e em seguida, passou por debaixo de seus braços.

Não iria ser estúpida em tentar fugir novamente, já que não dera certo na primeira vez. Correu até a rua principal e procurou algo que pudesse usar contra Peter. Não havia nenhum pedaço de madeira, ferro ou até papel.

Clary decidiu que teria que usar a força, mesmo que ela não tivesse a mínima chance. Mas, de qualquer jeito, ela não achava que iria ganhar aquela luta mesmo com o maior pedaço de madeira do mundo.

Voltou ao beco e procurou por Peter, mas estava tão escuro que ela não enxergava nada. Então, ao escutar um barulho atrás de si, não hesitou em fechar os punhos e socar o que tivesse ali. Sua mão acertou o peito duro de Peter e ela gritou de dor, percebendo o erro.

Ele segurou a mão machucada de Clary e a torceu, quebrando-a. Clary queria chorar e pedir piedade, mas decidiu que não seria uma maneira muito bonita de morrer. Girou o corpo e chutou o estômago de Peter, que cambaleou.

O Caçador de Sombras perdeu a paciência e a agarrou, jogando-a contra a parede. Novamente.

— Chega disso, Clarissa. Não percebe o quão estúpida é? — ele gritou, tirando a respiração de Clary. — Você só está me fazendo perder tempo. Um tempo valioso que eu preciso usar para destruir Jonathan. Vamos acabar com isso, hein?

Clary congelou quando viu um brilho prateado na escuridão. Ela tentou se soltar, chutando e socando o ar, mas isso só serviu para lhe causar mais dor.

E então, na mente de Clary, tudo desapareceu. Ela estava de volta ao Instituto; Alec reclamava da péssima sopa de Isabelle enquanto ela lixava as unhas, ignorando-o. Magnus estava entretido com Church, os olhos de gato em comum. E encostado na parede, os braços cruzados, o sorriso no rosto, estava Jace. Apenas ele parecia estar percebendo a presença de Clary. Ele a olhava como se fosse a primeira vez que estivesse a vendo, como se sempre estivesse sonhando com ela. Os olhos dourados dele brilharam quando ele sussurrou as três palavras que ela sempre amou escutar, as palavras que ela sentia tanta falta.

Eu te amo.

Clary fechou os olhos quando sentiu a adaga de Peter perfurar seu peito. Não sabia onde tinha sido, talvez no estômago, talvez no coração. Ela não gritou, apenas manteve os pensamentos em Jace enquanto desabava no chão. Inconsciente.


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Notas finais do capítulo

Opiniões são bem vindas!