Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 42
Música


Notas iniciais do capítulo

Hoje é minha formatura! Mesmo assim tirei um tempinho para postar. Estou muito ansiosa e empolgada. Será um momento muito importante para celebrar ao lado dos meus amigos. Por isso, digo, se você ainda pode estar ao lado dos seus amigos e das pessoas que você gosta, aproveite cada minuto, porque realmente o tempo passa rápido e às vezes chega a ser assustador.



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"Eu me pergunto se ele sabe, que ele é tudo que eu penso à noite."

Quando chegamos ao internato, havia uma pequena festinha, que logo se tornou uma grande festa, em comemoração a vitória do time.

Tyler era a celebridade do dia. Depois do pequeno momento em que me encontrei com ele após a vitória, nós não ficamos mais juntos. Ele não tinha tempo para isso. Todos queriam tirar uma lasquinha, afinal, ele é o capitão do time. Eu entendia isso mais que qualquer outra pessoa. Mas acima de tudo estava feliz por ele. Tyler parecia uma criança cuja havia acabado de ganhar uma bicicleta e não largaria ela por nada. De longe, eu apenas observava-o comemorar com os amigos.

— Ele gosta mesmo de você. – ouvi Jesse se aproximar. Ele nem precisaria dizer nada para eu saber que era ele. O simples fato de fazer meu corpo todo se arrepiar já o denunciava.

— Quem? O Tyler? – virei-me para olhar pra ele. Estávamos mesmo passando muito tempo juntos desde a nossa reconciliação. — É, ele gosta de mim. Eu gosto dele também.

— Mas não o ama? – ele estava sério demais. E em suas perguntas havia um quê de incomodo. — Mas ele te ama.

— Às vezes é necessário gostar de quem gosta da gente. – desvio o meu olhar, vendo que mesmo de longe Tyler está me olhando. Aceno para ele. Tyler retribui até ser pego se surpresa por um de seus amigos que pulam em seus ombros. — Eu não preciso necessariamente ama-lo para estar com ele. – volto a olhar para o Jesse. — Você não acha?

— Tem razão. – ele não sorri. Nesse momento ele não parece em nada com o Jesse que eu gosto.

Somos os dois surpreendidos quando Alexa vem correndo em nossa direção e salta no colo do Jesse. Ele a segura quase caindo para trás. Ele não é tão forte quanto o Tyler. Jesse é magro, não tão magro, mas ainda assim é forte o suficiente para não permitir que os dois caíssem no chão.

— Eu estava morrendo de saudades! – ouço a dizer para ele antes de me afastar e deixa-los mais a vontade.

— Não deveria fingir que isso não te incomoda. – Oliver me oferece uma bebida. É refrigerante. Dou dois goles antes de devolver o copo descartável para ele.

— Isso não é da sua conta. – forço um sorriso. Ele ri. — E você se incomoda em esperar tanto para ir falar com a Amy?

— O quê? – ele cai na risada outra vez. Dessa vez não olha diretamente pra mim. — Mas nós nos falamos todos os dias!

— Não seja faça de idiota, irmãozinho. – solto um riso. Pego sua bebida outra vez e dou um gole. — Você sabe do que estou falando.

— Você é maluca! – ouço-o gritar assim que me afasto.

Amy agarra meu braço quando passo por ela que está em um grupinho de desconhecidos. Estava indo até meu quarto tirar aquele tênis apertado, mas tive que parar para ouvi-la.

— Você não acredita! O Jake quer ficar comigo. – os olhos dela brilham. Amy está tão empolgada que chega a ser patético de um jeito fofo. — Ele estava aqui até agora falando comigo.

— E você quer ficar com ele? – eu sorrio para ela. Caminhávamos para longe daquela aglomeração toda no pátio.

— Eu não sei. – ela parecia confusa. Sua expressão de repente mudou de feliz para preocupante. — O que você acha amiga?

— Não parece uma boa ideia, você sabe como ele é. Estamos falando do Jake. Mas é só pra curtir. Não vejo problema se você quiser.

— Mas e o Oliver? – fico paralisada pela pergunta. Nesse momento, eu esperava ouvir qualquer coisa. Menos o nome do meu irmão.

— O que tem ele?

— Acho que ele não vai gostar.

— E desde quando você se importa?

— Desde quando nos tornamos... Amigos. – ela confessa, muito séria. Chega a ser assustador. Caio na risada para diminuir a tensão. — Não brinca, Hayley Collins! Estou dizendo a verdade.

— Meia verdade.

Posso dizer que tenho quase certeza de que Amy sente muito mais pelo meu irmão que um simples sentimento entre dois amigos. E posso dizer também que ele, provavelmente, sinta o mesmo por ela. Por mais empolgada que ela aparente está em ficar com o Jake, a verdade é que é tudo muito novo pra ela. Amy deve está uma pilha de nervos.

Não estou muito no clima para festas mesmo vendo a empolgação de todo o internato. Todos parecem ocupados demais para se importar comigo que no momento não tenho nada pra fazer. Caminho até o jardim a passos vagarosos sentindo a brisa da tarde atingir meu rosto.

Daqui alguns dias é o meu aniversário. O que me faz lembrar do último aniversário que pude comemorar ao lado do Brandon. Nós fomos até o parque de diversão na cidade vizinha onde morava uns parentes dele. Eu nunca antes tinha dado importância à parques. Nem mesmo tinha ido a um quando criança. A ideia foi dele e qualquer coisa ao lado dele parecia ótimo, então eu aceitei e lá fomos nós.

Como eu poderia esquecer quando ele beijou no alto da roda gigante quando ela parou com nós no ponto mais alto? Confesso, eu estava morrendo de medo daquele negócio nos derrubar, balançava muito. Mas Brandon segurou a minha mão forte, puxou-me para junto dele e me deu um dos melhores presentes que eu poderia receber aquela noite: um beijo que fez o mundo inteiro se apagar.

E a sensação mais próxima que eu tive dessa, foram todas as vezes que estive com Jesse. Não importa onde, como, se nos beijamos ou não. A presença dele basta. Exatamente o que eu sentia ao lado de Brandon que foi meu primeiro amor. E agora, eu tenho o Jesse. Não é exatamente a mesma coisa e nem poderia ser. Mas nesse momento, Jesse é tudo que eu quero, por que sinto que de alguma forma, ele é o único que pode preencher o vazio dentro de mim. O espaço que foi arrancado de mim com a morte de Brandon. E tenho pensando nisso todas as noites desde que a Amy tocou no assunto: Brandon estaria mesmo ao nosso favor? Quero dizer, a favor de que eu e Jesse ficássemos juntos?

— Sai de perto de mim, Jake! Eu quero ficar sozinha. – Alexa grita para o moreno que se afasta como um cachorrinho. Não sei dizer o que está acontecendo entre eles, mas parece intimo o suficiente para ser algo muito suspeito. Mesmo assim não é do meu interesse, mas não deixa de despertar a minha curiosidade.

Agora Alexa está sozinha, sentada em um canto, com os joelhos encolhido próximo ao peito e as costas na parede do internato. A cabeça dela está voltada para o céu claro, mas seus olhos estão fechados. Sei que ela está chorando, pois o reflexo do sol bate em seu rosto e faz com as lágrimas brilhem quase como se por vontade própria.

Deveria eu ir até ela certificar-me de que estava tudo bem? Uma voz dentro de mim me dizia o contrário. Quase como um alerta assim que eu dei um passo à frente e logo depois recuei. Então, eu deveria avisar o Jesse que poderia ser o único a ajudá-la? Não, não. Não.

Deixa-a sozinha. Ela precisa ficar sozinha.

— Brandon? – olhei para os lados atônitas. Por um momento eu jurava ter ouvido o som da sua voz falando diretamente comigo.

— Brandon? Quem é Brandon? – Tyler vinha em minha direção. Levei um susto, pois não esperava vê-lo ali, não depois de ter o deixado no pátio comemorando com o resto do pessoal a primeira vitória do time.

— Oh, Tyler – corro para seus braços. Não sei se decepcionada por ter sido somente algo da minha cabeça ou contente por ser ele e não uma alucinação. — é bom te ver.

— Tá tudo bem, Hayley? – ele se afasta para poder olhar no meu rosto. — Você estava falando sozinha? Quem é Brandon? – ele insiste.

— Um garoto. Ele estava aqui até pouco tempo, mas já foi. – forcei um sorriso tentando me mostrar convincente. — Porque não está lá dentro comemorando?

— Porque queria ficar com você. – ele finalmente sorriu. Doce. — Vem – Tyler pegou a minha mão. — Vamos sentar ali.

Sentamos de baixo de um carvalho.

— Quer um cigarro? – ele me oferece. Mas não estou nem um pouco afim e recuso acenando negativamente.

— Como você consegue? – olho para ele, deitando minha cabeça em seu ombro enquanto ele acende o cigarro. — Isso vai acabar te prejudicando com os esportes.

— Você nunca falou assim antes. – ele soltou um risinho, dando de ombros. — Porque eu me importaria logo agora? Nunca aconteceu nada.

Eu não iria tirar o resto da tarde para dar um sermão em Tyler sobre o quão mal o cigarro faria a saúde dele nos próximos anos podendo até prejudica-lo nos esportes que são suas maiores paixões. Até porque eu também fumo quando tenho vontade e não sou o melhor exemplo.

— Fiquei contente por você está usando a jaqueta que te dei. – acabamos de jantar e estamos subindo em direção aos quartos. Dou uma olhada em mim mesma quase me esquecendo que passei a sexta-feira inteira com a jaqueta de beisebol que Tyler me deu no natal.

— Acho que a jaqueta te deu sorte.

— Não. – nós paramos no meio das escadas. Tyler segurou meu rosto. E por um momento fiquei desconfortável pelas pessoas a nossa volta que não tiraram os olhos de nós, ou especificamente do Tyler que é o capitão do time. — Quem me deu sorte foi você.

Acabei cedendo a sua insistência de ir até o seu quarto, pois ele tinha algo a me mostrar. Apesar de eu não ter acreditado em nenhuma palavra do que ele disse.

Éramos só nós dois como eu já havia previsto pelo caminho até aqui. Tyler trancou a porta com um sorriso fácil. E veio até mim com os braços abertos. Encaixei-me em seu corpo.

— E então, o que você queria tanto me mostrar?

— Na verdade, nada. Só queria ficar com você em um lugar particular.

— Eu sabia! – soltei um riso, jogando meus braços em seu pescoço.

— Agora vem aqui – ele me pegou em seu colo, enlaçando minhas pernas em sua cintura. — Eu passei o dia inteiro segurando essa minha vontade louca de ter você.

Tyler jogou-me sobre sua cama e subiu em cima de mim sem tirar os lábios dos meus. Um beijo faminto, provocante e desesperado. O vento noturno adentrava pela janela aberta diminuindo a temperatura, que parecia pegar fogo, dentro do cômodo.

Senti suas mãos na lateral do meu corpo, fazendo carinho mesmo que por cima da jaqueta. Tentei me livrar da jaqueta, estava morrendo de calor e Tyler me ajudou nisso, tirando a dele também de capitão. Nós sorrimos um para o outro por alguns segundos e logo depois voltamos a nos beijar cheios de desejo.

Eu estava tensa, afinal, as coisas estavam mesmo perdendo o rumo de vez. E também muito nervosa. Não parava de pensar por um só quer momento se estávamos indo pelo caminho certo ou no constrangimento que seria se nos pegassem no flagra. Eu confiava no Tyler, mas não sabia dizer se era o suficiente para me entregar finalmente para ele mesmo depois de mais de um ano que nós conhecemos bem o suficiente.

Deixei que ele tirasse minha regata branca sem protestar, e o observei abrindo o zíper da calça jeans. Apressadinho. Estremeci quando suas duas mãos acarinhava minha barriga fazendo movimento circulares. Tyler sorria a todo o tempo, alternado o olhar para o meu rosto para ver a minha expressão que não deveria estar nenhum pouco agradável e para o meu corpo como se não acreditasse no que via.

Não sou boazuada como Alana ou as líderes de torcida. Sou magra, quase esquelética. Não tenho pernas, peitos ou bumbum. Mas eles existem e pra mim são o suficiente. Nem tão grandes, nem inexistentes. Só que pela expressão do Tyler parecia que ele estava vendo a coisa mais bonita que já presenciou na vida. Então, ele suspirou antes de voltar a me beijar.

Um ruído estranho saiu de dentro da minha boca quando senti os dedos do Tyler procurando o feixe do meu sutiã.

Tome cuidado, Hayley. Cuidado!

— Brandon? – dei um pulo sobre a cama, sentando-me. Tyler quase voou até o chão. Completamente assustado. — Ai meu Deus! – recolhi minha roupa em um ato desesperado. — Eu estou ficando maluca!

Corri para fora dali ouvindo Tyler me perguntar o que tinha acontecido comigo. Pelo caminho recolocava minha roupa mesmo atraindo olhares dos garotos vagando pelos corredores da ala masculina. Algumas poucas lágrimas começaram a se acumular no canto dos meus olhos enquanto na minha mente eu só conseguia ouvir a voz do Brandon repetindo sempre a mesma frase.

Acabei trombando pelo caminho em algo duro e um pouco maior que eu. Não perdi tempo para conferir o que era ou quem era. Pelo perfume na roupa eu já saberia dizer quem estava ali parada a minha frente com o ar de preocupado. Senti meu corpo relaxar quando lacei meus braços em volta do seu abdome. Suspirei aliviada quando senti que ele correspondera.

— Jesse, por favor me tira daqui.

A sala de música é sem dúvidas uma das salas mais bonitas de todo o internato. Decorada em tons mostardas e amarronzados. É larga e ampla. Na frente os diversos instrumentos, um pequeno quadro-negro e atrás uma infinidades de mesas e cadeiras para os alunos e as janelas do piso até o teto na lateral oposto a porta e nos fundos da sala.

— Ei, o que houve? – ele me sentou no banquinho atrás do piano e sentou-se ao lado afagando meus cabelos grudando nas lágrimas. — Porque está chorando Hayley?

— Jesse – ergui meus olhos para finalmente poder olha-lo diretamente nos olhos âmbar. — eu ouvi o Brandon. Eu juro que ouvi. Não estou ficando louca! Era ele. Era ele falando comigo.

— Tudo bem, eu acredito em você. – ele segurou meu queixo com um meio sorriso que fez meu corpo inteiro se acalmar. — Eu também já ouvi meus pais, sabia? – Jesse limpava minhas poucas lágrimas com os polegares. — Eu nem te contei, parece loucura! Mas quando a gente quer muita uma coisa e acredita muito nela, acho que é possível sim, que ela aconteça uma hora ou outra.

— E como foi pra você? – endireito-me sobre o banquinho, ainda sem tirar meus olhos dele. — O que eles disseram?

— Exatamente tudo que eu queria ouvir. – por um momento pensei que o mundo inteiro havia sido pausado enquanto ele olhava para mim como se os olhos pudesse sorrir também. — Mas o que você estava fazendo na ala masculina?

— Eu? – olhei bem pra ele. E então, por sua expressão intrigante, voltei a mim e me lembrei de tudo. — Ah, eu estava com o Tyler... No quarto dele. – abaixei a cabeça envergonhada, sentindo-me corar. — Eu e o Tyler... Bem.... Nós quase que... Ah, você sabe.

— O quê? – arregalei os olhos assustada quando Jesse levantou-se agora me encarando muito feio. — Vocês... quase... aquilo?

— É. Mas aí, eu ouvi o Brandon e saí correndo.

Jesse parecia inconformado, quase como se estivesse, sim, exatamente, com ciúmes. Sorri por dentro contente com a ideia. Porque se ele sentia ciúmes de mim, tudo bem, eu também morria de ciúmes dele.

— Não faça isso nunca mais, ouviu bem? – ele ajoelhou ao meu lado tão rápido quanto um super-herói. Jesse limpou os últimos resquícios de um choro assustado que tive minutos atrás. — Você me promete?

— Prometo... O quê?

— Não vá tão longe assim com o Tyler. Não que eu não goste dele ou não confie nele. Eu não tenho nada contra ele. Ele até que é um cara bacana e gosta muito de você. Mas, Hayley, não parece certo.

— Tá, tudo bem. – passei uma mecha do cabelo para trás da orelha evitando olha-lo. Eu estava verdadeiramente envergonhada em tocar naquele assunto justamente com ele. — Quer tocar pra mim?

Em resposta, Jesse levantou-se e voltou a sentar-se ao meu lado deslizando as mãos suavemente pelo teclado do piano.

— Essa música eu compus alguns dias atrás. – ele sorriu, olhando pra mim enquanto tocava. — Não está muito boa. Eu nem terminei ainda. Os arranjos parecem de alguma forma fora do lugar.

Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso

Algo no seu jeito de falar, de mexer, de andar

Até mesmo de me olhar, sorrir, de falar

Faz com que eu não acredite ser possível

Viver em um mundo do qual você não faça parte

Ás vezes o caminho parece difícil demais

E as coisas dão errado não importa o que eu faça

Mas você tem o amor que eu preciso

Para conseguir superar.

Enquanto ele tocava e cantava - mesmo não sendo tão bom no vocal - o mundo inteiro parecia girar devagar. Jesse parecia um anjo, mais do que nunca, como se de suas mãos saíssem um tipo de mágica. Ele sorria, tocava e cantava tudo ao mesmo tempo. E seus olhos âmbar parecia faiscar a pouca luz. Por um momento pensei que estivéssemos os dois fora do chão. Jesse me guiando entre as nuvens agarrado as minhas mãos com suas asas brilhando batendo no céu escuro e iluminando o nosso caminho.

Quando ele parou de tocar e cantar, senti como se tivesse acabado de pousar em terra firme outra vez. Todo meu corpo se relaxou, meu coração se aquietou e parecia mais calmo outra vez.

— Você gostou?

— Tudo que vem de você é lindo!


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Notas finais do capítulo

Lembrando que eu não tenho nenhuma experiencia com composição de música. Me perdoem por isso. Não sou nada boa. Mas relevem. E não deixem de comentar! Estou precisando de inspiração.



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