Réquiem escrita por Ghanima


Capítulo 7
Melancolia


Notas iniciais do capítulo

Músicas: Don’t Close Your Heart e Heartache Every Moment
Autor: HIM
Nota: A primeira música será voltada para a Ino e a segunda, para o Shikamaru. ;D



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Ino se levanta com dificuldade e abre a porta da sacada, sentindo o vento frio e molhado agredir sua pele. Ela vai andando até a beirada e fecha os olhos, sentindo as gotas frias colidirem contra o seu corpo como milhares de agulhas afiadas. E ela rezava para que aquelas “agulhas” lhe roubassem a vida e a livrassem daquele tormento.

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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From lashes to ashes and from lust to dust

(Das chicotadas às cinzas e da luxúria ao pó)
in your sweetest tornment I'm lost

(No seu mais doce tormento eu estou perdido)
and no heaven can help us

(E nenhum paraíso pode nos ajudar)
Ready, willing and able to lose it all

(Prontos, dispostos e aptos para perder tudo isto)
for a kiss so fatal and so warm

(Por um beijo tão fatal e tão quente)

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A cabeça de Shikamaru latejava intensamente e ele não conseguia encontrar forças para abrir os olhos, que lhe pareciam mais pesados do que chumbo. Naquele momento, o mínimo som produzido já causava uma dor lancinante em seus tímpanos e, mesmo com os olhos fechados, o Nara podia sentir o mundo rodando dolorosamente à sua volta.

Reunido forças, o jovem abre os seus olhos castanhos que logo são feridos pelos raios do sol forte. O corpo todo doía e seu estômago protestava incessantemente, demonstrando que todo o consumo exagerado de álcool do dia anterior, se dispusera a causar mais prejuízos do que o moreno havia calculado.

Ele se ergue lentamente e fica encarando os lençóis amassados da cama. O rapaz leva as mãos à cabeça e enrosca os dedos calejados nos fios marrons, embaraçados e sujos; numa tentativa de fazer sua mente recapitular os eventos da noite anterior. E, para sua tristeza, o único evento que lhe vem é o noivado de Ino.

Sem perceber, fios de lágrimas escorrem dos orbes chocolates, mas logo são removidas dali com um esfregar violento de mãos. Uma outra coisa que a mente de Shikamaru resgata é a memória de que, durante a sua bebedeira colossal, em algum momento, ele se forçara a deixar a adega e subir cambaleante até o quarto, não demorando em se jogar na cama e rezar para que o sono viesse logo.

Lentamente, Shikamaru vai se arrastando até o banheiro ao mesmo tempo em que arranca o que restara de suas roupas. Ele liga a torneira e fecha os olhos, se confortando com o som gentil da água corrente que enchia a banheira. Uma súbita ânsia de vômito o acomete e logo o rapaz despeja tudo na pia, sem nem se preocupar com a hipótese da mesma entupir.

Quando sua indisposição passa, o moreno joga o seu corpo na banheira, deixando-se ser acalentado pela água quente e sentindo o revigorante vapor invadir-lhe as narinas e salpicarem-lhe o rosto abatido e sujo. Ele apóia a cabeça na borda da banheira e joga a perna direita para fora, sentindo seus pêlos se eriçarem com a súbita mudança de temperatura.

O Nara ouve passos ao longe e não lhes delega a menor atenção, concentrando-se apenas em curar a ressaca violenta com a qual fora brindado. Seu estômago ronca ruidosamente e o rapaz percebe que logo terá que satisfazer vontade do revoltado órgão.

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Oh it's heartache every moment

(Oh essa agonia à todo momento)
from the start till the end

(Desde o começo até o fim)
it's heartache every moment

(Essa agonia à todo momento)
with you

(Com você)

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- Que beleza, hein?

O rapaz volta a cabeça na direção da porta e vê seu pai, observando-o com uma seriedade poucas vezes vista no rosto de Shikato Nara. Os cabelos do homem estavam soltos e caiam em seus ombros, cobertos por um robe de algodão creme. Os olhos do pai pareciam invadir os pensamentos de Shikamaru e o fazem notar que seria impossível fugir à prestação de contas.

- Sabe, filho... – o homem para um pouco e acende um charuto. – Eu fui até a adega hoje e reparei que algumas garrafas estavam vazias e outras, quebradas. – o adulto põe uma mão no bolso. – Isso tem alguma explicação?

O tom, aparentemente displicente, escondia uma certa raiva.

- Velho... – Shikamaru afunda a cabeça na água e demora alguns segundos pra voltar. – Eu falo depois, juro que falo.

O abandono com que aquela frase fora emitida corta o coração de Shikato, que decide não forçar a revelação visto que, seja o que fosse, era extremamente doloroso para o filho. Ele sai do quarto e para no corredor, olhando pro teto.

- O que houve com você, garoto?

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Deeper into our heavenly suffering

(Profundamente dentro do nosso mágnifico sofrimento)
our fragile souls are falling

(Nossas frágeis almas estão caindo)
It's heartache every moment

(Essa agonia à todo momento)
baby with you

(Baby,com você)

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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I know how it feels to be on your own

(Eu sei como é estar solitário)
In this cruel world where hearts are bound to turn to stone

(Nesse mundo cruel onde os corações estão fadados a se tornarem pedra)
Where you are alone and tired of breathing

(Onde você está sozinha e cansada de respirar)
It's all going wrong and you just can't stand the pain anymore

(Tudo está dando errado e você não consegue mais suportar a dor)
You're too numb to believe in anything

(Você está entorpecida demais pra acreditar em qualquer coisa)

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O cheiro do chá quente desperta a Yamanaka dos seus sonhos e a traz, lamentavelmente, do confortante Mundo dos Sonhos. As safiras se tornam visíveis e a loira percebe sua mãe, sentada na beira de sua cama, com uma xícara de chá na mão e a olhando com uma culpa que corroeria o coração de qualquer um. Mas não o de Ino, jamais outra vez o de Ino.

- O que você quer?

A jovem não faz o menor esforço para manter contato visual com a mulher e retirou-se do aconchego da cama, indo até o banheiro para fazer a sua higiene. De dentro do cômodo, Ino pode ouvir o lamurio da mãe e percebeu uma coisa estranha, aquele som lhe causava um certo prazer e a jovem decidiu que gostava daquilo. Cruel, nem tanto se colocarmos na balança a traição de seus pais.

Ela leva um tempo longo em sua higiene, pouco se importando com o que se passava do lado de fora daquelas quatro paredes de ladrilhos azuis. Depois de 40 minutos, a loira sai do banheiro sem nem olhar para a mãe, que a fitava ansiosamente. A jovem vai até o armário de tira de lá um vestido rosa, cujas mangas iam até um pouco abaixo do ombro e era enfeitado com pequenas flores vermelhas nas extremidades.

- Eu quero conversar com você, filha.-

A mãe pára por casa da risada fria e sem alegria que a loirinha emitia, e logo a mesma se senta á sua penteadeira, encarando a loira mais velha pelo espelho.

- Não me chame de filha! – a voz baixa foi acompanhada de um olhar gelado e carregado de desprezo.

-E do que eu devo te chamar, Ino-chan? – a tentativa de carinho se mostra inútil diante de um vidro de perfume sendo jogado no chão. – O que está fazendo, Ino?!

- Agradeça por eu não ter jogado isso em você, Srª Yamanaka!

A jovem se vira para o espelho, pega uma escova e se ocupa de pentear as mechas douradas, sorrindo internamente enquanto vê o choque da mulher com a sua manifestação anterior. A mãe se ergue da cama e vai andando até a penteadeira. Antes que sua mão tocasse o ombro da jovem, uma das mãos da mesma agarra o pulso materno e o aperta dolorosamente.

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Baby just don't close your heart

(Baby, só não recuse seu coração)

Baby just don't close your heart

(Baby, só não recuse seu coração)

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- Filha... – lágrimas correm copiosamente dos olhos verdes da mulher, mas não pela dor física, e sim pelas ações de Ino.

- Já disse pra não me chamar assim. – a loirinha solta o pulso da outra com um empurrão, que leva a mais velha ao chão. – Está surda, por um acaso?

A boa vontade acaba e a mãe se ergue do chão, seguindo até a filha e dando-lhe um tapa violento. As faces da Srª Yamanaka estavam vermelhas e úmidas, os olhos verdes emitiam uma gama de sentimentos que não podiam ser distintos uns dos outros.

- Como se atreve a falar assim comigo, sua desaforada? – agora apenas gritos saiam daquela garganta. – Esqueceu-se de que eu sou sua mãe?

- Devia ter se lembrado disso quando me vendeu para aquele homem.

A voz tremida da jovem não estava desse jeito por causa da dor do tapa, e sim, pelo aumento do ódio que a consumia. Ino levanta da penteadeira e vai até o seu vestido, colocando-o preguiçosamente e olhando o clima lá fora. Estava um dia bonito, apesar da chuva da madrugada.

- Eu não sei o que dizer, Ino... – a mãe era insistente. – Realmente não sei.

- Não diga nada, então. – a loirinha vai até uma gavetinha e pega uma pequena bolsa. – E antes que eu me esqueça.

Ao contrário das expectativas da Srª Yamanaka, que esperava que a conversa continuasse, a conclusão da frase de Ino foi um violento e sonoro tapa. A mulher cai ao chão e a filha sai do quarto, vendo seu pai saindo de um outro quarto e vindo na sua direção.

A jovem se apressa e não deixa que o pai sequer se aproxime. Deixando ao homem apenas a penosa função de recolher os cacos de sua combalida esposa. Já do lado de fora, a loirinha toma posse de um cavalo marrom, Maru, o mais rápido de sua família e vai cavalgando sem rumo. Querendo apenas se afastar de todo o tormento que assolava sua vida.

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Baby just don't close your heart

(Baby, só não recuse seu coração)

Darling don't let me down

(Querido, não me desaponte)

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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- Posso saber o por quê de tanto gasto? – a voz irritada de Kakuzu arranca a Morte de seus devaneios.

- Os meus gastos não te interessam. – a resposta mal criada já era de praxe, por isso o homem mais alto não se incomodou. – Aliás, por que decidiu vir comigo? Não me lembro de ter convidado ninguém.

Aquela “amigável” discussão se passava no meio de uma das infinitas ruas do movimentado centro de Konoha. O banqueiro taciturno e seu mais exigente cliente trafegavam pelo lugar desde muito cedo e dentro da carruagem, Kakuzu se via obrigado a disputar lugar com muitas mercadorias que o Hidan havia decidido comprar.

Ele não sabia o que tinha dentro de cada caixa, bolsa ou pacote, mas tinha certeza de que quase nada ali era para o comprador. Muito provavelmente, os bens eram destinados à noivinha do mesmo. O homem de olhos negros afastou sua mente dessas frivolidades e lembrou-se de algo que aguçara sua curiosidade desde que o pai de Ino aceitara a mal fadada proposta do Jashin.

- Quando pretende anunciar o casamento?

- No dia seguinte ao aniversário dela... – os lábios do falante se movem maldosamente. – Decidi deixar que a fedelha tenha alguns momentos de felicidade antes de eu acabar com a vida dela.

- Isso foi no sentido literal ou figurado? – uma ironia dessas não podia ser desperdiçada.

- Perdeu a noção do perigo, é?

Os olhos rosados se enegrecem totalmente e com um fechar de punhos de Hidan, Kakuzu sente seu coração ser amassado dentro de seu peito.

- Esqueceu que fui EU quem permitiu que você estivesse aqui, seu babaca? – a mão continua se retraindo com mais força ainda. – Faça o que eu te pago pra fazer, e fique calado!

A Morte se surpreende quando uma mão forte e grossa colide com seu rosto e impressa uma marca vermelha na bochecha branca. A força do impacto produz um estalo alto que faz o condutor da carruagem parar o veículo.

- Lembre-se de que você só conseguiu cercar o Yamanaka por que EU criei os meios. – Kakuzu se recosta na poltrona. – Quem te deu a fachada pra conseguir isso fui eu.

Hidan emite uma gargalhada sonora e brinca com o seu conhecido pingente. A carruagem estava passando perto de uma loja de doces que estava lotada de adolescentes e crianças, pais e filhos e casais de namorados. Esse tipo em especial chamou a atenção do observador, que se lembrara do desconforto que sentira quando tomou conhecimento do florescente relacionamento de Ino e Shikamaru.

- Ficou corajoso, é? – ele acende uma cigarrilha e fica fazendo anéis de fumaça saírem de sua boca.

- Óbvio.

- E por que, coisinha lacônica?

- Porque eu sei muito bem que, apesar de ser o que é, você está com ‘muito’ do seu poder limado. – o banqueiro rouba a cigarrilha de seu, agora tenso, cliente. – E o que poderia acontecer se eu falasse isso pra sua Ino? – ele dá uma tragada. – Tenho certeza de que ela daria um jeito de se livrar de você.

Esse era o problema de ter que contar com os humanos pra fazerem algo, eles sempre poderiam guardar uma carta na manga. A Morte se cala por um momento e começa a conjurar meios de se livrar o mais rapidamente possível de Kakuzu. Apesar de cético, o banqueiro daria um jeito de descobrir alguma maneira de deixá-lo mais preso a essa forma humana limitada.

- Não abuse, Kakuzu... – os olhos do Perpétuo se fecham e a cabeça se encosta à lateral do veículo. – Meu poder pode ter diminuído, mas eu ainda sou aquilo de que você não pode fugir.

Eis a vez do outro homem se surpreender. O tom baixo e falsamente comedido conseguia ser mais horripilante do que se tivesse sido um grito. Receber uma ameaça velada da Morte foi, de longe, a pior experiência da vida de Kakuzu.

- E quem mal você pode me fazer?

Os lábios de Hidan se curvam num risinho macabro.

- Acredite, você não quer saber...

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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And we sense the danger

(E nós percebemos o perigo)

but don't wanna give up

(Mas não queremos desistir)
'Cause there's no smile of an Angel

(Porque não há sorriso de um anjo)
without the wrath of god

(Sem a cólera de Deus)

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Para o seu eterno agradecimento, os pais estavam ocupados demais discutindo algo quando Shikamaru se esgueirou para fora do quarto. Aproveitando isso, foi até a cozinha, comeu alguma coisa e apressou-se em sair de casa. Sua ressaca estava amenizada, mas ainda fazia questão de deixar bem clara a sua presença, com latejos e uma anormal sensibilidade.

O rapaz vestiu-se todo de negro para que seu exterior pudesse refletir, minimamente, o seu turbilhão interior. Ele ouviu um baixo relinchar dos cavalos, chamando-o para cavalgá-los, mas o Nara decidiu que iria caminhar. Seus passos eram lentos e não o levavam a nenhum lugar específico, como se estivessem, simplesmente, desejosos de se moverem.

O sol parecia ter se condoído de Shikamaru e escondeu-se por entre as acinzentadas nuvens, deixando apenas alguns pedaços de céu azul à mostra. Naquele momento o jovem agradecia por morar longe do centro de Konoha já que tudo que ele mais queria era a tranqüilidade. Ouvir apenas os sons próprios da natureza, ignorando qualquer influência humana, inclusive, ignorando as vozes furiosas de seus próprios pensamentos.

Seus passos seguiam por um caminho de pedras que passava por dentro de uma simples e acolhedora vila. Alguns moradores o cumprimentavam e ele, em sua educação, correspondia aos gentis modos daquela gente. Antes que pudesse perceber, o Nara chegou ao rio por onde sempre passava quando ia às reuniões do Arlequim.

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Oh it's heartache every moment

(Oh essa agonia à todo momento)
from the start till the end

(Desde o começo até o fim)
it's heartache every moment

(Essa agonia à todo momento)
with you

(Com você)

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As águas estavam atípicas. Normalmente, eram azuis e corriam com toda a calma do mundo, proporcionando uma melodia cálida a quem as ouvia. Só que hoje, estavam acinzentadas (mesmo com o céu ainda azul) e, além de baterem violentamente contra as pedras e margens, carregavam toda a sorte de elementos; pedras, pedaços de madeira e várias outras coisas.

O jovem se deita à sombra de uma árvore qualquer e usa os braços como travesseiro, seus olhos castanhos se fixam no contínuo e lento movimento das nuvens que pairavam e cobriam e descobriam o astro-rei. Um vento frio corre por entre as árvores e faz os pêlos dos braços do Nara se eriçarem. Já cansados das nuvens, os olhos se fecham e a mente cansada do rapaz encontra uma pequena dose de paz.

Ao longe ele ouve algo que se assemelha aos trotar de um cavalo, mas como sua ressaca ainda não estava totalmente curada e sua mente estava num estado deplorável, Shikamaru ignora solenemente suas conjurações acerca do som e continua em seu desejado momento de ócio.

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Deeper into our heavenly suffering

(Profundamente dentro do nosso mágnifico sofrimento)
our fragile souls are falling

(Nossas frágeis almas estão caindo)
It's heartache every moment

(Essa agonia à todo momento)
baby with you

(Baby,com você)

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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I know how easy it is to let go

(Eu sei o quão fácil é desistir)

Surrender to despair lurking at your door

(Se render ao desespero que se move furtivamente à sua porta)
To lose your soul and all your feelings

(Perder a sua alma e todos os seus sentimentos)
Strength all gone

(Toda força se esvai)

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A loirinha perdera a conta do tempo em que levara cavalgando por aí, mas ela sabia que não estava perdida e que estava longe o suficiente daquele lugar ao qual, um dia, ela chamou de casa. Uma vez ou outra a jovem encontrava rostos conhecidos pelo caminho, só que a velocidade de Maru a impedia de cumprimentar as pessoas decentemente.

O vento gelado colidia com seu rosto, trazendo alívio àquela pele tão tocada pelo sol, os cabelos moviam-se desordenadamente as suas costas e brilhavam intensamente com o suor e com a luz solar. Ino sentia fome e sede, no entanto, sua vontade de rodar livre como o vento suplantava qualquer necessidade física que seu corpo manifestasse. Sendo ela qual fosse.

Quando a floresta se tornou mais densa, a Yamanaka tomou posse de uma espada antiga de seu pai, que ficava presa à cela de Maru. Ela sabia que aquilo não era de todo necessário mas aquele pedaço de metal lhe trazia segurança e lhe tentava a fazer uso dele. E assim, a jovem procedeu. Numa hora, um galho fino e inconveniente estava perigosamente próximo de seu rosto e quando chegou na distância certa, a loira fê-lo em pedaços.

Alguns animais silvestres se assustaram com aquela súbita presença e logo se fizeram notar com pios, chiados e vários outros sons que, em qualquer outro momento, fariam a jovem tremer. Mas não naquele dia. A velocidade do cavalo e o fio preciso da espada faziam Ino sentir-se invencível. Ela não se importava com nada e nem com ninguém que não fosse ela mesma e Shikamaru.

Tudo perdera o valor e esse pensamento fez surgir uma idéia pouco delicada à mente atribulada da jovem, quando ela admirava a lâmina brilhante e fatal da espada em sua mão direita. Por muito pouco, a garota não cogitou virar o cavalo e causar uma chacina em casa, mas pensou melhor. Exceto pela vida de Deidara-nissan, nenhuma outra ali lhe parecia digna do esforço de ser minada.

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And so many things left unsaid and deeds undone

(E tantas coisas permanecem não ditas e coisas não feitas)
You've stopped caring

(Você parou de se importar)
Cause it's all in vain

(Por que tudo é em vão)

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Ao longe, ela percebeu a proximidade do rio e fez com que Maru diminuísse o ritmo, pois o pobre cavalo já lhe carregava há bastante tempo e merecia um descanso. A loira desce do lombo do animal e, segurando firme as rédeas do mesmo, segue a pé até o rio.

Quando se aproxima, ela vê aquela pessoa. Deitado no chão, olhando pras nuvens e logo depois fechando os olhos castanhos. As roupas negras se espalhavam pela grama verde e ele parecia mais bonito do que nunca, algo profundamente sensual e exótico exalava do rapaz naquele momento. Ou pelo menos, era o que a saudosa Ino pensava.

Shikamaru...

Seu Shika...

Seu adorado preguiçoso.

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Baby just don't close your heart

(Baby, só não recuse seu coração)

Darling don't let me down

(Querido, não me desaponte)
Don't let me down

(não me desaponte)
Don't let me down

(não me desaponte)
Just don't let me down

(Só não me desaponte)

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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From lashes to ashes and from lust to dust

(Das chicotadas às cinzas e da luxúria ao pó)
in your sweetest tornment I'm lost

(No seu mais doce tormento eu estou perdido)
and no heaven can help us

(E nenhum paraíso pode nos ajudar)
Ready, willing and able to lose it all

(Prontos, dispostos e aptos para perder tudo isto)
for a kiss so fatal and so warm

(Por um beijo tão fatal e tão quente)

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- As nuvens deixaram de ser interessantes?

Os olhos cor de chocolate se abrem novamente, apenas para pousarem sobre uma face branca e amargurada. Os orbes azuis estavam avermelhados e não expressavam nada, os cabelos dourados estavam levemente bagunçados por causa do vento e os lábios da pessoa estavam secos e rachados. Gotículas de suor brilhavam na pele levemente ruborizada. O vestido rosa estava desarrumado e permeado com folhinhas e porçõezinhas de terra.

Aquele rosto, aquele tão querido rosto...

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Oh it's heartache every moment

(Oh essa agonia à todo momento)
from the start till the end

(Desde o começo até o fim)
it's heartache every moment

(Essa agonia à todo momento)
with you

(Com você)

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Sua loira problemática.

Ino.

Shikamaru não responde. Pega um braço de Ino e a puxa em direção de seu corpo, fazendo-a deitar-se na grama com a cabeça no peito do jovem, ouvindo os batimentos descompassados do próprio. Durante muito tempo, eles nada falam, simplesmente aproveitam aqueles singelos instantes de união, que não tinha um prazo certo pra terminar, mas sabiam que não tardaria a acontecer.

- Como as coisas chegaram nesse ponto, Ino?

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Deeper into our heavenly suffering

(Profundamente dentro do nosso mágnifico sofrimento)
our fragile souls are falling

(Nossas frágeis almas estão caindo)
It's heartache every moment

(Essa agonia à todo momento)
baby with you

(Baby,com você)

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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A Yamanaka leva alguns segundos até reunir a coragem para responder. Os esclarecimentos duram cerca de 30 minutos. Shikamaru ouvira a tudo calado, mas era fácil de perceber os vários sentimentos que corriam pela face morena: surpresa, indignação, descrença, preocupação, dor...

- Inacreditável... – o Nara já estava de pé e fitava a margem oposta do rio. – Temos que consertar isso.

- Não vejo como. – a loira estava encostada na árvore e observava o céu tomar tons de vermelho e laranja. – Acho que nem a sua inteligência pode mudar a situação, Shika.

- Não piore as coisas, problemática.

Ino sorri, ela estava sentindo falta daquele apelido.

- Só estou dizendo a verdade.

- Enquanto não houver casamento, poderemos achar um jeito.

Uma risada da Yamanaka faz com que o Nara se volte para ela, tentando entender o que poderia ter causado aquilo. A princípio, ele supôs que fosse uma risada de ironia, mas ao ver o lampejo de alegria que surgiu nos olhos de safira, ele percebe que havia aquela fora uma risada genuína. O coração do rapaz fica um pouco mais leve ao ouvir aquele doce som que tanto lhe deixou com saudade.

- Qual é a graça?

- Você está falando. – ela o olha e vê aquela peculiar expressão de quem não entendeu nada. – Você nunca foi capaz de manter um diálogo verdadeiro... – o Nara se aproxima. – Pelo menos, não comigo.

Quando percebem, a noite já havia chegado e aquele lugar ficava ermo demais para que permanecessem ali. Ino e Shikamaru sobem no lombo de Maru e cavalgam rapidamente pelo caminho de volta. Dessa vez, era a loira que conduzia o animal e o Nara se ocupou apenas de gravar em sua memória, um belo momento.

Esse momento foi quando eles alcançaram uma clareira e lua minguante se fez visível. Por uns instante, o jovem manteve seus olhos no astro celeste mas logo dirigiu os orbes castanhos de volta à Ino. Ela estava potencialmente linda. A lua fez as mechas douradas brilharem como nunca, os olhos azuis se tornaram tão faiscantes que seria quase impossível olhar pra eles, a pele alva reluzia com a luz prateada.

- “Simplesmente magnífica...”

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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A jovem deixara o namorado em um caminho pouco distante de sua casa, temendo que alguém os visse juntos. Ela entrou pelo portão de trás da casa e, pelo lado de fora das janelas, via um movimento agitado na cozinha. Levou alguns minutos ajeitando o dedicado e fiel Maru no estábulo e adentrou logo a casa. Os empregados a olhavam de uma forma estranha, como se quisessem alertá-la de um perigo iminente.

Ino abre a porta da cozinha e ouve algumas vozes vindo da sala de estar, mas como não queria mesmo ver ninguém, se apressa em subir as escadas, em direção ao seu quarto e a um mais do que merecido banho. Sua cintura ainda podia sentir os braços de Shikamaru e seu pescoço sentia os lábios quentes. Sensações maravilhosas eram essas.

Seu delicioso banho dura uns 20 minutos e ela sai calmamente do quarto; trajando um simples vestido branco e azul-petróleo, com mangas curtas e um discreto decote. Seus cabelos estavam molhados e cascateavam por suas costas. A jovem vai indo até a cozinha para beliscar alguma coisa, finalmente se dispondo a atender os anseios de seu estômago.

Lá ela chega, mas a sua tranqüilidade dura pouco. Deidara surge na cozinha e, novamente, seu rosto não expressa um pingo de satisfação. Ino para de beber o seu chá e larga o biscoito que comia em cima da bancada.

- O que houve, nii-san?

- Prepare-se pra guerra, un. – Deidara vai até um dos armários e abre uma garrafa de gim, bebendo quase tudo numa única vez.

- Dá pra explicar melhor?

- ‘Ele’ está aqui. – os olhos azuis do homem se enchem de um desprezo incomum. – Nem minha privilegiada mente artística deixou de evitar que ele ficasse aqui... – ele bebe mais. - Esperando você chegar, un.

Ino apóia a cabeça nas mãos e sente toda a pouca felicidade acumulada durante o dia, esvair-se de súbito. O rubor de seu rosto some, assim como o brilho que lá estivera. A jovem se aproxima do primo, toma a garrafa do mesmo e compartilha da bebida. O álcool a deixava muito mais relaxada e menos temerosa, o que era ótimo naquela situação. Pois teria que enfrentar o Mefistófeles e seus assessores.

- Me diga que não é quem eu estou pensando, Deidara-nissan.

- Seu rico e ilustríssimo...- ele respira fundo. – noivo.

- Ó Deus clemente! Esclarece os meus temores! Não há nada que ele ignore; nada escapa ao seu engenho. – a loira se rende ao inevitável e vai se aproximando da porta da cozinha. - O enleio que ante ele eu tenho... – ela começa a tremer, sendo confortada pelas mãos gentis do primo. - faz que eu de mim própria core. Digo-lhe a tudo que sim. Pareço uma criancinha. – andam mais um pouco e param diante da porta da sala de estar. - Sou mais dele do que minha. Mas que acharia ele em mim? (1)

- Calminha, Margarida!(2) – Deidara abre a porta com toda a calma possível. – Estou com você, un.

- Seu eu sou a Margarida e ‘ele’ é o Mefistófeles(3)... – as pernas da loira se enfraquecem. – Quem seria o Fausto? (4)

Deidara para de abrir a porta e pensa um pouco.

- Reze para que não tenha nenhum Fausto. – os primos se encaram. – Pois se houver, essa pessoa já está condenada, un.

A coragem surge e a dupla adentra a sala de jantar. O ambiente era largo e suas paredes cobertas com papéis de estampas floridas e alegres. Uma janela francesa enorme se erguia no defronte à porta de bétula, do lado direito da janela estava um piano, e do esquerdo estava uma pequena estante. No centro do cômodo, estava uma pequena mesinha de madeira branca, com um tapo de mármore preto.

Ao redor dessa mesa, de costas para a janela, estava seu pai, apreensivo e derrotado, sentado numa poltrona. Do lado direito, estava sua mãe, tensa e sorumbática. E por fim, do lado esquerdo, estava o Mefistófeles. Sentado num sofá, apoiado no braço do mesmo, trajando seu terno cinza-escuro com uma blusa de seda roxa e uma repulsiva alegria estampada no rosto.

- Apareceu a Margarida... – fala Hidan.

Deidara e Ino se surpreendem com a comparação e mais ainda ao verem, nas mãos enluvadas, um pequeno livro de capa vermelha com letras verdes. Para se somar à tal quadro, num dado instante, a dupla consegue ver o título na capa.

-‘ Ele nos ouviu!’ – pensa a loirinha.

- Quem você é, un? – Deidara se manifesta em tom baixo, mas de alguma maneira, o Jashin ouve e dá uma risada antes de responder.

- Ridícula pergunta para um sábio, que timbra tanto em desprezar palavras...- o homem sombrio olha diretamente pro primo de Ino. - não pode ver sem tédio as aparências, e só aspira ao âmago das coisas.(5)

- Meu Deus... – é a vez da Yamanaka falar, só que num tom muito mais baixo do que o do primo. – Seria muito pedir pra que o senhor respondesse a pergunta?

Hidan sorri mais uma vez e volta seus olhos púrpuros para a jovem.

- Quem eu sou? Parte da força, que, empenhada no mal, o bem promove.(6)

A dupla treme e percebem que não erraram em duas coisas. A primeira foi a suspeita de que o noivo tivesse ouvido a conversa que tiveram do lado de fora e a segunda, foi a de que o livrinho nas mãos do Mefistófeles era exatamente o qual eles pensaram que fosse. Fausto.

- Estranho, onde estará o Fausto, querida Ino?

A voz sai falsamente gentil e despretensiosa, mas capaz de causar um medo gigantesco em Ino. Esse comentário não fora feito por acaso, realmente havia um “Fausto” naquela história nem um pouco agradável na qual se encontrara. E o pior, seu ‘noivo’ já havia escolhido o quem seria o condenado. Shikamaru.


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Notas finais do capítulo

(1)– Citação à obra Fausto, de Goethe.

(2)– Heroína da já citada obra

(3)– O Demônio, vilão da obra.

(4)– Personagem principal da obra

(5)– Citação à obra

(6)- Citação à obra



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