Réquiem escrita por Ghanima


Capítulo 16
Vini, vidi, vici.


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Naruto pertence a Masashi Kishimoto.

Música: Love's Requiem

Banda: HIM



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Cap 16 – Vini, vidi, vici.

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"A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande."

(Roger de Bussy-Rabutin)

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Confusion writhes around our hearts impatiently

(A confusão se contorce, impacientemente, em torno dos nossos corações)

It drains the faith that lights the dark

(E drena a luz que ilumina as trevas)

And sets us free

(E nos liberta)

From the chains of our war and the pain we once called

(Das correntes da nossa guerra e da dor que um dia nos chamamos)

Love

(Amor)

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~ 28 de Outubro ~

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Ino estava com o cotovelo direito apoiado sobre a mesa redonda de madeira, sua mão esquerda movia calmamente a colher imersa dentro da quentíssima xícara de café, a fumacinha cálida e perfumada da bebida trouxe um sorriso discreto aos lábios rosados dela. Os olhos azuis acompanhavam as folhas avermelhadas bailarem no vento e caírem no chão. Como aquela tarde estava mais quente, a população optou por voltar a andar pelas ruas e era esse o movimento que ela acompanhava com os olhos.

 

A estada dela e de Hidan ali se prolongara por mais tempo do que o planejado, mas até que não estava sendo ruim, visto que a sua Cruzada contra os Yamanaka fora cumprida. Durante poucos dias – depois do ocorrido – uma pequena sombra de arrependimento assombrava os pensamentos da jovem que logo sumiu-se no ar. Os antigos empregados foram preservados e as presenças familiares contribuíram para que ela se habituasse a ser gestora da Mansão.

 

Sempre que parava pra pensar nisso, a idéia lhe soava muito engraçada, ela nunca parara para pensar em como era administrar um lar. Só que agora, dada a necessidade que se apresentou, a loira encontrou algum prazer em poder decidir como fazer as coisas e quando fazer. Ao contrário do que a sua personalidade apontava, o simples prazer de mandar tinha muito pouco espaço nessa satisfação, a maior parte vinha dos desafios e do aprendizado que a gestão lhe proporcionava.

 

Os empregados estavam sendo cruciais nesse ciclo de aprendizado e as memórias que ela tinha de seus pais também. Sempre vira sua mãe planejando e coordenando um jantar entre amigos ou entre sócios de seu pai, e essas pequenas lembranças estavam se mostrando vitais para que ela conseguisse fazer o mesmo. Seus auxiliares tinham toda a paciência do mundo para guiar seus passos, mostrar os caminhos e ouvir suas opiniões.

 

Para algum observador externo, essa presteza dos empregados pareceria como traição para com seus antigos patrões, só que isso estava longe de ser verdade. Antes de ir embora, a então senhorita Yamanaka deixara com a sempre presente Satsuki uma carta, onde explicava tudo o que acontecera. Isso causou revolta em todos os que ali trabalhavam, especialmente porque muitos viram a loirinha crescer e tinham muito apreço por ela.

 

A surpresa maior foi quando descobriram que a Mansão Yamanaka teria um novo e misterioso dono, que fez questão de mantê-los ali. Maior ainda, foi a surpresa ao verem quem eram os seus patrões: A menina Ino e o marido que causara pavores em metade dos empregados, a outra metade só não se apavorou por não tê-lo visto. Os novos mestres se ocuparam de explicar o que se passara e – quando o choque diminuiu – começou a nova gestão.

 

Todos perceberam que a loira havia mudado consideravelmente, mas mantivera a mesma essência. Entretanto, a maturidade veio como aquilo que faltava para acentuar mais aquela beleza rara, uma mescla de branco, dourado e safira. Hidan Jashin – por sua vez – era um alguém singular em sua obscuridade: Por vezes, sarcástico e desagradável, outras era o tipo de patrão que todos queriam ter: Só interferia quando necessário e dava crédito à experiência dos que o serviam, além de ser um homem de poucas exigências.

 

Mutuamente, o casal pediu apenas que a propriedade da Mansão não fosse comentada para além daquela paredes, Konoha ainda não estava totalmente preparada para aquilo. O turbilhão que se instalara quando surgiu a notícia da perda do casal Jashin já causou estardalhaço, e o conhecimento de que haviam perdido para a filha e para o genro seria a gota final no oceano de fofocas que corria pelas ruas. E por fim, que a privacidade deles fosse respeitada.

 

Considerando a simplicidade do que foi pedido, os que na casa trabalhavam não acharam difícil atender ao que lhes foi solicitado. Por consequência, a vida na Mansão Yamanaka (ou seria Jashin?) corria sem muitas turbulências.

 

A contemplação da Jashin continuou mesmo quando um garçom veio trazer o seu pedido, uma pequena fatia de bolo. Ela olha para o relógio que pegou emprestado com o marido, o objeto mostrava que eram 15:00 horas, e logo suas amigas deveriam estar chegando. Sua mão leva à xícara de café à boca, sorvendo o líquido lentamente e aproveitando a onda de calor que corria por dentro de seu corpo.

 

- Delícia. - ela sussurra pra si mesma.

 

- Desculpe pelo atraso. - uma voz feminina diz e a cabeça da loura se volta para a escada. Sakura vinha subindo, com um sorriso no rosto e um vestido azul-claro. - Porquinha!

 

A loira se levanta e as duas se abraçam longamente, deixando que a dor da distância fosse sanada com aquela expressão de carinho, que dura alguns segundos. A dupla se separa e os sorrisos continuam ali, assim como os olhos que percorriam os corpos, procurando por mudanças.

 

- Você está ótima, testuda. - não havia como não invocar os "carinhosos" apelidos. - Está até parecendo um ser humano agora.

 

O comentário rendeu um beliscão no braço direito.

 

- Muito engraçado, Ino-Porquinha! - a Haruno se senta e a Jashin também, sendo que está acena para um garçom. - Mas eu tenho que dizer, você mudou bastante.

 

- É mesmo? - a jovem de olhos azuis continua com os olhos no garçom, que logo chega à mesa. - Vai querer o que?

 

- Um suco de laranja, por favor. - pede a de cabelos rosados. - Olha, quase que eu não te reconheço nessas roupas.

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The poison of doubt enslaves our minds

(O veneno da dúvida escraviza nossas mentes)

And we bleed

(E sangramos)

We abandon the trust that kept us blind

(Nós abandonamos a confiança que nos manteve cegos)

And disappear

(E desaparecemos)

Under the crimson wings of hate

(Sob as asas rubras do ódio)

Where the lost are safe until they love

(Onde os perdidos estão salvos até amarem)

Again

(Novamente)

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- Concordamos.

 

A dupla olha para a escada e veem Tenten e Hinata subindo apressadamente. A primeira usava um vestido de cor ciano e a outra vinha com um de tom dourado escuro, todos muito bonitos. Ino, por sua vez, optara por um vestido fúcsia. O quarteto se abraça e – mais uma vez – alguns minutos são perdidos com as observações.

 

Apesar de só ter se passado pouco mais de um mês, aquele tempo conseguiu produzir mudanças em cada uma das amigas. Algumas se manifestavam fisicamente, como no caso de Sakura, que havia deixado suas franjas crescerem e no de Tenten, que abandonara o seu penteado característico. No caso das restantes, as mudanças estavam na postura: Hinata não mais andava olhando para baixo, parecia mais confiante e Ino emanava uma solenidade que ela nunca possuíra até então.

 

- Então, por onde começamos? - pergunta Tenten, olhando no menu colocado em cima da mesa.

 

- Quando você chegou, Ino-chan? - a voz suave de Hinata saiu sem que ela gaguejasse, o que era uma vitória enorme.

 

- "Pior pergunta possível." - foi por um segundo apenas que durou o pensamento. - Há alguns dias, mas só agora consegui parar um pouco.

 

Não era de todo verdade, mas também não era de todo mentira. Ela apoia os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos.

 

- Mas falem de vocês. - a loira bebe mais um pouco do café. - O que vocês andam fazendo?

 

Sakura ruboriza consideravelmente com a pergunta, o que causa estranhamento em Ino e risadas em Tenten e Hinata.

 

- Nossa cara Sakura. - a morena de olhos castanhos bebe um pouco do suco da Haruno. - Já começou os preparativos para se tornar a Sra. Itachi Uchiha.

 

- Meu Deus! - exclama a casada da mesa. - E pensar que éramos doidas pelo Sasuke-kun, e veja só, Sakura vai se casar com o irmão dele.

 

- E que é muito melhor, diga-se de passagem. - diz Tenten, que acena para uma garçonete próxima. - Me traz um suco de morango, por favor. - pede ela assim que a garçonete chega e esta logo vai atender à Hinata.

 

- Que comentário é esse, Tenten? - o tom falso de indignação na voz da de cabelos róseos faz com que todas riam. - Isso lá é jeito de falar do noivo das outras?

 

- Especialmente quando você já tem o seu. - complementa a loira.

 

- E quando o dito noivo é logo o Neji-niisan – alfineta a Hyuuga.

 

- O que é isso? - pergunta a morena mais velha. - Um complô?

 

- De jeito nenhum! - exclama a ex-Yamanaka. - Mas, aproveitando que estamos nesse tópico, pra quando saem os casamentos de vocês duas?

 

Ela aponta para a futuras parentas.

 

- No que depender da empolgação do Neji... - a frustração na voz de Tenten se torna evidente. - Na próxima encarnação, se virmos de um jeito bem otimista!

 

- Fique calma, Tenten-chan. - a jovem de olhos perolados toca o braço da amiga. - Esse é o jeito do niisan, acho que ele quer dizer que quer que você cuide dos preparativos, ele nunca ligou muito pra isso.

 

- Mas é o casamento dele também, Hinata. - Sakura se manifesta. - Ele devia ter um pouco mais de atitude. Até o Itachi, mesmo não sendo um poço de empolgação, já faz mais que seu primo.

 

- E o Naruto, hein? - a loira sabia que isso faria a Hyuuga ruborizar até ficar como um pimentão, e é isso que acontece. - Ele tem atitude? - ela pisca um dos olhos.

 

- E como! - exclama Tenten. - Nunca vi noivo mais empenhado em se casar, sempre quer se meter em tudo...

 

- Chega a ser cansativo. - complementa a Haruno, que logo externa uma curiosidade de todas as amigas da loira. - E você, Ino?

 

- Eu?

 

- Você deve ter recebido nossa carta. - fala Hinata. Todas ficam com expressões melancólicas nos jovens rostos. - Nos perdoe, Ino-chan. Só soubemos...

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The heart of darkness is hope

(O coração das trevas é a esperança)

Of finding you there

(de te encontrar lá)

And that hope will be our

(E essa esperança será nosso)

Love's requiem

(Réquiem de Amor)

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A Hyuuga não consegue falar por causa das lágrimas e do soluço que emerge de sua garganta, e logo é consolada pelas duas outras moradoras de Konoha. Vendo aquilo, o coração da Jashin se aperta, pois havia negligenciado aquelas que se preocuparam com ela. Suas memórias vão até a madrugada de sua chegada à Konoha, em que sua mágoa a fez pensar mal de suas próprias amigas. Seus olhos cerúleos se enchem de lágrimas.

 

- Não precisa chorar, Hinata. - ela estende as mãos e pega as da chorosa amiga. - Vocês não tem me pedir desculpas.

 

- Temos sim. - fala Tenten, cuja voz parecia tremer. - Nos julgamos suas amigas e só soubemos o que se passava com você, quando já era tarde demais.

 

- Estávamos tão ocupadas com nós mesmas. - Sakura estava quase chorando também. - Que nem pensávamos no que poderia estar acontecendo com você.

 

O silêncio toma a mesa e o andar, visto que apenas elas estavam ocupando o mesmo. As mãos das outras amigas cobrem as de Ino e Hinata e vários segundos se passam, sem que nenhuma delas fale ou se mexa. É a loira que retoma o assunto, explicando cada coisa que estava envolvida na história: As dívidas dos pais, a proposta do Jashin, o casamento e a vida em Kumogakure. A cada novidade, o choque das moradoras de Konoha aumentava ainda mais.

 

- Minha nossa. - bufa Tenten. - Seus pais não valem nada.

 

- "E eu não sei disso?" - a loira afunda o rosto nas mãos. - E foi isso que aconteceu.

 

- Que horror. - exclama a Hyuuga.

 

- A sua vinda pra Konoha tem a ver com a compra da casa dos seus pais? - inquiri Sakura.

 

- Prefiro falar disso em outro lugar.

 

O final da explicação sobre o "Caso Hidan Jashin", por assim dizer, só terminou quando já batiam as 19:00 horas, e levando isso em consideração, Ino achou que seria melhor continuar o assunto fora dali e elas entram na carruagem do marido da loira. É lá dentro que se segue a conversa.

 

- Eu sei quem comprou a casa dos meus pais.

 

A Jashin tinha perfeita consciência de que aquele era o ponto sem volta, onde ela estaria se submetendo ao julgamento das jovens. Ela estava realmente apavorada, por mais que soubesse que tinha que passar por aquilo se quisesse ficar em paz consigo mesma. O veículo para em frente à Mansão Yamanaka e elas descem, seguindo lentamente até a pesada porta. Ino bate lentamente e dois empregados abrem a porta, para estranhamento das amigas.

 

Todas ficam abismadas com a mudança chocante na decoração, enquanto eram guidas por Ino até dois pequenos sofás que ficavam perto da escada. As três amigas se sentam em um único sofá, a loira vai até uma estante próxima e apoia a mão direita no móvel, a esquerda vai às têmporas e seus orbes azuis se prendem ao chão de mármore negro.

 

- Ino-Porca, quer dizer que – Sakura é interrompida pela Jashin.

 

- Lembram-se que eu pedi um presente de casamento?

 

As três aquiescem.

 

- Pois bem. - a jovem se apoia no móvel e fita as amigas. - Estão olhando pra ele.

 

As mulheres nada falam por vários minutos, cada uma analisando a situação em que estava inserida. Cada um percebendo a mudança que ocorria na figura de Ino. Todas chegam à mesma conclusão: Não havia sobrado muito da Ino anterior naquela mulher, por mais que ela ainda fosse a Ino que conheciam.

 

Oculto à visão humana, estava a figura de Hidan, observando atentamente o desenrolar da interação entre as moças, sentado no corrimão, na parte mais alta da escada. Ao contrário do que se podia esperar, seu rosto não demonstrava nenhum deboche, sarcasmo ou prazer cruel; estava sério e focado. Ele sabia do encontro da esposa com as amigas e sabia também o quão relevante aquilo seria para o crescimento da loira. Antes de ela partir, ele se dignou a dar um conselho que norteou as atitudes da bela dos olhos de safira.

 

- Quer mesmo fazer isso? - ele não entendia a inclinação dela.

- Sim. - responde a loira. - Não tem como fugir disso.

Ele concorda, mas não a deixa partir sem um pensamento.

- Saiba que isso vai pesar mais do que você imagina.

- O que quer dizer?

- É hoje que você vai descobrir até onde vai a amizade delas...

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We pray to the serpent of delight

(Nós rezamos para a serpente do deleite)

Desperately

(Desesperadamente)

The questions are answered and we try

(As perguntas são respondidas e nós tentamos)

Not to weep

(Não chorar)

Until we are sure

(Até termos certeza)

We're suffering for

(Estamos sofrendo por)

Love

(Amor)

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Desconhecido para a Morte, essa última frase ecoava na mente de Ino naquele instante, e o silencio sepulcral não melhorava em nada a sua situação. Os rostos da Hyuuga, da futura Hyuuga e da Haruno estavam indecifráveis e ela supunha que o seu também estivesse.

 

- Você tirou a casa dos seus pais... - sussurra a de cabelos róseos, mas não com uma voz suficientemente baixa.

 

Aquela primeira reação de Sakura fere a loira imensamente. Ela entendera que teria que ser categórica em suas reações.

 

- Essa casa sempre foi tão minha, quanto deles.

 

- O que te moveu a fazer isso, Ino-chan? - questiona Hinata, fitando a loira com um olhar enigmático.

 

- É complicado. - replica a Jashin.

 

- Explique, então. - diz Tenten, quase tão enigmática quanto a outra.

 

- Digamos que foi por vingança. - a honestidade dela deixa as outras ainda mais chocadas, e elas também percebem que aquela figura diferia totalmente da Ino que conheciam. - Vingança pela vida que eles roubaram de mim.

 

- "Divina." - pensa o Mefistófeles, do alto de seu posto.

 

- Não foi crueldade em excesso, Ino? - Sakura se ergue de seu lugar, parando diante da loira, seus cenho estava cerrado. - Arruinar a vida dos seus pais?

 

Aquilo era o que bastava para o lado "Ino Jashin" aflorar de vez.

 

- Você fala de vida, mas o que você sabe sobre a vida, Sakura? - a voz dela tomou a mesma intensidade do silvo de uma cobra. Mortal e temível. - Você está pra viver o seu conto de fadas com Itachi Uchiha, tem certeza de que pode falar alguma coisa?

 

- Como é? - a Haruno começa a se exaltar.

 

- Pega leve, Ino. - pede Tenten, prevendo que aquilo terminaria mal. - E você também, Sakura.

 

- Alguma de vocês sabe o que ter o seu mundo destruído? Ter tudo aquilo que você dava como certo ser roubado de você, por aqueles que supostamente te amavam? - em momento nenhum, a dona da casa se altera. - Então me deixem dizer uma coisa.

 

- Fale, Ino-chan. - Hinata também estava de pé. Por mais incrível que possa parecer, ela simpatizava com a atitude de Ino, visto que também era vítima de uma família regida pelos interesses. Só que, ao contrário da moça dos olhos azuis, a Hyuuga conseguiu estar com aquele que seu coração desejava. - "Ninguém pode culpá-la, Ino-chan, saiba disso."

Essa mensagem de cumplicidade é lida por Ino, nos olhos castanhos e perolados, ali presentes. Logo, também nos orbes de esmeralda .

 

- Gente, eu não conheço tanto do mundo. - o cansaço começa dominar Ino. - Mas tenho alguém que está me ensinando, do seu próprio jeito.

 

Do alto da escada, a Morte é tomada por um estranha e graciosa sensação.

 

- E sabem o que eu percebi?

 

- O que? - incita Tenten.

 

- O mundo não é justo e nem injusto. - ela olha para o teto. - Ele é o que é, pura e simplesmente. Qualquer adjetivo é só uma tentativa nossa de compreendê-lo.

 

O impressionante era a Sabedoria contida naquela pequena fala, especialmente por ter sido dita por alguém tão jovem. Depois de mais alguns minutos, o quarteto se despede e com o laço que as unia intocado.

 

Assim que as visitantes partem, a loira se joga na escada e desata a chorar. Os braços apoiados em um degrau,o rosto afundado ali, o resto do corpo alocado no degrau abaixo. Mesmo quando as lagrimas cessam, ela continua naquela posição, até uma mão tocar os seus cabelos e ir descendo, chegando ao queixo e o erguendo.

 

O azul encontra o púrpura e se fitam longamente. A jovem deixa o rosto descansar contra a mão forte e quente que o segurava. O dono da dita mão estava ajoelhado no mesmo degrau em que estavam os braços femininos, o terno grafite que cobria o corpo masculino estava meio amassado e a gravata preta já havia sido desfeita.

 

- Vim, vi e venci. - diz ela, se deixando ser erguida e segurada pelos braços Hidan.

 

- Sem dúvida.

 

Ele leva a exausta esposa para o quarto e opta por não dizer que o principal desafio dela em Konoha só se daria dali a 3 dias. Até lá, aquela frase que ela proferiu não era muito válida, mas em se considerar o que ela havia passado no presente dia, não custava nada deixá-la dormir, sentindo o gostinho da vitória.

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In the dungeon of our dreams

(Na masmorra dos nossos sonhos)

We're so weak

(Somos tão fracos)

The promise made to be broken still

(A promessa feita ainda a ser quebrada)

Haunts our sleep

(Assombra nosso sono)

We won't open our eyes

(Nós não abriremos nossos olhos)

Afraid we would die for love

(Com medo de que morreremos por amor)

Again

(Outra vez)

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oOoOoOoOoOo

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The heart of darkness is hope

(O coração das trevas é a esperança)

Of finding you there

(de te encontrar lá)

And that hope will be our

(E essa esperança será nosso)

Love's requiem

(Réquiem de Amor)

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~ 31 de Outubro ~

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- Precisamos mesmo entrar aí? - tédio, era tudo o que o homem pensava.

 

- É pra responder? - a resposta da mulher ao seu lado foi sucinta.

 

O casal adentrou ao enorme salão e aproveitaram como nunca o fato de estarem em um Baile de Máscaras. Um alguém com quem Hidan mantinha negócios é que fez com que o convite para a festa chegassem ao casal, caso contrário, eles nem saberiam do dito cujo. Depois de algumas horas de discussão infrutífera, a dupla alcançou o consenso de que iriam para a festa, mas não demorariam muito ali.

 

O Parque de Konoha fora fechado para o evento, que simbolizava uma aliança feita com algum país vizinho. A imprecisão das informações sobre o que se passaria deriva do muito simples motivo de nenhum dos Jashin se interessar realmente. A presença deles ali era tão somente uma consequência da insistência massacrante de Ino, saudosa de festas e eventos sociais como este, e que ela não vira em Kumogakure até agora.

 

O casal se isolara em uma das mesas mais afastadas do centro da festa, estavam alocados embaixo de um frondoso salgueiro, cujas folhas lhes mantinham quase que totalmente ocultos aos olhares alheios. O tempo havia mudado – ao que parecia – tão somente para contribuir com a ocasião; a noite estava aberta e com um clima gentil.

 

- Quer uma bebida? Preciso muito beber. - fala a Morte, o arranjo da mesa sem o menor interesse nele.

 

- Hum, não. - ela se levanta. - Acho que vou dar um passeio, me acompanha?

 

O movimento indiferente que ele fez com a mão esquerda era tudo que a loira precisava para sumir dali, e ganhar alguns momentos de confortável solidão. A sapatilha prateada brilhava conforme a luz incidia sobre ela; as barras do vestido branco, de manga única, arrastavam na grama salpicada de pingos d'água; a máscara branca e prateada cobria todo o rosto. Ela não estava longe do centro da festa, mas nem mesmo se virou naquela direção quando alguém começou a falar.

 

Ao invés disso, a mulher se resumiu a andar até uma árvore ali perto e brincar com as flores e folhas que ainda restavam. Sua contemplação silenciosa foi interrompida pelo comunicado, mas no pior momento desse, quando uma notícia devastadora foi jogada em cima da Jashin: O noivado de Shikamaru com a filha do governante de Sunagakure, Temari.

 

Por vários instantes, a loira ficou estática em seu lugar, como se tivesse se transformado em uma estátua. Os olhos azuis vidrados na árvore, nenhum som mais foi ouvido por ela, era como se o mundo tivesse se tornado vazio. Quando as forças voltam, ela corre sem destino pelo parque. Sem saber que alguém percebera a sua figura.

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The salvation we seek will be waiting us there

(A salvação que procuramos estará nos esperando lá)

In the heart of darkness lonely and scared

(No coração das trevas, solitária e assustada)

With a promise of death for our love

(Com uma promessa de morte para o nosso amor)

For our love

(Para o nosso amor)

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Ela nem se atrevia a precisar os sentimentos que a habitavam naquele instante, todos pareciam ter se juntado e criado algo incompreensível e doloroso. Ino não olhava para onde corria, queria apenas se afastar daquilo tudo: Parque, festa, Konoha. O vestido alvo ia se sujando com a terra úmida e com os galhos e folhas caídos no chão.

 

A mulher para em frente a um velho quiosque, coberto por plantas e isolados da área onde se passava o evento. Pouca luz entrava ali e o silêncio do ambiente lhe parecia tão agradável, que ela desejava morrer ali mesmo, em meio aquela calma sepulcral. Uma das mãos vai até o rosto e tira a máscara, que havia começado a incomodar a pele da face. Ela toca a sua pele e percebe ali a umidade, causada pelas lágrimas que nem mesmo ela percebeu ter vertido.

 

- Ino?

 

Naquele momento, a figura de branco não pode deixar de pensar que o mundo estava conspirando para intensificar sua agonia, visto que permitiu que justamente aquela pessoa a visse. Ela sabia exatamente quem era, mesmo estando de costas e apoiada em um dos pilares da velha construção.

 

- É você, não é? - a voz era masculina e a ex-Yamanaka não conseguiu evitar fechar os olhos por poucos segundos, se deliciando com aquele som.

 

Ela toma coragem e se vira, fitando uma máscara de cervo que cobria apenas a parte superior do rosto. Os orbes azuis começam sua inspeção pelos pés, cobertos por uma lustrosa bota marrom, a calça preta estava colada nas pernas fortes, a blusa de manga longa era displicentemente simples e permitia que parte do tórax moreno ficasse exposto. A boca estava entreaberta e os lábios estavam avermelhados, mostrando que alguma dose de vinho fora bebida. Os cabelos castanhos emolduravam o rosto jovem e másculo.

 

- Sim. - finalmente, a loira consegue encarar os olhos dele. Ainda naquele lindo tom de chocolate e dominado por surpresa e uma pontada de dor. - Você não mudou nada, Shika...

 

A voz dela sai tão baixinha que o rapaz quase não a ouve. O mesmo vai andando, lentamente, até chegar mais perto da antiga namorada. Os passos dele mostram o medo que ele sentia de que aquilo fosse só mais um dos seus devaneios, e que a loira ali fosse só uma visão. O casal fica diante um do outro, depois de uma separação não tão longa, mas loucamente sofrida.

 

- Você também não, problemática...

 

A preguiça no tom dele mascara a intensidade do abraço que ele deu em Ino, que se surpreendera com a súbita atitude do moreno. Só que tudo perdeu o sentido quando ela sentiu os braços quentes e fortes dele em torno do seu corpo; o perfume amadeirado dele não havia mudado em nada e ela se agarra a figura masculina com igual ardor. Nenhum deles consegue pensar em mais nada e nem quanto tempo foi empregada naquela demostração.

 

- Engano seu, Shika. - a imagem de Hidan apareceu na mente feminina. - Eu mudei.

 

Ele se afasta e a encara, procurando sinais daquela mudança.

 

- Não vejo como. - fala o Nara. - Deus, Ino. Eu pensei que tinha te perdido pra sempre.

 

O sorriso dela foi agridoce, assim como as suas presentes sensações.

 

- "Ahh, Shikamaru. Você perdeu." - a moça nem se preocupa em falar nada. - Você vai se casar, não devia falar isso pra outra mulher.

 

Ele inspira profundamente e fica bem mais sério.

 

- Provavelmente, não. - responde ele. - Não é que eu não goste da Temari, mas... - o moreno completa a frase em pensamento. - "Mas ela não é você."

- Chega! - a voz autoritária da moça surpreende o ex-namorado, que a observa incrédulo. - Preciso te dizer tudo enquanto ainda tenho coragem.

 

- Fale...

 

Ela sai do quiosque e vai andando até uma pequena ponte de madeira, pintada em vermelho. Os olhos azuis se aderem a corrente água negra, a lua refletida no espelho molhado. Logo, Shikamaru se coloca ao lado dela.

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And now that we're free

(E agora que estamos livres)

From the chains of our dear love

(Das correntes do nosso falecido amor)

I'm lost - so lost

(Estou perdido – perdido)

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- Está me doendo muito saber que você vai se casar, eu sou egoísta e a idéia de ver você amando outra me fere. - ela lembra de uma coisa. - Mas todo o bem que eu te desejei na carta de despedida era e ainda é real, você merece ser feliz e eu quero isso.

 

- Ino, eu. -

 

- Cala a boca e me deixa terminar. - a jovem o fita através dos reflexos. - Não quero que nenhum de nós mantenha alguma ilusão quando essa noite terminar. - a resolução dela vai desaparecendo. - "Deus, por que eu tenho que me despedir dele de novo?" - a casada leva uma das mãos ao peito esquerdo. - Não há mais chance para nós.

 

Ambos já choravam a essa altura.

 

- Mas saiba de uma outra coisinha: Ino Yamanaka é só sua.

 

- Como Ino Yamanaka pode ser minha se ela está casada com outro? - a agonia dele a fere mais ainda. - "Por que eu não te fiz minha quando tive a chance?" - o Nara se recorda da tarde na beira do rio.

 

A loira toca o braço dele e eles trocam um olhar de pura ternura, como o daqueles dias do amor adolescente que ainda vivia dentro dele.

 

- Simples: A pessoa que você vê aqui é Ino Jashin. - diz a jovem. - E é essa mulher que está casada. Adeus, meu preguiçoso. Até outro dia.

 

Os passos dela são lentos, mas uma manifestação do rapaz a faz parar no meio do caminho.

 

- A minha resposta é sim. - diz ele

 

- O que quer dizer? - a Jashin o encara novamente.

 

- Na sua carta, você me perguntou se eu te amo. - o Nara vai até ela. - Amo, estupidamente e de um jeito nem um pouco saudável.

 

A dupla se mantém em silêncio por tantos outros minutos, simplesmente apreciando a companhia um do outro, do exato jeito que faziam quando eram pequenos ou só amigos. Se bem que, amigos eles seriam para todo o sempre. Os dois saem do mundo da lua quando uma música delicada e gentil chega até os ouvidos dele.

 

- Bonita música... - comenta o moreno

 

- É mesmo. - concorda a moça. - Pode ser um réquiem.

 

- Para nós? - a sagacidade do rapaz não havia diminuído, nem mesmo em meio a sua tristeza.

 

O tímido sorriso dela é toda a resposta de que Shikamaru precisava e – com um último abraço – Fausto e Margarida se despedem. O primeiro continua parado no mesmo lugar, imerso em pensamentos distantes; a outra vai caminhando em direção às árvores e para ao lado de uma amendoeira.

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The heart of darkness is hope

(O coração das trevas é a esperança)

Of finding you there

(de te encontrar lá)

And that hope will be our

(E essa esperança será nosso)

Love's requiem

(Réquiem de Amor)

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- Conseguiu acertar os ponteiros? - Hidan estava encostado nessa árvore, com os braços cruzados e usando uma máscara de caveira, coisa medonha na opinião da loira.

 

Ela só acena com a cabeça, rapidamente.

 

- Essa sua máscara é horrenda, sabia? - ela se coloca diante dele. - Não dá pra tirar?

 

- Não. - ele segura a mão dela no ar, visto que o que cobria seu rosto não era uma máscara, mas sim sua aparência real. - Gosto dela.

 

-Você ouviu tudo? - a Jashin apoia a cabeça no ombro esquerdo do Mefistófeles.

 

- Não ouvi nada. - era a mais pura verdade. - Mas pela sua cara e pela dele... - a Morta aponta para Shikamaru. - Já dá pra entender o assunto.

 

O casal se mantém inerte por muito tempo.

 

- Vamos pra casa? - pede a loira, que é pega no colo pelo marido.

 

Ele só aquiesce e toma o rumo da saída, sem dizer nada até que algo lhe vem à mente.

 

- Agora você tem cacife pra dizer aquilo. - comenta o homem

 

- Aquilo o que?

 

- Vim, vi e venci.

Take me into your arms

(Me tome em seus braços)

And sing me your beautiful song

(E cante para mim sua linda canção)

Hold me until we're one

(Me abraçe até sermos um)

And sing me your beautiful song

(E cante para mim sua linda canção)

Continua


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Notas finais do capítulo

Nota: Veni, vidi, vici (em português: "Vim, vi, venci") é uma famosa frase latina supostamente proferida pelo general e cônsul romano Júlio César em 47 a.C.. César utilizou a frase numa mensagem ao Senado Romano descrevendo sua recente vitória sobre Farnaces II do Ponto na Batalha de Zela. A frase serviu tanto para proclamar seu feito, como também alertar aos senadores de seu poder militar (Roma passava por uma guerra civil).



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