Ele lembrava muito bem daquele lugar. Passara sua infância inteira lá, com ela. A casa na árvore, agora um pouco destruída, fora cenário de muitas histórias e brincadeiras entre os dois, desde navio até espaçonave e castelo.

   Ela tentava lembrar de que lugar ele estava falando, até ver uma pequena corda. Ela estava pendurada no tronco de uma árvore, exatamente como muitos anos atrás. Ela era usada para balança-los em suas viagens no tempo e no espaço. Ela e uma casa de árvore há muito tempo apagadas de sua memória.

   Olhou de novo na direção que ele olhava, agora enxergando. A casa ainda estava lá, intacta, praticamente igual do que a tempos atrás. Como ela podia ter esquecido? Eles passaram as melhores partes de sua infância naquele lugar.

   - Lembrou agora? – Perguntou ele.

   Ela ficou em silêncio.

    - Vou considerar isso como um sim. – E agarrou a escada para começar a subir.

   - Desce daí! Essa escada esta velha, pode arrebentar e você vai se machucar feio! – Falou ela, com a voz carregada de visível preocupação.

   - Quando foi que você ficou tão chata em? – Provocou ele.

   - No mesmo tempo que você começou a ficar irritante.

   Ele terminou de subir a escada e fez um gesto com a mão, incentivando-a a seguir seu exemplo.

   - Você é extremamente insistente. – Completou ela, começando a subir a escada também.

   Já estava de noite e a lua brilhava. Como estavam longe da cidade, ás estrelas também estava mais brilhantes e novas constelações apareciam. Ele observava-as, suspirando com aquela linda visão.

   Ela terminou se subir a escada, se posicionando ao seu lado e observando as estrelas também.

   - Por que você me trouxe aqui?

   - Não sei... Acho que foi porque nós tivemos muitos momentos de infância aqui, se lembra? E já que você começou a falar disso, eu achei uma boa ideia, sei lá.

   Uma parte dentro dela se decepcionou, ela não sabia por quê. Talvez ele estivesse trazido ela lá pois queria ficar mais a vontade com ela, mas parece que não.

   Ambos suspiraram.

   Ela olhou para ele, seus olhos refletindo a luz da lua. Seu rosto estava pálido por causa da escuridão e seu lábio inferior tremia um pouco.

   - Eles devem estar nos procurando. – Falou ela, se apressando a descer.

   - Não! Não vai, vamos ficar aqui mais um pouco. É bom poder sentir novamente, sabe? Se sentir livre.

   Ela entendia, então não reclamou. Sentou-se no chão de madeira. Pouco tempo depois, ele sentou ao seu lado.

   - Você não esta com frio? – Ele perguntou.

   - Um pouco. – Confessou ela.

  - Vem cá. – Falou ele, envolvendo a menina em seus braços, para aquecê-la.

   Cada músculo que de seu corpo ficou rígido e ela soltou um calafrio. A pele dele estava quente, e ao entrar em contato com a dela, seu estômago dançou em sua barriga.

   Ele apoiou sua cabeça na cabeça dela, sentindo o aroma de seus cabelos. Ela estava envolvida em seus braços, e ele gostava disso. Nunca mais queria sair dali. Nunca mais queria a deixar ir.

   - O céu esta lindo. – Falou ela, como uma tentativa de quebrar o silêncio.

   - Sim, é muito difícil ver todas essas estrelas na cidade. – Ele olhou seu rosto, no mesmo momento em que ela olhou o seu também.

   Eles ficaram assim, cada um olhando para o outro, durante alguns segundos que pareciam mais séculos. Seus rostos foram se aproximando, chegando a centímetros de distância. Eles hesitaram, um ainda encarando o outro.

   Então, começaram a se aproximar novamente, seus rostos tão próximos que um conseguia sentir a respiração do outro. Ao mesmo tempo, eles respiraram fundo e prenderam, chegando cada vez mais perto. Seus lábios se tocaram e eles soltaram o ar, um na boca do outro.

   Não passou disso. Um leve toque. Apenas.

 Alguém os chamava, e ambos se levantaram com um salto.

   - Estamos aqui! – Gritou ela em resposta. Sua voz levava um leve ponto de decepção, mas ninguém notou.

   Ela sabia esconder bem suas emoções. Ele também, mas não queria esconder nada naquele momento. Com a cara totalmente aborrecida, ele desceu a escada, deixando a menina pra trás.